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Blur – “Music Is My Radar” (dir. Donald Cameron). [download: vídeo]

Blur - Music Is My Radar“Song 2”, “Tender” e “Music Is My Radar” são as minha músicas preferidas da banda britânica Blur – que, mais uma vez, declaro não ser um enorme fã. Esta última, inclusive, tem um vídeo bacanérrimo, na linha futuro-retrô meio “Os Jetsons”. Enquanto a banda está prostrada em um vão no meio do palco de um talk show, depois do apresentador ter declarado o advento dos comerciais, dois grupos de dançarinos – um de mulheres e outro de homens -, vestidos com trajes preto e branco que lembram pilotos de motocicleta estilosos, entram no palco e fazem uma apresentação cuja coreografia por vezes é bastante síncrona e em outras consideravelmente desigual. Durante tuda a apresentação, que ocorre ficcionalmente para a platéia durante os comerciais, somos apresentados episodicamente aos bastidores do programa e à resposta intencionalmente desinteressada da banda e do apresentador. É o vídeo perfeito para a fabulosa música que é a única inédita da coletânea lançada pela banda há alguns anos. Baixe o vídeo utilizando o endereço a seguir.

http://www.collider.com.au/webclips/blur_musicismyradar_large.mov

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Tanita Tikaram – The Cappuccino Songs. [download: mp3]

Tanita Tikaram - The Cappuccino SongsNão sou exatamente um fã de Tanita Tikaram: a maior parte de suas composições são de um folk tão desigual e estrambólico que fica muito, mas muito difícil passar de uma faixa para a outra, tentando achar algo que agrade dentro de todo um disco. Com Lovers in the City, de 1995, a cantora e compositora alemã iniciou uma mudança em sua música que tornou suas canções bem menos bizarras. Assim, ao me deparar, lá em 1998, com o disco The Cappuccino Songs, eu já conhecia a sonoridade amoníaca de Tanita mas, olhando a simpatíssima capa deste seu novo – à época – álbum, me senti compelido a arriscar. E, ao fazê-lo senti-me estupefato, tamanha a surpresa ao constatar a mudança absurda na sonoridade de suas composições. Tanita Tikaram simplesmente pulou de um extremo para o outro, jogando do topo de um arranha-céu toda a esquisitisse folk que tinha criado e mergulhando num projeto de música pop até o último fio do seu cabelo. O disco é tão repleto de orquestrações de cordas, de acordes algo óbvios de piano, de backing vocals e letras românticas que chega, em alguns momentos, e soar um pouco cafona e piegas – mas nem por isso deixa de ser um belo disco de música pop. Qualquer pessoa que tenha ouvido alguma coisa composta por Tanita antes do álbum Lovers in the City já vai se assustar com a faixa de abertura, “Stop Listening”. A música já começa com uma introdução grandiosa e ligeira de sua onipresente orquestração de cordas, que cede logo o lugar à voz grave e macia de Tanita. Uma percussão suave acompanha a sua voz, até que as cordas tomem novamente a melodia, junto com um piano de acordes melosos mas perfeitos dentro da música, que então sucede momentos mais calmos e outros de absoluta quandriloquência melódica. O lirismo excessivo da melodia é reflexo da letra, que trata da turbulência de sentimentos e desejos paradoxais em uma relação afetiva. “Light up My World” utiliza a base orquestrada de forma mais comedida, dando mais destaque à tecitura acústica do violão, à percussão suave, à bateria complementar e ao vocal de tonalidades românticas. A letra fala sobre um amor do passado, um relacionamento que apesar de ter chegado ao fim ainda fascina e apaixona. “Amore Si”, que questiona em suas letras se o amor está sempre atrelado à dor e ao sofrimento, é uma das melhores faixas deste álbum: a melodia é perfeita, com um piano de acordes doces e melancólicos, uma percussão luminosíssima, orquestrações na medida exata e um violão que completa a música em momentos decisivos. O vocal de Tanita, que foi mixado em várias camadas da melodia, entoando diferentes versos ao mesmo tempo, fecha o trabalho iniciado pela instrumentação de maneira esplêndida – tente ouvir apenas uma vez, sem voltar a faixa outra vez (é verdadeiramente impossível). “Back in Your Arms”, assim como a primeira música do disco, utiliza um pouco excessivamente a orquestração na melodia, bem como um teclado mínimo – ainda bem – e um backing vocal tão batidos que deixa um gostinho um pouco ordinário à canção. No entanto, graças aos vocais delicados de Tanita e à sequência final do trabalho de orquestração, a música consegue cativar. Na letra Tanita suplica sentir, ao menos uma vez mais, todo o conforto de um amor perdido. A faixa subsequente, a música-título do disco, retrata em sua letra episódica um flerte despretensioso em uma cafeteria, que se converte na esperança de ser o amor de toda uma vida. A melodia é composta de um trabalho cuidadoso de programação eletrônica, que ganha no refrão a companhia do teclado de acordes sutis e da orquestração de cordas complementar. O vocal e vocais de fundo da própria Tanita, adocicados e suplicantes, são acompanhados por uma ou outra fala em italiano, o que confere uma atmosfera cotidiana e cosmopolita à canção. “I Don’t Wanna Lose At Love” destaca-se pela sua orquestração de cordas de intensa beleza folk, o que faz de certo modo a canção fugir um pouco da intensidade pop do disco, apresentando também uma programação eletrônica feita de loops usuais que misturam-se à melodia de forma bastante homogênea. Na letra da música, vemos o desejo de conquistar o objeto de uma paixão algo platônica. Em “I like this”, o vocal da cantora apresenta-se entre o sussurrado e o sentimental, e em cuja melodia temos como destaque, à semelhança de outras faixas, uma bela fusão de programação eletrônica mínima e orquestração de cordas sobressaltante, com participação importante de ótimos acordes ao violão. “I knew you” fecha o disco escancarando, sem vergonha e com vontade, uma descarada inspiração latino-americana – acordes de piano, violas, violinos, vocais e backing vocal estão todos mergulhados num tcha-tcha-tcha animadíssimo e requebrante. A letra simples fala da constante prática de disfarçar sentimentos a atitudes e uma relação afetiva.
Parece evidente que a idéia deste disco foi tentar amenizar os aspectos mais idiossincráticos da música de Tanita Tikaram, tentando torná-la popular da maneira que ela nunca foi – isso ficou evidente até mesmo na sua maneira de cantar, já que seus vocais soam nitidamente menos abrasivos, bem mais suaves e macios. O mais estranho nisso tudo é que mesmo a empreitada não tendo obtido sucesso, a cantora decidiu manter as modificações no seu estilo, como se pode observar em seu mais recente lançamento, Sentimental – um disco que funciona como uma versão mais polida deste aqui. Porém, mesmo com alguns excessos de floreamento pop, The Cappuccino Songs é um bom disco, delicioso de se ouvir sem muito pretensão e com algumas faixas preciosas. Não deixe de arriscar, como fiz eu, atirando totalmente no escuro ao comprar este CD, há oito anos atrás – mal não há, já que aqui você vai obter as músicas todas de graça.
Baixe o disco utlizando o link abaixo e a senha para abrir o arquivo.

senha: seteventos.org

http://d.turboupload.com/d/1249419/tanita_-_cappucino.zip.html

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“Capitão Sky e o Mundo do Amanhã”, de Kerry Conran.

Sky Captain And The World Of TomorrowJovem jornalista presencia, junto com toda a população atônita de Nova Iorque, uma misteriosa invasão de robôs gigantes. Ela decide, junto com bravo e famoso aviador (que por sinal é um ex-romance seu), investigar as razões e objetivos obscuros para tentar evitar que mais maquinarias invencíveis façam mais estragos no mundo.
É evidente que o trabalho da direção de arte neste filme é a sua maior qualidade – a mistura de elementos modernos com outros retrô deixa o longa-metragem repleto de belíssima e estranha nostalgia. No entanto, o elemento que a produção do filme achou complementar ao trabalho da direção da arte, consitui-se em um recurso extremamente irritante: a fotografia reluzente, aquela muito utilizada em produções de época, deixa a imagem com um aspecto tão chapado que torna a expectação incômoda durante todo o decorrer do longa-metragem – ao menos no meu caso, foi necessário um esforço enorme para tolerar esse “halo” na luz do filme. Além desse aspecto, há também o fato de que o filme foi inteiramente feito utilizando a técnica do Chroma Key – aquela em que a ação em primeiro plano é filmada sobre um fundo de cor única para que seja inserido digitalmente um segundo plano ao fundo. Isto não seria um problema muito grande não fosse a intenção confessa da equipe de produção de utilizar a técnica intencionalmente afastando o visual final de qualquer aspecto realista – o que acabou infelizmente se tornando um novo paradigma no método de filmagem, visto que filmes como “Sin City” e o ainda não lançado “300 de Esparta” o fazem inspirados neste. O resultado, da forma como foi utilizado o recurso, irrita tanto quanto a fotografia aureolada do longa-metragem. Claro que, mesmo com os aspectos técnicos trabalhando contra o filme, ainda poderíamos ter um longa-metragem interessante se os outros pontos a ser considerados pesassem à seu favor. No entanto, eles não se configuram como algo positivo. O argumento cheira à fábula requentada – chegando mesmo a citar “O Mágico de Oz” – com a desculpa de “filme-homenagem” e de reinvenção de um gênero. Os personagens são extremamente caricatos, e as situações armadas no roteiro, consequentemente, tão batidas quanto os seus agentes. Por sua vez, o elenco é díspare e desigual, já que os onipresentes Jude Law e Angelina Jolie já saturaram o público com a sua imagem dentrou (e) ou fora das telas e Gwyneth Paltrow, sozinha, não tem muito como salvar todo um filme.
Ao fim, este filme não tem qualquer coisa que lhe configure o status de produção marcante ou relevante, mesmo dentro do cinema do circuito comercial. A inspirada direção de arte não tem força para conferir, por si só, aspecto relevante para que o filme seja uma produção a ser lembrada. A bem da verdade, tem que se admitir que este filme tornou-se realmente muito influente, porém foram os seus aspectos técnicos negativos que chamaram a atenção de cineastas, para nosso azar. Resta apenas esperar que um bom número de futuras produções envoltas nesta “atmosfera técnica” tornem-se fracassos retumbantes – é só assim, quando pesa no bolso, que Hollywood para de nos infernizar com alguns de seus “achados” mais irritantes.

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Pepsi – “Can Fu” (dir. Tom Carty). [download: vídeo]

Pepsi - Can FuComercial interessantíssimo, feito utilizando aquela famosa técnica inspirada no titerismo – em que alguém ou manipula um boneco com cordas ou utilizando uma veste escura, que disfarça a sua intervenção. O detalhe aqui é que isso é feito utlizando pessoas no lugar dos bonecos. A ação é evidentemente inspirada em filmes de Kung-Fu, e a trilha adota a idéia, conferindo-lhe humor delicioso. Engraçada é a conclusão do curta, que põe um ponto final na fantasia e escancara a técnica de maneira bastante irônica – e utilizando o refrescância do refrigerante como mote.
Baixe o vídeo utilizando este link.

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“Kiwi!” de Dony Permedi. [download: vídeo]

kiwi!A internet tornou possível o contato com curtas-metragens magníficos, que um certo jornalista brasileiro ousou, durante cobertura não-oficial pela internet da cerimônia de premiação do Oscar deste ano, chamar de produções irrelevantes. Kiwi!, esta pequena obra-prima, mostra, com sua avassaladora popularidade, o quanto esta afirmativa é vazia e tola. No filme, um pequeno pássaro da família dos Kiwis, um tipo de ave incapaz de voar devido suas asas diminutas, faz das tripas coração para realizar o sonho de toda sua existência. Me impressionou como um filme tão pequeno e tão pouco pretensioso consegue, de maneira espetacular, atingir as emoções do espectador. Esqueça “Rei Leão”: “Kiwi!”, com uma centena de minutos a menos, é muito mais efetivo ao atingir o espectador contando uma estória bonita, triste e profundamente tocante. Os aspectos técnicos também são primorosos: a trilha sonora, na sua veia cômica feita por sopros em uma tuba e na sua veia emotiva feita por uma melodia que lembra uma caixa de música, combina de maneira fabulosa com a animação digital de traços adoráveis e fofos. O pássaro de Kiwi fica, para mim, como um dos personagens mais emocionates e humanos já criados na estória das animações, de curta ou longa-metragem. Fabuloso e inponderavelmente brilhante – lágrimas mostram o quanto eu não estou mentindo. E fica, como aspecto negativo ao ter descoberto este curta, a prepotência da equipe e usuários do Wikipedia, que discutem excluir um artigo sobre este vídeo. Não há termos e regras de uso que me expliquem o que torna este curta metragem menos interessante ou relevante do que tantas outras coisas que constam na famosa enciclopédia online – sinceramente, eles caíram no meu conceito. E o YouTube e seus usuários, ao contrário, subiram – afinal de contas, mais de 2 milhões de visualizações e mais de 12 mil comentários não devem, de forma nenhuma, ser desprezados.
Baixe já este curta metragem mais do que imperdível pelo link abaixo.

http://www.donysanimation.com/Kiwi.mov

Uma explicação: Sim, ele pregou TODAS as árvores – é simplesmente perfeito.

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“Caché”, de Michael Haneke.

cachéCasal de classe média-alta recebe, certa manhã, uma fita de vídeo constando filmagem de longa sequência da entrada de sua residência, acompanhada ainda de um desenho obscuro de traços infantis. Não demora muito e outras fitas e desenhos sucedem-se, sendo que uma destas revela relação com as origens do patriarca da família. O apresentador de TV e sua esposa, ambos envolvidos com o mundo literário, sentem-se mais e mais ameaçados e intrigados com a origem das fitas e com as intenções de quem as produziu.
Juliette Binoche e Daniel Auteuil são as escolhas corretas para este que é o filme mais recente do alemão Michael Haneke. Os dois são atores excepcionais, capazes de desempenhar papéis de todas as gamas possíveis. Aqui, eles interpretam um casal culto de classe média alta, mas que tem, ao mesmo tempo, uma natureza ordinária – não são muitos os atores que conseguiriam unir estas duas diferente nuances no mesmo personagem. Saindo do mérito interpretativo, Haneke merece todos os elogios pois, como no seu filme anterior, arquiteta uma estória complexa que se esconde sob a abordagem clássica do cinema europeu. O que a primeira vista parece um argumento que explora a insegurança da vida urbana, mostra-se, em uma camada mais profunda, uma discussão bastante cara ao cineasta: a situação dos imigrantes na França deste início de século. Georges Laurent, o personagem de Auteuil, age baseado em motivações justas, procurando proteger sua família a todo custo, mas na tentativa de encontrar o mentor das fitas misterioras, Laurent define para si um culpado e, como no passado, humilha e recrimina alguém que já sofre e encontra-se em uma situação infeliz, sem nunca ter prova definitiva de que suas suspeitas procedem e suas ações justificam-se. Alguns poderiam afirmar que o personagem age deste modo porque encontra-se tão confuso quanto o expectador, já que Haneke não apresenta no filme respostas claras à estas indagações, porém não são as respostas às dúvidas surgidas a razão de ser de “Caché”, mas sim esta analogia, muito bem posta, entre as atitudes da França e dos franceses com relação à estrangeiros, particularmente aqueles originários das ex-colônias do país. “Caché” é excepcional em sua abordagem sociológica, mas também figura como um longa de expectação consideravelmente incômoda, devido à sua temática realista e seus conflitos eminentes e constantes. A decisão de não adotar trilha sonora durante todo o filme amplia o desconforto do expectador, potencializa o realismo da trama e aproxima-o ainda mais dos acontecimentos da estória. Além dessa secura na abordagem do longa-metragem, a maneira como Haneke exibe as filmagens dos cassetes, tomando a tela com as imagens destes, põe o expectador na mesma situação dos personagens que tem sua privacidade e segurança repentinamente ameaçadas – uma idéia que, combinada com a natureza do roteiro e de seus argumentos, explora magistralmente a relação entre filme e expectador, tornando esta relação insuportavelmente tensa, mantida em um desagradável suspense contínuo.
Haneke é, a cada filme, um dos cineastas europeus com a proposta mais consistente, aliada à uma técnica apurada e um gosto pela polêmica – não à de natureza gratuita ou leviana, mas a polêmica necessária, aquela que questiona e induz à reflexão. Além de muita coisa mais, cinema também é isso, uma maneira de despertar o pensamento humano sobre a realidade e a consequência de suas ações. Apesar de, até este momento, Haneke ter se mostrado um cineasta coerente, tenho que revelar que até mesmo ele rendeu-se aos encantos de Hollywood: neste momento, o diretor está finalizando uma refilmagem, com elenco americano, de um dos seus primeiros e mais contundentes longas, chamado “Funny Games”. Vamos torcer para que esse projeto seja apenas uma curiosidade singular e pessoal do diretor, e que ele retorne logo para continuar a produzir no seu continente natal, visto que, no cinema americano, dificilmente alguém consegue produzir algo tão relevante e complexo quanto seus dois últimos filmes.

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Thom Yorke – The Eraser. [download: mp3]

thom_yorkeMesmo não sendo fã da banda Radiohead, gostando apenas de algumas poucas faixas de seus álbuns, resolvi arriscar ouvir The Eraser, o álbum solo do vocalista da banda. Foi uma boa idéia – mesmo o disco não se revelando estar entre as minhas preferências, há ali um projeto sonoro bastante coeso e faixas bem acima da média.
O disco inicia com a idiossincrasia da faixa título do álbum que, como a maior parte das faixas do disco, é essencialmente eletrônica. O sampler de um piano repete-se continuamente ao fundo, enquanto ruídos intencionalmente sujos encorpam a base da canção e sobrepostos pelo vocal anasalado de Yorke, que ao mesmo tempo segue e foge da limitada melodia. Na parte final da canção a base eletrônica é re-sampleada e ganha um ruído abafado ainda maior, sumindo aos poucos e deixando o cantarolar baixo do cantor para encerrar a música. A letra trata dos jogos de aparência, as traições e segundas intenções que integram ambos os lados de uma relação afetiva. Logo depois temos “Analyse”, um dos pontos altos do disco, com letras que falam sobre a insistente busca humana de um sentido maior na vida que, geralmente, deixa os que travam esta busca mais confusos do que antes de terem a iniciado. A melodia é bem menos minimalista e seca do que a anterior: os acordes do piano ousam ser mais melódicos e emotivos, acompanhados por uma base eletrônica complementar constante que, apesar de bastante sincopada, complementa estranhamente bem a beleza do piano e vocais fabulosamente sensíveis de Thom Yorke. “The Clock”, a faixa seguinte, tem baixo bem mercado e um loop curto constante, feito à base de ruídos eletrônicos e samplers hiper-minimalistas de guitarra e de percussão. O vocal de Thom aparece em várias camadas diferentes pela melodia, que no âmbito geral produz uma sensação de desconforto urbano pós-moderno. A letra, como indica o título da canção fala do tempo, mas dentro do espaço da relação afetiva e das ilusões e desejos dentro delas construídas. “Skip Divided” é a canção em que Yorke menos utiliza os seus famosos falsettos, preferindo cantar com uma voz menos empostada e mais natural. Funciona muito bem dentro da melodia de tons noturnos, recheada de eletronismos obscuros e vocais de fundo distorcidos e redistorcidos que, de tão bruxuelantes, me lembram as melhores passagens da inspiradíssima trilha sonora de Wojciech Kilar para o filme “Drácula”, idealizado por Francis Ford Coppola. Na letra, Thom Yorke disseca a dor, agonia e descontrole doentios que a simples visão e proximidade de alguém por quem nos apaixonamos pode despertar. “And It Rained All Night” inicia com uma miríade de ruídos eletrônicos que se entrelaçam em uma espiral sonora, até serem estranhamente sobrepostos pela acústica de baquetas de bateria sendo batidas uma contra a outra. O loop das baquetas prossegue continuamente, enquanto surge na música mais um riff marcante do baixo e um teclado que lembra o som de um temerim, algo claramente inspirado em filmes de terror e suspense cheios de soturnas figuras alienígenas – loops e samplers sujos de ruídos indistintos ou de guitarras deformadas também perfazem a melodia delirante da canção. A letra contribui na preservação do clima perturbardo da melodia, falando sobre uma noite de sono perdida por um ruído incômodo de chuva, o que abre espaço na mente cansada para ser tomada por delírios de Nova Iorque ser completamente alagada por águas torrenciais – faixa de clima mórbido interessantíssimo. “Harrowdown Hill” é outra canção que se destaca no álbum, apresentando um baixo (ou guitarra?) de presença forte na música, funcionando quase como uma bateria, cujos acordes dedilhados se repetem ciclicamente durante toda a canção. Sonoridades sobressalentes são construídas pelos loops minimalistas que complementam a base da canção e também pelo constante orgão de leve variações melódicas, que potencializa a sensibilidade do vocal de Yorke e produz uma pausa na sequência final, acompanhada brevemente por acordes espaçados e adocicados de piano que deixam o ouvinte suspenso na melodia por alguns instantes. Yorke declarou que sua letra foi baseada na morte de David Kelly, o cientista que derrubou, usando provas e estudos, as motivações britânicas – e consequentemente americanas – para a invasão do Iraque. Mas, analisando a revelia deste dado, pode-se dizer que a letra trata do desejo humano de fuga e de revolta diante da confusão e desprezo sobre as individualidades e sentimentos.
The Eraser não compraz ainda uma sonoridade que grade em extremo, nem faz seu criador passar muito mais notado por aqueles que nunca o tiveram como preferência. No entanto, o disco revela que Thom Yorke é capaz de modificar a sua idiossincrática veia criativa para atingir uma outra parcela de público sem, no entanto, colocar em risco a identidade musical criada com tanto esmero e afinco à frente da banda Radiohead. É um grande mérito já que, algumaa vezes, projetos solo descambam para algo sem novidade alguma, servindo apenas ao propósito de apaziguar o ego de uma artista que se sentia tolhido ou pouco livre para expressar-se.
Baixe o disco utilizando a senha a seguir para abrir o arquivo.

senha: seteventos.org

http://d.turboupload.com/d/1223894/Yorke_-_Eraser.zip.html

Sim, eu já tinha postado este álbum por aqui. No entanto, tinha feito isso sem escrever uma resenha. Me dei ao direito de refazê-lo, agora que o escutei com cuidade e avalei. (Re)Aproveitem.

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“Lost”: 3ª temporada (1° ciclo): os bons e os maus momentos [sem spoilers].

Lost - 3ª Temporada - 1° cicloPara os que tem os meios necessários para acompanhar os episódios da 3ª temporada de “Lost” através de downloads de episódios legendados na internet, pouco tempo depois de sua exibição original nos Estados Unidos, fecha-se o primeiro ciclo desta nova temporada, que retornará com a sequência dos 16 episódios restantes apenas em Fevereiro de 2007. Estes seis primeiros episódios deixaram os espectadores divididos entre aqueles que detestaram e outros que adoraram – mas mesmo os que não estão gostando dos rumos tomados neste início de temporada não deixaram de assisitir o seriado.
Problemas com o andamento do terceiro ano da série há, não restam dúvidas. Tomando o cuidado de não abrir a boca como o fazem por aí, revelando tudo o que ocorreu para aqueles que ainda estão assistindo este primeiro ciclo ou mesmo para os que sequer assistiram a 2ª temporada, esperando pacientemente a exibição na desperdiçante Rede Globo, vou citar alguns pontos negativos – leia sem medo: nada mesmo vai ser revelado que estrague qualquer surpresa. Primeiro, a presença constante dos chamados “Outros” nos episódios fizeram desaparecer grande parte do elenco original, esquecidos, junto com os eventos que os envolvem no acampamento dos sobreviventes. Segundo, mesmo quando são abordados novamente os personagens da queda do avião, a sua participação e a importância de alguns dos acontecimentos vivenciados por eles acaba ou perdendo a continuidade e simultaneidade em relação ao que anda acontecendo no domínio dos “Outros” ou senão tem seu impacto reduzido, mesmo tendo sido estes eventos vividos por eles de extrema importância. Um terceiro problema é a sequência de mortes que iniciou-se na parte final da 2ª temporada e que conclui-se num destes seis episódios, praticamente pondo um fim na participação de um grupo de personagens que surgiu no segundo ano da série. O quarto problema é o aparente abandono de alguns mistérios surgidos na primeira e segunda temporadas: uma das principais questões sem resposta é se aquele personagem que se foi no fim da 2ª temporada simplesmente não vai mais voltar – lembrem-se que ele carregou consigo alguém que envolvia um dos acontecimentos mais importantes da série, e que ocorreu no final da primeiro ano. E um quinto ponto negativo (alguns poderiam até enumerar ainda outros mais) seria o argumento de alguns deste seis episódios, que criou estórias pregressas algo incongruentes e fracas para alguns personagens cabais da série.
No entanto, também temos belos pontos positivos neste ano 3 de “Lost”. O primeiro e principal deles seria o fato de que, mesmo alguns mistérios tendo sido ao menos temporariamente esquecidos, outros tão importantes quantos estes foram finalmente revelados: algo sobre “Os outros”, muito sobre a queda do avião da Oceanic, e revelações sobre a possível existência de contato com o mundo fora da ilha. Segundo, criações importantes da mitologia da série voltaram a dar a suas caras nestes primeiros episódios: os ursos polares se fazem presentes novamente e o chamado “Lostzilla” volta com furor e implacabilidade fatal – este último, além disso, retoma também a idéia de que os personagens passam por algum tipo de teste ou provação. Terceiro, os “Outros”, ainda que muito envoltos em mistérios, foram revelados como sendo liderados por personagens que vivem armando jogos psicológicos – quando não fisicamente torturantes -, explorando muito bem as dúvidas e temores dos personagens. Quarto, os personagens novos ou aprofundados nesta terceira temporada, em especial do grupo dos “Outros”, mostram mais uma vez a admirável capacidade da equipe que produz “Lost” de construir personagens cativantes e bem amarrados, muito auxiliados, justiça seja feita, pelos seus intérpretes. Quinto, os personagens clássicos da série – entenda-se aqui os sobreviventes do desastre do avião -, em alguns episódios, tomaram atitudes surpreendentes, mesmo em participações lamentavelmente pequenas: Sun e Jack – sempre ele -, particularmente, satisfizeram o meu lado mais homicida com suas ações que já tiveram ou terão, no retorno da série, importantes consequências. Sexto, com a entrada de Rodrigo Santoro no elenco teremos, aparentemente, um personagem brasileiro no seriado.
Com relação à Santoro, temos que poupar nossas críticas à sua ainda diminuta participação na série. Antes de qualquer coisa, temos que lembrar que Santoro é praticamente um mero desconhecido inserido em meio à uma produção estrangeira que já pode ser considerada veterena. Sendo assim, não poderíamos esperar, por exemplo, ter flashbacks de seu personagem logo de cara, não da forma como ele foi inserido e de como está sendo sugerida sua personalidade.
Resta-nos agora aguardar a retomada da 3ª temporada em fevereiro próximo. Algumas entrevistas e declarações dos produtores na internet – que evito ler – mostram que eles podem ter esquecido alguma coisa, mas também mostram que eles estão bem atentos para acontecimentos-chave da trama, antigos e novos, tendo eles comentado, inclusive, que o mistério que envolve crianças e uma odiada nova personagem será abordado de alguma forma logo nos primeiros episódios do segundo ciclo. É, mesmo cambaleando em alguns momentos, “Lost” continua de pé e mantendo o interesse. Alguma audiência pode ter sido perdida, mas lembrem-se que toda febre passa, para o bem do paciente – eu realmente não entendia como pessoas que não curtem seriados poderiam estar assistindo “Lost”. Só espero que a ABC, o canal que produz a série, entenda que esta parcela do público não era mesmo a audiência típica dos seriados americanos e desconsidere a histeria coletiva inicial, tão falsa quanto a idéia de que a série não aborda o lado humano dos personagens, como foi comentado por aqui no seteventos.org no texto anterior sobre a série.

Ei! Você já deu uma olhada na barra lateral? Sim! São links para episódios legendados de “Lost” e da série “Heroes”. As fontes foram devidamente citadas, claro. Aproveite e baixe: uma conexão de banda larga apenas regular já satisfaz as necessidades para o download dos arquivos! Eu sei, eu mereço um beijo. Não, dois. De preferência do Matthew Fox, que continua um arroubo de masculinidade em pleno terceiro ano de “Lost”.

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Emily Haines & The Soft Skeleton – Knives Don’t Have Your Back. [download: mp3]

emily_haines_and_the_softs_keletonBelas surpresas reservam a internet. Ao me deparar com o perturbador vídeo de Emily Haines (veja aqui no blog), fiquei deveras impressionado com a sua música e, inevitavelmente, seguiu-se uma busca pelas canções de seu segundo álbum solo. Garimpei a web inteira, encontrei o álbum e fiquei surpreendido. Knives Don’t Have Your Back pode não ser feito completamente de músicas fenomenais, mas aquelas que são fenomenais, o são integralmente. “Doctor Blind”, o single cujo vídeo já citei e aqui postei, é abusivamente moderno e delirante: nas letras, entre versos algo delirantes, o vocal de tom desesperançado de Emily pede à um médico a prescrição de drogas para aplacar o sofrimento psicológico de seu companheiro; a melodia é feita num piano de acordes tristes e bateria de cadência lenta e pesairosa, acompanhados por bom uso de orquestração de cordas complementar. Em “Detective Daughter”, cuja letra fala sobre conflitos de identidade com os quais todos podemos nos deparar em certa altura da vida, temos uma melodia hipnótica que usa, além do piano triste e reflexivo, acordes longos de guitarra e bateria eletrônica básica. “The Lottery” trata da liberdade sexual e da sua necessidade na vida humana, trazendo um melodia onde orquestrações de cordas sofisticadas ganham mais corpo na música, complementando o piano de acordes um pouco desiguais e o vocal sutilmente irônico de Emily. Em “The Maid Needs A Maid” Emily revela uma canção de amor para uma outra mulher, revelando os detalhes ordinários de sua beleza e comportamento que a fascinam. A melodia é baseada apenas em piano, cujos acordes graves são tão bem compostos que realmente fazem desnecessária a participação de qualquer outro instrumento. “Mostly Waving”, cujos versos curtos falam sobre o comportamento inadequado, tem como seu maior atrativo a música fabulosa: além do piano minimalista de acordes essencialmente graves, temos uma bateria suavemente cadenciada que evita atrapalhar a participação da orquestração de metais, que é o grande salto da melodia, junto com a ironia sutil que Emily põe em seu vocal solto à meia-voz e nos vocais de fundo bastante lúdicos. Os metais também estão presentes em “Reading in Bed”, porém a orquestração destes é mais suave e lenta, compondo apenas a sequência final da música e acompanhando o trabalho ao piano, onde Emily volta à explorar a sua destreza em compor acordes feitos de pequenos ciclos melódicos que se repetem e se modificam ligeiramente durante a música – uma representação legítima do chamado “minimalismo”. A letra fala sobre a vida ordinária de um homem qualquer, cuja tristeza provém de um livro que tem sempre à mão. “The Last Page” trata os percausos e medos que temos durante a vida com necessários de ser enfrentados, o que minimiza e diminui o seu impacto. A melodia é dividida em duas partes diferentes, primeiramente baseada apenas em piano de toques esparsos, ganhando a participação discreta de um orgão por alguns instantes; na segunda parte da música surge uma bateria de cadência algo orgânica, que se mantém durante os instantes finais da canção enquanto o piano, o orgão e um baixo sutil somem da melodia. A última música do disco, “Winning” é daquelas canções soberbas que fecham discos de maneira tão perfeita que é impossível evitar ouvi-la novamente. A letra, de lirismo pós-moderno e dissonante, fala sobre a tentativa de consolar o sofrimento de alguém sem deixar de mostrar-lhe como isto não vai ser fácil, mas que será feito uma hora ou outra. A música, novamente centrada apenas no piano, casa com perfeição com o vocal melancólico mas encorajante de Emily, tendo, na sua parte final, uma das sequências melódicas mais belas que já ouvi, primorosa em seu modo fulminante de atingir as emoções do ouvinte utilizando tão pouca coisa – é de ouvir ininterruptamente, dissecando, saboreando e decifrando cada um dos seus preciosos e esplenderosos segundos.
Emily Haines, cuja formação de músicos que participam do disco ela chamou de “Soft Skeleton”, criou em Knives Don’t Have Your Back um álbum de melodias que mostram seu valor de maneira sutil na primeira audição, revelando à sua infinita beleza mais e mais à cada audição mais atenta e cuidadosa. Pra quem já ouviu muita coisa no folk-pop-rock, não é difícil reconher semelhanças com o vocal suave e sussurrante de Suzanne Vega, com a elegância pretensamente descuidada das composições de Cat Power e com o lirismo incontido de inúmeras bandas do indie-rock europeu e americano. No entanto, mesmo reunindo essa miríade de influnências musicais, Emily constrói uma identidade musical tão forte e consistente neste seu segundo álbum solo que a artista consegue conquistar sem muito esforço um lugar seguro mesmo entre aqueles que vivem incansavelmente buscando novidades no mundo da música. Ouça e faça-o com muito cuidado e atenção – Emily Haines não é uma artista que você encontra muitas vezes no ano e muito menos com maior facilidade. E comente, logo que você tenha uma opinião formada sobre sua música – gostei tanto deste álbum que estou curioso sobre a resposta dos internautas.
Baixe o álbum usando o link a seguir e a senha para abrir o arquivo.

rapidshare.com/files/353837524/haines_-_knives.zip

senha: seteventos.org

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Fiona Apple – “Not About Love” (dir. Michael Blieden). [download: vídeo]

FionaFazendo o papel de coadjuvante, Fiona assiste ao amigo comediante Zach Galifianakis dublar a sua música “Not About Love”, este sim o protagonista do vídeo. Zach está engraçadíssimo: solta a franga, faz cara de “mamãe sou cool”, ignora solenemente Fiona enquanto dubla os vocais e não tem qualquer vergonha de, à la Miguel Mas (veja o vídeo “Jesus Christ, the Musical”, aqui no seteventos.org), delirar no meio da rua. Fiona, no papel de apoio, está ótima, por vezes entrando na brincadeira e em outras fingindo inveja e revolta. Deliciosamente imperdível.

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