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Arctic Monkeys – Humbug [download: mp3]

A meu ver, até Favourite Worst Nightmare e o show derivado de seu lançamento, a banda britânica Arctic Monkeys ainda se encontrava planando em uma atmosfera rock com algumas correntes de vento pós-adolescentes. Sem dúvidas que a música produzida pela banda naquele estágio de sua carreira já era de boa qualidade, porém por conter elementos típicos desse rock mais em voga, um tanto desenfreado e desnorteado, todas as suas composições partilhavam um ranço de semelhança esquizofrênica monotonal. Por consequência disto, não consegui deixar de duvidar se os rapazes ingleses seriam capazes de repensar esta musicalidade frenética, mas que muitas bandas preferem não abandonar por geralmente garantir-lhes um público cativo e uma boa recepção por parte da crítica. Felizmente, para minha satisfação, eu estava errado: Humbug, o novo disco do Arctic Monkeys, soa em praticamente todos os seus pormenores como o grito de maturidade da banda.
Produzido por Josh Homme – líder do Queens of the Stone Age – e James Ford – que também atuou no The Last Shadow Puppets, projeto paralelo do vocalista Alex Turner -, Humbug traz os quatro rapazes aventurando-se em terreno consideravelmente diferente daquele pelo qual estavam caminhando até então. As composições da banda soam agora bem mais elaboradas, grande parte delas com harmonias mais rebuscadas, mas que ao mesmo tempo fazem uso mais moderado dos atributos aplicados nas melodias. “Dance Little Liar” certamente é uma delas: a música, cuja letra passeia pelas suposições de um mentiroso convicto, é formada pelo fluxo suave e compassado da bateria, pelo baixo de surda sinuosidade, e pelos acordes assombrosos da guitarra que flutuam como a ondulação de um temerim impregna o ar com uma leveza volátil, mas vai aos poucos ganhando corpo e densidade até converter-se em uma harmonia sólida e crispante a partir da ponte melódica que toma a música de modo insurgente. Ainda dentro dos domínios da melodia, a introdução de um orgão Vox Continental ao elenco de instrumentos encorpa a sonoridade da banda com uma camada de rock punk-gótico, exatamente como se ouve em “Pretty Visitors”, que alterna entre a atmosfera orientada pelo órgão nebuloso e o andamento ligeiro e febril das guitarras, bateria e baixo em rascante delírio. Porém, das modificações apresentadas, o modo como Alex Turner utiliza sua voz é o que permanece nos ouvidos como registro mais caracteristicamente distintivo desta fase da banda: canções como “My Propeller”, com seus riffs graves e absortos das guitarras e com a bateria e o baixo em cadência soturna e traiçoeiramente hipnótica, e “The Jeweller’s Hands”, com a suave doçura dos toques ao piano e xilofone e da ambiência do acordes gentis da guitarra que pontuam discretamente o compasso marcial concedido pela bateria, produziriam um efeito completamente diferente se o vocal que as acompanham não fosse conduzido em um registro mais grave, brando e meditativo.
Mas esse novo caráter musical da banda não significa que não há espaço ou interesse em cultivar o seu já conhecido estilo, na suas várias modulações de agressividade rock. O cover de “Red Right Hand”, originalmente gravada por Nick Cave, tem guitarras, baixo e bateria velozes, perseguidos de perto pelo órgão que insiste em se fazer presente mesmo em uma melodia que recupera o tradicional estilo do grupo. Apesar de menos explosiva que o cover de Nick Cave, “Dangerous Animals” utiliza a dinâmica já comum na banda, com riffs de guitarra recheando ciclicamente a melodia em que um pulso semelhante ao de um sonar craveja uma obscuridade que só faz aumentar com o eletrizante solo de bateria, entrecortado por acordes de guitarra e pelo vocal ameaçador de Turner, elementos que em conjunto retorcem a harmonia antes de seu epílogo sonoro.
A mudança gerenciada pela banda e seus produtores foi sem dúvidas das mais inteligentes já produzidas no meio musical nos últimos tempos, já que ela foi feita de modo a preservar o que consolidou-se como o melhor na identidade musical da banda – suas melodias cheias de energia e vivacidade -, mas inserindo novas harmonias e elementos que subverteram sua essência em algo muito mais denso e consistente. É por isso que Humbug não surge como um disco importante apenas porque encorpou a identidade da banda, fortalecendo-a ainda mais, mas porque com ele o Arctic Monkeys mostra a tantos outros artistas e bandas de rock que isso pode ser feito sem soar como um ultraje para os ouvidos dos fãs.

Baixe: https://www.mediafire.com/file/w0w9xrmislgrv20/arctic-bug.zip

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“Lado Selvagem”, de Sébastien Lifshitz. [download: filme]

Wild SideStéphanie, que já foi Pierre, é um travesti que sobrevive prostituindo-se em Paris e divide sua vida com seus dois namorados, Djamel, que também vive da prostituição, e Mikhail, um imigrante e ex-soldado russo que trabalha como garçom. Certa noite, Stephánie recebe telefonema avisando-lhe que sua mãe necessita de cuidados, e assim segue para o interior do país, sua terra natal. Uma vez lá, e acompanhada de seus dois amantes, Stéphanie divide seu tempo entre a mãe enferma e recordações de seu passado, ainda como Pierre.
Ao que sua filmografia parece indicar, o cineasta frânces Sébastien Lifshitz tem como principal obsessão figuras marginais que de algum modo estão mergulhadas na ambiguidade e perdidas em meio às complexas possibilidades afetivo-sexuais. Seu último filme lançado, “Lado Selvagem” segue firme a tradição ao apresentar como protagonistas um travesti e seus dois amantes. Apesar de não ser nada de realmente fabuloso, há no longa-metragem, tanto nos aspectos técnicos como artísticos, soluções e revelações que o tornam suficientemente interessante do início ao fim.
Na primeira instância, a fotografia de Agnès Godard resplandace como o sinal mais visível do apuro técnico do filme, preenchendo a tela com nuances nítidas e intensas seja ao retratar os traços desconcertantes da urbanidade, seja ao tornar quase táteis as belezas imutáveis do ambiente campestre da França interiorana. As belas composições de cordas e piano de Jocelyn Pook que servem de trilha ao filme, também se destacam, mas são usadas com parcimônia ao ser aplicadas no filme no acordo mais comum da escola européia de cinema, como um recurso que auxilia na construção das tonalidades emocionais da história e não encarregadas do trabalho que por ventura não seja feito por alguém – pelos atores, geralmente. A edição seca e direta de Stéphanie Mahet complementa a atmosfera peculiar do filme, geralmente alternando sem qualquer tipo de sinalização a trama em tempo presente e os flashbacks de cada um dos três personagens que a compõe, que são apresentados de modo não-cronológico e mesclados quase indistintamente na narrativa presente. Já nos aspectos artísticos, talvez por conta do trabalho apenas satisfatório dos atores, é o argumento que se apresenta como elemento de maior êxito em “Lado Selvagem”, e provavelmente não como a roteirista Stéphane Bouquet e o diretor, co-autor do texto, de fato planejaram: nota-se que um dos maiores objetivos do longa é desnudar as recordações de Stéphanie e seus companheiros e a relação distante e obtusa de cada um deles com seus pais, porém é o retrato bastante realista da marginalidade destes personagens que acaba ressaltado aos olhos do espectador, não apenas porque Stéphanie é de fato interpretada por um travesti, mas porque o cotidiano destes personagens é completamente verossímil. O público de nosso país, especialmente, pode ficar chocado ao constatar que todos os travestis que fazem figuração no filme de Sébastien Lifshitz são brasileiros – a mais pura verdade, já que é exatamente o que se encontra nas calçadas dos grandes centros urbanos da Europa. Por isso, ainda que se chegue ao epílogo desta película sem saber exatamente o que o diretor quis obter com a história que decidiu filmar, “Lado Selvagem” suscita interesse por conseguir fazer um registro apurado e perspicaz da realidade certa dos que decidem seguir os desígnios de uma identidade que difere daquela que lhes foi conferida fisicamente – o inevitável cotidiano da ruas e estradas escuras iluminadas por postes e faróis de automóveis – ao mesmo tempo que consegue imprimir considerável delicadeza ao retratar o afeto quase completamente silencioso deste triângulo amoroso incomum cujos vértices sustentam-se com custo por conta da certeza de que o futuro de cada um deles não irá diferir em nada do presente – infelizmente.

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“A Família Savage”, de Tamara Jenkins. [download: filme]

The SavagesOs irmãos Wendy e Jon, ele um professor universitário às voltas com a produção de seu livro sobre Bertolt Brecht e ela ocupada com sua constante tentativa de obter financiamento para lançar sua peça de teatro, tem que repentinamente arranjar uma forma de lidar com o pai idoso com o qual pouco contato tiveram depois de uma infância de abusos.
O trama de “A Família Savage”, em teoria, preencheria todos os pré-requisitos necessários para que a maior parte dos cineastas lhe concedesse tratamento tipicamente ordinário, encobrindo o argumento com megatons de pieguice e sentimentalismo pegajosos. Felizmente essa não foi a idéia que a diretora, que também se encarrega do roteiro, teve de sua história. Sob a ótica de Tamara Jenkins, os dramas dos irmãos Savage, que tem que arranjar abrigo para o pai que demonstra repentinos sinais de demência e que muito pouco de felicidade lhes trouxe na infância, ao mesmo tempo que lidam com seus próprios problemas e reativam a sua relação um tanto competitiva, ganham apenas contornos sutis, passando ao largo de qualquer possibilidade de que estas mazelas sejam tingidas com a coloração folhetinesca para angariar da maneira fácil a empatia do espectador pelos seus personagens e pela história que carregam consigo. A diretora, ao contrário disso, estende esta abordagem sóbria por todo o longa-metragem, filtrando prontamente todas as situações potencialmente dramáticas para que soem o mais natural possível, inclusive temperando-lhe com doses homeopáticas de humor. Ao contrário do que se possa esperar, esta atitude de restringir a maior parte do trabalho em si e nos atores, despojando a encenação da trama de artifícios típicos do gênero, como trilhas sonoras e planos de câmera estudados, não só a aproxima muito mais da realidade e, portanto, do espectador, como a diferencia de outras histórias do gênero. Este podia ser apenas mais um filme sobre pessoas que por força da situação reencontram o senso de família, porém, diferentemente dos dramas badalados que acabam ganhando o foco dos holofotes e o apreço de premiações do cinema, não é através de sequências escandalosamente sentimentais e de um desfecho catártico ou que organiza estes personagens em uma idéia pré-concebida do que é uma família na qual as pessoas se amam e se preocupam uns com os outros que o público é conquistado – forçosamente. É paulatina e sorrateiramente, com economia e discrição, sem pressa e sem muitas surpresas, que Jenkins e seus atores arrebatam de modo efetivo e duradouro o espectador, que só ao final da história se dá conta de estar completamente rendido aos Savage e sua condição sempre imperfeita de família – e assim, as lágrimas, que com certeza surgem na brilhante cena carregada de simbologia que fecha “A Família Savage”, apesar de rolarem e secarem como todas as outras, tem um efeito muito mais profundo do que aquelas que nascem da pirotecnia sentimental de outros longa-metragens do gênero.

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Émilie Simon – “Dreamland” (dir. Asif Mian). [download: video + mp3]

Émilie Simon - DreamlandEm meio a tanta coisa que você quer ouvir, ver e ler, muitas outras acabam sendo adiadas. Assim é que até hoje não consegui dar atenção à uma pá de artistas como, por exemplo, Émilie Simon. Já ouvi trechos das músicas de seu álbum Végétal, mas como a garota na época não me atiçou inteiramente, acabei esquecendo. Porém, hoje acabei topando com o vídeo de uma das músicas de seu novo álbum, The Big Machine, e desta vez sim o meu interesse acabou sendo despertado. O clipe dirigido por Asif Mian se mostra capricha no onirismo, já de início colocando a cantora em um jantar com frutos do mar au naturel – e não posso deixar de notar que o siri poderia ao menos estar mergulhado na água – ao vasculhar uma mansão de estilo aristocrático tomada por manifestações estranhas, como paredes que comprimem recintos e escadas que lutam contra a vontade de quem as sobe. A fotografia em tons escuros reforça o caráter algo gótico do filme e a coloração do vocal da artista francesa, bem como o seu pop que flerta com muita classe com sintetizações, acaba lembrando outra cantora que trafega por terras igualmente idílicas: a britânica Kate Bush. Mas Émilie tem um aroma próprio que acaba soando sensivelmente mais contemporânea que a veterana artista inglesa, ainda que carregue uma certa aura de nostalgia com os acordes dramáticos ao piano que introduzem a música e a programação eletrônica equilibrada no melhor do que já foi feito no início dos anos 90. Se todo o restante de seu novo trabalo preservar estes traços sedurotamente elegantes, vai cair no meu gosto fácil, fácil.

Émilie Simon – “Dreamland” (mp3)

Émilie Simon – “Dreamland”: Youtube (assista)download

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“Azul Escuro Quase Preto”, de Daniel Sánchez Arévalo. [download: filme]

AzuloscurocasinegroJorge, que trabalha como zelador do condomínio onde vive e cuida há anos do pai enfermo, vítima de um derrame ocorrido em um episódio de desavença entre ambos, começa a vislumbrar uma rotina diferente depois que consegue, com muito esforço, se formar em administração. A vontade de mudar sua vida coincide com o retorno de uma vizinha, sua antiga paixão de infância, e com a libertação em breve do irmão Antônio, um presidário que se apaixona por uma mulher também encarceirada e que o motiva a fazer um pedido nada ortodoxo para o irmão Jorge pouco antes de ganhar a liberdade condicional.
Basicamente, o cinema espanhol contemporâneo está sendo calcado em duas bases distintas: ou acaba tendo como herança o “cinema humano” do maior representante da sétima arte daquela terra, Pedro Almodóvar, ou envereda pelas trilhas do macabro e do horror, que está ganhando projeção e prestígio mundo afora. O longa-metragem de estréia do diretor espanhol Daniel Sánchez Arévalo adotou como caminho a primeira referência, mas o faz de modo muito mais sutil e discreto, descartando os excessos burlescos tanto no que tange ao desenho dos personagens quanto nas situações bizarras desenvolvidas por Almodóvar. Deste modo, a característica mais marcante do longa é a sobriedade, que por sinal, vai desde a quase completa inexistência de trilha sonora, passa pelo argumento realista pontuado por apenas algumas situações-chave sutilmente inusitadas e chega até a interpretação dos atores, que adotam uma tonalidade mais crível para os seus personagens e procuram preservá-la de forma consistente em toda a duração de “Azul Escuro Quase Preto”. Como não poderia deixar de ser, os dois últimos – roteiro e personagens – são os elementos essenciais da película que acabam embricados, particularmente nos dois protagonistas – Quim Gutiérrez que dá a tonalidade certa para o sorumbático Jorge, procurando transmitir no seu gestual, olhar e voz o estado letárgico e o sentimento de impotência que acabam marcando sua trajetória e reprimindo a sua determinação e perseverança e Marta Etura, que encobre a sinceridade que orienta o comportamento de sua personagem com um manto sutil de sedução induzido pela compaixão que outros acabam tendo pelo percurso que tomou em sua vida. Os personagens coadjuvantes e periféricos ajudam a enfatizar estes elementos do argumento que já estão presentes na configuração dos protagonistas e o conjunto atua de modo a deixar para o espectador a impressão de que não importa o quanto tentemos mudar isso, todos temos um papel do qual não conseguimos nos desvencilhar e que a única coisa que nos é dada como direito é a mudança na superfície, como quem muda de vestimenta, mas não de função, algo que é abertamente simbolizado pelo terno azul escuro, quase preto que Jorge tanto deseja e que, além de tudo, também é análogo à aura melancólica do personagem.
Além de ser um bom ponto de partida para uma carreira no cinema, a sobriedade de “Azul Escuro Quase Preto” pode sinalizar que está acontecendo uma revisão dos paradigmas desta vertente do cinema espanhol da atualidade, que por conta dos recorrentes elogios da crítica acabou tomando como diretrizes a idiossincrasia do cinema de Almodóvar. Espero mesmo que mais cineastas abandonem a visão da Espanha alegórica e dos latinos caricatos e passem a investigar e revelar aquilo que há de singular na aparente ordinariedade humana dos homens e mulheres do país.

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Muse – The Resistance. [download: mp3]

Muse - The ResistanceToda vez que uma banda ou artista ensaia uma mudança de sonoridade isso não é feito sem causar certo desgosto em boa parcela dos fãs. Em parte, a banda britânica Muse já tinha vivido essa experiência com o disco Black Holes & Revelations, lançado em 2006, só que os shows da turnê do lançamento deste álbum foram aclamados pelo público e pela crítica, e desse modo o impressionante poder da banda ao se apresentar no palco fez com que os fãs frustados olhassem com mais carinho para o disco. Com The Resistance, álbum a ser lançado oficialmente dentro de algumas horas, o fato provavelmente vai se repetir em alguma medida, isto se ele não se apresentar com uma intensidade razoavelmente maior.
O novo disco mostra que os passos dados em Black Holes & Revelations não foram apagados desde seu lançamento; na verdade abriram caminho para que a banda trilhasse novamente espaços lá percorridos, sem medo de escandalizar alguns fãs ao misturar seu rock com elementos genuinamente pop. Sim, porque se alguns fãs até torceram o nariz ao ter o primeiro contato com “Supermassive Black Hole” e algum tempo depois descobriram a beleza descaradamente dançante e chacoalhante da canção, certamente eles já estarão preparados para “Uprising”, que conta com uma bateria bem marcada e uma camada generosa de riffs de guitarra acompanhados por palmas que alimentam a cadência da música e sintetizações que acolchoam a melodia, mas o que esperar da reação destes fãs ao ouvir a ousadia da banda em “Undisclosed Desires”, que joga o rock para escanteio e coloca em cena um pop com batida eletrônica, pizzicatos e vocais grudentos e algo rasos que remetem à uma mistura do synthpop poderoso do Depeche Mode com a rítmica rastejante do R&B da atualidade? Não é uma música fácil de se engolir, e deve-se admitir que considerando-se o panteão de composições da banda ela é realmente fraca, mas não deixa de ser uma música cativante e, por que não, realmente sincera.
Porém, o medo ou repúdio fica mesmo resumido à esta faixa, pois The Resistance é um disco com o rock da banda, sempre repleto de inferências sonoras épicas e grandiloquentes marcando presença com orgulho, como em “Unnatural Selection”, que nasce com um orgão cheio de fulgor messiânico, logo é assaltada por bateria, guitarras e baixo ferozmente ensandecidos e ondula com uma ponte sonora em que a melodia é desacelerada, ganhando tonalidades mais melódicas. Soa dramático? Mas essa é realmente a palavra que melhor define faixas como esta e “MK Ultra”, que além dos riffs incandescentes de Matt na guitarra e Chris no baixo e da energia e versatilidade de Dom na bateria, ainda conta com algumas sintetizações que complementam o estado de emergência sonoro da canção. “Guiding Light” preserva o imperativo sonoro com a bateria e baixo em pulso rompante contínuo e nos acordes da guitarra que variam entre o melódico e o rascante durante sua execução, mas o compasso nunca é acelerado, cultivando uma harmonia triste e suplicante. Por sua vez, a faixa título do disco, “Resistance”, vai mais longe, ou melhor, volta mais atrás: além de apresentar o trabalho fabuloso de Dominic na bateria e Chris no baixo, que se encarregam de construir uma base sincopadíssima para a melodia onde brilham acordes nostálgicos de piano e o vocal escandalosamente irretocável de Matthew, a música é introduzida e pontuada por uma sintetização fantasmagórica que remete ao trecho final da harmonia de “Citizen Erased”, uma das canções brilhantes do segundo álbum da banda, Origin of Symmetry.
Não é difícil de se observar, porém, que a marca mais estridente deste quinto disco de estúdio da banda britânica não é o tempero pop que se verifica na sua escala auditiva, mas as suas recorrentes referências à música erudita. Nesta categoria, primeiramente o que se encontra são as citações explícitas à obras famosas do gênero, contudo mesmo partilhando essa similaridade há variações no modo como isto é feito em cada representante deste grupo de músicas. Por exemplo, enquanto “I Belong To You/Mon CœurS’ouvre à ta Voix”, deliciosa faixa com sabor de música de cabaret pelo virtuosismo de Matthew no piano e pela interferência de um clarinete, se resume à referência mais simples por conta do interlúdio no qual o vocalista se rasga nos versos extraídos de uma ária da ópera “Sansão e Dalila” do compositor francês Camille Saint-Saëns, “United States of Eurasia ( + Colletral Damage)”, apesar de ser fechada por uma reinterpretação doce e terna de um dos Noturnos de Frédéric Chopin, não se contenta com pouco e se derrama em uma orgia sonora com variações melódicas bipolares que vão dos acordes no piano, vocais e suíte de cordas mais contemplativos até uma explosão faraônica de guitarras, baixo, bateria, vocais e orquestração de cordas ultra-dramáticos ebulindo reminescências que vão desde óperas-rock emblemáticas até composicões para o cinema como a trilha de Maurice Jarre para o fabuloso “Lawrence da Arábia, do diretor David Lean. Porém a banda não se resume à citar clássicos, ela também quis compor os seus. E assim é que a peça sinfônica “Exogenesis Symphony” foi escolhida para fechar o trabalho como o grandioso monolito que sintetiza a essência deste disco. Dividida em três partes – “Overture”, “Cross-Pollination” e “Redemption” – e estendendo-se por quase 14 minutos, a peça é iniciada com arranjo de cordas e sopros que criam uma ambiência esvoaçante que ganha a adição dos instrumentos do trio britânico e do vocal quase transcendental de Matthew Bellamy, sucedida por orquestração que é capitaneada por um solo dedilhado com maestria ao piano que logo é promovido à um rock glorioso e revertido novamente à instrumentação que introduziu a sequência e é fechada com uma serena harmonia guiada por um piano de colorações tristes como o de Beethoven em “Moonlight Sonata” que se desdobra em uma melodia orquestral com vocal emocionante até recrudescer novamente para o piano de matizes pastorais, enormemente plácido e gentil.
The Resistance pode soar excessivo com sua multitude de referências e estilos se sucedendo ou sobrepondo a cada faixa e certamente vai servir como a tão desejada munição para que os detratores, uma vez mais, gritem de modo sensacionalista e panfletário o seu discurso já batido e ultrapassado de como a banda é falsa por não fazer mais do que emular sonoridades alheias – como se estas bandas de rock não devessem tudo o que fazem aos precursores do gênero, como Beatles, Led Zeppelin e Pink Floyd -, mas os fãs sensatos do Muse já aprenderam a ignorar a perseguição apaixonada – que, ora vejam, por isso mesmo soa muito mais como mera dor de cotovelo – dos que enxergam a banda através deste prisma distorcido e se deixam conduzir pelo rebuscamento sonoro do trio britânico, arrebatados pelo universo cada vez mais extenso de suas criações ricas em “sons e visões” – pedindo aqui licença à David Bowie, cânone a quem toda banda e artista que está na ativa deve reverências – cujas influências e referências são assumidas sem qualquer vergonha, ao contrário de grande parte dos nomes do rock atual, que ao serem confrontados por estes senhores magníficos teriam que confessar, constrangidos, nunca tê-lo admitido.

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Aproveite para baixar os outros discos da banda clicando na tag “muse” ou nos “posts relacionados”, logo abaixo. Como o primeiro disco não possui uma resenha nos arquivos do blog, o link para download fica a seguir.

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Florence + The Machine – Lungs (4CDs: Deluxe + Special Box Edition). [download: mp3]

Florence and The Machine - LungFlorence Welch disse que deseja que sua música desperte sentimentos fortes em quem a ouça, como a sensação de atirar-se de um edifício ou de ser capturado para as profundezas do oceano sem qualquer chance de prender a respiração. Parece um tanto exasperante, para não dizer presunçoso, mas é este tipo de sensação que se tem ao ter contato com as criações de Florence + The Machine, a banda encabeçada pela artista britânica. Nela, Florence dá vazão à todo o seu impressionante furor artístico, que mistura melodias vistosas, repletas de complexas camadas sonoras à letras poéticas, em sua maioria enormemente metafóricas. O elemento que dá liga a estes ingredientes saborosos é o seu vocal, utilizado pela garota em todas as suas possíveis matizes e variações de volume, não raro emitido em gritos longos e possantes. A substância obtida desta receita é uma música sofisticada e vibrante que tem a mesma identidade idiossincrática e indefinível de artistas como Kate Bush, a Björk intimista de Vespertine, My Brightest Diamond e Bat For Lashes.
Porém, mesmo sem saber exatamente como definir as criações desta artista britânica devido à sua mistura de gêneros, se há algo que se pode dizer ser recorrente em grande parte das músicas deste seu primeiro disco é o uso extenso de uma percussão escandida com força numa síncope potente e bem marcada, concedendo às canções uma atmosfera algo ritualística. Os acordes agudos do banjo e da harpa em “Dog Days are Over”, o volumoso uso de vocais em “Rabbit Heart (Raise It Up)” e “Drumming”, o piano de toques esparsos e dramáticos e as sintetizações salpicadas em “Howl”, a harpa cheia de calor em “Cosmic Love” e o orgão e o arranjo orquestral salpicado de pizzicatos de “Blinding” chegam todos acompanhados de uma bateria e percussão que não se escondem na canção, ao contrário, mostram-se em toda sua glória, usurpando os ouvidos sem qualquer receio e emitindo uma quase imperativa necessidade de sacudir o corpo.
Mas não há erro em afirmar, no entanto, que as criações de Florence e sua máquina partem de bases rockeiras. Tanto “Kiss With a Fist”, na qual a cantora declara que um amor recheado de socos e pontapés é melhor que amor nenhum, “You’ve Got The Love”, cover de uma canção gospel que prega que o amor divino existe mesmo nos tempos difíceis, e o cover “Girl with One Eye”, apesar de sua sutil camada country, exalam a fragrância mais emblemática do gênero: uma fartura de múltiplos riffs de guitarra assaltando a melodia ou preenchendo todos os espaços possíveis. Mas mesmo neste disco tão repleto de canções fabulosas, “Bird Song”, faixa bônus da versão deluxe do disco que igualmente pertence à faceta mais nitidamente rock da artista, ainda consegue se elevar em meio as que acompanham como a música mais brilhante do lançamento: iniciando com alguns versos a capella, logo acompanhados por uma guitarra melancólica, a melodia vai alternando um crescendo de momentos reflexivos com outros repletos de ira até explodir em uma orgia sonora sem economia nos vocais, no arranjo melódico e no sentimento que jorra como lava do Monte Vesúvio ao desenhar metaforicamente nas letras a consciência arrependida de alguém como o cantar de um pássaro delator. E é assim, expelindo suas emoções sem receios de soar vibrante, urgente e épica, mas também nunca renegando o direito de soar delicada e gentil quando deseja que Florence + The Machine traz para o rock alegorias em sons e versos que enfeitiçam o espírito e hipnotizam os sentidos dos ouvintes, exigindo com toda propriedade seu lugar na seleta galeria de músicos que conseguem encobrir suas composições em erudição e sofisticação e ainda preservar o seu caráter potencialmente acessível. Sim, Florence Welch é mais uma daquelas artistas que dificilmente se contenta em soar comedida ou simples, porém o abundante requinte com o qual suas composições são impregnadas permitem que nossos sentidos captem apenas a sua fervente e quase primitiva beleza.

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“Firmin”, de Sam Savage

Firmin é um rato nascido de uma ninhada de treze outros de uma mãe alcoólatra e boêmia e criado no porão de uma livraria em um bairro antigo de Boston. Foi do contato com as páginas de livro roídas que formavam o ninho da família e sua fonte inicial de alimento que o pequeno roedor adquiriu a capacidade da leitura, maravilhando-se com o mundo de histórias contadas e criadas pelos homens. Encantado, Firmim sonha comunicar-se com eles para adentrar no seu mundo complexo e fascinante.
“Firmin”, primeiro livro publicado por Sam Savage, conta a história da demolição do distrito que cercaneava a praça Scollay, repleto de pontos de entretenimento, num bairro tradicional da cidade de Boston que foi aos poucos deteriorando-se até ser considerado pelos administradores da cidade um subúrbio marginalizado. Contudo, a ruína do bairro, a bem da verdade, é o pano de fundo para a narrativa apresentada em primeiro plano, a história do ratinho Firmin, cuja singularidade contraditória serve de analogia ao próprio distrito de Scollay: dotado da capacidade de leitura, adquirida pelo contato com páginas roídas que lhe serviam de berço e alimento, Firmin afasta-se das inflexões básicas de animal irracional e nutre afinidade com os humanos pela sede por informação e pela capacidade imaginativa que com estes partilha, assim como pela admiração que alimenta pela beleza feminina exposta em filmes do mais alto até o mais baixo nível. As suas particularidades “humanas”, porém, não superam aquela que é um dos traços mais representativos que rege o comportamento dos ditos seres irracionais: a ingenuidade. É por isso o pequeno roedor fantasia estabelecer de algum modo comunicação com os humanos para poder dividir com estes o amor que tem pelo seu mundo de conhecimento, mesmo tendo consciência de viver uma condição muito distante daquela que pertence aos seres que tanto admira, e que não apenas o impede de poder falar com os seres humanos, mas o impossibilita também de realizar todas as coisas que sonha poder. É por isso que essa inteligência incomum à constituição de seus iguais acaba funcionando para o ratinho mais como um imenso fardo do que uma benção, mergulhando-o em ilusões que nunca poderá fazer reais e em ambições impossíveis de ser atingidas.
Assim, a história criada por Sam Savage, por narrar os infortúnios de um protagonista que tem consciência de suas limitações, e também a ruína do bairro que é seu lar, revela já nas suas primeiras linhas a sua natureza duplamente melancólica, tonalidade esta que vai se intensificando a medida que o distrito de Scollay vai se aproximando de seu destino inevitável. Ao final, ao testemunhar a devastação do local que aprendeu a amar em cada detalhe, por mais vulgar que fosse, o pequeno ratinho acaba também tendo consciência de que seus desejos nunca se tornarão realidade e, arrasado, recolhe-se naquele que foi o lugar onde conheceu o mundo – o seu e o dos humanos que tanto o fascinavam. E o leitor, tendo ele próprio observado a trajetória deste pequeno grande personagem, acaba a última linha do livro tão arrasado quanto o próprio Firmin.

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Lenka"Depois de abandonar na infância o seu aprendizado musical e passar vários anos imersa no mundo da TV e cinema da Austrália, anos mais tarde Lenka Kiprac acabou se dando conta de seus dotes musicais e voltou a se dedicar ao mundo da música, lançando dois discos como membro da banda Decoder Ring. A carreira em uma banda, porém, parece não ter satisfeito as inclinações musicais da garota, que logo lançou-se em carreira solo. O resultado foi o disco batizado apenas como “Lenka”, lançado com êxito em 2008 em seus país natal, mas que também atingiu um sucesso considerável em outros países. A repercussão é compreensível: a australiana investe em uma sonoridade inequivocamente pop repleta de cintilâncias que combinam com perfeição com sua voz doce e juvenil mas não perde nunca a medida do bom gosto, ensaiando exageros sem nunca utilizar-se deles efetivamente.
O carro-chefe do disco é “The Show”, música que ao ser utilizada em muitas peças publicitárias pelo mundo – inclusive no Brasil – acabou levando a artista para os ouvidos de muita gente que passou a inadvertidamente carregar a melodia infecciosa na cabeça. Iniciando com acordes leves em um piano de tonalidade infantil decorando o vocal suave e idílico da cantora, a música não se envergonha de aumentar a família e se aproveitar de uma infinidade de instrumentos e um coral para montar um cenário cheio de uma alegria inconsequente, o que casa perfeitamente com as letras em que a artista faz lembrar que mesmo confuso ao ser cercado pelas inevitabilidades da vida nunca deve-se deixar de aproveitá-la pois tudo deve tomar seu jeito alguma hora. Outra canção que abusa de arranjos orquestrais festivos, sintetizações lúdicas e guitarras e baterias em desenfreado frenesi é “Bring Me Down”, onde Lenka fala que em uma relação de amor que acaba sufocando quem você realmente é em detrimento de ser um outro alguém o melhor mesmo é sair à procura de outros portos para ancorar seu barco. Amor ainda é o tema de “We Will Not Grow Old”, com uma letra que acerta em cheio ao afirmar que quando jovens inevitavelmente nos iludimos com a idéia de que ele seja imune à passagem do tempo. Já “Trouble Is a Friend”, com seu piano e bateria bem cadenciados e cercados por metais e sintetizações, foge um pouco do romance, mas não deixa, de certo modo, de tratar as atribulações da vida como tal, já que afirma que por mais que tentemos fugir parece inevitável que cedamos aos seus encantos traiçoeiros. Sedução, por sinal, é sobre o que fala “Force of Nature”, onde com um cantar intoxicado de desejo a garota dispara uivinhos sensuais em meio a acordes de teclados e sintetizações que adornam a afirmação à seu objeto de desejo que não há como fugir de seus feitiços.
Mas apesar de toda a competência da garota em tecer um folgueiro de vibrantes canções pop, Lenka revela que o seu melhor se esconde mesmo nas suas baladas cheias de um doce amargor e de uma súplica apaixonada. “Skipalong”, que trata da dificuldade de abandonar o conforto do que é conhecido e aventurar-se sozinho em outros cenários, é a que primeiro se encarrega deste estado de sensações, aproveitando cada verso emocionado da cantora para dar partida na bateria, baixo e mellotron e para impulsionar o arranjo de metais e o vibrafone. Em “Live Like You’re Dying” a beleza nasce dos toques pesados no piano, do andamento resignado da bateria e do vocal que capta a exata fração de emoção dos versos que falam que deve-se fazer o melhor da vida com aquilo que temos ao nosso dispor – afirmação um pouco cafona, mas que não deixa de ser verdade. Contudo, nenhuma música supera “Like a Song”, que extrai graciosidade infalível da melodia simples e serena do teclado gentil e da programação suavíssima, além do próprio vocal que entoa, carregado de sentimento, os versos em que Lenka roga ao tempo que aplaque a dor de um amor que acabou mas que não consegue esquecer. É uma canção bem mais equilibrada, que se esquiva da fartura de instrumentação e da efeméride harmônica que é marca do disco, deixando o ouvinte respirar um pouco em meio ao desfile de radiantes cintilações sonoras que se configura como a tônica do disco. No entanto, por mais que você possa se sentir farto da vibração incandescentemente juvenil da artista australiana e que sinta necessidade de um bom tempo afastado de seus encantos infantis, a garota ainda consegue soar mais equilibrada e comedida do que o britânico-libanês Mika, que com sua obsessão em abusar da extravagância glitter-pop em cada detalhe sonoro e visual de suas canções e vídeos conseguiu me afastar definitivamente de qualquer coisa que tenha lançado ou que vá lançar. Por isso, vale aplicar aqui aquela famosa máxima: aprecie com muita moderação.

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Twitter Wars: Campo de Batalha Brasil.

Twitter Wars BrasilEu realmente não virei fã do Twitter. Na verdade nem tentei de fato usá-lo – fiz uma conta, mais por inércia do que por vontade, como faço em muitos serviços da internet, mas já o fiz sabendo que não ia usar. Eu desconfio que a minha falta de atração pelo serviço tenha origem no meu mais completo desinteresse pela telefonia móvel, à qual só aderi há coisa de 2 semanas, e ainda assim porque ganhei um aparelho celular. Parece que uma coisa nada tem a ver com a outra, mas existe uma relação. A maior parte dos usuários deste serviço acabou se acostumando – e se afeiçoando – com os chamados “torpedos”, tornando-os tão intrínsecos ao serviço de telefonia quanto a própria chamada telefônica. Daí que o Twitter, de um certo modo, se assemelha muito aos chamados torpedos: mensagens curtas, em sua grande maioria sem qualquer caráter emergencial e muitas vezes tratando de banalidades ou amenidades das mais diversas – é, eu sei que se anda fazendo usos mais “nobres” desta ferramenta de internet, mas em sua maioria esmagadora o uso tem bem a natureza que descrevi. E como eu não fiz do celular um instrumento necessário ao meu cotidiano, o Twitter, pela semelhança que enxergo com este serviço, acabou figurando para mim como algo tão desinteressante quanto. Além disso, eu tenho um blog – ou melhor, dois blogs, né? -, e a hora que eu quiser ficar postando mensagens curtas ou simplesmente ficar repassando links – coisa que nunca encontro necessidade de fazer – eu posso escolher fazer isso em qualquer um dos dois. Eu sei, o Twitter PODE ser mais do que isso, mas eu ainda não fui arrebatado mesmo que pelos seus outros encantos.
No entanto, o meu desinterrese natural pelo serviço tem ganhado força por conta de acontecimentos dos últimos meses. O Twitter, que já naturalmente sofreria da mesma problemática de todas as ferramentas sociais da web, que é o fato de que as pessoas acham necessário se inter-relacionar com o maior número de pessoas para propagar sua presença na rede, acabou tendo isso potencializado por ter sido convertido na coqueluche do momento graças aos portais e sites de tecnologia mais up-to-date, que o alçaram ao possível pontapé da chamada “Web 3.0”, e aos blogueiros mais gabaritados e/ou hypados da internet, que o transformaram no seu mais novo brinquedinho, chegando ao ponto de elevá-lo à nova materialidade do jornalismo do século XXI. Junte esse oba-oba que certamente aguça a curiosidade alheia com sua dinâmica de uso simplificada – como bem destacou Matt Mullenweg em uma palestra ao visitar o Brasil em junho deste ano, trata-se apenas de uma caixa de texto e um botão de “send”…qualquer palerma sabe usar isso – e o cenário do apocalipse se apresentou no horizonte da internet: uma tsunami de internautas resolveu desaguar no serviço para inundar a web com suas micro-postagens, muitas delas tratando de todo tipo de asneira desnecessária, como a narração sequencial de seus afazeres mais estupidamente ordinários e repetitivos do cotidiano, sem notar que isso pouco interessa à humanidade – ou eu estou errado ao dizer que coisas como “no supermercado comprando Sucrilhos de chocolate” ou “começou a Sessão da Tarde, tô assistindo”? não tem qualquer necessidade de ser ditas e não, de modo algum se configuram como coisas úteis e de interesse público?
Como o serviço, com esse conjunto de fatos, acabou virando uma das maiores novas-modinhas da web ele veio a conquistar espaço e uso até na mídia televisiva. Resultado? As estrelas e astros da cultura pop voltaram seus olhos para o serviço e perceberam ali um instrumento mamão-com-açúcar para ganhar ainda mais projeção e, obviamente, para dar uma alisada nos seus egos, já que disputar seguidores para o seu perfil no site seria um atestado de popularidade para o “twitteiro”.
E aí começaram os problemas que o Twitter vem trazendo para a internet nas últimas semanas. Quando são anônimos fazendo e dizendo bobagem, isso não ganha lá muito espaço nem na própria internet. Agora, o que acontece quando são celebridades que acabam fazendo isso? Bom, já deu pra perceber que aí a coisa ganha proporções muito maiores. E é o que está acontecendo: vai semana, vem semana, toma-se conhecimento que alguma (sub)celebridade fez bobagem lá pelos domínios do tal Twitter – e isso acontece até mesmo porque a graça do serviço está em tornar tudo público, evidentemente. Já teve de um tudo, de mané mandando mensagem pra maior estrelete internacional do serviço pedindo pra apoiar a campanha pra tirar o presidente do senado do seu cargo, divulgação de número de celular pelo próprio detentor do telefone, alfinetadadas contínuas por dor de cotovelo em campanha de prêmios pra obter mais seguidores no perfil do serviço e, a última, sujeito fazendo uma piada totalmente desnecessária, em um daqueles torpedos twittênicos clássicos de “ei, pessoal, to fazendo isso agora, sabiam?” e sendo criticado por um colega de profissão que, ora vejam, ganha a vida fazendo o mesmo tipo de piada rasteira – é aquela história do roto falando do esfarrapado. É o verdadeiro inferno na terra (virtual) de fazer vergonha a meu adorado Dante Alighieri – ou ao próprio Diabo, convenhamos.
Agora eu pergunto: que me interessa isso? O que lhe interessa isso, amigo internauta? Bem, não interessa, mesmo. É evidente que o Twitter não é o carrasco do senso de utilidade da web, já que a maior parte dos chamados serviços sociais, que são a “alma” da tão celebrada web 2.0, contribuem para tanto há muito mais tempo – basta entrar em uma comunidade qualquer do Orkut e ver como as pessoas perdem tempo se alfinetando e alimentando discussões estúpidas. Porém, o combo hype + facilidade de uso está tornando o serviço o espaço ideal destas batalhas e deixando o Twitter do jeitinho que o diabo gosta. Bastava o “twitteiro”, as celebridades do serviço em especial, parar para pensar não mais do que um minuto para deixar de publicar asneira e poupar o internauta de tomar conhecimento de sua estupidez. Mas aí já é pedir demais, já que a maior parte das pessoas não dá uma pausa para refletir antes de fazer coisa muito mais importante, como pôr mais uma criança nesse mundo sem ter a menor condição e aptidão para criar. É, só nos resta fechar os olhos ao avistar a palavra “Twitter” em qualquer site de notícias. Ou rezar para essa moda ser passageira – e não custa ser – e aguardar que as tais celebridades fechem seu canal de comunicação direta com os fãs e voltem à velha e – agora vejo – tão útil tradição de ter suas declarações filtradas pelos seus assessores de imprensa.

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