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David Fonseca – Between Waves. [download: mp3]

David Fonseca - Between Waves

David Fonseca - Between Waves
Tarefa não muito fácil a de David Fonseca de conceber o sucessor de Dreams In Colour, disco lançado em 2007 que arrebatou público e crítica. Sempre que um cantor ou banda é alçado à consagração ao lançar um álbum considerado impecável, apresentam-se os dilemas inevitáveis: encarar ou não a nova empreitada como uma tentativa de superar ou ao menos igualar o feito anterior? E quanto a manter ou não a sonoridade desenvolvida com sucesso?
As respostas às perguntas acima parecem vir de imediato, mas a verdade vai se revelando ao longo de audições mais cuidadosas. Assim, a primeira vista, “Walk Away When You’re Winning” e sua enorme energia do vocal, da bateria, da gaita, do violão e da guitarra conduzidos em uma procissão de melodiosos riffs e seguidos por muitas palmas, metais e backing vocal no trecho final, “There’s Nothing Wrong With Us” e seu xilofone hiperativo, sua bateria que entra de forma cada vez mais massiva e cadenciada, suas sintetizações insaciáveis e sua guitarra de riffs breves, que vibra simulando harmonias vocais, todos sendo silenciados para retroceder e retornar para um breve prólogo sonoro com o dobro de volume, e “Owner of Her Heart”, que ressalta o caráter faiscante de seus múltiplos riffs de guitarra e das intrépidas vocalizações que lhe fazem parceria e compõe o refrão que também introduz a canção e ganha até a companhia de um desatinado saxofone na transbordante sequência final são todas músicas que parecem não diferir em estilo de outras já compostas por David, porém nelas o artista português investe mais consideravelmente em um abarrotamento sonoro que persiste por mais tempo nas melodias – alguns ouvidos podem ficar um tanto fartos disso, mas ao longo de mais audições a sonoridade mais maciça vai entrando em acordo com os tímpanos alheios, que é exatamente o caso de “Morning Tide (I Just Can’t Remember)”: no início soando esdrúxula com seu compasso curto dos instrumentos, conduzido pelo tilintar ligeiro do xilofone e de uma programação intencionalmente amadora e nostálgica ao fundo, com algumas audições mais adiante a faixa cresce pouco a pouco a ponto de a emoção planejada por David acabar tornando-se clara ao derramar-se nos sentidos, muito por conta da latinidade melancólica do arranjo de metais que usurpa a melodia e a transmuta para o abarrotamento sonoro que é característica de grande parte das canções do disco.
Mas para os que estão acostumados à tradicional flexibilidade de David Fonseca, há faixas com sua emblemática pegada rock dançante, tanto quando há baladas de partir o coração e fazer qualquer um sonhar se jogar do Empire State Bulding de braços abertos gritando os versos até o impacto final. Integrando o primeiro perfil sonoro, “Stop 4 A Minute” provoca em quem a escuta uma desatinada vontade de dançar ao som dos “ah-hãs” e “hums” que dão partida na melodia, repleta de caudalosos riffs e solos de guitarra, com um trabalho esplendoroso na bateria e um potente vocal com o qual o cantor português testa os limites de sua verve rockeira. Já “It’s Just A Dream” representa com toda propriedade a faceta conhecidamente romântica de David: depois de uma introdução climática onde guitarra, violão e bateria encadeciam-se conjuntamente em acordes pujantes, encontramos David entoando os versos em um clamor comovido por compreensão e afeto que prossegue em um crescendo arrepiante até que a melodia é concluída exatamente como começou, novamente tomando de assalto os ouvidos e lançando-os em um epílogo sonoro emocionante – a canção é tão tocante que ela dificilmente sai da cabeça, atacando os sentidos inesperadamente a qualquer momento e em qualquer lugar. Apesar do que diz o título da faixa que encerra o disco com uma balada guiada por um violão, laceada por uma bateria ritmada em compasso firme, alguns acordes leves na guitarra e no orgão e um solo de gaita, “This One’s So Different”, “Between Waves” não é assim tão diferente. No conjunto, este novo disco traz apenas algumas ondas desconhecidas dentro do oceano sonoro tão familiar aos fãs do cantor português – o que, de modo algum esteja eu querendo dizer que seja ruim. Ao contrário, ao procurar permanecer nesse “entrelugar”, como já indica o título do disco, mergulhando apenas um pouco mais fundo, sem nunca perder de vista a segurança da praia logo atrás, David Fonseca estabelece para si e para seus ouvintes uma mudança apenas sutil em sua musicalidade, certamente procurando nunca ferir sua tão fabulosa proposta pop/rock – e qual seria a necessidade de mudá-la tão radicalmente, visto que ela é tão boa, não é mesmo?

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“Drift Away”, de Jean-Julien Pous. [download: video]

Drift Away - Jean-Julien Pous
Em meio a uma Hong Kong que alterna entre a explosão de suas cores saturadas e a obscuridade fria de sua urbanidade caótica, uma garota (Teresa Sheung Yan) vagueia com visível displicência, eventualmente observando com melancolia detalhes da vida que se desdobra em cada canto da cidade. Só no fim, quando se contempla a garota afastada da pluralidade incessante do ambiente da metrópole, é que se acaba entendendo que as sensações anestesiadas não eram fruto de um comportamento fleumático, e sim de um conflito subjacente. Esbanjando talento na combinação do trabalho de fotografia, montagem, edição e demonstrando enorme sensibilidade na uso esplêndido da trilha sonora, o diretor Jean-Julien Pous criou neste curta-metragem uma sucinta e precisa biografia do eclipsamento do indivíduo em meio a coletividade, que os torna incapazes de perceber o perigo iminente que se esconde por trás de uma expressão aparentemente plácida.

“Drift Away”, de Jean-Julien Pous: Vimeo (assista)download

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A Camp – Covers EP. [download: mp3]

A Camp - Covers EPEnquanto a banda The Cardigans não dá o ar de sua graça com um novo álbum, Nina Persson promove seu projeto paralelo, cujo segundo lançamento, o álbum Colonia, ganhou vida no fim de janeiro deste ano que está em vias de se encerrar. Das sessões deste disco, ao menos três regravações de canções de outros artistas e bandas foram feitas, duas das quais foram liberadas ao público como B-sides do single “Love Has Left The Room”. Em junho último, porém, a banda formada por Nina, seu marido Nathan Larson e o músico Niclas Frisk decidiu por bem reunir as duas faixas lançadas e a única ainda inédita em um álbum no formato exclusivamente digital, que foi batizado simplesmente como Covers EP. Nas três músicas que compõem o disco, Nina e seus comparsas procuraram redecorar as melodias de forma não-evasiva, impregnando-as com o estilo preponderante do A Camp de Colonia mas preservando a essência que forma a identidade original de cada uma das canções. Em “Boys Keep Swinging”, originalmente gravada por David Bowie no seu álbum Lodger, o trabalho do A Camp lembra enormemente o do cantor britânico, já que a melodia continua tomada de uma verborragia sonora proveniente da esquizofrenia das guitarras e do saturamento promovido pelos backing vocals, a diferença mais perceptível seria o andamento levemente mais acelerado da música, mas que ainda refaz a rítmica sacolejante tão famosa do Bowie dos anos 80. “Us and Them”, conhecida faixa do disco Dark Side of the Moon, dos ingleses do Pink Floyd, também mostra-se razoavelmente fiel ao original, recuperando nos vocais, tanto na reverberação dos versos entoados por Nina Persson quanto nos que preenchem o fundo com tonalidades gospel, a melancolia com ares épicos que é característica de muitas composições do Pink Floyd – algo, por sinal, que eu já tinha notado o A Camp ter utilizado de forma primorosa em Colonia na faixa “Chinatown”. E em “I’ve Done It Again”, a linha harmônica do baixo permanece com as propriedades originais da versão de Grace Jones inalteradas, assim como o ritmo da música, que ganha apenas a companhia de alguns toques ao piano, sopros e sintetizações ocasionais.
É claro que três faixas são bem pouco, mas com elas o A Camp dá uma idéia do que como a banda soaria se decidisse se aventurar em um disco de covers: cautelosa com o trabalho alheio sem deixar de colocar sua porção de charme e elegância em cada uma das canções escolhidas. Eu só esperaria um repertório um pouco mais garimpado, já que a música de Grace Jones bem poderia ter sido substituída por tantas outras muito mais interessantes.

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Arctic Monkeys – Humbug [download: mp3]

A meu ver, até Favourite Worst Nightmare e o show derivado de seu lançamento, a banda britânica Arctic Monkeys ainda se encontrava planando em uma atmosfera rock com algumas correntes de vento pós-adolescentes. Sem dúvidas que a música produzida pela banda naquele estágio de sua carreira já era de boa qualidade, porém por conter elementos típicos desse rock mais em voga, um tanto desenfreado e desnorteado, todas as suas composições partilhavam um ranço de semelhança esquizofrênica monotonal. Por consequência disto, não consegui deixar de duvidar se os rapazes ingleses seriam capazes de repensar esta musicalidade frenética, mas que muitas bandas preferem não abandonar por geralmente garantir-lhes um público cativo e uma boa recepção por parte da crítica. Felizmente, para minha satisfação, eu estava errado: Humbug, o novo disco do Arctic Monkeys, soa em praticamente todos os seus pormenores como o grito de maturidade da banda.
Produzido por Josh Homme – líder do Queens of the Stone Age – e James Ford – que também atuou no The Last Shadow Puppets, projeto paralelo do vocalista Alex Turner -, Humbug traz os quatro rapazes aventurando-se em terreno consideravelmente diferente daquele pelo qual estavam caminhando até então. As composições da banda soam agora bem mais elaboradas, grande parte delas com harmonias mais rebuscadas, mas que ao mesmo tempo fazem uso mais moderado dos atributos aplicados nas melodias. “Dance Little Liar” certamente é uma delas: a música, cuja letra passeia pelas suposições de um mentiroso convicto, é formada pelo fluxo suave e compassado da bateria, pelo baixo de surda sinuosidade, e pelos acordes assombrosos da guitarra que flutuam como a ondulação de um temerim impregna o ar com uma leveza volátil, mas vai aos poucos ganhando corpo e densidade até converter-se em uma harmonia sólida e crispante a partir da ponte melódica que toma a música de modo insurgente. Ainda dentro dos domínios da melodia, a introdução de um orgão Vox Continental ao elenco de instrumentos encorpa a sonoridade da banda com uma camada de rock punk-gótico, exatamente como se ouve em “Pretty Visitors”, que alterna entre a atmosfera orientada pelo órgão nebuloso e o andamento ligeiro e febril das guitarras, bateria e baixo em rascante delírio. Porém, das modificações apresentadas, o modo como Alex Turner utiliza sua voz é o que permanece nos ouvidos como registro mais caracteristicamente distintivo desta fase da banda: canções como “My Propeller”, com seus riffs graves e absortos das guitarras e com a bateria e o baixo em cadência soturna e traiçoeiramente hipnótica, e “The Jeweller’s Hands”, com a suave doçura dos toques ao piano e xilofone e da ambiência do acordes gentis da guitarra que pontuam discretamente o compasso marcial concedido pela bateria, produziriam um efeito completamente diferente se o vocal que as acompanham não fosse conduzido em um registro mais grave, brando e meditativo.
Mas esse novo caráter musical da banda não significa que não há espaço ou interesse em cultivar o seu já conhecido estilo, na suas várias modulações de agressividade rock. O cover de “Red Right Hand”, originalmente gravada por Nick Cave, tem guitarras, baixo e bateria velozes, perseguidos de perto pelo órgão que insiste em se fazer presente mesmo em uma melodia que recupera o tradicional estilo do grupo. Apesar de menos explosiva que o cover de Nick Cave, “Dangerous Animals” utiliza a dinâmica já comum na banda, com riffs de guitarra recheando ciclicamente a melodia em que um pulso semelhante ao de um sonar craveja uma obscuridade que só faz aumentar com o eletrizante solo de bateria, entrecortado por acordes de guitarra e pelo vocal ameaçador de Turner, elementos que em conjunto retorcem a harmonia antes de seu epílogo sonoro.
A mudança gerenciada pela banda e seus produtores foi sem dúvidas das mais inteligentes já produzidas no meio musical nos últimos tempos, já que ela foi feita de modo a preservar o que consolidou-se como o melhor na identidade musical da banda – suas melodias cheias de energia e vivacidade -, mas inserindo novas harmonias e elementos que subverteram sua essência em algo muito mais denso e consistente. É por isso que Humbug não surge como um disco importante apenas porque encorpou a identidade da banda, fortalecendo-a ainda mais, mas porque com ele o Arctic Monkeys mostra a tantos outros artistas e bandas de rock que isso pode ser feito sem soar como um ultraje para os ouvidos dos fãs.

Baixe: https://www.mediafire.com/file/w0w9xrmislgrv20/arctic-bug.zip

Ouça:

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“Lado Selvagem”, de Sébastien Lifshitz. [download: filme]

Wild SideStéphanie, que já foi Pierre, é um travesti que sobrevive prostituindo-se em Paris e divide sua vida com seus dois namorados, Djamel, que também vive da prostituição, e Mikhail, um imigrante e ex-soldado russo que trabalha como garçom. Certa noite, Stephánie recebe telefonema avisando-lhe que sua mãe necessita de cuidados, e assim segue para o interior do país, sua terra natal. Uma vez lá, e acompanhada de seus dois amantes, Stéphanie divide seu tempo entre a mãe enferma e recordações de seu passado, ainda como Pierre.
Ao que sua filmografia parece indicar, o cineasta frânces Sébastien Lifshitz tem como principal obsessão figuras marginais que de algum modo estão mergulhadas na ambiguidade e perdidas em meio às complexas possibilidades afetivo-sexuais. Seu último filme lançado, “Lado Selvagem” segue firme a tradição ao apresentar como protagonistas um travesti e seus dois amantes. Apesar de não ser nada de realmente fabuloso, há no longa-metragem, tanto nos aspectos técnicos como artísticos, soluções e revelações que o tornam suficientemente interessante do início ao fim.
Na primeira instância, a fotografia de Agnès Godard resplandace como o sinal mais visível do apuro técnico do filme, preenchendo a tela com nuances nítidas e intensas seja ao retratar os traços desconcertantes da urbanidade, seja ao tornar quase táteis as belezas imutáveis do ambiente campestre da França interiorana. As belas composições de cordas e piano de Jocelyn Pook que servem de trilha ao filme, também se destacam, mas são usadas com parcimônia ao ser aplicadas no filme no acordo mais comum da escola européia de cinema, como um recurso que auxilia na construção das tonalidades emocionais da história e não encarregadas do trabalho que por ventura não seja feito por alguém – pelos atores, geralmente. A edição seca e direta de Stéphanie Mahet complementa a atmosfera peculiar do filme, geralmente alternando sem qualquer tipo de sinalização a trama em tempo presente e os flashbacks de cada um dos três personagens que a compõe, que são apresentados de modo não-cronológico e mesclados quase indistintamente na narrativa presente. Já nos aspectos artísticos, talvez por conta do trabalho apenas satisfatório dos atores, é o argumento que se apresenta como elemento de maior êxito em “Lado Selvagem”, e provavelmente não como a roteirista Stéphane Bouquet e o diretor, co-autor do texto, de fato planejaram: nota-se que um dos maiores objetivos do longa é desnudar as recordações de Stéphanie e seus companheiros e a relação distante e obtusa de cada um deles com seus pais, porém é o retrato bastante realista da marginalidade destes personagens que acaba ressaltado aos olhos do espectador, não apenas porque Stéphanie é de fato interpretada por um travesti, mas porque o cotidiano destes personagens é completamente verossímil. O público de nosso país, especialmente, pode ficar chocado ao constatar que todos os travestis que fazem figuração no filme de Sébastien Lifshitz são brasileiros – a mais pura verdade, já que é exatamente o que se encontra nas calçadas dos grandes centros urbanos da Europa. Por isso, ainda que se chegue ao epílogo desta película sem saber exatamente o que o diretor quis obter com a história que decidiu filmar, “Lado Selvagem” suscita interesse por conseguir fazer um registro apurado e perspicaz da realidade certa dos que decidem seguir os desígnios de uma identidade que difere daquela que lhes foi conferida fisicamente – o inevitável cotidiano da ruas e estradas escuras iluminadas por postes e faróis de automóveis – ao mesmo tempo que consegue imprimir considerável delicadeza ao retratar o afeto quase completamente silencioso deste triângulo amoroso incomum cujos vértices sustentam-se com custo por conta da certeza de que o futuro de cada um deles não irá diferir em nada do presente – infelizmente.

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“A Família Savage”, de Tamara Jenkins. [download: filme]

The SavagesOs irmãos Wendy e Jon, ele um professor universitário às voltas com a produção de seu livro sobre Bertolt Brecht e ela ocupada com sua constante tentativa de obter financiamento para lançar sua peça de teatro, tem que repentinamente arranjar uma forma de lidar com o pai idoso com o qual pouco contato tiveram depois de uma infância de abusos.
O trama de “A Família Savage”, em teoria, preencheria todos os pré-requisitos necessários para que a maior parte dos cineastas lhe concedesse tratamento tipicamente ordinário, encobrindo o argumento com megatons de pieguice e sentimentalismo pegajosos. Felizmente essa não foi a idéia que a diretora, que também se encarrega do roteiro, teve de sua história. Sob a ótica de Tamara Jenkins, os dramas dos irmãos Savage, que tem que arranjar abrigo para o pai que demonstra repentinos sinais de demência e que muito pouco de felicidade lhes trouxe na infância, ao mesmo tempo que lidam com seus próprios problemas e reativam a sua relação um tanto competitiva, ganham apenas contornos sutis, passando ao largo de qualquer possibilidade de que estas mazelas sejam tingidas com a coloração folhetinesca para angariar da maneira fácil a empatia do espectador pelos seus personagens e pela história que carregam consigo. A diretora, ao contrário disso, estende esta abordagem sóbria por todo o longa-metragem, filtrando prontamente todas as situações potencialmente dramáticas para que soem o mais natural possível, inclusive temperando-lhe com doses homeopáticas de humor. Ao contrário do que se possa esperar, esta atitude de restringir a maior parte do trabalho em si e nos atores, despojando a encenação da trama de artifícios típicos do gênero, como trilhas sonoras e planos de câmera estudados, não só a aproxima muito mais da realidade e, portanto, do espectador, como a diferencia de outras histórias do gênero. Este podia ser apenas mais um filme sobre pessoas que por força da situação reencontram o senso de família, porém, diferentemente dos dramas badalados que acabam ganhando o foco dos holofotes e o apreço de premiações do cinema, não é através de sequências escandalosamente sentimentais e de um desfecho catártico ou que organiza estes personagens em uma idéia pré-concebida do que é uma família na qual as pessoas se amam e se preocupam uns com os outros que o público é conquistado – forçosamente. É paulatina e sorrateiramente, com economia e discrição, sem pressa e sem muitas surpresas, que Jenkins e seus atores arrebatam de modo efetivo e duradouro o espectador, que só ao final da história se dá conta de estar completamente rendido aos Savage e sua condição sempre imperfeita de família – e assim, as lágrimas, que com certeza surgem na brilhante cena carregada de simbologia que fecha “A Família Savage”, apesar de rolarem e secarem como todas as outras, tem um efeito muito mais profundo do que aquelas que nascem da pirotecnia sentimental de outros longa-metragens do gênero.

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Émilie Simon – “Dreamland” (dir. Asif Mian). [download: video + mp3]

Émilie Simon - DreamlandEm meio a tanta coisa que você quer ouvir, ver e ler, muitas outras acabam sendo adiadas. Assim é que até hoje não consegui dar atenção à uma pá de artistas como, por exemplo, Émilie Simon. Já ouvi trechos das músicas de seu álbum Végétal, mas como a garota na época não me atiçou inteiramente, acabei esquecendo. Porém, hoje acabei topando com o vídeo de uma das músicas de seu novo álbum, The Big Machine, e desta vez sim o meu interesse acabou sendo despertado. O clipe dirigido por Asif Mian se mostra capricha no onirismo, já de início colocando a cantora em um jantar com frutos do mar au naturel – e não posso deixar de notar que o siri poderia ao menos estar mergulhado na água – ao vasculhar uma mansão de estilo aristocrático tomada por manifestações estranhas, como paredes que comprimem recintos e escadas que lutam contra a vontade de quem as sobe. A fotografia em tons escuros reforça o caráter algo gótico do filme e a coloração do vocal da artista francesa, bem como o seu pop que flerta com muita classe com sintetizações, acaba lembrando outra cantora que trafega por terras igualmente idílicas: a britânica Kate Bush. Mas Émilie tem um aroma próprio que acaba soando sensivelmente mais contemporânea que a veterana artista inglesa, ainda que carregue uma certa aura de nostalgia com os acordes dramáticos ao piano que introduzem a música e a programação eletrônica equilibrada no melhor do que já foi feito no início dos anos 90. Se todo o restante de seu novo trabalo preservar estes traços sedurotamente elegantes, vai cair no meu gosto fácil, fácil.

Émilie Simon – “Dreamland” (mp3)

Émilie Simon – “Dreamland”: Youtube (assista)download

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“Azul Escuro Quase Preto”, de Daniel Sánchez Arévalo. [download: filme]

AzuloscurocasinegroJorge, que trabalha como zelador do condomínio onde vive e cuida há anos do pai enfermo, vítima de um derrame ocorrido em um episódio de desavença entre ambos, começa a vislumbrar uma rotina diferente depois que consegue, com muito esforço, se formar em administração. A vontade de mudar sua vida coincide com o retorno de uma vizinha, sua antiga paixão de infância, e com a libertação em breve do irmão Antônio, um presidário que se apaixona por uma mulher também encarceirada e que o motiva a fazer um pedido nada ortodoxo para o irmão Jorge pouco antes de ganhar a liberdade condicional.
Basicamente, o cinema espanhol contemporâneo está sendo calcado em duas bases distintas: ou acaba tendo como herança o “cinema humano” do maior representante da sétima arte daquela terra, Pedro Almodóvar, ou envereda pelas trilhas do macabro e do horror, que está ganhando projeção e prestígio mundo afora. O longa-metragem de estréia do diretor espanhol Daniel Sánchez Arévalo adotou como caminho a primeira referência, mas o faz de modo muito mais sutil e discreto, descartando os excessos burlescos tanto no que tange ao desenho dos personagens quanto nas situações bizarras desenvolvidas por Almodóvar. Deste modo, a característica mais marcante do longa é a sobriedade, que por sinal, vai desde a quase completa inexistência de trilha sonora, passa pelo argumento realista pontuado por apenas algumas situações-chave sutilmente inusitadas e chega até a interpretação dos atores, que adotam uma tonalidade mais crível para os seus personagens e procuram preservá-la de forma consistente em toda a duração de “Azul Escuro Quase Preto”. Como não poderia deixar de ser, os dois últimos – roteiro e personagens – são os elementos essenciais da película que acabam embricados, particularmente nos dois protagonistas – Quim Gutiérrez que dá a tonalidade certa para o sorumbático Jorge, procurando transmitir no seu gestual, olhar e voz o estado letárgico e o sentimento de impotência que acabam marcando sua trajetória e reprimindo a sua determinação e perseverança e Marta Etura, que encobre a sinceridade que orienta o comportamento de sua personagem com um manto sutil de sedução induzido pela compaixão que outros acabam tendo pelo percurso que tomou em sua vida. Os personagens coadjuvantes e periféricos ajudam a enfatizar estes elementos do argumento que já estão presentes na configuração dos protagonistas e o conjunto atua de modo a deixar para o espectador a impressão de que não importa o quanto tentemos mudar isso, todos temos um papel do qual não conseguimos nos desvencilhar e que a única coisa que nos é dada como direito é a mudança na superfície, como quem muda de vestimenta, mas não de função, algo que é abertamente simbolizado pelo terno azul escuro, quase preto que Jorge tanto deseja e que, além de tudo, também é análogo à aura melancólica do personagem.
Além de ser um bom ponto de partida para uma carreira no cinema, a sobriedade de “Azul Escuro Quase Preto” pode sinalizar que está acontecendo uma revisão dos paradigmas desta vertente do cinema espanhol da atualidade, que por conta dos recorrentes elogios da crítica acabou tomando como diretrizes a idiossincrasia do cinema de Almodóvar. Espero mesmo que mais cineastas abandonem a visão da Espanha alegórica e dos latinos caricatos e passem a investigar e revelar aquilo que há de singular na aparente ordinariedade humana dos homens e mulheres do país.

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Muse – The Resistance. [download: mp3]

Muse - The ResistanceToda vez que uma banda ou artista ensaia uma mudança de sonoridade isso não é feito sem causar certo desgosto em boa parcela dos fãs. Em parte, a banda britânica Muse já tinha vivido essa experiência com o disco Black Holes & Revelations, lançado em 2006, só que os shows da turnê do lançamento deste álbum foram aclamados pelo público e pela crítica, e desse modo o impressionante poder da banda ao se apresentar no palco fez com que os fãs frustados olhassem com mais carinho para o disco. Com The Resistance, álbum a ser lançado oficialmente dentro de algumas horas, o fato provavelmente vai se repetir em alguma medida, isto se ele não se apresentar com uma intensidade razoavelmente maior.
O novo disco mostra que os passos dados em Black Holes & Revelations não foram apagados desde seu lançamento; na verdade abriram caminho para que a banda trilhasse novamente espaços lá percorridos, sem medo de escandalizar alguns fãs ao misturar seu rock com elementos genuinamente pop. Sim, porque se alguns fãs até torceram o nariz ao ter o primeiro contato com “Supermassive Black Hole” e algum tempo depois descobriram a beleza descaradamente dançante e chacoalhante da canção, certamente eles já estarão preparados para “Uprising”, que conta com uma bateria bem marcada e uma camada generosa de riffs de guitarra acompanhados por palmas que alimentam a cadência da música e sintetizações que acolchoam a melodia, mas o que esperar da reação destes fãs ao ouvir a ousadia da banda em “Undisclosed Desires”, que joga o rock para escanteio e coloca em cena um pop com batida eletrônica, pizzicatos e vocais grudentos e algo rasos que remetem à uma mistura do synthpop poderoso do Depeche Mode com a rítmica rastejante do R&B da atualidade? Não é uma música fácil de se engolir, e deve-se admitir que considerando-se o panteão de composições da banda ela é realmente fraca, mas não deixa de ser uma música cativante e, por que não, realmente sincera.
Porém, o medo ou repúdio fica mesmo resumido à esta faixa, pois The Resistance é um disco com o rock da banda, sempre repleto de inferências sonoras épicas e grandiloquentes marcando presença com orgulho, como em “Unnatural Selection”, que nasce com um orgão cheio de fulgor messiânico, logo é assaltada por bateria, guitarras e baixo ferozmente ensandecidos e ondula com uma ponte sonora em que a melodia é desacelerada, ganhando tonalidades mais melódicas. Soa dramático? Mas essa é realmente a palavra que melhor define faixas como esta e “MK Ultra”, que além dos riffs incandescentes de Matt na guitarra e Chris no baixo e da energia e versatilidade de Dom na bateria, ainda conta com algumas sintetizações que complementam o estado de emergência sonoro da canção. “Guiding Light” preserva o imperativo sonoro com a bateria e baixo em pulso rompante contínuo e nos acordes da guitarra que variam entre o melódico e o rascante durante sua execução, mas o compasso nunca é acelerado, cultivando uma harmonia triste e suplicante. Por sua vez, a faixa título do disco, “Resistance”, vai mais longe, ou melhor, volta mais atrás: além de apresentar o trabalho fabuloso de Dominic na bateria e Chris no baixo, que se encarregam de construir uma base sincopadíssima para a melodia onde brilham acordes nostálgicos de piano e o vocal escandalosamente irretocável de Matthew, a música é introduzida e pontuada por uma sintetização fantasmagórica que remete ao trecho final da harmonia de “Citizen Erased”, uma das canções brilhantes do segundo álbum da banda, Origin of Symmetry.
Não é difícil de se observar, porém, que a marca mais estridente deste quinto disco de estúdio da banda britânica não é o tempero pop que se verifica na sua escala auditiva, mas as suas recorrentes referências à música erudita. Nesta categoria, primeiramente o que se encontra são as citações explícitas à obras famosas do gênero, contudo mesmo partilhando essa similaridade há variações no modo como isto é feito em cada representante deste grupo de músicas. Por exemplo, enquanto “I Belong To You/Mon CœurS’ouvre à ta Voix”, deliciosa faixa com sabor de música de cabaret pelo virtuosismo de Matthew no piano e pela interferência de um clarinete, se resume à referência mais simples por conta do interlúdio no qual o vocalista se rasga nos versos extraídos de uma ária da ópera “Sansão e Dalila” do compositor francês Camille Saint-Saëns, “United States of Eurasia ( + Colletral Damage)”, apesar de ser fechada por uma reinterpretação doce e terna de um dos Noturnos de Frédéric Chopin, não se contenta com pouco e se derrama em uma orgia sonora com variações melódicas bipolares que vão dos acordes no piano, vocais e suíte de cordas mais contemplativos até uma explosão faraônica de guitarras, baixo, bateria, vocais e orquestração de cordas ultra-dramáticos ebulindo reminescências que vão desde óperas-rock emblemáticas até composicões para o cinema como a trilha de Maurice Jarre para o fabuloso “Lawrence da Arábia, do diretor David Lean. Porém a banda não se resume à citar clássicos, ela também quis compor os seus. E assim é que a peça sinfônica “Exogenesis Symphony” foi escolhida para fechar o trabalho como o grandioso monolito que sintetiza a essência deste disco. Dividida em três partes – “Overture”, “Cross-Pollination” e “Redemption” – e estendendo-se por quase 14 minutos, a peça é iniciada com arranjo de cordas e sopros que criam uma ambiência esvoaçante que ganha a adição dos instrumentos do trio britânico e do vocal quase transcendental de Matthew Bellamy, sucedida por orquestração que é capitaneada por um solo dedilhado com maestria ao piano que logo é promovido à um rock glorioso e revertido novamente à instrumentação que introduziu a sequência e é fechada com uma serena harmonia guiada por um piano de colorações tristes como o de Beethoven em “Moonlight Sonata” que se desdobra em uma melodia orquestral com vocal emocionante até recrudescer novamente para o piano de matizes pastorais, enormemente plácido e gentil.
The Resistance pode soar excessivo com sua multitude de referências e estilos se sucedendo ou sobrepondo a cada faixa e certamente vai servir como a tão desejada munição para que os detratores, uma vez mais, gritem de modo sensacionalista e panfletário o seu discurso já batido e ultrapassado de como a banda é falsa por não fazer mais do que emular sonoridades alheias – como se estas bandas de rock não devessem tudo o que fazem aos precursores do gênero, como Beatles, Led Zeppelin e Pink Floyd -, mas os fãs sensatos do Muse já aprenderam a ignorar a perseguição apaixonada – que, ora vejam, por isso mesmo soa muito mais como mera dor de cotovelo – dos que enxergam a banda através deste prisma distorcido e se deixam conduzir pelo rebuscamento sonoro do trio britânico, arrebatados pelo universo cada vez mais extenso de suas criações ricas em “sons e visões” – pedindo aqui licença à David Bowie, cânone a quem toda banda e artista que está na ativa deve reverências – cujas influências e referências são assumidas sem qualquer vergonha, ao contrário de grande parte dos nomes do rock atual, que ao serem confrontados por estes senhores magníficos teriam que confessar, constrangidos, nunca tê-lo admitido.

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Aproveite para baixar os outros discos da banda clicando na tag “muse” ou nos “posts relacionados”, logo abaixo. Como o primeiro disco não possui uma resenha nos arquivos do blog, o link para download fica a seguir.

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Florence + The Machine – Lungs (4CDs: Deluxe + Special Box Edition). [download: mp3]

Florence and The Machine - LungFlorence Welch disse que deseja que sua música desperte sentimentos fortes em quem a ouça, como a sensação de atirar-se de um edifício ou de ser capturado para as profundezas do oceano sem qualquer chance de prender a respiração. Parece um tanto exasperante, para não dizer presunçoso, mas é este tipo de sensação que se tem ao ter contato com as criações de Florence + The Machine, a banda encabeçada pela artista britânica. Nela, Florence dá vazão à todo o seu impressionante furor artístico, que mistura melodias vistosas, repletas de complexas camadas sonoras à letras poéticas, em sua maioria enormemente metafóricas. O elemento que dá liga a estes ingredientes saborosos é o seu vocal, utilizado pela garota em todas as suas possíveis matizes e variações de volume, não raro emitido em gritos longos e possantes. A substância obtida desta receita é uma música sofisticada e vibrante que tem a mesma identidade idiossincrática e indefinível de artistas como Kate Bush, a Björk intimista de Vespertine, My Brightest Diamond e Bat For Lashes.
Porém, mesmo sem saber exatamente como definir as criações desta artista britânica devido à sua mistura de gêneros, se há algo que se pode dizer ser recorrente em grande parte das músicas deste seu primeiro disco é o uso extenso de uma percussão escandida com força numa síncope potente e bem marcada, concedendo às canções uma atmosfera algo ritualística. Os acordes agudos do banjo e da harpa em “Dog Days are Over”, o volumoso uso de vocais em “Rabbit Heart (Raise It Up)” e “Drumming”, o piano de toques esparsos e dramáticos e as sintetizações salpicadas em “Howl”, a harpa cheia de calor em “Cosmic Love” e o orgão e o arranjo orquestral salpicado de pizzicatos de “Blinding” chegam todos acompanhados de uma bateria e percussão que não se escondem na canção, ao contrário, mostram-se em toda sua glória, usurpando os ouvidos sem qualquer receio e emitindo uma quase imperativa necessidade de sacudir o corpo.
Mas não há erro em afirmar, no entanto, que as criações de Florence e sua máquina partem de bases rockeiras. Tanto “Kiss With a Fist”, na qual a cantora declara que um amor recheado de socos e pontapés é melhor que amor nenhum, “You’ve Got The Love”, cover de uma canção gospel que prega que o amor divino existe mesmo nos tempos difíceis, e o cover “Girl with One Eye”, apesar de sua sutil camada country, exalam a fragrância mais emblemática do gênero: uma fartura de múltiplos riffs de guitarra assaltando a melodia ou preenchendo todos os espaços possíveis. Mas mesmo neste disco tão repleto de canções fabulosas, “Bird Song”, faixa bônus da versão deluxe do disco que igualmente pertence à faceta mais nitidamente rock da artista, ainda consegue se elevar em meio as que acompanham como a música mais brilhante do lançamento: iniciando com alguns versos a capella, logo acompanhados por uma guitarra melancólica, a melodia vai alternando um crescendo de momentos reflexivos com outros repletos de ira até explodir em uma orgia sonora sem economia nos vocais, no arranjo melódico e no sentimento que jorra como lava do Monte Vesúvio ao desenhar metaforicamente nas letras a consciência arrependida de alguém como o cantar de um pássaro delator. E é assim, expelindo suas emoções sem receios de soar vibrante, urgente e épica, mas também nunca renegando o direito de soar delicada e gentil quando deseja que Florence + The Machine traz para o rock alegorias em sons e versos que enfeitiçam o espírito e hipnotizam os sentidos dos ouvintes, exigindo com toda propriedade seu lugar na seleta galeria de músicos que conseguem encobrir suas composições em erudição e sofisticação e ainda preservar o seu caráter potencialmente acessível. Sim, Florence Welch é mais uma daquelas artistas que dificilmente se contenta em soar comedida ou simples, porém o abundante requinte com o qual suas composições são impregnadas permitem que nossos sentidos captem apenas a sua fervente e quase primitiva beleza.

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