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Tag: europa

Placebo – Meds. [download: mp3]

Placebo - MedsPlacebo está de volta como o imperdível álbum Meds, a ser lançado no dia 13 de Março desta ano. Tão logo terminei a primeira audição de Meds notei, tardiamente, que não apenas o embasamento melódico do álbum anterior está sendo levado à frente mas percebi também que Sleeping with Ghosts foi na verdade um ponto de partida para a concepção do novo álbum. Isso porque Meds aproveita tanto as novas experiências do álbum de 2003 que o Placebo de 2006 surge com um rock mais plácido e menos visceral do que nos seus três primeiros álbuns. A maior parte das músicas é harmonicamente mais contemplativa, algumas cujas introduções lembram inclusive bandas do fim dos anos 80/início dos 90, como o New Order de então: é o que ocorre na segunda faixa do disco, “Infra-Red”. E há também sonoridades inovadoras como a ambiência techno-rock-mórbida de “Space Monkey”. Com tudo isso, no plano sonoro Meds soa como um dos álbuns mais contraditórios da banda: consegue ser homogêneo ao mesmo tempo que abraça sonoridades tão diversas. Quanto às letras, o Placebo se apresenta nostágico-depressivo como costuma sempre ser, em belíssimos versos que confessam lamentos de utopia amorosa, como em “Pierrot The Clown”. Porém, ainda há espaço para letras que apregoam urgência e rancor, como na abertura do disco, homonimamente entitulada “Meds”, como o próprio disco. E é nessa e em outra faixa do disco – “Broken Promise” – que a banda traz duas participações especiais, respectivamente Alison Mosshart (do The Kills) e Michael Stipe (do R.E.M), para incrementar ainda mais a tecitura complexa deste álbum. É maravilhoso para qualquer fã descobrir que seus ídolos continuam inovadores e criativos, capazes de proezas lírico-sonoras como Meds.
Estas são as fontes para download do álbum que encontrei na internet. Escolhi colocar mais de uma porque o link do Rapidshare do qual baixei o álbum há algumas horas apresenta uma mensagem informando que o arquivo foi apagado pois é de compartilhamento proibido. Ainda assim resolvi deixar o link na lista, é o último e que precisava da senha para descompactação.

fonte 1:http://rapidshare.de/files/11270004/Placebo-Meds-2006.zip.html

fonte 2:http://rapidshare.de/files/11278508/Placebo-Meds-2006.rar.html

fonte 3:http://s65.yousendit.com/d.aspx?id=0U1QDK45BYN3U0SYP7UZKG5VLK

fonte 4:http://rapidshare.de/files/11350912/Placebo_-_Meds.rar.html

senha para descompactar fonte 3: remidalver.blogspot.com

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“Escuridão”, de John Fawcett.

The DarkMaria Bello interpreta uma mulher que leva a filha, com quem tem problemas de relacionamento, até a casa do seu ex-marido, num recanto bucólico do País de Gales. Ao chegar lá tem a sensação de que o local guarda algo de sinistro. Correm-se apenas algumas horas e o que ela de alguma forma pressentia acontece: sua filha desaparece no mar misteriosamente. Suas suspeitas sobre o mal que se esconde no lugarejo se confirmam quando o velho caseiro de seu ex-marido lhe revela uma das estórias do folclore galês e que ela acredita ter relação com o desparecimento de sua filha.
Todos os comentários na internet à respeito deste filme o relacionam inteiramente com O chamado, que por sua vez, na dança dos infames remakes de Hollywood, já era o remake de um filme japonês chamado Ringu. As comparações procedem de alguma forma, já que os dois filmes guardam elementos em comum, tanto em conteúdo quanto em estética: uma mãe e seu filho são vítimas de algo sobrenatural; as protagonistas, Maria Bello e Naomi Watts, são fisicamente parecidas; uma fotografia insistentemente escura que por vezes deixa o espectador às cegas; cenas de impacto que misturam horror e beleza plástica.
No entanto, devo dizer que a imensidão de clichês estilístico-visuais de Escuridão tem uma outra fonte, e que é certamente a maior fonte de “inspiração” dos livros e filmes de horror orientais e suas inevitáveis versões hollywoodianas. Quem viu o filme de John Fawcett e gosta de jogos de horror já deve saber do que estou falando. É isso mesmo: Escuridão é uma cópia descaradamente não assumida do genial, e já lendário, jogo Silent Hill. Tudo no filme remete à Silent Hill: os inesperados flashs com fragmentos rápidos de cenas; a fotografia escura e suja; a cenografia que explora ambientes mórbidos e envelhecidos; o argumento base, que envolve crianças desaparecidas relacionando-as ao ocultismo/fanatismo/sobrenatural; até a magnífica transmutação de um mesmo ambiente em sua versão sobrenatural/demoníaca o diretor teve a cara-da-pau de utilizar. Toda a base do filme é uma utilização ostensiva do argumento e atmosfera do jogo e que sofreu apenas algumas modificações para melhor disfarçar a sua fonte: transposição de local, modificações na identidade dos personagens, algumas substiuições no argumento-base. Porém, tudo não passa de uma mudança puramente cosmética, e que se esvai no decorrer do filme sob o olhar atento de qualquer fã de jogos de horror como Silent Hill, considerado o melhor jogo de horror/suspense da história dos games. O projeto de John Fawcett engana a maioria das pessoas, mas não aqueles que não tem preconceitos em reconhecer que um bom jogo é, hoje em dia, tão bom quanto um filme. À todos que pensam em ir ao cinema para ver Escuridão, fica o recado: se você tem um computador, và até a feira livre de eletrônicos ou camelódromo mais próximo, compre o jogo Silent Hill e vivencie uma experiência de horror verdadeiramente inesquecível. Esse, na verdade, é único mérito do filme de John Fawcett: lembrar que o jogo lançado em 1999 é, até hoje, um saboroso e assustador passatempo.

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“Buena Vista Social Club”, de Win Wenders.

Buena Vista Social ClubO compositor Ry Cooder, que vem costumeiramente trabalhando com o diretor alemão Win Wenders, declarou que sempre se sentiu atraído pela música cubana, aproximando-se dela nas visitas que fez ao país à trabalho. Algum tempo depois, seguindo a sugestão de sua gravadora, decidiu levar à frente o projeto de unir músicos cubanos e africanos para gravar um disco. No entanto, depois de tudo acertado, os músicos que vinham da África foram impedidos na Europa de embarcar para Cuba. Apesar de frustrado, Cooder resolveu resumir o projeto aos músicos cubanos. O disco Buena Vista Social Club, resultado das gravações coordenadas por Cooder, tornou-se um grande sucesso de crítica e público, levando os músicos à apresentações dentro e fora do seu país.
De forma sucinta, o processo de construção do disco Buena Vista Social Club é mostrado no documentário homônimo dirigido por Win Wenders. O diretor alemão foi convencido pelo amigo Cooder a retratar a experiência e transformá-la em um filme. A crítica de cinema rasgou-se em elogios infinitos à película. E o filme está longe de ser uma obra prima mas é, de fato, tocante. Wenders leva grande parte do filme seguindo uma mesma estrutura: faz uma rápida apresentação do artista no estúdio para, logo depois, mostrar um pouco do seu cotidiano e revelar como foi trajado o seu caminho até a música. Além disso, sessões de estúdio são mescladas com apresentações ao vivo dos músicos na Europa e Estados Unidos.
Cooder e Wenders conseguem no filme demonstrar que os esquecidos músicos cubanos tinham ainda, apesar da idade avançada, muita vitalidade para mostrar sua música suave e nostálgica. E o público brasileiro se sente particularmente identificado com suas composições, pois muito do que se vê ali pode ser identificado com o nosso samba-canção: a melodia, as letras, a impostação vocal, que era característica desse gênero da música brasileira, se assemelha muito àquilo que fizeram os cubanos. Não sou um grande conhecedor de música brasileira, mas poderia arriscar e dizer que nosso samba-canção guarda algum tipo de parentesco com a música latina, particularmente à cubana.
No entanto, algumas ressalvas ficam a partir da expectação do filme, e elas nãO estão relacionadas ao documentário em si. Durante boa parte dos 105 minutos de Buena Vista Social Club, Wenders percorre as ruas da capital cubana Havana. E o que ele mostra não pode, de forma alguma, ser demagogicamente chamado de belo. Tanto no centro quanto na periferia da cidade, o que se vê são sobrados que apresentam aspecto nada agradável, nitidamente expostos à mercê do efeito temporal, sem qualquer sinal de terem, algum dia, sido reformados. Talvez eu mesmo esteja sendo insistentemente eufemista: o que quero dizer é sinais de pobreza visível saltam aos olhos, sendo impossível terminar o filme sem comentá-la. Em contraste, ainda dentro do aspecto das edificações, os únicos edíficios que exibem a beleza e o frescor de cuidados constantes são, notadamente, edifícações sob os cuidados do governo cubano. A humildade financeira do povo cubano não fica clara apenas no exterior de suas casas: nas gravações feitas na residência de alguns dos músicos vemos que a pobreza é a constante, e os depoimentos dos artistas confirmam o fato.
Não quero aqui estipular posicionamento algum sobre a realidade sócio-política deste país que tem sido prazerosamente o santo Graal de infindas arguições dos defensores e detratores do regime socialista/comunista. Seria ingenuidade da minha parte expor um posicionamento contrário ou favorável, já que sabemos que o regime cubano também apresenta alguns aspectos positivos. Trato apenas aqui de expor um fato retratado com cuidado e sem qualquer posicionamento nítido, pelo menos à primeira vista, no filme de Wenders. A música cubana é sem dúvidas bela, mas a realidade daqueles que a fazem, aparentemente não é.

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Placebo – Sleeping with Ghosts. [download: mp3]

Placebo - Sleeping With GhostsNão me eximo der comentar que sou um dos que teve a sorte de desfrutar de uma apresentação ao vivo de Placebo, que supreendentemente ocorreu aqui em Florianópolis, no ano passado. Outra oportunidade como essa, aqui na cidade onde moro, será difícil.
A turnê em questão, da qual fazia parte a apresentação na minha ciadade, ainda era a que promove o mais recente álbum da banda, Sleeping with Ghosts. Se comparado aos álbuns anteriores da banda, Sleeping with Ghosts nos sugere levemente que a banda está mais solta: suas melodias punk-rock já conseguem conviver com sutis experimentações mais eletrônicas, como é o casa da animadíssima faixa 2 do álbum,“English Summer Rain”, na qual Brian anuncia os aspectos imutáveis de sua sisuda terra-natal, a Inglaterra, usando como analogia a famosa e onipresente chuva britânica. Também pode entrar nessa classificação “Something Rotten”, que apesar do inconfundível estilo da banda se apresentar bastante claro, percebe-se algo de bjorkiano na atmosfera eletrônico-inusitada da faixa em questão.
Como de praxe, há os irresistíveis singles, especialidade de uma banda que consegue muito bem mesclar sua formidável habilidade comercial à uma criatividade impressionante. “Bitter End”, primeiro single lançado do disco, tem insistentes e deliciosos riffs de guitarra aliados à uma bateria precisa. Outro single seria “Special Needs”, que possui intro nostálgica que alia um baixo certeiro à acordes nostálgicos de piano. É a melodia certa para uma música que trata de um passado recente, mas que não deixa nunca de se configurar como irrecuperável.
E não vamos esquecer que o Placebo, mesmo que mais conhecido pelas sua canções cheias de energia, ainda tem o mérito de compor faixas de uma leveza tocante, o que faz a banda assemelhar-se muito à outra, já extinta, o Smashing Pumpkins. A faixa que fecha o disco, “Centrefolds”, é uma das composições mais belas já feitas pela banda, com letras de uma passionalidade afetiva capaz de levar qualquer um às lágrimas.
E se você está animado com a possibilidade de ouvir este que é o último álbum da banda, saiba ainda que o Placebo já anunciou um novo álbum, ainda sem título, com lançamento previsto para 13 de março de 2006. Uma notícia fantástica para deixar qualquer fã de boa música menos irritado com as inevitáveis decepções de cada ano novo. Links para baixar Sleeping with Ghosts logo depois da lista de faixas.

http://hippohome.homeip.net/magda/download/placebo.zip

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The Cardigans – Long Gone Before Daylight. [download: mp3]

The Cardigans - Long Gone Before DaylightLong Gone Before Daylight, álbum lançado pela banda The Cardigans em 2003, é um disco gestado sem pressa e com cautela. Ao menos é essa a sensação que se obtém depois de ouvi-lo por completo. Suas canções tem um tecimento pop tão cuidadoso e requintado que o ouvinte sente vontade de acompanhar o canto sutilmente intenso – e muitas vezes triste e sofrido – de Nina Persson em todas as faixas do disco. Composto por melodias primordialmente acústicas, é o avesso absoluto do álbum anterior da banda, Gran Turismo. A grandiloquência eletro-rock é substituída por melodias essencialmente delicadas e precisas, como a da faixa “You’re the Storm”. Em “Communication”, Nina Persson fala, com voz nostálgica, sobre um romance cujos amantes indecisos não conseguem expor suficientemente seus sentimentos. Em “And then you kissed me” – que possui uma segunda parte no novo álbum lançado ano passado – temos o lamento de uma mulher que alimenta um amor que a assusta, mas do qual não consegue se afastar. A letra do delicioso single “For what is worth” é bastante precisa ao retratar a euforia quase adolescente de alguém que se descobre apaixonado. Faixas como essas – e todas as outras faixas belíssimas do disco – mostram que se o mundo da música pop está infestado de bandas e artistas cuja música soa fútil e ordinária, a saída mais fácil é mesmo culpar as gravadoras e seus executivos. No entanto, quem disse que isso seria mesmo a verdade? Aí está The Cardigans que, com sua música pop sofisticada e apurada, prova que a descartabilidade musical hoje pode mesmo ser uma opção preguiçosa de seus profissionais. Confira com seus próprios ouvidos e baixe o álbum completo agora.

http://rapidshare.de/files/9967163/LGBD.rar

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“A Teia de Chocolate”, de Claude Chabrol.

Merci Pour Le ChocolatMika a proprietária de uma fábrica de chocolates, vive com um grande pianista chamado André, viúvo de uma amiga sua, e com o filho introvertido deste. Após alguns anos juntos eles finalmente se casam. Para surpresa dos três, Louise, uma jovem pianista, surge na casa da família e revela que pode ser filha de André, por ocasião de uma possível troca de bebês na maternidade. Ao tomar contato com a família, Louise percebe que há algo de estranho acontecendo ali.
Chabrol constrói neste seu filme um mapa sobre a mais perigosa fonte de maldade: aquela que é involuntária e impulsionada, de certa forma, por boas intenções. Com o desenrolar da estória, o público começa a perceber que, de certa forma, as fatalidades que se abateram sobre esta família não tenha culpados que possam ser claramente definidos e que todos são responsáveis, em algum grau, por conivência e incredulidade. De forma sutil, discreta, repleta de um charme blasé e sem quaisquer estereótipos, Isabelle Huppert – esplêndida como de costume – consegue transmitir todas as nuances de uma mulher complexa, que age por impulsos que não podem ser definidos de forma estritamente simples. Porém, não apenas Huppert consegue brindar o espectador com uma atuação espetacular – todo o elenco mostra atuações precisas, na exata medida que o personagem exige: alguns contraladamente perturbados, outros descaradamente calculistas, outros ainda ingenuamente displicentes. Com tantos filmes americanos que tentam retratar a maldade presente no ser humano, mas que resvalam nas facilidades do maniqueísmo e da tipificação, é soberbo ver um filme que consegue mostrar que a maior perversidade existente não é a do criminoso ordinário, mas aquela que coexiste nas nuances da personalidade de todos nós.

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“Billy Elliot”, de Stephen Daldry.

Billy ElliotBilly Elliot, um humilde garoto de 12 anos, orfão de mãe suicida e filho e irmão de mineiros, vive em uma pequena cidade cujo economia gira em torno, justamente, das minas de carvão. Enquanto seu irmão e seu pai ocupam-se e lutor por melhores salários e condições de trabalha organizando uma greve, Billy acaba perdendo o interesse pelo boxe, esporte que já foi praticado pelo seu pai rude e, aparentemente insensível, e apaixona-se por uma atividade numa cidade repleta de homens como o seu pai: o ballet. A instrutora percebe o talento e o enorme interesse do menino para a atividade e decide, então, treiná-lo para tentar uma vaga Academia Real Inglessa de Ballet. No entanto, Billy e sua mestre terão uma tarefa difícil pela frente: lutar contra o preconceito e a recusa da família do menino.
Billy Elliot é divertido, é bem feito, tem uma trilha sonora bacana, um roteiro simpático, boas atuações e, portanto, acaba cativando e, até mesmo, emocionando o espectador. Porém, sou obrigado a dizer que não vai além disso mesmo, pois se trata, assim, de mais um filme bonitinho de pessoas que investem em atividades não muito bem vistas e que, portanto, tem de superar diversos obstáculos. Há inúmeros filmes com o mesmo argumento. O único mérito deste filme, em vista de tantos outros com o mesmo mote, é que Billy Elliot não chega a exceder a cota do sentimentalismo barato e pieguices, armadilha fácil em filmes que tratam de temas como esse. De resto, é tão somente um filme assistível e mediano. Para uma tarde (ou noite mesmo) em que você não encontra nada para fazer e não há uma opção mais interessante, é um passatempo competente, sem contra-indicações. Mas de tão deja vu você esqueçe ele tão logo desliga a TV.

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“Código Desconhecido”, de Michael Haneke.

Code InconnuUma talentosa atriz que não sabe exatamente como lidar com as vulnerabilidades da vida humana. Seu namorado, um fotógrafo jornalístico que é igualmente incapaz e por isso passa a maior parte do tempo afastado e em meio à uma realidade mais cruel e miserável sem, no entanto, conseguir processá-la. Seu jovem irmão, petulante e irreponsável, incapaz de enxergar algo que não seja a si próprio. Seu pai, um homem embrutecido e que não consegue romper a armadura de insensiblidade que construíu ao redor de si e, por isso, não consegue estabelecer qualquer comunicação com o filho. Uma imigrante ilegal romena que encontra na mendicância a única opção para sustentar a si e sua família, da qual vive afastada. Um jovem imigrante africano que trabalha com deficientes auditivos e tenta lutar contra o preconceito contra os estrangeiros, em vão, obviamente.
Estes são os personagens do incômodo filme Código Desconhecido: relato inacabado de várias jornadas, do diretor Michael Haneke. Incômodo sim, mas de expectação urgente: impossível ser mais atual depois da recente onde de violentos protestos organizada por imigrantes e descendentes de imigrantes franceses. Mesmo utilizando recursos e técnicas comuns no cinema de arte europeu, como tomadas longas e sem interrupções, diálogos pontuados por silêncios gritantes, cenas cuja ação transcende o campo visual do expectador, Haneke consegue prender a atenção pela lógica contrária à de qualquer filme: há momentos tão realisticamente incômodos que o expectador sente vontade de desligar a TV. Mas, sabendo tratar-se da causa desse sentimento a constatação dos fatos retratados no filme serem a mais pura realidade, ele toma coragem e continua a assistir. É uma espécie de catarse expectativa: nos sentimos obrigados a ver isso não porque achamos que vamos encontrar a solução para os problemas do mundo, estejam eles compreendidos em uma esfera mais sócio-universal (como o anti-semitismo e a miséria) ou pessoal (como a incomunicabilidade afetiva), mas para que possamos ter, ao menos, uma atitude mais compreensiva e paliativa diante de tudo. Se pensarmos apenas nas mazelas sociais que o filme mostra – e já expliquei que ele não se contenta apenas com isso – e relacionarmos com a França de hoje, podemos dizer que Haneke foi profético: “Olhem como agimos, olhem o que está acontecendo. Não há o que fazer. É sentar e esperar tudo explodir pelos ares.” Foi o que aconteceu.
A direção, precisa e inteligente o bastante para deixar a ação ser guiada pelo elenco excepcional, dá espaço para que Julitette Binoche destaque-se no elenco com uma atuação estupenda em cada detalhe mínimo. Mesmo quem não tem qualquer familiaridade com a atriz pode afimar, assistindo apenas este seu trabalho, ser ela uma das melhores atrizes do mundo – e Haneke, por consequência, fica na memória como um dos mais promissores diretores europeus.

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“Solaris”, de Andrei Tarkovsky.

SolyarisPsicólogo é enviado para uma estação espacial que orbita um planeta chamado Solaris, em cuja superfície há apenas água, para avaliar a continuidade ou não das operações, já que há indícios de que os únicos três sobreviventes da tripulação estão perdendo a sanidade. Ao chegar lá descobre que um dos tripulantes, que o conhecia, se matou e começa a enfrentar as mesmas situações que colocaram os tripulantes no estado em que se encontram.
Não há meios de estabelecer comparações entre a primeira versão de Tarkovsky e a segunda, do diretor Steven Soderbergh. Antes mesmo de fazer quaisquer comparações, uma pergunta vem a mente: por que raios Steven Soderbergh achou que poderia, simplesmente, regravar uma obra-prima?
No entanto, se realmente levarmos esse questinamento em frente, teremos que fazê-lo a muitos diretores, pois a síndrome do remake infestou o cinema.
Tarkovsky não foge à sua prática neste filme de 1972: Solaris tem quase três horas de duração, repleto de planos-sequência lentíssimos. Alguns enxergam nessa característica do cinema Tarkovskiano um defeito. Isso, claro, é o discurso engendrado pelos desavisados que não tem cultura cinematográfica suficiente nem para entender suas limitações. Fique claro: essas são as pessoas que não conseguem ver um filme que não tenha, já nos seus primeiros cinco minutos, explosões catastróficas, tombamento de carros e sequências-videoclipe em câmera lenta. Para qualquer pessoa que nutre admiração e obtém prazer na apreciação do cinema que foge as normas estéticas do mainstream hollywoodiano, é fácil enxergar toda a primazia na composição do filme de Tarkovski.
A dita lentidão aqui reflete um estado de absoluta comiseração à que nós, humanos, estamos sempre sujeitos, também retratando estados de reflexão que, não necessariamente, podem ser expressos em palavras ou longos discursos. É da composição das imagens apresentandas em Solaris e de suas numerosas sequências contemplativo-reflexivas que se obtêm a sua característica suprema: Solaris é um poema encenado que versa sobre a condição humana e algumas de suas mais conflitantes sujeições: o amor, a traição, o abandono, a insensibilidade.
Apesar de visto por muitos como o “Anti-2001 “ – até , dizem, pelo próprio TarkovskiSolaris lhe é quase geneticamente gêmeo já que, igualmente ao filme de Kubrick, subjuga-nos duplamente: internamente, na sua estória, mostra-nos a mercê de forças que nos são estranhas e superiores; externamente, como expectadores, nos mostra hipnotizados pela sua intensidade visual e psicológica.

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“Huckabees – A Vida É Uma Comédia”, de David O. Russell.

I Heart HuckabeesPelo cartaz do filme, elenco, equipe de produção e sinopse do filme Huckabess – a vida é uma comédia, qualquer pessoa com um mínimo de intimidade e senso cinematográfico perceberia as pretensões dos realizadores: uma comédia nonsense, ainda que inteligente e sutilmente blasé, assim como foi Os excêntricos Tenenbaums, de Wes Anderson. Confesso que minha curiosidade era grande e tinha boas expectativas, já que no elenco encontrava-se uma de minhas atrizes preferidas, a francesa Isabelle Huppert.
Mas a expectativa geralmente não corresponde a realidade. E a regra confirmou-se. A presunção do diretor David O. Russell e do seu co-roteirista é tanta que irrita. A estória gira em torno de um ativista de uma organização ambiental que procura dois detetives/analistas, que trabalham buscando solucionar “dramas” e angústias pessoais, para encontrar a razão de algumas coincidências pelas quais encontra-se obcecado. No decorrer de sua experiência de investigação pessoal-filosófica lida com seu ódio pessoal pelo ambicioso executivo de uma rede de loja de departamentos, que está interfirindo na sua liderença à frente do organização ambiental, e encontra um bombeiro que questiona a razão de ser da vida e que está sendo seduzido pelos métodos terapêutiucos-investigativos de unma filósofa francesa. Como podem ver, o mote da estória é mesmo nonsense, mas não consegue obter o charme sedutor necessário pois, lá pela terceira sequência de questionamento pessoal-filosófico o expectador já está cansado: os diálogos ficam cada vez mais chatos e desinteressantes, mesmo com a tentativa do diretor de usar na tela de certos recursos visuais que tentam fazer uma representação da técnica empregada pelos detetives-analistas. O recurso, na verdade, soa bobo e infantil, prejudicando ainda mais o filme.
E não há elenco que resista a pretensão e maneirismos insistentes dos realizadores. Para ser bem sincero só insisti em ver o filme por três razões simples: 1) não goste de ver filme nenhum pela metado, mesmo os ruins e irritantes; 2) Isabelle Huppert é sempre uma lufada de ar fresco, esbanjando elegância e charme nas suas performances, mesmo em um filme ruim; 3) Mark Wahlberg. É isso mesmo. Desculpem admitir, mas tenho um certo tesão incalacrado por esse cara. Como resistir ao gostoso ator americano vestido de bombeiro e exibindo um ar angustiado mas viril? É claro: em se tratando de um filme, isso é pouco. Mas fica a sugestão: alugue Os excêntricos Tenenbauns e esqueça essa tolice repleta de questionamentos filosóficos tão desinsteressantes saídos da cabeça de nerds angustiados.

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