Pular para o conteúdo

Tag: rock

Jenny Lewis – Acid Tongue. [download: mp3]

Jenny Lewis - Acid TongueNo seu primeiro álbum solo, Jenny Lewis, vocalista da banda Rilo Kiley, juntou forças com as gêmeas Watson para produzir canções de forte apelo country. Seu segundo disco, agora sem a companhia das duas garotas, guarda ainda algumas reminescências da primeira investida, onde o gênero marca presença de dois modos distintos. Vestindo os trajes mais tradicionais do country, “See Fernando” monta no ritmo puxado das guitarras, bateria e violão densos e ligeiros, enquanto “Carpetbaggers” investe mais no trotejar alinhado da guitarra, do violão e do vocal de Jenny e do convidado Elvis Costello, o que só torna mais evidente o gingado típico do gênero. Em uma roupagem bem mais caótica, costurando 9 minutos de uma verdadeira miscelânea de gêneros, “Next Messiah” transforma a toada country, com ritmo montado em cima da bateria e vocal de fluxo curto e fechado, em um swing rock sutilmente dançante, dando liberdade à guitarra e bateria em um solo denso, que então é interrompido e subvertido em uma melodia com ares de malemolente ginga blues-rock para finalmente fechar a canção com a rítmica do refrão que iniciou a melodia.
Mas apesar da presença insistente do country, o espírito de Acid Tongue é predominantemente rock, com o sabor sofisticado de sua vertente mais alternativa. Nas faixas que trilham os caminhos do gênero, ganha imenso destaque no vocal da cantora a sua feição mais doce e um tanto etérea, deixando os ouvidos suspensos em uma espécie de utopia sonora. “Black Sand” e “Bad Man’s World” trazem esta sensação, que unidas as melodias construídas pelo conjunto piano, baixo e bateria, e pelas intervenções pontuais de violino e violoncelo, soam como canções menos telúricas de Kate Bush. Por sua vez, “Pretty Bird” é pavimentada com o dedilhar sutil de um violão, enquanto a bateria dá o andamento para que Matt Ward vaporize sua guitarra em harmonias por vezes quase idílicas, em outras mais sensuais e ferinas. Dentre as baladas, duas se destacam: “Godspeed”, composta por uma melodia bem talhada, nos toques ao mesmo tempo delicados e sólidos de piano e bateria, e por uma letra de belos versos que ilustram apoio à uma mulher que sofre abusos de seu companheiro e “Sing a Song for Them”, que apoia sua base em um baixo e guitarra cujos acordes se contrastam em tonalidade mas se complementam em ritmo, sedimentando a melodia para que seja encorpada por uma guitarra mais áspera e arranjo de cordas espesso.
Apesar de que eu nutra muito mais interesse pelo rock do que pelo country, Jenny consegue despertar interesse até mesmo nas suas incursões neste último, retirando boa parte do seu caráter brega e antiquado. É por isso que Acid Tongue comprova bem a versatilidade de Jenny Lewis, possível pelo seu talento e pela beleza e flexibilidade de seu vocal, tornando genuínas as performances da artista em ambos os gêneros que o disco aborda. Apesar disso, ainda preferiria um disco que se encarregasse em dissecar apenas as muitas faces do rock – e a julgar pelo modo como o gênero tomou espaço do country em Acid Tongue, isto deve estar guardado para o próximo álbum.

rapidshare.com/files/157430780/jenny_-_acid.zip

senha: seteventos.org

1 comentário

Rachel Yamagata – Elephants…Teeth Sinking Into Heart. [download: mp3]

Rachel Yamagata - Elephants...Teeth Sinking Into HeartQuatro anos separam Happenstance, o disco de estréia de Rachel Yamagata, de seu mais novo lançamento, o álbum Elephants…Teeth Sinking Into Heart. E não há como não chegar à conclusão de que o tempo fez muito bem à artista: enquanto no primeiro a garota criou algumas boas faixas com enorme potencial de hits instantâneos, mas que não conseguiam ir mais fundo do que isto, neste seu segundo álbum Rachel traz à tona canções cuja sofisticação melódica, sabe-se, foi fruto de um amadurecimento que só se atinge com tempo suficiente para refletir e polir melhor aquilo que é gestado.
“Elephants“, a faixa que dá título ao primeiro disco deste álbum duplo, assim dividido por ser composto de duas atmosferas musicais distintas, é o retrato exato do aperfeiçoamento atingido por Rachel no cerne emocional das canções que compõe toda essa primeira parte de sua nova criação: para sonorizar a brilhante analogia entre as amarguras do amor e a selvageria predatória da cadeia alimentar das selvas, a garota explorou reverberações melancólicas em acordes de guitarra e piano, lançando mão também de uma bateria de andamento lento e pesairoso e de uma orquestração que preenche a melodia com matizes ainda maiores de sofrimento e mágoa. “Sunday Afternoon” é outra canção em que Yamagata e o produtor Mike Mogis operam com o emocional da canção sem resvalar um milímetro sequer da exacerbante classe e elegância que são a marca maior da primeira parte do álbum: guitarras de vibrações idílicas, bateria sorumbática, violão de acordes metálicos e uma orquestração de suave fulgurar tecem, na primeira parte da canção, nuances substancialmente pastorais que aos poucos são revertidas em um arranjo mais vigoroso e levemente sensual, finalizado por uma sequência plácida e serena. E apesar do trabalho primoroso no arranjo, muito da experiência fabulosa despertada ao ouvir a música é produzido pelo vocal da americana, que exprime a dor e tristeza de alguém que confessa tentar, de uma vez por todas, abandonar um amor que só lhe causa sofrimento cada vez maior – é a faixa que com mais intensidade sintetiza a atmosfera atormentada do disco.
Porém, ainda que ela subsista em todas as canções, essa atmosfera é suavizada em alguns tons em algumas faixas do disco, particularmente nas baladas. É o que ocorre nas canções “Over and Over”, que como a maior parte das músicas da primeira metade do álbum abusa do infalível arranjo de cordas, mas sem nunca deixar de apostar no protagonismo dos acordes de piano e bateria que exalam aroma de inequívoca paixão, e na extrema simplicidade de “Duet”, que emprega apenas um violão de acordes suaves para a composição harmônica que acompanha o vocal de Rachel e seu convidado, o cantor Ray Lamontagne.
Mas este é um álbum duplo, e o contraponto à melancolia rascante do primeiro disco é o furor faiscante de Teeth Sinking Into Heart, a segunda parte, composta de canções de um rock profuso, como se confere na fartura de guitarras, baixo, bateria e múltiplas camadas vocais de “Sidedish Friend”, na qual é declarada à aversão à qualquer tipo de compromisso afetivo, e na rítmica mais fechada e menos aguda produzida pela guitarra, bateria, baixo e marimba da faixa “Pause That Tragic Ending”, cujo acabamento é dado pelo arranjo de cordas algo febril.
Muito além do fato de que a artista explora as gradações de seu potencial artístico em cada uma das partes do disco – não há algo de muito novo nisso, pois Happenstance já encerrava no seu interior tanto a placidez de Elephants quando o frenetismo de Teeth Sinking Into Heart -, o grande diferencial deste novo lançamento para o primeiro é o testemunho de que o requinte que florescia na estréia foi tão aprimorado e amadurecido que ele torna-se palpável da primeira a última nota do álbum. Por isso que, diferentemente da própria Rachel, eu não me surpreendo que uma das maiores gravadoras do mercado dê suporte incondicional à um disco que se dá ao luxo de trazer uma faixa de quase dez minutos de duração. Posso apostar que para a Warner Records, o valor da artista não é o das cifras que ela possivelmente reverta nas vendas ou na popularidade que suas canções possam ganhar no rádio, TV ou cinema, mas o fato de que a presença de Rachel é um reforço considerável ao cast de artistas de primeiro escalão da gravadora, agregando ao selo a qualidade inquestionável de seu trabalho – algo bem mais duradouro do que o dinheiro fácil feito com o “gado” que compõe a maior parte dos contratados da indústria da música.
Baixe o disco utilizando o link a seguir e senha para descompactar os arquivos.

rapidshare.com/files/153152402/rachel_-_ele-teeth.zip

senha: seteventos.org

Agradecimentos ao , que por vezes incorpora o meu feed musical.

4 Comentários

Emiliana Torrini – Me and Armini. [download: mp3]

Emiliana Torrini - Me and ArminiA islandesa Emiliana Torrini, depois de dois álbuns lançados internacionalmente – o primeiro, Love In The Time of Science, passeando pelo pop eletrônico enquanto o segundo, Fisherman’s Woman, divagando por sonoridades folk suaves – demonstra, com o lançamento do seu mais novo disco, que já não é mais uma artista com potencial, mas uma compositora amadurecida e em pleno controle e poder de sua capacidade criativa.
Em Me and Armini, a cantora exibe-se segura em compor não apenas dentro dos domínios do rock alternativo, que é a tônica maior do disco, mas de versar com toda tranquilidade e beleza em outros gêneros. A faixa título do disco, por exemplo, é um reggae recheado pela brandura do vocal de Emiliana, além do gingado tranquilo e carinhoso da bateria e guitarra – a letra também agrada aos ouvidos, tecendo uma ironia sutil ao dar voz à uma mulher que aguarda pacientemente que seu amante abandone a sua companheira em detrimento de sua própria companhia, a despeito de todos lhe dizerem que ela perde seu tempo. E as primeiras faixas só preparam os ouvidos para a qualidade inquestionável do trabalho que se testemunha à frente.
“Birds” chega arrasando sem qualquer necessidade de pisar fundo na melodia: com a segurança de quem sabe muito bem o que está fazendo, Torrini e seu produtor, Dan Carney, empregam no instrumental da canção violões, bateria, guitarra e baixo – este último dando um show à parte na “fuga” melódica da canção – manuseados com considerável parcimônia, além de algumas frugalidades à cargo de coisas como um teremin e piano, conferindo à canção uma tonalidade sonora que acaricia os ouvidos de modo fulminante. Faz sentido: a letra é de uma poesia ímpar, fascinando o ouvinte com a comparação tecida entre o desdobrar de um novo dia e a encenação de uma peça teatral a ponto de ninguém resistir acompanhar o canto da voz macia e doce de Torrini nestes versos. Na faixa seguinte, “Heard It All Before”, a islandesa já tinge o disco com as cores do seu rock: as guitarras, baixo, teclado e bateria escandidos com energia, as palmas e mandolim pra dar um tempero lúdico e o vocal no timbre e potência ideais servem como a carga inicial do armamento rock da compositora. Antes de prosseguir, porém, a garota faz graça ao colocar violão e guitarra ao mesmo tempo serenos e secos em “Ha Ha” para sonorizar o sarcasmo de uma mulher que desdenha de um sujeito que é incapaz de levar qualquer coisa à cabo, muito graças à sua boemia. “Jungle Drum” retoma a verve rock de Emiliana apresentando baixo, bateria e guitarra envenenados por um ritmo frenético, onde o vocal da cantora faz uma parceria imprescindível para compor o andamento e ilustrar com onomatopéias sonoras a louco pulsar de um coração intoxicado pela paixão, comparado nas letras à cadência feroz de tambores da selva. Mais à frente, “Gun” – que trata dos crimes e pecados de homens e mulheres mergulhados em relações fracassadas e ilegítimas – desacelera no ritmo, mas não no fervor de sua atmosfera rockeira: pontuada por gemidos, sussuros e por uma respiração ofegante carregados de erotismo, nada além de baixo e guitarras rascantes, com inserção ocasional de uma bateria febril, são usados como instrumentos para a concepção de uma melodia ferina e sensual. Algumas faixas a mais e chegamos ao fim do disco com “Bleeder”, uma canção profundamente delicada, que com a ajuda de piano de acordes ligeiros e distantes, de alguns acordes simples no violão e de uma orquestração de cordas de sutileza cativante serve ao propósito de registrar as confidências de uma mulher que tenta confortar o homem que ama, mostrando que ele é tão sujeito à ser rendido pela manifestação de emoções fortes quanto qualquer outro ser no mundo.
Comparada no ínício da carreira à conterrânea Björk por alguns críticos musicais apressados, Torrini logo reduziu essas declarações à vozes sem eco, afirmações sem relevância que merecidamente caíram em descrédito já no lançamento do seu segundo álbum. Com Me and Armini, Emiliana Torrini sedimenta de vez uma identidade musical própria – a de uma artista que ignorou o porto de idiossincrasias que a crítica musical enxerga existir na arte produzida na sua terra natal para singrar com sua nau à procura de mares e oceanos de sonoridades versáteis, porém mais simples, deixando para trás e à deriva o estereótipo com o qual os islandeses costumam ser embalados.

rapidshare.com/files/144814667/torrini_-_armini.zip

senha: seteventos.org

3 Comentários

Duncan Sheik – Phantom Moon. [download: mp3]

Duncan Sheik - Phantom MoonEu já disse por vezes aqui que alguns artistas e discos levam tempo pra crescer entre minhas preferências. Alguns eu conheço e ouço há anos, mas quando perguntado do que eu gosto, não chego a citá-los prontamente porque não atingiram ainda o ponto em que podem ser considerados artistas favoritos. Contudo, há pouco um deles saiu da minha lista de ostracismo cultural e se aproximou dos que perfazem as minhas preferências – o cantor e compositor americano Duncan Sheik. De todos os discos que lançou, só ouvi até hoje seus três primeiros álbuns – onde seu trabalho exibe uma enorme atmosfera pop/folk -, e apesar de que Humming é o que mais escutei, foi Phantom Moon que me fez olhar novamente para o artista, de lá de seu local de repouso na minha cultura musical. O disco é um trabalho requintado e cuidadoso tanto de melodias quanto de letras – estas, por sinal, escritas pelo dramaturgo e poeta americano Steven Sater -, nas quais ainda que variem consideravelmente em tonalidade e intensidade, acabam por compor um todo de homogênea melancolia. Na faixa “Mouth On Fire”, por exemplo, para transmitir na melodia a mesma magnânima estupefação do eu lírico das letras – que vê tudo o que entende e crê perder todo o seu sentido diante do que vive no momento -, Duncan pôs em serviço violões de acordes suplicantes e ligeiros para trabalhar com bateria, arranjo de cordas e com as várias camadas de seu vocal, construindo uma música que só reduz sua densidade melódica sôfrega no seu último minuto e meio. É justamente o oposto do que nos é apresentado em “Lo and Behold”, onde o cantor e compositor se utiliza de piano, orquestração de cordas e da beleza inequívoca de sua voz jovem, macia e pungente para, de modo supremamente fabuloso, construir na música e nos sentidos do ouvinte um crescendo melódico que suplanta de modo inevitável todas as suas sensações – algo que condiz com as letras, inspiradas na enorme emoção de Simão ao ser apresentado à Jesus no no templo de Jerusalém, passagem do evangelho de São Lucas. Em outras canções, no entanto, a variação é menos intensa, já que Sheik cultiva uma sutileza maior no andamento delas. Exemplos disso estão na melodia fulgurante de “Time and Good Fortune”, que com matizes criadas por violas, bateria e orquestrações evoca a placidez de um cenário bucólico esplendorosamente invadido pelos raios do sol, na cadência suave e gentil da guitarra, bateria e piano da balada “Far Away”, que exibe o calor ameno de uma paixão madura, na perfeição do compasso folk/rock graciosamente vigoroso entre violões, órgão, percussão e vocal da faixa “A Mirror In The Heart”, que imprime sensações de revelação e urgência, e na plangente serenidade dos violões e do vocal de Duncan em “Requiescat”, que explora sonoramente a mesma resignação da súplica, nas letras, pela paz de espírito de alguém que se foi, e pelo equilíbrio de quem ficou.
Phantom Moon é nitidamente daqueles discos que não se repetem na carreira de alguém – ficam lá aprumados em sua inatingível superioridade, resultado de um momento ímpar no qual o artista encontra-se imbuído de uma inspiração inigualável. Ao mesmo tempo que isso é uma verdadeira preciosidade para um músico, pelo simples fato de que tal obra foi concebida, também se converte em um empecilho, uma vez que dificilmente se consegue superar, ou mesmo atingir, igual nível de qualidade em obras posteriores. Mas essa busca é, felizmente, o “santo Graal” que é a força-motriz por trás de todas as expressões artísticas, o alimento mais que necessário para sua continuidade.
Baixe o disco utilizando o link a seguir e a senha para descompactar os arquivos.

senha: seteventos.org

http://rapidshare.com/files/139134439/sheik_-_phantom.zip

1 comentário

Cartier – Love (Vários Artistas). [download: mp3]

Cartier - Love - Vários ArtistasProjetos musicais que reúnem cantores e bandas em prol de caridade ou causas sociais acabam nunca interessando de fato porque os artistas ligados ao projeto não se dão ao trabalho de produzir algo que tenha realmente qualidade, se contentando com covers ou, quando muito, liberando algo que não passou pelo seu próprio crivo. Mas a coisa pode ser ainda pior quando aquilo que vai ser produzido reúne os artistas em parcerias desiguais e sob as amarras criativas do tema em questão – geralmente causas sócio-ambientais. Felizmente, mesmo que algumas coisas acabem não sendo exatamente um atrativo, esse não é o caso do projeto, “Love Cartier” com o qual acabei me deparando há poucos dias, uma iniciativa bem pensada da famosa joalheria francesa que, como já indica o nome, tematiza sobre o amor. Parte de um projeto que inclui a produção e venda de jóias cujos ganhos são revertidos para a caridade, a “perna” artística do projeto compreende o lançamento gratuito na internet de 12 canções compostas e interpretadas, em sua grande maioria, por artistas da nova seara de música independente. E, devo confessar que muitos deles eu sequer tinha ouvido falar na minha vida. É o caso do britânico Dan Black, que contribuiu para o projeto com “Liz And Jonny”, um pop/rock com uma programação e um riff no teclado compondo uma síncope bem desenhada, daquelas realmente pegajosas que fazem o ouvinte entoar a letra em falsetes semelhantes ao timbre do vocal de Black, tamborilar os dedos no ritmo da música e fazer um beat-box imitando a pegada da bateria sem se dar conta. Outro ilustre desconhecido para mim é Hawksley Worksman, que trouxe para a coletânea de músicas da Cartier a faixa “The Ground That We Stand On”, uma balada muito inspirada e emocionante, com fartura de vocais de apoio ampliando o lirismo da melodia, acompanhados de um arranjo feito de toques firmes porém doces tanto nas cordas do violão quanto na superfície da bateria e percussão, além de algumas sintetizações que agem como uma cola, unindo todos os elementos sonoros sem deixar qualquer fresta. Pauline Croze, por sua vez, não é exatamente uma desconhecida para mim, mas como nunca tinha me dado ao trabalho de conferir alguma composição sua, acaba dando no mesmo. “Sur l’écorce” é a faixa que compôs para a Cartier, uma canção onde os acordes das várias e diferentes camadas de guitarra soam tão metálicos, agudos e um tanto rústicos quanto o é o vocal da cantora francesa, o que resulta em uma canção que causa estranhamento à primeira audição, mas que ganha simpatia depois que lhe é dada mais atenção.
Claro, como eu acabei desenvolvendo a síndrome do indie desde que este blog sedimentou sua existência na blogosfera, alguns dos ilustres desconhecidos não o são de todo para mim. Sol Seppy, por exemplo, é uma das artistas do mundo indie que mais adoro e admiro desde que ouvi sua única obra até hoje, o disco The Bells of 1 2. Sua composição para esta coletânea, “I Am Snow” é o simulacro do seu estilo espetacularmente doce, taciturno e etereamente difuso, construída com toques delicados e doces em um piano distante, um violão silencioso e uma programação que evoca tanto o conforto melancólico da escuridão da noite quando o contentamento radiante da claridade do dia, tudo acompanhado do vocal fabulosamente pacífico e terno desta artista que merece ser muito mais conhecida.
Mas entre os artistas de menor projeção podemos encontrar outros que já tem uma história bastante longa no mundo da música. Um deles é o compositor japonês Ryuichi Sakamoto, famoso pelas suas inúmeras contribuições na músicas pop, na música erudita e na composição de trilhas sonoras, sempre com incontáveis parcerias lhe fazendo companhia. Para o projeto Love Cartier, Sakamoto sentou-se no seu piano e trabalhou em uma de suas indefictíveis improvisações, produzindo uma peça de enorme placidez e serenidade acústicas. Sentindo necessidade de algo a mais, o compositor enviou a composição para um de seus muitos amigos e colaboradores, o compositor austríaco Christian Fennesz, que adicionou à peça suas conhecidas intervenções eletrônicas, compostas sobre guitarras trabalhadas, distorcidas e subvertidas em softwares de áudio – o resultado é “Mor”, uma composição delicada e sofisticada, transbordando ternura e melancolia.
Entre as doze composições escolhidas e ofertadas, sobrou espaço até para que alguém não tem exatamente uma carreira no mundo da música. A atriz francesa Marion Cotillard, apesar de ganhar fama com o Oscar que recebeu por um papel que tudo tem a ver com o mundo da música, na verdade, até hoje, só fez algumas poucas participações neste meio, assim como o faz aqui neste projeto, com a belíssima balada “The Strong Ones”, cuja melodia atinge em cheio os ouvidos com o vocal quente e macio da atriz e cantora sobre violão, bateria e guitarras de cadência lenta e melancólica – dá vontade de deitar no chão e dar vazão à toda sua sensibilidade acompanhando a cantora nas letras da canção, que falam sobre como mesmo aqueles que se julgam fortes se descobrem inequivocamente frágeis diante da força incomensurável do amor.
Mesmo que nem todas as músicas que integram o projeto possam agradar ao público, o projeto já tem grande utilidade ao dar à chance para que qualquer um tenha contato, de uma só vez, com artistas desconhecidos com um trabalho de qualidade, ao trazer novas composições de artistas que por ventura já conhecemos e adoramos e, de quebra, ao mostrar que nem todo projeto musical que advém de ideais de caridade pode ser chato, aborrecido e artisticamente pobre e cafona – esse, talvez por conta de sua idealizadora e patrocinadora, exibe uma elegância e charme gratificantes.
Baixe todas as faixas em um pacote único ou selecione aquelas que mais possam lhe interessar, utilizando o site oficial do projeto, o Love Cartier – e não deixe de comentar aqui no seteventos.org sobre suas próprias impressões com relação às canções.

Pacote único com as 12 músicas:

senha: seteventos.org

http://rapidshare.com/files/127405076/cartier_-_love.zip

Site oficial “Love Cartier” para seleção de faixas para download:

http://love.cartier.com/

1 comentário

Joan As Police Woman – To Survive (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Joan As Police Woman - To SurviveO segundo disco da banda de Joan Wasser não encanta tão prontamente quanto o primeiro, principalmente porque algumas poucas canções, como “Magpies”, um pop-soul setentista com direito inclusive aos vocais de apoio e arranjo de metais que remetem ao estilo da época, ensaiam conquistar o gosto do ouvinte mas se perdem tanto em descaminhos melódicos tão inócuos e aborrecedores, quando não absolutamente irritantes, que acabam interferindo na apreciação adequada das demais faixas do disco. No entanto, superada a irritação que essas canções causam por algum tempo, as outras faixas revelam logo os seus enormes predicados, algumas de modo lento e crescente, liberando paulatinamente sua beleza à cada apreciação – é o que acontece com “To Be Loved”, faixa que envereda de modo mais sutil no mesmo pop-soul nostálgico de “Magpies”, mas que é mais feliz ao ser balanceada com um teclado de cores quentes e um piano de notas graves, ambos dedilhados de modo suave e apoiados por uma guitarra e bateria que aquecem discretamente a melodia tanto quanto o próprio vocal macio de Joan -, outras de modo mais imediato e impactante – como “Holiday”, que une acordes deliciosos no violão, no piano, e na bateria para compor uma melodia ao mesmo tempo ágil e graciosa, que cede bastante espaço para a voz encantadora da cantora americana. Sempre inspirada por referências musicais de décadas passadas, Joan é capaz de compor faixas que lembram desde a romântica melancolia da “new wave” do final dos anos 80 e início dos 90 – falo aqui da esplêndida “Start of My Heart”, cuja música é guiada por uma bateria e baixo de cadência lenta, salpicada por uma guitarra de acordes extensos e serenos e preenchida por uma sintetização que cria ondulações ao ser continuamente sobre e sobposta à instrumentação restante – até ao glamour do pop americano que sonorizou bares, discotecas e qualquer festa que se prezasse há cerca de 40 anos – claro que me refiro à faixa “Furious”, marcada por um compasso ligeiro de bateria e teclado, reforçado por piano de acordes dramáticos e prodigiosos e um coro de palmas que recheia o fundo da melodia, além dos vocais adicionais que adensam ainda mais o nostalgia sonora – tudo, porém, com um senso de naturalidade e graça que torna esse caldo saudosista algo de muito bom gosto. No final do disco ainda sobra ânimo para um dueto delicioso com Rufus Wainwright em “To America”, que é introduzida por um piano algo desolado e logo subvertida por um arranjo fabuloso que toma de assalto a música com saxofones, guitarras e sintetizações enormemente melódicas e verborrágicas, fechando de modo brilhante este disco que, a esta altura, faz esquecer qualquer possível menção de tropeço que inicialmente o marcasse.
Baixe o disco utilizando o link a seguir e a senha para descompactar os arquivos – e não esqueça de baixar logo depois a faixa bônus “Take Me”, liberada com exclusividade na web aqui pelo seteventos.org.

senha: seteventos.org

http://rapidshare.com/files/125219782/joan_-_survive.zip

Faixa bônus “Take Me” (do single “To Be Loved”):
http://rapidshare.com/files/125247013/02_Take_Me.mp3

Deixe um comentário

My Brightest Diamond – A Thousand Shark’s Teeth [download: mp3]

Com boa antecedência, vazou o segundo e tão aguardado disco de Shara Worden, conhecida pelo pseudônimo do seu projeto musical, My Brightest Diamond. Os que esperavam mais da beleza incessante de Bring Me The Workhorse vão se sentir enormemente satisfeitos: A Thousand Shark’s Teeth prossegue desbravando os mesmos caminhos do álbum de estréia, levando ao rock alternativo pitadas consideráveis de influência erudita. Em “Black & Costaud”, por exemplo, a influência foi distribuída em todos os aspectos da canção: as letras reproduzem um episódio da ópera “L’enfant et les sortilèges” de Maurice Ravel, os vocais, trabalhados sobre filtros que pluralizam seu dramatismo, exibem-se gloriosamente teatrais, assim como o arranjo da música, feito de sopros, violinos e todo um sortilégio de instrumentos eruditos organizados em lufadas melódicas rascantes e que divide espaço com a guitarra isolada em toques curtos e graves ao fundo. E assim é em todo o disco, com algumas canções mergulhando de cabeça no erudito – como em “If I Were Queen”, que lembra os momentos mais acústicos e reflexivos de Björk em Homogenic devido à sua melodia elaborada sobre cordas, em tons docemente graves, que oscilam momentos silenciosos e efusivos – enquanto outras exploram a influência de forma suave, em parceira com o rock requintado de Shara – como em “From The Top Of The World”, onde a guitarra e baixo, com seus acordes, e a bateria, com seu compasso, abrem o caminho na melodia para intervenções de cordas e sopros, e como no rock potente de “Inside A Boy”, com bateria, guitarras e baixos verborrágicos e famintos, duelando seu espaço com o vocal e orquestração inquietos da música.
Porém, não há momento no disco de beleza mais avassaladora do que a testemunhada em “To Pluto’s Moon” e “Bass Player”: na primeira, a melancolia melódica exuberante de cordas, harpas e uma cornucópia de intrumentos musicais homegeniza-se à tristeza da bateria, do baixo e de uma guitarra de acordes graves e sofridos que, por sinal, é a responsável pelo brilhante minuto e meio final da música, feito apenas de seus riffs rascantes, sobrepostos de modo fenomenalmente dramático; na segunda, baixo, guitarra, bateria, marimba e sutis orquestrações de sopros e cordas introduzem uma música de tênue sensualidade que ganha força descomunal na sua metade final pela intensificação dos acordes de toda a instrumentação em um crescendo melódico fabuloso que, quando e onde quer que você esteja, anestesia o tempo e o mundo ao seu redor no momento em que você o escuta.
O que mais impressiona, depois de testemunhar a beleza inexplicável de A Thousand Shark’s Teeth, é se dar conta que o projeto foi inteiramente gestado por Shara: não bastasse ser dona de um vocal intensamente emocional, profundo e extenso, a garota ainda compõe as melodias e letras sofisticadíssimas, bem como se encarrega pela produção e pelos arranjos irretocáveis de todas as canções do disco, mostrando que talento ela continuar a ter de sobra, em todos os aspectos da produção musical. Depois disso tudo, só resta dizer que, neste ano, pouquíssimos lançamentos tem chances de se equiparar a transbordante criatividade deste aqui. Provavelmente, o novo álbum de Camille Dalmais venha tomar um pouco do espaço deste ano para si, mas quais são as chances de aparecer algo que supere estes dois discos? Então, que venham os coadjuvantes de 2008: Shara, uma vez mais, mostrou que não basta ser excelente – tem que ser exuberante.

Baixe: https://www.mediafire.com/file/gixuto79q4i8da2/bright-shark.zip

Ouça:

1 comentário

Keren Ann. [download: mp3]

Keren AnnKeren Ann, jovem pertencente aquela seara de artistas europeus multi-étnicos que está cada vez se tornando mais comum, tem já uma discografia considerável, mesmo tendo iniciado sua carreira apenas neste novo século. Seu mais recente álbum é um trabalho onde a elegância e simplicidade são sugeridas já no contato mais imediato e superficial com o disco: tanto a ausência de título para o trabalho, que se contenta em levar o nome da artista, quanto a fotografia escolhida para ser a capa do álbum, uma bela mas discreta imagem da cantora e compositora em tons predominantemente claros, conseguem transmitir a idéia de um disco despido de quaisquer ambições que ultrapassem seu objetivo mais visível, a sinceridade das emoções. E é justamente nelas que a linda morena, de olhar sedutor, altivo e misterioso, conquista o ouvinte. Faixas como a balada “In Your Back” – onde o violão de leve pesar, a orquestração de cordas de inspirada ternura na ponte da canção, e a programação suavemente cintilante abrem caminho para que a voz cheia de mágoa de Keren materialize-se com maciez imediata -, a sutil “The Harder Ships Of The World” – que, ornada por violão, guitarra, piano e programação serenas, compara as turbulências e o destino de um romance à uma jornada àrdua que parece sem rumo e fadada ao fracasso – e a plácida “Where No Endings End” – onde o arranjo delicado e cuidadoso composto de violão, flauta, piano, guitarra e orquestração de sopros e cordas breves e eventuais ambientam a letra que fala sobre um amor que fatalmente encontra seu fim – sucedem em cativar os ouvidos ao expor sentimentos sem muitos volteios, de modo franco. Músicas de cunho pop mais animado também ganham seu posto no disco da artista de origem indo-européia que nasceu em Israel mas que cresceu na França – como “Lay Your Head Down”, uma canção que fala sobre a entrega completa ao amor e que traz um arranjo farto feito de guitarra, baixo, bateria, gaita, orquestração de cordas e sampler de palmas que entra parar intensificar a vibração positiva da canção, principalmente na sua metade final -, assim como há espaço na ambiência mais reflexiva do disco para um momento ácido e lânguido – caso de “It Ain’t A Crime” que, com vocal sensual de Keren, traz as impressões do que parecer ser uma garota de programa sobre o comércio da luxúria em meio à toques firmes na bateria e nas guitarras rascantes. De brinde ainda temos “Liberty”, canção que tanto em sua melodia – feita de toques tépidos no piano, acordes adocicados no violão, orquestração suavemente reluzente de cordas e algum sopro e o backing vocal etéreo posto sobre sussurros indistintos e brandos -, quanto em sua letra “emula” a atmosfera das composições de Björk para o seu disco Vespertine. Esse é sem dúvidas um disco para se ouvir refastelado no sofá, saboreando de modo tranquilo e preguiçoso o inabálavel gosto de Keren pelas melodias pacatas e pelos romances bem ou mal-aventurados.
Baixe utilizando o link a seguir e a senha informada.

senha: seteventos.org

http://rapidshare.com/files/93424961/KerenAnn.zip

7 Comentários

Fernanda Takai – Onde Brilhem os Olhos Seus (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Fernanda Takai - Onde Brilhem os Olhos SeusNão consigo achar o Pato Fu interessante. Não que eu odeie a banda, é mais uma sensação de tolerável indiferença: de passagem por algum lugar, não me incomodo em ficar ouvindo o som deles, mas jamais me disponho a tentar gostar de seu trabalho. Porém, um episódio recente angariou minha atenção para algo relacionado à banda mineira: descompromissadamente bisbilhotando a Saraiva Iguatemi em companhia de uma amiga, passei pela prateleira de lançamentos e me chamou a atenção o empacotamento elegante de um disco, que logo vi ser o primeiro álbum solo de Fernanda Takai – e, diga-se, só descobri naquele momento que ela tinha se arremessado em uma aventura destas. Olhando a lista de faixas, percebi logo que as composições não pareciam ser de sua autoria e foi então que dei atenção a música ambiente da loja: coincidentemente, era justamente Fernanda Takai cantando a penúltima faixa do disco. Me impressionei de imediato com o que parecia ser uma produção cuidadosa e muito delicada, e tratei logo de fazer um “bookmark mental” instantâneo para, chegando em casa, catar o disco e avaliá-lo.
Posso afirmar sem receio que Onde Brilhem Os Olhos Seus, por contar com a participação efetiva de dois outros membros da banda na produção do álbum e nos arranjos das músicas, é mais um side-project do Pato Fu do que propriamente um disco solo de Fernanda Takai. E no disco, Fernanda e seus companheiros regravam canções do repertório de Nara Leão com arranjos que muito pouco lembram a sua roupagem samba/bossa clássica – a exceção mais evidente fica por conta das faixas “Insensatez”, que ganhou uma versão linda e emocionante de Takai, mas parece nunca conseguir fugir do poderoso estigma do violão e do vocal nostálgico, e “Odeon“, que ainda remete ao chorinho gracioso de Nara -, vestindo-as em um pop/rock que as cobre de um manto brilhante, de textura nobre e macia. As músicas “Diz que fui por aí” – guiada por um piano elegante, conta com bateria suave e cheia de categoria, com farpas de uma guitarra tristonha e vocal dulcíssimo -, “Com Açúcar, com afeto” – que ganhou as cores luminosas e resplandecentes de um pop/rock feito de acordes de guitarra e baixo certeiros, teclado de toques ternos, e bateria de cadência firme e sutilmente ligeira – e “Descansa Coração” – que tem como companhia do teclado, da bateria, do violão e do baixo, este último responsável pela espetacular introdução pulsante, a esplêndida adição de um cravo cuidadosamente dedilhado – são todas abordadas nessa musicalidade que soa mais fluorescente e contemporânea. Duas faixas, contudo, ganham uma identidade mais afastada do que se convém imaginar tanto de Nara quanto de Fernanda e sua trupe: “Canta, Maria” ganhou traços sacros, devido à tristeza da programação etérea, que sintetiza a sonoridade cristalina de sinos e orgãos, e “Ta-hi” surge revestida em um silêncio no qual a programação quase cósmica e o cravo intensamente metálico criam uma ambiência dramática fabulosa.
Ao invés do caminho usualmente trilhado por bandas e cantores ao se debruçarem em projetos paralelos, que se divide entre se afastar da sua sonoridade oficial, pisando em terrenos mais estranhos, ou de adotar a sonoridade herdada das canções selecionadas, quando se trata de um projeto de regravações, Takai e companhia decidiram que o melhor era, no conjunto das canções do disco, aproximá-las daquilo que eles sabem melhor fazer – pop e rock, claro. E mesmo que vez ou outra alguma música do disco possa soar chata, os melhores momentos de Onde Brilhem Os Olhos Seus deram chance à Fernanda e seus comparsas do Pato Fu de se por à frente dos holofotes do pop/rock brasileiro mais elegante e culto, colocando os barbudos chatinhos do Los Hermanos bem sentadinhos na arquibancada para assistir à tomada desse palco, sem estardalhaço, bem à moda mineira, com a sensibilidade pop, a classe e, principalmente, a naturalidade que Marcelo Camelo e sua cria não conseguem obter, já que são muito mais afeitos ao uso de todo um exército de artíficios um tanto quando pedantes.
Baixe o disco utilizando o link a seguir e a senha abaixo para descompactar os arquivos.

senha: seteventos.org

http://www.badongo.com/file/7626620

Deixe um comentário

Sheryl Crow – The Globe Sessions. [download: mp3]

Sheryl Crow - The Globe SessionsDepois do sucesso atingido com o seu segundo disco, Sheryl deu prosseguimento às suas composições mais voltadas para uma sonoridade pop/rock com o álbum The Globe Sessions, fazendo da discreta tecitura country apenas uma mera citação, como na faixa “Members Only”, com violões, baixos, guitarras e vocal formando uma mesma massa sonora cheia de calor country-rock, orgão ocasional de toques gracejantes e bateria e percussão de cadência leve, que so inicia trotejante e logo acompanha a ritmo alegremente comedido do instrumental restante. Apesar do período de depressão de Sheryl, anterior a gravação do disco, estar refletido nas guitarras sobejantes e na sorumbática mas reluzente orquestração de cordas de coloração oriental de “Riverwide” e no clima quase improvisado das guitarras, órgãos e bateria sofridos, hora conformados, hora transbordando em sentimento em “Crash And Burn”, que fala sobre alguém que, mesmo sabendo que seria em vão, disse adeus à tudo e todos que conhecia na tentativa de esquecer um amor que não deu certo, não se pode exatamente dizer que este é um disco triste. “My Favorite Mistake” – em que Sheryl fala sobre um romance que viveu por alguém que, no fim, descobre que não a amava -, através do seu vocal ao mesmo tempo sutilmente triste e marcado de alegria saudosista e nas suas muitas guitarras, baixos e orgãos de acordes sensuais sobre uma bateria de intensidade suficiente apenas para dar ritmo aos instrumentos restantes, assim como “It Don’t Hurt” – que fala sobre alguém que tenta superar o fim de uma relação redecorando a casa e flertando com o primeiro desavisado que aparece na sua frente -, com o gingado animado de seus violões, guitarras e bateria e seu gaita entusiasmada, dão uma boa idéia desse álbum que fala sobre amarguras, tropeços e tristezas com uma sonoridade mais “pra cima”. Mas a surpresa fica mesmo por conta da faixa “There Goes The Neighborhood”, tanto pelo caráter sonoramente dançante que a percussão e a bateria dão à canção, bastante auxiliadas pelos metais borbulhantemente gritantes e por guitarras de enorme malemolência, quanto pela temática de suas letras, que pinta um painel das bizarrices underground e da marginália dos arredores do Globe Studios, onde Sheryl gravou este disco – e que, claro, acabou dando nome à ele. Pela dificuldade de definir e nomear a mistura de sons e sentimentos, ao mesmo tempo tristes e alegres, amargurados e exultantes, é que pode-se dizer que The Globe Sessions é o retrato do período em que a artista procurava uma saída em meio a uma crise pessoal, vivendo uma instabilidade de estados emotivos que refletiu-se inevitavelmente nas suas composições.

senha: seteventos.org

http://rapidshare.com/files/76560805/crow_-_globe.zip

Deixe um comentário