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“Redemoinho”, de Denis Villeneuve. [download: filme]

Bibiane, herdeira do legado de famosa estilista e mergulhada em uma fase inconsequente de sua vida, acaba por envolver-se em um evento que vai alterar o curso de sua vida.
Idiossincrático, “Redemoinho” não apenas assume sua ficcionalidade desde o início ao dirigir um pedido de desculpas ao povo norueguês por tudo ser invenção, mas revela seu caráter algo peculiar ao ter sua história narrada pontualmente por peixes que tecem comentários filosóficos sobre as desventuras da protagonista até serem um a um abruptamente interrompidos quando têm suas cabeças decepadas. Assim descrito, o filme dirigido e roteirizado por Dennis Villeneuve pode soar forçosamente artificial e pedante, mas a composição inteligente da trama não apenas remove qualquer possível sombra disto, ela consegue evitar que a protagonista, uma mulher envolvida em relações afetivas pueris, com comportamento displicente e inconsequente que acaba por envolvê-la em um acidente sério, não chegue a despertar a antipatia do público: desnudando explicitamente os defeitos de sua anti-heroína sem deixar de revelar suas angústias, anseios e emoções sinceras, Villeneuve aproxima a personagem do público, tornando-a mais palpável e realista, evitando assim que a audiência julgue-a tão somente pelos seus erros.
Porém, muito além da sensibilidade na construção de sua protagonista, o que de fato concede ao filme o seu enorme charme é a sua constituição híbrida e homogênea de realidade e surrealidade. Ao mesmo tempo que o cineasta canadense encobre com consideráveis camadas de bizarria irônica e humor-negro vários componentes do seu filme – além da já citada introdução e do insólito narrador da história, a abordagem contamina a seleção e utilização da trilha sonora, a inserção de personagens coadjuvantes e periféricos e a concepção da trama, que é pontuada por intervenções e retrocessos que encorpam a trama e coincidências ao acaso que não chegam a interferir inteiramente no livre-arbítrio dos personagens, mas que pontuam suas decisões e auxiliam na sustentação da atmosfera parcialmente idílica – ele nunca deixa de manter o delicado equilíbrio desta abordagem com a malha realista da história e os eventos dramáticos que o perfazem, de um certo modo aproximando “Redemoinho” do realismo fantástico presente em parte da literatura latino-americana de ontem e de hoje, um trabalho muitíssimo cuidadoso que se manifesta tanto no que há de menos quando no que há de mais sutil no filme. O resultado disto é um longa-metragem supreendentemente leve, um misto de comédia romântica, drama e fábula pós-moderna que vai sorrateiramente fascinando o espectador por conseguir captar e materializar em sua trama a sensação que algumas vezes experimentamos de que o insólito está à espreita na nossa vida e de que quando menos esperarmos nos veremos em meio à artimanhas do destino e eventos incomuns – incluindo os peixes narradores.

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legendas (português):
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Timber Timbre – Creep On Creepin’ On. [download: mp3]

Taylor Kirk, cantor e compositor canadense que é a ponta criativa do triângulo que compõe a banda Timber Timbre, cujos outros vértices são Mika Posen e Simon Trottier, poderia bem ganhar a vida como intérprete de grandes clássicos do blues por conta de sua voz grave e macia, e nota-se facilmente o quanto o gênero influenciou suas composições, particularmente no seu último disco, Creep On Creepin’ On. Além da própria carga que existe em seu vocal, aquele vapor melancólico e nostálgico do blues também acaba contaminando boa parte das melodias. O piano de notas agudas e cristalinas que estala no ar em “Bad Ritual” é exemplo claro disto, há porém a companhia de algumas orquestrações e eletronismos lo-fi que lhe conferem também uma sonoridade bastante soturna. Esta atmosfera também circunda os acordes do piano, as inserções pontuais do saxofone e o órgão empoeirado de “Black Water”, conferindo à canção ares de balada de salão de festas de um hotel mal-assombrado. O saudosismo ganha um requebro mais dançante na cadência de teen party sessentista de “Too Old To Die Young”, que parece saída diretamente de um momento mais inspirado em que Chris Isaak incorpore o seu Elvis. A impressão no início desta faixa é que o ar sinistro possa ter ficado pra trás, mas a sensação evapora rapidamente quando o refrão soturno ataca sem hesitar a melodia. Esse caráter musical que desenha referências na música de meados do século passado floresce igualmente na faixa “Woman”, mas o obscurantismo dark não deixa de se fazer presente, insidioso e lembrando muito o trabalho dos britânicos do Portishead: impossível não fazer referência à biologia melódica do grupo inglês na intro que funde metais, guitarras e bateria em uma marcação aquosa de filme de ficção-científica tanto quanto no modo como isso é repentinamente revertido em uma singela harmonia tradicional em piano, vocal, baixo e bateria.
O parentesco de Timber Timbre com músicas de antigos filmes de sci-fi e terror não fica apenas na fusão feita com melodias que tem algo da boemia de um cabaret ou salão de festas de um hotel cinco estrelas, mas é exibido em toda sua intensidade na tecitura das faixas instrumentais que pontuam de modo dramático o disco assim como sequências de um filme são pontuados por sua trilha. Assim funcionam “Obelisk”, com o suspense armado pelo arranjo de cordas sobre um pulso ininterrupto da bateria e ruídos que rompem a melodia e reforçam o clima espectral, e “Swamp Magic”, que apesar do obscurantismo inicial nos acordes escandidos no violão, na ondulação das cordas e nas interferências indistintas, é banhada por uma luz orquestral em sua sequência final. Contudo, o mais belo interlúdio cinemático é o de “Souvenirs”: uma reverberação de cordas fulgurante que é reminescente das esplêndidas peças eruditas do hiper-vanguardista György Ligeti que sonorizaram a espetacular obra-prima “2001: Uma Odisséia no Espaço”, fechando no modo “egotrip transcendental” o singular setlist que cairia muito bem em uma festa – mas só naquela cuja anfitriã fosse Carrie White.

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“Os Amores Imaginários”, de Xavier Dolan. [download: filme]

Les Amours Imaginaires - Heartbeats, de Xavier Dolan

Francis e Marie, dois amigos que moram em Montreal, se encantam por Nicolas, jovem que surge no círculo de amizades de ambos, e pouco a pouco o encantamento cria uma silenciosa erosão na relação de ambos.
O que impressiona de imediato neste segundo longa-metragem de Xavier Dolan é que com apenas 21 anos o jovem canadense já tenha definido uma estética firme, sólida e apurada como poucos cineastas. Ao co-produzir e encarregar-se da direção, roteiro, concepção de figurino, cenografia e edição da película, Dolan manteve absoluto controle sobre componentes essenciais para elaborar sem interferências a atmosfera repleta de elegância, charme e uma doce e delicada nostalgia que encobre o filme do início ao fim. A despeito de fascinar, porém, a beleza plástica engendrada pelo diretor tem seus reveses: como todo cineasta em início de carreira que tenta se impor, Dolan peca pelo excesso ao tingir constantemente seu filme nas matizes e texturas de seu olhar embebido em beleza. O uso ostensivo de câmera lenta combinado à uma trilha sonora composta por peças eruditas e canções indie e pop nostálgicas e contemporâneas que amplificam o efeito da imagem tornam, a certa altura, a estética previsível, quando não esvazia-a de sentido, mesmo tendo o cineasta justificado o efeito superficializante de sua estética como reflexo deste mesmo estado das emoções de seus personagens. Porém, os reveses do visual do filme, mesmo intoxicado pela própria beleza, não se constituem no seu maior problema, mas sim o seu conteúdo.
Com a atonicidade da dinâmica de sua história, parece evidente que com seu “Os Amores Imaginários” Dolan presta uma homenagem à uma faceta da Nouvelle Vague, impressão esta reforçada pela estética do filme. Retratos da rotina nada extraordinária de romances, incluindo triângulos amorosos, eram uma das temáticas caras ao movimento do cinema francês, porém, nos clássicos do gênero o seu grande diferencial não eram comumente os acontecimentos da trama, mas seus agentes: os personagens. E esta é exatamente a fraqueza de Dolan: ao invés de uma pessoa repleta de magnetismo, fascinante e sedutora, alguém que poderia despertar paixões inconsequentes a ponto de atribular amizades até então inabaláveis, o jovem que coloca silenciosa e traiçoeiramente os amigos Francis e Marie como adversários que disputam a sua atenção é o exato oposto disso: uma figura sem encanto, opaca e até um tanto infantil – nem é preciso dizer que assim, boa parte da razão de ser do filme deixa de existir. Mas também os protagonistas da trama falham em despertar o completo interesse pelo longa: há uma certa artificialidade presente nos dois personagens que não permite à platéia que desenvolva o necessário nível de empatia para que a trama ganhe importância.
Ironicamente, porém, são os interlúdios reflexivos que pontuam por três vezes a trama – sequências em que amigos dos protagonistas trocam experiências e impressões sobre relações afetivas, em tom informal e semi-documental – que acabam trazendo mais sagacidade e sensibilidade à “Os Amores Imaginários”. É da boca destes jovens homens e mulheres que surgem os comentários mais realistas e precisos sobre as dificuldades amorosas. E, como se isso não fosse o bastante para eclipsar os protagonistas, é entre estes personagens absolutamente periféricos que encontra-se a jovem stalker de lisos cabelos escuros e óculos de resina que se constitui na mais divertida e espontânea das figuras do filme, e talvez não por um acaso, o abre: ao contrário da trama dos protagonistas, seus comentários e observações cheios de ironia e auto-depreciação elegantes captam completamente a atenção do espectador ao ponto de você quase esquecer que este não é o foco principal do longa canadense, o que é realmente uma pena – tivesse o filme se centrado na presença cheia de graça e inteligência destes personagens ocasionais da trama, as atribulações e acidentes afetivos não pareceriam tão pueris quanto o fazem parecer a trinca de protagonistas. Do jeito que está, a credibilidade dos dramas dos amores de Xavier Dolan não vai mesmo além de sua imaginação.

legenda (português):
legendas.tv/info.php?d=8d338c0ebee73fdf25a09231305bbe93&c=1

hotfile.com/dl/80111438/f75a4d1/Heart_beats.part1.rar.html
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Melissa Auf der Maur – Out Of Our Minds (+ 3 faixas bônus). [download: mp3]

Melissa Auf der Maur - Out of Our Minds

O novo e tão adiado álbum de Melissa Auf der Maur, lançado no primeiro trimestre deste ano, é o contraponto musical às duas outras partes do projeto Out Of Our Minds (ou apenas “OOOM”): um curta-metragem de 30 minutos e uma graphich novel completam o trabalho concebido pela artista que mistura fantasia, vikings e viagens no tempo. Parece um tanto descabido, não? Pois bem, devo confessar que desde a verdadeira overdose de álbuns conceituais lançados por Tori Amos nesta década, alguns deles excelentes, outros apresentando-se um tanto confusos e forçados, acabo preferindo a simplicidade objetiva dos discos que se contentam tão somente em ser um apanhado de músicas bem trabalhadas e embaladas em um visual caprichado. E como aconteceu com alguns destes últimos discos de Tori Amos, a faceta conceitual de Out Of Our Minds, em si, não apenas é difícil de se apreender como na verdade não representa ganho algum às canções, e assim sendo, penso que o melhor é avaliar o disco pelo seu caráter musical apenas, descartando qualquer conexão ou relação necessária com o conceito criado por Melissa.
Avaliado sob esta abordagem, Out Of Our Minds mostra-se um belo trabalho, com uma atmosfera mais estudada do que a do álbum de estréia: aqui, a cantora e compositora canadense mostra que não tem qualquer preocupação em sustentar o tempo todo uma sonoridade pretensamente rockeira, preferindo seguir seu instinto. Faz sentido: cartilhas são para iniciantes ou os que não tem confiança e segurança suficiente. E é assim que a cantora abre o disco com “The Hunt”, uma faixa instrumental em que bateria, baixo, guitarra e o eventual aporte dramático de um piano sucedem-se sobre o pulso do baixo marcado pela batida do coração até serem suplantados por vocalizações da artista, que fecham a canção com o suspense de uma caçada, como sugere o título. A faixa que dá nome ao álbum vem em seguida, guiada pela frequência irresistível dos acordes de guitarra e uma bateria de toques equilibrados, tem no verso “If you’re listening/You’re a dreamer/So come in/Come sit by my fire” o convite irrecusável para o ouvinte acompanhar a cantora canadense em seu tão aguardado lançamento. “Isis Speaks”, com letras que retratam o delírio da cantora com uma figura feminina, chega com riffs cristalinos de guitarra, em uma melodia em que bateria, baixo e vocais relacionam-se de modo mais homogêneo. Entra “Lead Horse”, uma faixa instrumental algo monotonal, mas que faz uma boa transição para o segundo grupo de canções do álbum, entre elas “22 Below”, que apoiada por acordes taciturnos de guitarra, canta uma condenação à mesquinharia humana com vocal melancólico e por volta de sua metade é revertida por um interlúdio de guitarra intenso que lança a canção ao ar e coloca-a num vôo melódico hamonioso que a encerra. Abandonando o clima da faixa anterior, em “Meet Me On The Dark Side” Melissa faz o público saborear um pouco de seu pop/rock, guiando seu baixo em uma cadência charmosa para fazer abertura para as notas maciças da guitarra, os vocais com coloração mais macia e temperar a melodia com um punhado de acordes de cravo que coroam a música com uma dose de elegância. “This Would Be Paradise” é a terceira e melhor faixa instrumental do disco, e traz como único elemento vocal o trecho de um discurso do reverendo canadense Tommy Douglas – que comenta epistolarmente a contradição entre o potencial intelectual do homem e sua enorme tendência a agir de modo estúpido – acompanhado por uma melodia que mistura a sonoridade sempre folk de uma autoharp à uma camada generosa de acordes de baixo e sintetizações, tudo evocando a imagem de uma paisagem que vai se revelando pouco à pouco destruída e arrasada. “Father’s Grave”, dueto com Gleen Danzig, é mais uma música de tonalidades depressivas e tristes, e não à toa, visto que, entre as notas graves da guitarra e baixo e o andamento pesado da bateria, o lamento de Melissa e seu convidado versa sobre uma garota que precisa de apoio para chegar ao túmulo de seu pai – é praticamente uma marcha fúnebre. Mas a tristeza não dura muito, pois “The Key” é outra canção com melodia pop/rock sólida, conduzida pelo pulso quente e firme da guitarra, do baixo e dos vocais e uma bateria que sabe se colocar no momento exato que a música pede. “The One”, penúltima faixa do disco, prossegue pelo mesmo ritmo, com um instrumental de guitarra, baixo, bateria e vocais que compõe um todo consistente, mesmo não fugindo muito da sonoridade de um single tradicional. Fechando Out Of Our Minds, em “1000 Years” Melissa Auf der Maur dedilha seu baixo com um gingado incrível, sutilmente sensual, acompanhado pela bateria e pela guitarra e banhado por um vocal irretocável, que flutua entre diferentes registros e impressões de sentimentos. Vocalizações esplêndidas, ao final da canção, remetem à atmosfera idílica da faixa instrumental que abre o disco, faixa que após alguns instantes de silêncio surge como hidden track, reinterpretada em uma tecitura erudita ao piano e encerrada pela cantora lançando a pergunta “is it better to be further away or close?” Bem, Melissa, depois de mais um bom disco, cheio de belos momentos, eu digo: close, Melissa! Very, very close!

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“A Última Noite”, de Don McKellar. [download: filme]

A Última NoiteNas últimas horas da existência do planeta, vidas de anônimos que encaram e se preparam de diferentes modos para o destino final da Terra são cruzadas em uma Toronto que se divide entre o caos e a tentativa de manter a normalidade.
O pressuposto do argumento original do ator e cineasta canadense Don McKellar para sua estréia no comando do set de filmagens é lugar-comum do cinema catástrofe arrasa-quarteirões hollywoodiano, mas seja por conta da restrição orçamentária – algo visível na falta de apuro técnico, como se percebe na direção de fotografia – ou por ter sido sua intenção já desde o início, ao invés de colocar o impacto visual da tragédia concebida pelo seu argumento como principal (senão o único) atrativo, o evento é utilizado apenas como provocador do desvendamento do lado humano do acontecimento pela revelação do comportamento de alguns personagens frente ao fim inevitável da sua existência e de toda a humanidade. Esta abordagem que apoia o filme em seus elementos não-técnicos bebe direto na fonte do cinema independente, já versado na estratégia de explorar um microcosmo de pessoas inseridas em um dando evento como analogia representativa de toda a humanidade, mas isso não é garantia alguma de sucesso na empreitada – pelo contrário, o esforço todo pode desaguar em um filme tão insípido e raso quanto aquele que se escora puramente nos seus efeitos visuais. Em filmes que seguem esta concepção, é a composição de personagens interessantes que injeta nas produções o interesse necessário, e este é um elemento certamente presente em “A Última Noite” – a breve porém enormemente inusitada declaração de uma personagem periférica, uma senhora que já está nos seus 70 anos, ao ouvir o corriqueiro lamento sobre como morrer é cruel para crianças, por terem vivido tão pouco, é um exemplo do tom inusitado presente na composição dos personagens no roteiro. São, porém, duas outras idéias que compõe a narrativa que concedem ao filme seu particular status de interesse. Primeiro, a decisão de retratar na história não somente as últimas horas de existência da Terra, em um cataclisma que tem hora precisa para acontecer, mas delinear um evento irreversível do qual a humanidade tem conhecimentos prévio há muitos meses – esta idéia em particular é o trunfo do processo que revela o que há de mais oculto nos personagens ou que reafirma as características já visíveis de seu comportamento. Não de modo independente, mas como um processo paralelo e derivado da idéia anterior, o evento assim descrito constrói uma inversão peculiar do conceito que fazemos de comportamentos e situações normais e coerentes: diante do fim irreversível de tudo que existe, preocupações prosaicas, antes relevantes, como a atenção à dieta alimentar ou à prestação de serviços essenciais, tornam-se singularmente bizarras e extravagantes, enquanto o extravasamento de condutas inconsequentes, libertinas e anárquicas passam a ser um padrão compreensível, mesmo que muitas vezes ainda seja condenável.
Os elementos da narrativa de “A Última Noite” mostram que Don McKellar tem franca capacidade para a composição de idéias curiosas, quando não bastante surpreendentes, na composição de um roteiro original, mas não há elementos suficientes na administração dos aspectos técnicos nem no desempenho do elenco para afirmar em Don McKellar um talento nato para a direção. Com isso, o diretor acaba por desperdiçar aspectos que, se bem administrados, serviriam para alçar seu filme para um maior status de excepcionalidade. Contudo, as boas idéias existentes na história por ele criada ainda concedem ao seu filme o conhecido charme do cinema independente.

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legendas (inglês):
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Metric – Fantasies (+ 2 versões acústicas e 2 faixas bônus). [download: mp3]

Metric - FantasiesTendo despertada em si a necessidade de viver uma experiência de anonimato e deslocamento, e portanto de uma descoberta solitária de um ambiente novo, desconhecido, Emily Haines, cantora e compositora canadense, vocalista da banda Metric, escolheu Buenos Aires como cenário desta experiência. Sem qualquer menção de drama, Emily declarou que precisava entender o estado atual de sua vida, além do desejo de afastar-se dos polos internacionais do rock/pop para isolar-se de qualquer possível influência no trabalho de composição que por ventura viesse a desenvolver. Depois de ter conferido o que foi feito pela canadense e sua banda em Fantasies, seu novo disco, posso dizer que a capital da Argentina foi o refúgio certeiro para Emily.
O primeiro contato com o que foi desenvolvido no disco foi a faixa “Help, I’m Alive”, single que surgiu na internet no fim do ano passado e teve sua versão acústica liberada no site oficial cerca de um mês depois. A versão produzida para o álbum inicia com um beat sujo com compasso acompanhado por uma bateria de ritmo bem marcado e guitarras que insuflam a melodia com sua sonoridade maciça e acachapante, deixando no ar um ultimato delirantemente dançante. A versão acústica, delicadamente produzida apenas com piano e violão, deixa de lado a urgência sonora e prioriza as letras onde Emily transmite seu estado de ansiedade e temor absolutos, com um “coração que bate como um martelo” e um “pulso que corre como um trem desgovernado”. A faixa atiçou a curiosodade dos fãs e deixou em todos a sensação de que nesse novo disco a banda estaria superando seus limites mesmo depois de um belo trabalho como Live It Out. E não precisamos esperar muito para tirar a prova disso – no início de Março o tão aguardado disco caiu na rede e eu, como todos os fãs de Emily e do Metric, fui intoxicado pelo álbum.
No meu caso particular, Fantasies cresceu lentamente, ao longo de cerca de um mês, infiltrando-se sorrateiramente em meus ouvidos. “Satellite Mind” foi a grande responsável pelo acontecido: a faixa, com beat deliciosamente pegajoso ao fundo, delineado no refrão por riffs incandescentes de guitarra, bateria de cadência rompante, pontuais eletronismos luminosos e um vocal empolgante, viciou tanto os meus sentidos que não consegui dar a devida atenção ao restante do disco por dias e dias seguidos. Curiosamente, foi outra faixa, “Gimme Sympathy”, que suavizou o efeito narcotizante de “Satellite Mind” e libertou as demais músicas, assim como ela própria, do exílio por mim estabelecido à elas: ao assistir ao clipe da canção (veja texto sobre ele logo abaixo) me vi apaixonado pelo modo como guitarra, bateria, baixo e vocal se harmonizam e crescem até o completo amálgama no refrão, que aparentemente fala sobre o que a banda aspiraria para o seu futuro: a efêmera mas retumbante passagem dos Beatles ou o intenso brilho que se apaga aos poucos dos insistentes Rolling Stones? O fascínio despertado por estes versos deu partida no disco e me fez olhar com atenção outras faixas. Nessa busca, a canção que decreta que o amor pode tornar-se uma doença que aprisiona e impede de conduzir sua vida foi a que revelou suas qualidades logo em seguida: “Sick Muse” dispara com uma junção escandalosamente swingada de riffs de guitarra e groove de bateria que juntos com o vocal insolente de Emily evocam uma atmosfera envenenante para os sentidos. A melodia de “Blindness”, com guitarras e sintetizadores que escalam aos poucos os degraus de uma melodia depressiva para um entreato sonoro insurgente conduzido pela bateria de golpes fortes também exigiu seu espaço, e foram seus versos que serviram de garantia para tanto: para transmitir a idéia de alguém que em meio a sua falta de rumo luta para encontrar um caminho, mesmo que não saiba para onde ele irá o levar, Emily Haines pôs em prática suas habilidades como letrista e teceu uma analogia com os sobreviventes de um desastre que esperam por ajuda, construindo um texto intenso em imagens e símbolos. Magníficas também são as letras da faixa bônus de Fantasies, “Waves”, em que Emily incorpora um marinheiro que declara sua paixão por tudo o que vive em sua vida nômade, tão intensa e arrebatadora quando a melodia ao mesmo tempo ligeira, doce e radiante das guitarras, bateria e vocais. “Stadium Love”, que fecha o disco, foi das últimas a enfileirar-se entre as minhas preferidas do novo disco: a integração entre os acordes espessos de guitarra, bateria, baixo, sintetizador e vocal resulta em uma música densa e atordoante que ajusta-se inteiramente as letras que tratam de duelos entre todos os animais do mundo em uma arena ocupada por pessoas que se rendem ao combate também na platéia. É a faixa que melhor resume, tanto em versos, com esta alegoria violenta, quanto em melodia, com sua atmosfera sufocante, o frenesi alucinante que permeia a maioria das canções deste novo álbum que nasceu após uma ausência considerável da banda para recarregar suas energias, liquidando seu esgotamento e seus receios e um álbum de sonoridade vigorosa e eletrizante e versos primorosos e francos.

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“Ensaio sobre a Cegueira”, de Fernando Meirelles. [download: filme]

BlindnessUm surto epidêmico de cegueira branca, incurável, atinge uma grande metrópole, despertando nos habitantes um temor que leva o governo a isolar os contaminados. Dentre eles está um médico e sua esposa, a única que permanece imune à estranha doença.
A adaptação de Fernando Meirelles do livro do escritor português José Saramago fascinou o autor da história, mas não agradou muito crítica e público, passando de certa forma despercebido neste ano de 2008, quando não razoavelmente criticado. A reação tem seus motivos: “Ensaio sobre a Cegueira” resultou em um filme com acertos e erros consideráveis, com maior peso para estes últimos.
A estética do filme é já um retrato desta ambivalência: se de um lado a incessante irradiação de tudo com uma aura branca, arquitetada pela fotografia de César Charlone, traz ao espectador o mesmo desespero e temor vivido pelos personagens, que vagam perdidos em um limbo branco, ela também cansa a expectação do filme a certa altura, “chapando” as sensações do público pela utilização excessiva do artifício. A edição também tem sua dose de sucesso e falha: apesar de conceder ritmo e dinâmica às cenas externas, nas tomadas internas ela não consegue obter o mesmo efeito, ainda que mantenha a tensão em um bom nível. Mas as aspectos técnicos apresentam apenas as irregularidades mais visíveis – é onde nasce um filme, no seu argumento e roteiro, que reside aquilo que fez este novo longa-metragem do brasileiro Fernando Meirelles ser celebrado por alguns e ignorado por muitos outros.
A história criada por Saramago no livro “Ensaio sobre a Cegueira”, e aqui adaptada por Don McKellar, instiga enormemente a curiosidade pelas duas idéias que lhe dão partida. Primeiro, a concepção de uma cegueira que não afunda sua vítima em um breu profundo, mas em um reluzente oceano branco, intriga porque parece ser ainda mais agonizante por, teoricamente, não permitir que a pessoa tenha algum descanso, já que ela passa a viver em um estado de vigília visual, por assim dizer, mesmo na escuridão. Segundo, e tão fascinante quanto a anterior, a idéia de apresentar a moléstia como uma epidemia, reservando a somente uma pessoa a imunidade à infecção confere à este personagem tanto uma vantagem sobre os outros quanto um distanciamento destes, afastando-o daquilo que iguala e une todos.
Essas duas características do enredo a princípio provocam interesse no espectador, mas a medida que é promovido o desenrolar do enredo, cada conflito inserido na história faz com que sua originalidade e caráter diferenciador sejam pouco a pouco degradados, sujeitando o enredo à idéias recicladas e lugares-comuns. A longa sequência na quarentena é o seu defeito mais gritante, reduzindo o filme a uma experiência-limite em ambiente fechado que guarda parentesco com as idéias de George Orwell – não à toa, pois José Saramago é comunista rasgado -, o que deixa o filme com um gosto de café requentado. A insistência de Meirelles em reproduzir com esmero esse episódio de “Ensaio sobre a Cegueira” também acaba por torná-lo excessivamente longo, minimizando o impacto das cenas exteriores e deixando espaço até para um epílogo “família de comercial de margarina” – tivesse a sequência de quarentena sido encurtada e o filme encerrado cerca de 20 minutos antes, com a tomada em elevação da procissão desesperançada dos cegos e sua guia por uma São Paulo ainda mais caótica que o habitual e povoada por uns poucos infelizes que jazem confusos pelas ruas, o filme de Fernando Meirelles teria superado a feição de ensaio que carrega já no título.
Baixe o filme, com legenda embutida em português, utilizando o link a seguir.

http://www.megaupload.com/pt/?d=061THWLS

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“Arquivo X – Eu Quero Acreditar”, de Chris Carter.

The X-Files - I Want To BelieveAtravés de Scully, Mulder é contactado pelo FBI para que ajude no caso do desaparecimento de uma agente do bureau, com a promessa de que todas as acusações contra ele sejam retiradas. O ex-agente aceita e logo começa a acreditar na única fonte de informações disponível, nada ortodoxa, enquanto Scully reluta em conceder qualquer credibilidade à ela.
É sempre um prazer voltar a ter contato com personagens tão brilhantes quanto os da série Arquivo X. Porém, isso só não se constitui em motivo para um revival do seriado na materialidade do cinema: precisa-se de argumento sólido e digno de ter à frente Fox Mulder e Dana Scully. Infelizmente, não é o caso do tão aguardo segundo filme baseado nos personagens da série, o longa-metragem “Arquivo X – Eu Quero Acreditar”.
O grande problema desta nova incursão dos agora ex-agentes do FBI Mulder e Scully no cinema é a falta de impacto. E isto já começou a tomar corpo na própria concepção do filme: apesar de que me pareceu, inicialmente, uma boa idéia retomar a série sob a égide dos chamados “monstros da semana”, agora já me parece tanto. Depois de conferir o longa, constatei que este tipo de história dificilmente consegue obter a relevância e a urgência que a mitologia da série tem ao ser desenvolvida em um longa-metragem para o cinema – as aberrações extraordinárias tão bem abordadas tem seu lugar e sua relevância na materialidade da TV, mas no cinema, com certeza, carecem de impacto.
Se a criatura apresentada fosse algo de proporções realmente catastróficas, apresentando perigo em alta escala, o resultado teria sido menos insípido, mas a que foi escolhida não apresenta perigo e terror em uma escala considerável para que o filme ganhasse a dinâmica e a energia necessárias para o cinema – além de ser uma aberração que está longe de ser original, tantas vezes já abordada no cinema.
Mas há ainda um outro elemento que atrapalha a desenvolvimento dos personagens na trama: o seu envolvimento. A beleza do relação de Mulder e Scully sempre foi a sua impossibilidade. A partir do momento que se resolve concretizar aquilo que causava uma tensão interessante e necessária, não há mais muito o que fazer, a não ser inserir a dinâmica e os dramas do romance dentro de um universo onde, lamento informar ao shippers deliciados com o que viram neste filme, ele nunca fez falta – há até um certo emprobrecimento da complexidade dos personagens, nivelando-os à de tantos outros que povoam seriados cujo viés temático é apenas este.
Mas para que tudo não pareça um desastre, há pelo menos um grande acerto. O personagem de Billy Connolly é, provavelmente, a melhor coisa do que foi criado no argumento deste filme: seus atos no passado e sua situação no presente levantam questões morais interessantes que, por sorte, nunca são tratadas de forma barata e, além disso, acabam funcionando como um amálgama brilhante da essência de Scully e Mulder.
Tirando o fato de termos Mulder e Scully novamente em ação, não há mais muito o que realmente faça “Arquivo X – Eu Quero Acreditar” realmente valer a pena – é triste, mas é verdade. Chris Carter chegou a comentar que, dependendo do sucesso do filme, iria propor uma terceira aventura retomando a mitologia da série. É lamentavél, mas meu maior medo não é o fato de que um terceiro filme não venha a ser feito dado o provável fracasso deste aqui, mas em obtendo ele sucesso, o que Carter e o roteirista Frank Spotnitz fariam com a mitologia da série no terceiro. Tendo em vista a perda de rumo do seriado nas última três temporadas, além dos equívocos deste filme, seria melhor deixar a responsabilidade de uma nova aventura de Mulder e Scully nas mãos de alguém mais íntimo do universo do cinema. Ou, na pior da hipóteses, deixá-los em paz de uma vez por todas – porque é bem melhor termos Fox e Dana como os personagens incríveis que sempre foram no seriado do que banalizá-los ainda mais, reduzidos que foram aqui à uma espécie de “Casal 20” subversivo.

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Prévia: “The X-Files: I Want To Believe”.

Previa: The X-Files: I Want To BelieveFãs da saudosa série de TV “Arquivo X” estão em estado de ansiedade absoluta: no dia 25 de julho deste ano será lançado o segundo e aguardadíssimo filme que reúne a espetacular dupla de agentes do FBI, Fox Mulder e Dana Scully. Como já é de costume, a produção está cercada de segredos que, aparentemente, continuam tão bem guardados quanto antes eram, o que acabou limitando, até o momento, o vazamento de informações não-oficias: somente o teaser pôster – espetacular, em tons de branco e preto, mostrando os agentes caminhando e com suas respectivas sombras formando o famoso “X” -, dois trailers ligeiramente diferentes, feitos especialmente para exibição em convenções de ficção-científica e similares e uma sinopse breve, que muito pouco revela, chegaram a ser divulgados na web antes de serem revelados por fontes oficiais da produção. O que de mais concreto e relevante se sabe sobre o argumento do filme foi mesmo divulgado pela produção já há algum tempo: a história, que é cronologicamente atualizada, refletindo o tempo decorrido desde o fim do seriado, não seguirá a chamada mitologia da série, diferentemente do primeiro longa produzido, optando então por adotar uma história independente, que sempre foi a segunda opção temática dos episódios de “Arquivo X”, comumente chamados de episódios do “monstro da semana”. E foi só neste fim de semana passado, após decorridas algumas semanas da revelação do título oficial da trama – “I Want To Believe”, famoso slogan do seriado que, é preciso admitir, soa um tanto brega como título do filme -, que foi liberado, depois de uma sádica contagem regressiva, o trailer oficial do filme. Apesar de satisfazer e atiçar a curiosidade dos fãs da série, o vídeo foi feito com a inserção de apenas algumas poucas cenas diferentes das que foram utilizadas nos trailers feitos para divulgação nas convenções, além de apresentar uma edição sutilmente modificada. Porém, um único dado novo pode ser extraído do pouco que é apresentado: aparentemente, o personagem de Billy Connolly tem o mesmo perfil do saudoso Frank Black de “Millennium”, sendo configurado como uma espécide de investigador – ou algo desta monta – com dotes psíquicos que lhe permitem “ver” fatos relacionados à um crime cometido anteriormente.
Alguns, certemente, estão torcendo o nariz para o advento deste novo longa-metragem baseado na série por considerar isto um tanto oportunista. Obviamente que o incentivo do retorno financeiro conta para a existência da produção, mas as razões são outras para os fãs de “Arquivo X”, e mesmo para seus idealizadores: primeiro porque mesmo com o fim do seriado, e com a ruína que foi a finalização da mitologia da conspiração alienígena que perpassou toda a vida deste, a dinâmica temática da série era bem mais ampla que isso, o que dá toda a liberdade aos produtores para a concepção de novas histórias e, segundo, e a mais importante razão, é o fato inquestionável de que Mulder e Scully são a essência e a razão de ser de “Arquivo X”, o que faz de qualquer história que os envolva mais um episódio genuíno de uma das mais fabulosas criações da televisão americana, que fez história e faz escola até hoje – seria mesmo um desperdício não retomar dois personagens tão geniais apenas porque o principal veículo que os trazia para o público chegou ao seu fim. Por isso, por pior que que possa vir a ser “The X-Files: I Want To Believe”, o simples fato de o público que tanto os admira tem novamente a chance de ter contato com estes dois personagens já vai se configurar para os fãs como um prazer imenso. Porém, a declaração dada pelos realizadores do projeto de que esta história foi especialmente escrita para o local de sua filmagem, os arredores de Vancouver, no Canadá, me dá a clara impressão de que este longa tem muitas chances de ser até melhor do que o primeiro – digo isso porque é notório que os melhores anos de “Arquivo X” foram mesmo aqueles nos quais Vancouver serviu como set de filmagem e principal inspiração para suas mirabolantes histórias.
Agora, para conferir a nova empreitada dos agentes do FBI mais idossincráticos que a ficção já teve a sorte de criar, só resta esperar a estréia do filme. E, segundo informação constante no site oficial do longa-metragem, mesmo nisto os fãs brasileiros de “The X-Files” parecem ter sido agraciados com uma boa amostra de consideração pelo estúdio 20th Century-Fox: ao que tudo indica, o lançamento do filme no Brasil será simultâneo com a estréia nos Estados Unidos. Então, se você tiver a oportunidade de dar uma passada nos cinemas brasileiros no dia 25 de Julho, prepare-se para se deparar com cenas de absoluta estupefação e delírio coletivos como esta – e se tudo der certo, todos nós, fãs de “Arquivo X”, teremos a oportunidade de repetir esta cena por muitos e muitos anos ainda.
Clique aqui para assistir o primeiro trailer oficial diretamente no site da produção.
Se preferir, clique aqui e assista o vídeo no YouTube.
Se você for mais um fã da série e dos dois personagens, pode preferir fazer download do trailer nos links abaixo:
Pequeno (7 MB)
Médio (18,2 MB).
Grande (46, 3 MB).

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“Minha Vida Sem Mim”, de Isabel Coixet. [download: filme]

My Life Without MeAnn, uma jovem casada e com duas filhas, descobre, depois de sofrer um desmaio repentino, que tem um tumor em metástase avançada. O resultado: não mais do que dois meses de vida. Tendo em mãos esse prognóstico, Ann decide tomar algumas medidas antes de sua morte.
A partir da idéia do livro de Nanci Kincaid, a diretora Isabel Coixet explora a descoberta, por uma jovem mãe de família, de sua morte iminente e as resoluções, tomadas por ela, a partir desta descoberta. Se caísse nas mãos erradas, a história da jovem que vive em um trailer nos fundos da casa da mãe, que sobrevive como faxineira em uma escola e que casou e engravidou, na adolescência, do único homem com que se envolvera na sua vida, certamente acabaria virando folhetim da pior qualidade, um inevitável dramalhão inundado pelo sentimentalismo mais barato e pela pieguice mais óbvia, que de quebra serviriam como veículo perfeito para a chamada “superinterpretação” do mais ávido candidato à receber uma estatueta dourada californiana. No entanto, nas mãos dessa diretora espanhola, a sensibilidade não é afogada pelo lugar-comum e por um elenco de olho em premiações fáceis. Ao contrário, ela ganha elegância, classe, inteligência e muita delicadeza: ao invés de dar chance à uma tsunami de desespero, sofrimento e amargor auto-inflingidos pela sensação de impotência frente ao destino inevitável, ou mesmo ao seu oposto extremo, ao hedonismo irrefreado, devidamende despertado por uma turnê de experiências inconsequentes na tentativa de viver tudo o que não vivera até então, a diretora-roteirista faz com que a protagonista, antes já uma mulher equilibrada e conformada com sua realidade, mergulhe em um estado de ainda maior compreensão sobre sua situação, que a faz encarar a inevitabilidade e proximidade de sua morte com uma serenidade implacável, dando-se ao direito de derramar apenas algumas poucas lágrimas enquanto busca muito mais reafirmar o que viveu e vive do que saborear novas experiências. E o elenco, composto apenas de nomes modestos do cinema norte-americano, auxilia não apenas pelo seu desempenho na medida exata – particularmente o de Sarah Polley, que voltaria a trabalhar com a diretora no seu próximo longa, já comentado por aqui -, mas também pela credibilidade e verossimilhança que concede aos seus papéis de pessoas comuns – algo muito trabalhoso de ser atingido com as estrelas e astros de Hollywood de beleza perfeita e fama imensa, que dificilmente conseguem imprimir o realismo que um rosto menos popular imprime.
E isso tudo faz a diferença entre este longa-metragem de Isabel Coixet e tantos outros que já vimos sobre os “bastidores” da jornada para a morte de um ser humano: ao invés de explorar a emoção do público como em uma montanha russa, onde todas as sensações parecem intensas mas, na verdade, não vão além de experiências falsas e fulgazes, “Minha Vida Sem Mim” o faz com a mesma sutileza de uma paisagem passageira à janela de um trem em movimento, que deixa em quem a observa sensações bem mais indeléveis e verdadeiras.

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legendas disponíveis (português):
http://www.opensubtitles.com/pb/download/sub/85208
http://legendas.tv/info.php?d=9c43fdcc028f60a6140a133ce467454f&c=1

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