Pular para o conteúdo

Categoria: musica

críticas e comentários sobre CDs de música.

Fiona Apple – The Idler Wheel… [download: mp3]

Reza a lenda que a primeira versão do 3o disco de Fiona Apple, Extraordinary Machine, jamais viu oficialmente a luz do sol porque os executivos da gravadora Sony/Epic o acharam sem qualquer apelo comercial, e por conta disso, o disco, em boa parte remodelado, só foi lançado dois anos depois – e isso graças à uma intensa mobilização dos fãs. Fico curioso imaginando o que os atuais executivos da gravadora pensaram ao ouvir o novo disco da cantora, The Idler Wheel. Se a primeira versão de Extraordinary Machine, com suas orquestrações transbordantes, baterias imponentes e pianos retumbantes foi avaliada daquele modo por eles, o que dizer de um disco tão, mas tão seco que pouco se pode notar da presença de um baixo, quem dirá de uma guitarra? Só posso pensar que eles não ouviram o disco. Ou vai ver os novos chefes do selo musical são mais afeitos à uma cantora que dispensa um produtor musical e se deixa aventurar em melodias enormemente despojadas e improvisadas em companhia apenas do seu novo comparsa, o baterista Charlie Drayton. Afora algumas pequenas, pontualíssimas inserções de alguns instrumentos – como celestes – em participações tímidas, todas as melodias do disco se apoiam em percussão, muitas vezes produzida de modo nada ortodoxo, e no piano da cantora – que nem mesmo aparece em todas as faixas. É uma abordagem bastante radical, embora esse caminho faça algum sentido depois de Extraordinary Machine ter se despido melodicamente de sua primeira versão, produzida por Jon Brion, para a segunda, a cargo de Mike Elizondo e Brian Kehew. Por conta disso, mesmo já tendo sido preparados com o lançamento de algumas músicas do disco na internet, os fãs certamente vão estranhar o primeiro contato com o álbum, já que canções como “Daredevil”, com sua percussão ao mesmo tempo frenética e discreta como o bater de asas de um beija-flor, o piano de toques espaçados e o vocal esquizofrênico no refrão, “Jonathan”, com pianos mais oblíquos até do que se poderia esperar da cantora e com percussão e ruídos mecanizados que lembram o trabalho de Björk em algumas faixas de Selmasongs, “Left Alone”, com uma jam session solo de bateria, piano impromptu e sequências vocais inesperadas e “Periphery”, com piano de acordes minimalistas e sample do que parece ser um calçado sendo esfregado em um tapete, entram um tanto quadradas no ouvido – mas há chances de que eles sejam amaciadas um pouco mais em posteriores audições.
Isso não quer dizer, porém, que o minimalismo preponderante resulte apenas em canções difíceis que necessariamente precisam de algum tempo sendo processadas nos tímpanos. Várias faixas igualmente espartanas já caem no gosto de pronto, caso do já conhecido single “Every Single Night”, com suas cintilações delicadas onde a cantora declara o frágil equilíbrio de um relacionamento amoroso nas letras ao afirmar “the rib is the shell, and a heart is a yolk,…and if we had a double, king-sized bed, we could move in and I’d soon forget”, do harmonioso piano solo de “Werewolf”, que ao ser aberta com os versos “I could liken you to a werewolf the way you left me for dead, but I admit that I provided a full moon” revela como a cantora amadureceu sua visão sobre relações amorosas, de “Regret”, faixa onde a cantora solta a voz num refrão bem ao seu estilo, cantando “I ran out of white dove feathers to soak up the hot piss that comes through your mouth every time you address me” com a já sua característica verve furiosa, de “Anything We Want”, que soa melodicamente familiar, já que a percussão mais encorpada que acompanha o piano lembra bastante o trabalho de Jon Brion ao lado da cantora, e da divertidíssima canção que fecha o disco, “Hot Knife”: o trabalho conjunto da percussão ritmada, do piano de cabaret e dos vocais em coro no refrão, junto com metáforas de caráter ambíguo como “If I’m butter, then he’s a hot knife, he makes my heart a cinemascope, he shows me the dancing bird of paradise”, fariam Fiona Apple entrar no palco de um musical da Broadway com a confiança de uma corista experiente no ramo – e esta é exatamente a palavra que define este disco, tanto para a artista quanto para seus admiradores: só uma artista em uma fase bastante segura de si poderia produzí-lo; em contrapartida, só o tempo vai dizer se com o despojamento de The Idler Wheel os fãs continuarão seguros de toda admiração que tem por ela. Eu acredito que alguns corações podem ficar estremecidos, mas ao final, mesmo que esse não seja no seu todo o disco que os fãs esperaram tanto tempo, é uma obra tão sincera e intensamente pessoal como nunca Fiona havia feito – algo que raramente se vê hoje em dia, infelizmente.

http://www.mediafire.com/file/unbamvuur59ov1k/apple-idle.zip

Deixe um comentário

Camille – “Que je t’aime” (single) [download: mp3]

Camille - Que je taime

Lançada no final da década de 60 pelo cantor Johnny Hallyday, um dos maiores astros da música francesa, “Que je t’aime” foi selecionada por uma das maiores estrelas da França contemporânea, a cantora e compositora Camille, para ser lançada no dia de hoje como seu mais novo single, diferindo bastante da versão originalmente gravada pelo ícone francês. Em sua regravação, a cantora adequa o clássico às vestes mais recentes do seu estilo musical: ainda incorporando o despojamento sonoro de Ilo Veyou, disco de contornos acústicos lançado no ano passado, o seu cover explora assim a delicadeza de seu vocal acompanhado por não mais do que um arranjo de cordas delicado, uma percussão sutilíssima e um contrabaixo elegante, resultando em uma faixa que encanta e enleva, insistentemente permanecendo nos ouvidos o dia inteiro.

Camille – “Que je t’aime” (do single Que je t’aime)
[powerpress url=”https://seteventos.com/wp-content/audio/que-je-taime-01-camille.mp3″]

{mediafire.com/download.php?8k8v7lfa4oawtwh}

Já a primeira versão, em cujas letras Hallyday confessa de modo dramático toda a vastidão do seu amor, indo do romantismo mais pleno, passando pelo desespero de perda com a morte até o ardor do sexo, tem a marca indelével dos grandes cantores da chanson française: inicialmente introduzida por um órgão discreto, é tomada já na primeira passagem do refrão por uma sússia instrumental, na qual pode-se discernir um dramático arranjo de metais, baixo e bateria muito bem marcados. O vocal sai ao sabor da melodia e condiz com uma grande lenda da música, alternando repentinamente o tom contido e amargurado para um brado destemperado e sofrido.

Johnny Hallyday – “Que je t’aime” (do single Que je t’aime)
[powerpress url=”https://seteventos.com/wp-content/audio/que-je-taime-01-johnny-hallyday.mp3″]

Deixe um comentário

Woodkid – “Run Boy Run” [vídeo + single] e “Iron” [vídeo + single]

Atendendo no seu projeto pessoal pelo pseudônimo Woodkid, o francês Yoann Lemoine está aplicando todo o aprendizado de um artista contemporâneo em sua relação com a mídia dos novos tempos: usando a internet como aliada, o cantor, compositor, diretor e artista visual europeu está lançando pouco a pouco músicas muitíssimo bem produzidas e clipes de cair o queixo por conta de seu requinte estético, o que gera todo um burburinho tanto nas redes sociais quanto na crítica especializada da web. Inteligente, o rapaz francês, que nem bem 30 anos tem, faz uso desta abordagem homeopática para incutir um sentimento de ansiedade e antecipação nos seus futuros e pretensos fãs, construindo assim uma reputação excelente sem nem mesmo ter lançado o seu álbum de estréia. Indiretamente conhecido no mundinho pop por ter dirigido clipes de algumas das figuras mais populares da atualidade (que não merecem menção) e no mundinho alternativo por trabalhar em clipes de Lana Del Rey e campanhas publicitárias bastante criativas, seu primeiro álbum, The Golde Age, está previsto para setembro deste ano, mas neste seu processo cuidadoso de construção de sua persona artística na web, duas das faixas já são conhecidas do público, tendo sendo lançadas como singles devidamente acompanhadas de clipes caprichadíssimos.

woodkid-iron-ep
“Iron”, o primeiro lançado, é introduzido por um arranjo de metais cuja tonalidade épica denuncia que as pretensões do artista não são poucas. O tema é repetido diversas vezes durante a melodia, que conta ainda com uma percussão que amplifica a atmosfera algo bélica e tribal da canção, cujo vocal grave de crooner do compositor laceia elegantemente. O vídeo reflete a sonoridade da canção: impecavelmente fotografado em preto e branco, completamente filmado dentro de um estúdio e quase completamente captado em câmera lentíssima, o curta apresenta figuras saídas de um mundo aparentemente medieval que se preparam para entrar em uma batalha quando são repentinamente surpreendidos por uma chuva de detritos fumegantes. Ao final do vídeo, de modo muito breve, surge a imagem do que parece ser um templo, pálido e frio em meio à um ambiente gelado e tempestuoso. Outras canções que fazem parte do single são “Brooklyn”, um ode plácida ao violão, piano e discretos trombones ao bairro nova-iorquino, “Baltimore’s Fireflies”, onde um piano de harmonia cíclica ao modo Philip Glass, um baixo que remete ao tema composto por Angelo Badalamenti para o clássico seriado cult Twin Peaks e mais algumas cintilações introduzem a base melódica acompanhada ao final por arranjo de metais e percussão em ritmo marcial para sonorizar a confissão de um homem que, aparentemente, acaba de abandonar o corpo do seu amor nas águas baía de Baltimore, e “Wasteland”, delicada faixa cujos versos tratam de um saudosimos indefinível e em cuja melodia temos um piano singelo sobre um arranjo de cordas e metais de sutil tecitura circense.

Baixe: https://drive.google.com/file/d/1OPGSWXOKzRN0qNeDD69w5ic-iBQNOO-M/view?usp=sharing

Ouça:

woodkid-run-boy-run-ep
“Run Boy Run”, o último single lançado pelo artista francês, tem melodia tão intensa e apoteótica quando a do primeiro lançamento: com percussão e arranjo de cordas e metais em perfeita comunhão, a canção é galgada em um crescendo espetacular até alçar vôo em um final arrebatador. O videoclipe não deve nada em qualidade ao anterior e recupera em seus instantes inicias a imagem do templo que fechou o vídeo de “Iron”. É dele que foge correndo o garoto que também participou brevemente do primeiro curta: alternando com cenas de uma cidade com edifícios de arquitetura imponente com fachadas em mármore, o garoto, em trajes aparentemente escolares, corre acompanhado por corvos e auxiliado por criaturas que erguem-se do chão e são uma mistura de gnus com o corpo encoberto elementos arbóreos. No fantástico epílogo, juntam-se uma imensa caravela e uma criatura gigante para contemplar a misteriosa cidade. As faixas que acompanham o single são remixes da canção, sendo que o melhor é o do também francês SebastiAn. Agora é esperar o futuro álbum do cantor e compositor, torcendo para que o artista frânces tanto reserve outra canções tão imponentes para o lançamento quanto dê continuidade à trama instigante iniciada em seus dois vídeos.

Baixe: https://drive.google.com/file/d/1H4WtbnHyjM40fZ5ysD1JZ4NFJsEtugzc/view?usp=sharing

Ouça:

Deixe um comentário

Frida Hyvönen – To The Soul [download: mp3]

Frida Hyvonen - To the Soul

A estranha capa de To the Soul, novo disco da sueca Frida Hyvönen, a meu ver, mais atrapalha do que ajuda: diferentemente da capa de seu disco anterior, Silent is Wild, de uma beleza poética e resignada, esta não funciona como cartão de visitas ao seu mundo de composições melancólicas recheadas de uma ironia peculiar. O nome, no entanto, resume perfeitamente a matéria do qual é feito o novo lançamento da artista européia: este é um conjunto de músicas que falam diretamente à alma, e Frida é uma das melhores à dilacerar a sua na atualidade, uma especialista em derramar a vida pessoal, sem hesitação, em faixas de despedaçar o coração, como “Farmor”, uma ode à avó recentemente falecida, onde Frida, sobre pianos e vocais tristes e uma orquestração impecável, revive lembranças da infância ao seu lado e constrói uma breve narrativa da vida dela. Os episódios em família continuam nas duas faixas seguintes, “Picking Apples” – uma faixa com um groove bem equilibrado entre piano, orgão, bateria e baixo que aproveita o hábito de catar frutas na casa de parentes para lembrar o quanto é ao mesmo tempo perecível, ordinária e marcante a passagem humana pelo mundo – e “Hands” – que com andamento lento e pesado ao piano e bateria e alguns violinos lentos e cheios de remorso que soltam-se um pouco mais na ponte melódica, dão um tom mais sério para o refrão onde a cantora repete “hands, look at my hands, they are my mother’s hands” para salientar que, inevitavelmente, acabamos por levar muito de nossos pais conosco, ainda que muitas vezes não nos damos conta disso.
Assim como em Silent is Wild, estão presentes no disco tanto canções irônicas que satirizam hábitos da vida moderna, caso da divertida “California”, que tem como principal personagem o stalker pós-moderno às voltas com um álbum de fotos em uma rede social e é composta de versos como “it’s been a while now since we last meet but we are friends on the internet, its a shortcut to all the new acquaintances”, como baladas irremediáveis e sentimentais, que sempre estão entre as melhores coisas que se pode ouvir no estilo. Além da doce “Enchanted”, que apesar de triste, tem leveza e até ingenuidade com seu feitio quase nostálgico de trilha plena de romantismo para baile adolescente dos anos 60, de “In Every Crowd”, com orquestrações de cordas transbordantes acompanhando o piano amuado de Frida, tão característico quanto a ironia de versos como “this evening could have been such a delight if it wasn’t for the unfortunate fact that I am here”, e de “The Wild Bali Nights”, misto de narrativa de uma noite romântica à beira do mar e de homenagem à ilha da Indonésia com piano, bateria e múltiplos vocais servindo de trilha, há ainda as baladas “Gold”, que fecha o disco com direito à violinos pomposos e piano ressoando a belíssima narrativa episódica e enormemente simbólica de dois amantes e uma aliança de casamento destruída, e “Saying Goodbye”, um baladão que põe os dois pés nos anos 80 sem medo de ser feliz, incluindo versos que remetem ao lirismo grandiloquente da época e uma melodia que lembra o estilo então preponderante, como a presença de uma segunda voz e de uma bateria em cadência crescente para intensificar o caráter dramático à medida que a canção aproxima-se do refrão.
A referência nostálgica, porém, não fica resumida à balada de despedida: o primeiro single do álbum, “Terribly Dark”, é uma faixa equilibrada e dançante com sintetizações, órgãos e vocais alterados eletronicamente que visitam a irresistível década que se tornou a fonte de inspiração para muitos artistas nos últimos anos. Em outra faixa, a referência de carinho e saudade pela época é ainda mais direta, já que nos versos de “Postcard”, enquanto piano e percussão gingam faceiros e brincalhões pelos ouvidos, Frida cita uma musa do cinema americano da década quando diz que “there is no easier way to please me now than to remind me of Diane Keaton”. É Frida, e o que eu posso dizer depois de ouvir To The Soul é que não há modo de me agradar mais do ouvir um novo disco seu.

senha: seteventos

mediafire.com/?mmpbh050hchjx67

2 Comentários

David Fonseca – Seasons: Rising [download: mp3]

David Fonseca - Seasons Rising

Projeto do português David Fonseca para o ano de 2012, Seasons é dividido em dois discos, Rising, que acaba de ser lançado esta semana, e Falling, previsto para setembro próximo. No primeiro volume da empreitada, o artista europeu atenua a vibração rock de suas composições, privilegiando bem mais os contornos pop nos quais sempre embebeu fartamente suas canções. Por conta disso, sintetizações e teclados ganham maior preponderância melódica, bem como acordes de guitarra modificados ou estendidos pelo uso de pedais. O intenso frenesi eletrônico está presente com muita força em faixas como o single “What Life is For”, que conta com uma introdução de sintetizador que sobrepõe-se enormemente à bateria bem coordenada, ao baixo e mesmo ao vocal completamente mergulhado em filtros de eco e distanciamento, e em “*Go*Dance*All*Night*”, que conta com várias camadas de samples de vocais afogados em filtros, synths nebulosos e uma bateria acústica farta em plena cadência de dance music no refrão da canção. Em outras canções, a abordagem da programação eletrônica é bem menos invasiva e mais ponderada, misturando-se mais homogeneamente com elementos acústicos e mesmo os não-acústicos, como na faixa de abertura, “Under The Willow”, que inicia com orgão e loop de um sampler de guitarra que constitui a base sobre a qual outras harmonias são sobrepostas, incluindo violões, bateria, baixo, toques ao piano, e alguns acordes extensos e malemolentes de guitarra que ficam registrados na cabeça de quem ouve, e o dueto “Heavy Heart”, cujos teclados nostálgicos e programação dançante lembram algo da atmosfera saudosista de “Morning Tide (I Just Can’t Remember)”, deliciosa faixa do disco de 2009, Between Waves.
Apesar da mão pesar um tanto no synth-pop destas faixas, o David Fonseca mais equilibrado e cauteloso que os fãs conhecem tão bem e amam tanto ainda se faz presente neste volume de Seasons, exibindo tanto a sua faceta de rockeiro vigoroso quanto a de contumaz compositor de baladas que transbordam romance. No frêmito rockeiro do português, temos “Armageddon” e “Whatever the Heart Desires”, a primeira com um acorde de guitarra longo e ondulante pontuando a introdução e refrão da melodia, que é atravessada por uma percussão marcada, mas que se mantém na retaguarda, sem interferir muito na harmonia para deixar mais espaço para que riffs das guitarras de apoio, baixo e os vocais múltiplos a acompanhem em pé de igualdade; na segunda, riffs mais gingados de guitarra fazem o corpo dançante da melodia rock, mas aqui a bateria injeta mais energia e provoca, ao lado dos riffs irresistíveis, uma propulsão poderosa que inevitavelmente convida a sacolejar o corpo ao seu ritmo. Já trafegando pelas baladas do disco, “Every Time We Kiss”, entra com violão sutil e alguns vapores de guitarra que logo tem suas harmonais mais incrementados e ganham a companhia de uma bateria bem sincopada, e em seguida “It Feels Like Something” traz um piano algo triste abrindo a frente para o vocal macio e emocionados do cantor, violões e guitarras sutis que ao final da canção ganham intensidade, encompassando todo o sentimento das letras que falam sobre o amor que sempre esperamos um dia encontrar.
Diferentemente dos dois discos imediatamente anteriores à este, Seasons: Rising não é um álbum que ganha de imediato o ouvinte. Embora a espessa cortina de sintetizações e intrumentais não seja tão onipresente a ponto de transformar todo o disco em um interminável wall of sound, são necessárias algumas sessões sucessivas para que o suas harmonias mais delicadas e elaboradas, um pouco ocultas pela cascata de synths e instrumentos, realmente emerja e se infiltre nos ouvidos de quem o ouve, e nisso ajuda muito “I Would Have Gone And Loved You Anyway”, a faixa que fecha esta primeira parte do projeto Seasons. Explorando com maestria toda verve pop/rock que arrebatou fãs tanto de Portugal quanto no Brasil, a canção reune em um amálgama perfeito riffs e reverberações de guitarra, baixo bem marcado, bateria escandalosamente ritmada em um corpo sonoro intenso e sedutor que deixa nos ouvidos não apenas a sensação de um possível segundo single para o disco, mas lembra os fãs uma vez mais que este é o David Fonseca que sabe como poucos fazer pop/rock que dê satisfação e orgulho de ouvir.

senha: seteventos

ifile.it/wbco8kt/david_-_rise.zip

2 Comentários

Eugene McGuiness: “Lion”, “Thunderbolt”, “Shotgun” (singles).

Eugene McGuinness - Lion

A nova fase de Eugene McGuinness, cantor britânico que se lançou há cerca de 5 anos, não é em seu todo completamente diferente de sua anterior persona de músico indie com registro no sindicado, já que as músicas continuam com um requebrado efervescente e múltiplas camadas do delirante vocal do cantor britânico. O seu timbre estranho, porém, vem acompanhado de uma produção consideravelmente mais rica e estudada, o que parece denuncionar a ambição de abandonar os porões do indie e se entregar ao menos um pouco à luz do mainstream. É essa a impressão que as palmas cadenciadas, a guitarra e baixo com forte influência rock’n’roll e os vocais complementares deixam no single “Lion”, lançado em outubro do ano passado e que inclui o b-side “Frosty”, uma balada ao violão, bateria e baixo com um órgão macambúzio a fazer companhia.

Já em “Thunderbolt”, disponibilizado gratuitamente para os que “curtem” a página oficial do artista no Facebook, Eugene inseriu uma sutil base eletrônica, algo que até o momento o artista não havia se atrevido a fazer, e até mesmo o vocal do artista é em alguns momentos distorcido levemente para acompanhar a vibe da melodia. Porém, ainda temos bateria, baixo e guitarra complementando com energia a faixa e uma orquestração de metais conferindo à melodia o elemento de estranheza que o britânico parece ainda não querer abandonar por completo.

Por último, o mais recente single sendo comercializado, “Shotgun”, envereda por referências ainda mais pop, já que o trabalho excepcional do trio baixo, guitarra e bateria arma nos ouvidos todo um cenário de trilha de espionagem com todo o jeito de James Bond – e olha que não faria feio, heim?

senha: seteventos

ifile.it/n65wvmy/eugene_-_lion-thunder-shot.zip

Deixe um comentário

Soap&Skin – Narrow [download: mp3]

Soap and Skin - Narrow

Apesar do aspecto ligeiramente mais harmonioso do que na capa de Lovetune for Vacuum, primeiro disco da austríaca Anja Plaschg, a expressão mais uma vez melancólica da garota indica que no seu segundo disco sob o pseudônimo Soap&Skin, Anja continua a decantar a dor com sutis lampejos de contentamento. A impressão que se tem ao ouvir Narrow é que desta vez a artista austríaca compôs melodias mais mais polidas e menos afeitas à experimentações com ruídos obscuros e sintetizações iluminadas, como é o caso da faixa de abertura, “Vater”, cantada em alemão: o eletronismo gótico fica restrito à sequência final da canção, já que grande parte da melodia está calcada em vocal e piano em puro virtuosismo melódico com algumas orquestrações de cordas aqui e ali para aprofundar o efeito da música. A impressão, no entanto, não corresponde exatamente à verdade, uma vez que este segundo disco da artista européia é consideravelmente menor do que o primeiro, contando com apenas oito faixas, e lida com o mesmo material melódico e emocional do primeiro: tanto em “Deathmetal” quanto em “Big Hand Nails Down”, por exemplo, temos a intensa metalurgia melódica complexa e obtusa que beira o atonal que já se tornou marca registrada da compositora, a primeira acompanhada por um órgão igualmente insólito e um vocal de múltiplas camadas de um tonalidade obscura e a segunda atravessada por um registro vocal potente e cortante. Ao mesmo tempo, há neste pequeno disco faixas com exibem a mesma faceta terna e delicada que se pode conferir no primeiro disco, caso da soturna melancolia ao piano de “Cradlesong” e de “Wonder”, que além do piano triste conta com um órgão e sintetizações sutilíssimas em harmonia algo reflexiva e vocais de apoio de um coro gospel em registro singular que subverte consideravelmente sua identidade costumeiramente sacra. Não poderia faltar uma canção que reúna todas as predileções melódicas de Anja, e esta é o single “Boat Turns Toward the Port”, que conta com piano elétrico de acordes espaçados e órgão fluído e distante sobre o singelo loop de um sample do que parece ser uma antiga caixa registradora e vocais em plena extensão harmônica, tendo como resultado uma paradoxal atmosfera contemporânea e nostálgica. E por falar em nostalgia, Narrow conta ainda com um cover do clássico do eurodance “Voyage Voyage”, faixa da francesa Desireless que foi um dos marcos do pop dançante borbulhante de sintetizadores que embalou Europa e recantos do Brasil no final dos anos 80 e início dos 90. A versão da austríaca, claro, é embebida em seu soturnismo particular, transmutada em piano, orquestração de cordas e vocais encobertos de amargura, mas também preserva e transforma em sua a melancolia que a faixa já detinha originalmente. Ao que parece, Anja não consegue resistir esquadrinhar a tristeza mesmo quando envereda pelos cânones do pop – e espero que ela não deixe de fazê-lo tão cedo.

senha: seteventos

ifile.it/bdvo51k/soap_-_narrow.zip

1 comentário

Frida Hyvönen – Silence Is Wild [download: mp3]

Frida Hyvonen - Silence is Wild

Nascida na Suécia, Frida Hyvönen é mais uma entre várias cantoras européias que demonstram imenso talento já no início de sua carreira. Depois de sua elogiada estréia em 2005 e do projeto especial para um grupo de dança, seu álbum Silence is Wild revelou os traços de sua música de forma ainda mais complexa. Não me refiro simplesmente a dificuldade em definir onde algumas de suas melodias guiadas por piano se encaixam, cujas exemplos são as faixas “Enemy Within”, que recheada de múltiplos vocais de fundo que dialogam com o vocal principal em versos como ‘be kind and fight at the same time/one too many things to keep track of’ tem andamento que não se permite rotulações, e a esplêndida “Birds”, cuja melodia introduzida por baixo, conduzida por órgão e sintetizador para embalar letras que se servem dos pássaros migratórios para divagar sobre a passagem da vida e o que fazemos dela tem uma sutil singeleza pop, mas é por demais sofisticada para ser acomodada como tal. A complexidade que me refiro nasce na rara habilidade da cantora entregar-se ao canto sem comedimento emocional ao mesmo tempo em que consegue administrar esta abordagem mais emotiva de modo a jamais resvalar na pieguice ou exagero. É o que acontece já na faixa de abertura, “Dirty Dancing”: com um piano lacrimoso embalando a bateria, a sueca desmancha os versos em uma confissão tocante sobre uma paixão de infância que, ao reencontrar na vida adulta, mostra como nossas expectativas sobre o futuro são frustradas, para o bem ou para o mal. Lamentações de um romance em crise preenchem as notas de piano de duas faixas próximas: “Highway 2 U”, na qual o piano triste acompanha a bateria que alterna discrição e drama enquanto Frida se desfaz em um vocal de fazer sangrar mesmo os corações mais duros, e “Science”, em cujos versos temos o rompimento de uma relação onde o excesso de lógica e ponderação de uma de suas partes faz ruir toda a paixão. Contudo, a artista sueca, que se dá ao direito de brincar com o estereótipo de seu povo na surpreendente explosão de alegria de “Scandinavian Blonde”, com direito à pianos e bateria em ritmo frenético e dançante, não tem pena do coração de seus fãs. Quanto mais à frente se vai no disco, mais variadas e profundas são as emoções com as quais a cantora e compositora lida. Com uma combinação esplendorosa de vocais encobertos de emoção com melodias sofridas e delicadas, temos desde “December”, na qual Frida apresenta um piano de melodia lúdica e quase infantil apenas para denunciar o quanto a narrração irônica da visita de um casal à uma clínica de abortos disfarça a dor da situação, passamos pela poesia impressionante nas letras de “Sic Transit Gloria”, que flutua como uma ode à pequenez humana em meio à grandeza da vida e do mundo, até chegarmos à simplicidade de “Why Do You Love Me So Much”, com pouco mais que piano e xilofone para emoldurar os versos plenos de sarcasmo onde a partir do título a cantora confessa sua surpresa em ser amada por alguém apesar de toda a sua displicência afetiva. Curiosamente, Frida tem por hábito compor homenagens carinhosas à cidades que por ventura tenha visitado. Neste álbum, duas foram agraciadas com belas canções: “London!” na qual a cantora, entre observações sobre como o clima pouco atraente e os modos curiosos de seus habitantes podem parecer afastá-lo da cidade, mas são justamente o que mais atraem nela, e “Oh Shangai”, balada com vocais impecavelmente emocionantes onde piano e bateria sincopada levantam-se em um crescendo emocionante que ganha ao final a companhia de uma instrumentação mais encorpada, porém inequivocamente doce, que faz referência à musicalidade chinesa.
Fabuloso compêndio recheado de baladas melancólicas cuja sinceridade irônica de alguns versos pode soar estranha no início, Silence is Wild é um disco que à medida que mais se ouve, mais se descobre sua fustigante beleza poética e incomensurável profundidade, tanto melódica quanto lírica. Poucos cantores ou cantoras tem a coragem de derramar-se em sentimento, e menos ainda são os que tem a segurança de que podem fazê-lo sem jamais perder a elegância – Frida Hyvönen é inequivocamente uma delas.

senha: seteventos

mediafire.com/?49snz1zdl39225a

1 comentário

Birdy (+ 3 faixas bônus e 2 versões acústicas) [download: mp3]

Birdy

Birdy, também conhecida como Jasmine Van de Bogaerde, não tem a arte no sangue apenas por ser filha de uma exímia pianista. Quem é cinéfilo, já percebe algo no sobrenome: a garota é sobrinha-neta do já falecido ator Dirk Bogarde, de clássicos absolutos como “Morte em Veneza” e de filmes ousados e obscuros como o “O Porteiro da Noite”. Talvez daí venha a melancolia e a imensa capacidade emotiva do vocal da garota. Graças à este dom, Jasmine pode vestir uma cuidadosa seleção de faixas pinçadas do rock indie e alternativo dos últimos dez ou quinze anos – contando para tanto com a ajuda de um punhado de produtores musicais experientes da atualidade – em uma abordagem sensível que alterna delicadeza e exuberância.
Como não poderia deixar de ser, já que foram imenso sucesso na internet e até mesmo utilizadas como trilha de seriados de TV, estão presentes no debut os singles que a trouxeram ao conhecimento do público na web, como “Skinny Love”, onde apresentou seu piano triste enquanto exibia toda a extensão do seu vocal doce e macio, “Shelter”, que além do piano tão dramático e amargurado quanto o esplêndido vocal de Birdy traz sutis sintetizações etéreas, e “People Help The People”, fabulosa versão que com bateria, guitarra, baixo e violoncelo acompanhando o piano mostrou que a menina se sai tão bem dividindo seu brilho com uma banda quanto na solidão do estúdio com seu piano. Por falar na banda, na abertura do disco, quando é removida de “1901” toda a verve brejeira e lo-fi das guitarras da versão original da banda Phoenix em detrimento de um andamento lento comandado por piano e bateria que dá direito à quem ouve a música de realmente apreciar toda sua beleza, percebe-se ali alguns vapores de Fiona Apple. A impressão não é um equívoco condicionado pelas várias semelhanças físicas, artísticas e de situação entre as duas mulheres: um dos músicos convidados, e que surge nesta primeira faixa, é o baterista Matt Chamberlain, que já trabalhou com a reclusa e idiossincrática cantora e compositora americana. Mas mesmo com uma produção de ponta e produtores consagrados, Birdy consegue instaurar em sua música ares de artista independente, como em “White Winter Hymnal”, do Fleet Foxes: o pulso mecanizado da percussão sob os acordes singelos no piano e as várias camadas de vocal sobreposto de Birdy emulam parte da atmosfera algo artesanal da versão da banda, mas investe-se aqui em uma maior simplicidade melódica, tão cativante quanto a original. Nas faixas “Young Blood” e “Terrible Love” há um polimento melódico ainda mais vigoroso: na primeira, saem de cena as guitarras e apazigua-se a multitude de sintetizações, características da versão feita pelo The Naked and Famous, para que a melodia reverbere em um todo mais homogêneo onde acordes de guitarra e teclados cintilam e vibram sobre uma programação mais leve, tudo de modo a não atrapalhar a interpretação equilibrada da britânica; na segunda, é mantido o crescendo melódico, mas ao invés das guitarras e o vocal blasé da banda The National que roubam tudo o que podem de Joy Division e The Smiths, há a voz incomparavalmente mais emotiva de Birdy, seu piano singelo e uma orquestração de cordas que laceia o esplendor sentimental desta versão.
Mas está completamente equivocado quem possa pensar que começar a carreira com um disco de covers é uma decisão que revela a opção pelo caminho mais fácil. Com a ajuda de uma boa trupe de produção e um afiado sentido melódico consegue-se aperfeiçoar muito músicas que não aproveitavam todo o seu potencial melódico, mas o desafio torna-se bem mais complexo e ousado quando se tenta reconstruir em uma nova versão o mesmo impacto de uma canção que já exibia todo o fulgor de sua melodia, exatamente o caso de “Comforting Sounds”, fabulosa já na sua primeira versão dos dinamarqueses do Mew. Como refazer toda a grandeza resplandecente do solo melódico das guitarras originais sem perder a singularidade do elemento emocional da primeira versão? Parece mesmo uma tarefa ingrata. Contudo, a menina e sua equipe, aqui lideradas pelo gabaritado produtor Rich Costey, sucedem e muito bem na missão: com Birdy derramando toda a alma nos vocais da canção e deixando espaço para que synths de orquestração de cordas refaçam o espetacular efeito maciço das guitarras na explosão melódica original, “Comforting Sounds” acaba sendo um dos covers mais belos do disco, imensamente emocionante e capaz mesmo de trazer lágrimas aos olhos. E ainda sobra ânimo e força para um delicado registro nos teclados da meiga “Farewell and Goodnight”, originalmente dos americanos do The Smashing Pumpkins, e até mesmo um aperitivo do que virão a ser composições originais desta garota-prodígio britânica, com a angustiada balada ao piano “Without a Word”. É uma estréia muito promissora, não apenas porque a garota de 16 anos prova que ainda surgem alguns artistas jovens que podem demonstrar mais maturidade e sofisticação do que cantores estreantes menos novos ou mesmo veteranos do rock e pop, mas pirincipalmente porque a menina revelou-se uma cantora segura de sua capacidade e com uma identidade que brota já com considerável consistência artística – mesmo que suas composições não frutifiquem futuramente em algo realmente proveitoso, fica a certeza de que na pior das hipóteses teremos uma interpréte das mais vigorosas da música da atualidade.

senha: seteventos

ifile.it/sbg6drk/passarinho.zip

Agradecimentos ao @rainervinicius pela dica dada há alguns meses! 😉

2 Comentários

Camille – Ilo Veyou (+ 1 faixas bônus e 4 versões alternativas) [download: mp3]

Camille - Ilo Veyou

Fãs da musa do experimentalismo pop francofônico, celebrem: saiu hoje Ilo Veyou, o novo disco da francesa Camille Dalmais, mais conhecida apenas por Camille. Depois de estrear com um belo disco pop, Les Sac des Filles, de ganhar os olhos do público mais antenado e da crítica especializada com o impressionante Le Fil e se aventurar em versos em inglês, em percussionismo corporal e no pop mais escrachado em Music Hole, o que se deve esperar de seu quarto trabalho? A própria Camille, em entrevista ao jornal The Guardian, responde que buscou uma maior simplicidade sonora, com elementos mais acústicos servindo como base à sua voz. Deste modo, Ilo Veyou volta a priorizar, como aconteceu no brilhante Le Fil, a clareza, destreza e versatilidade do vocal da artista francesa. E assim começa o novo disco como terminou o seu famoso segundo trabalho, com a captação em ambiente natural da voz da cantora em uma repetição de frases com sucessiva incorporação de palavras que ela, claro, não resiste em rapidamente transformar em uma pequena música chamada “Aujourd’hui”. E seguindo o preceito de simplicidade assumido como meta para o álbum, temos o primeiro single, “L’étourderie”, trazendo violão e violinos em harmonias simples suaves que ondulam em adornamento ao vocal doce da cantora francesa. O artifício de captar o vocal da cantora fora do estúdio, em take único em ambientes naturais, é utilizado ainda em outras faixas e se em “Bubble Lady” serve apenas para a cantora farta-se livremente com jogo de aliteração ao cantar com variações silábicas com a letra “B” sobre um sutil beatbox de apoio, o recurso pode produzir tanto flagras inesperados – como na canção “Pleasure”, que se escutada com a devida atenção, fica fácil flagar a breve participação inesperada, ao fundo do vocal e da batida seca, provavelmente produzida no próprio corpo da cantora, de uma espontânea buzina de carro -, quanto momentos de uma beleza esplendorosa – como em “Tout Dit”, que pela sua tecitura simples a cappella deixa transparecer os ruídos mais mínimos do ambiente onde foi gravada, como o cantar de grilos e pássaros.
À exceção destas faixas, Camille limita-se ao estúdio para a produção de suas composições que não escaparam à sua tradição lúdica, como é belo exemplo “Allez Allez Allez”: introduzida com violinos em arranjo sublime para fazer frente aos múltiplos vocais de Camille, em tom altivo e determinado, bradando o mote da canção sobre violão, percussão, contrabaixo e violinos que adentram aos poucos a melodia, Camille insere um entreato onde, usando os vários vocais, conversa consigo mesma. A brincadeira segue à frente em “Mars Is No Fun”, de melodia feita de percussão de palmas, contrabaixo volumoso e algumas iluminuras em piano e violinos, quando a cantora repete nas letras o frescor brincalhão da música ao trazer impressões cômicas de como a vida no nosso planeta vizinho é chata e limitada por suas óbvias características atmosféricas, em “Ilo Veyou”, onde a cantora exibe com sua habitual competência as várias gradações de seu vocal, alternando graves e agudos sobre violinos em pizzicato, e em “Message”, que o que tem de pequena em duração – pouco mais de 40 segundos – transborda em meiguice com seu piano que simula toda a ternura daquelas antigas caixinhas de música de bailarina. Contudo, os momentos mais divertidos estão mesmo nas canções “My Man Is Married But Not To Me”, onde sobre piano e violinos de harmonias virtuosas, a cantora desfila trejeito vocais ao lamentar sobre o tema, brincando com o estereótipo romântico mais batido ao afirmar “bad of course, so he wil come and pick me up on his horse, white horse”, e em “La France”, onde Camille emula a tradição da chanson française de Edith Piaf e tantas outros monumentos francesces para, depois de apontar a excelência de outras nações, declarar no refrão, sem medo de soar polêmica e angariar todo o ódio de seus conterrâneos, “la France, la France…des photocopies”.
Mas se Camille preservou toda sua galhofa, ela não abandonou igualmente a sua faceta mais melancólia, capaz de produzir composições extremamente emocionantes. Enquanto a faixa “Wet Boy”, cantada em inglês fazendo uso da famosa dupla voz e violão, desfila uma doçura e amargor sutis, “She Was” cala fundo com a beleza imensurável de seu crescendo melódico, onde violinos em pulso ondulado sobre violão quase surdo acompanham a avolumamento do vocal da cantora, que vai ampliando o desatar sofrido dos versos em uma intepretação esplêndida que faz referência ao nascimento recente de seu primeiro filho: “sometimes I wonder/ GO!/ if my child/ GO!/ will have yes/ GO!/ go away, go away/ to see through me/ GO!/ when I die/ GO! and born again! GO!/ go away, go away, go away!”. Assim, Camille, ao deixar de ter como meta primeira a ambição de tornar-se popular entre o público de língua inglesa – particularmente o americano-, fato que ocasionou os excessos que com o tempo fizeram o seu último álbum parecer um pouco forçado e um tantinho embaçado, foca-se no explorar do que tem de melhor: o fulgor de sua emoção e sensibilidade musical.

senha: seteventos

ifile.it/osx9gwn/camille_-_veyou.zip

3 Comentários