Skip to content

seteventos Posts

Jarvis Cocker – Further Complications. [download: mp3]

JarvisApós uma estréia solo bastante elogiada pelos críticos por conta do seu rock embebido em elegantes pitadas pop, Jarvis Cocker, mais conhecido por ter sido o vocalista da banda britânica Pulp, lançou este ano Further Complications, um disco cuja sonoridade rock depojada é resultado consciente de um trabalho de composição mais concentrado na instrumentação básica do rock – guitarra, baixo e bateria. Em consequência disso, boa parte das canções ganha ares de first take, como se tudo tivesse sido produzido sem muito ensaio e esmero de produção, emulando uma sonoridade simples e direta. Os acordes curtos e certeiros da guitarra e baixo e os toques quase rudimentares da bateria na faixa “Angela” ilustram bem esse estilismo musical que permeia grande parte do disco, assim como acontece em “Fuckinsong”, onde a cadência forte da bateria e os riffs graves de guitarra, combinados ao vocal algo afetado de Cocker, que não tem a menor vergonha de decorá-lo com deliciosos artifícios, como gritos, sussuros e gemidos, resultam em uma música petulantemente dançante. Há, claro, algumas faixas em que há um maior esmero na produção e instrumentação, como em “Homewrecker!”, que inclui um saxofone desvairado em consonância com a melodia efusiva, mas ainda assim Jarvis preserva a atmosfera de improviso com seu vocal extravagante.
Porém, é bom ressaltar que muito da graça das composições de Jarvis Cocker não nasce apenas das melodias, mas de suas letras irônicas, que satirizam a vida moderna com um histrionismo que foge do prosaico – como acontece em meio a aglomerada agitação da bateria, baixo, guitarra e backing vocals nostálgicos de “Further Complications”, onde encontramos versos como “saí do útero com três semanas de atraso, sem a menor pressa de me juntar ao resto da humanidade” ou “eu preciso de um vício, eu preciso de uma aflição para cultivar uma personalidade”. Em outras canções, Jarvis enfatiza nas letras sua verve intelectual sem resvalar no pedantismo – como na balada “Leftovers”, com guitarras, bateria, baixo e vocais cheios de malemolente dramaticidade, que mesmo ao situar um flerte em um museu de paleontologia não transforma em clichê o trocadilho dos versos “aprisionado em um corpo que me denuncia, me permita ser sucinto, antes que nós dois nos tornemos extintos” – ou revela conhecimento de causa nas ambições afetivas do homem moderno, sem cair em vulgaridades mesmo sendo bastante direto – como em “I Never Said I Was Deep”, onde os acordes abatidos de guitarra, baixo, saxofone e bateria formam uma melodia triste que partilha o desencanto da letra em que Jarvis diz “se você quer alguém pra conversar, você está perdendo seu tempo, se você quer alguém pra dividir a vida, então você precisa de alguém vivo”.
Apesar de seu estilo bastante formal de se vestir sugerir austeridade e serenidade musical dignas de um João Gilberto, cujo imaginário mítico dele derivado nos faz pensar ser capaz de passar horas em cima de um acorde para atingir exatamente aquilo que almeja, em todo o decorrer de Further Complications, Jarvis Cocker prova exatamente o oposto – que é muito mais um cara descoladíssimo que, imagino eu, é muito mais afeito a improvisações descompromissadas saborosíssimas que depois ele nem vai lembrar exatamente como repetir. Isso sem nunca perder de vista o gosto em explorar em sua música todas as nuances de sua idiossincrasia cult encoberta por uma fina ironia britânica – porque só um cara muito bem-humorado teria a idéia de fechar um disco disco tão rockeiro com “You’re In My Eyes (Discosong)”, uma balada disco-soul swingada cheia de glamour setentista.

rapidshare.com/files/249707281/cocker_-_complications.zip

senha: seteventos.org

Leave a Comment

“Budapeste”, de Walter Carvalho.

BudapesteJosé Costa é um ghost-writer, um escritor que põe seu talento a disposição de quem deseja ter um livro publicado, delegando a autoria de sua própria obra para estas pessoas e relegando-se ao anonimato. Casado por conformidade, é quando José decide ir à Europa para uma convenção que ele conhece Budapeste, cidade em que sua vida ganharia novos contornos.
Ao finalizar o breve discurso que fez antes da exibição de seu novo longa-metragem no FAM 2009, Walter Carvalho dirigiu-se à platéia dizendo, “vou pedir uma gentileza: gostem do filme”. O problema, porém, é que eu não poderei ser gentil.
Walter, muitos devem saber, é um dos diretores de fotografia mais requisitados do cinema brasileiro, com um trabalho impecável de iluminação. E justamente aí está o elemento que problematizou todo o seu trabalho como diretor de “Budapeste”: é a partir do seu olhar treinado para processar incessantemente o belo que existe em (quase) tudo que nascem as problemáticas visíveis no longa-metragem.
Por uma enorme ironia, é a fotografia do longa-metragem que se percebe como problema mais notável de “Budapeste”. Executada por Lula Carvalho, ela traz à tona a elegante antiguidade da capital da Hungria, tingindo-a em matizes poéticos, porém, certamente seguindo as diretrizes de Carvalho, sua fotografia também causa cansaço por retratar a nudez feminina do modo mais cliché possível, num amontoado de sombras e nuances óbvias para denotar a beleza, sempre sedutora para qualquer fotógrafo, das curvas e detalhes do corpo das mulheres. Isso, somado a forma demasiadamente contemplativa com o que o diretor filma o nú de suas atrizes e a trilha descaradamente óbvia, que tenta ampliar ainda mais o encanto feminino, soa tão excessivo que acaba resultando em um amontoado de cenas de sexo cuja definição mais imediata é o brega.
Por falar em trilha, ela se configura como outro problema do longa-metragem – tanto na sua própria composição como no procedimento de utilização adotado. Embora alguns momentos detenham uma beleza consistente extraída de arranjos sutis, em outras a composição se apresenta com uma harmonia tão destoante que fica mais parecendo uma sintetização barata para sonorizar uma novela qualquer do que uma peça orquestral feita para o cinema. E a insistência em utilizá-la para banhar qualquer cena em contornos dramáticos ou efusivos não poucas vezes resulta na mais pura desarmonia audiovisual – é por isso que, por exemplo, metade do brilho da cena da estátua de Lênin no rio Tâmisa é destruída.
Estes, porém, são componentes isolados, estorvos em sequências que não necessariamente são um equívoco. Desastre mesmo foi o cometido por Walter Carvalho na sequência do sonho, parte do epílogo da trama. Ao conceber a cena o diretor conseguiu obter o maior feito do seu filme: reunir, em uma única sequência, todos os elementos problemáticos de “Budapeste”, transformando em equívoco inclusive o que não era até então. Trilha, fotografia, direção de atores, enquadramentos de câmera, tudo foi trabalhado de forma a resultar na sequência mais embaraçosa do filme, convertendo o delírio, que com uma atmosfera sombria poderia ganhar impacto e causar calafrios, em um teatrinho kitsch da pior espécie – do jeito que está, encoberto por uma trilha óbvia, uma fotografia tosca e uma composição descaradamente farsesca, a único impacto garantido é o de causar gargalhadas constrangidas.
Mas é bom avisar que as falhas não se contentam em assolar os aspectos técnicos do filme – o roteiro adaptado do livro de Chico Buarque pela roteirista e produtora Rita Buzzar também partilha deste mérito indesejável, já que a adaptação não sabe como fundamentar as atitudes de seu protagonista – por isso é que fica difícil compreender porque Costa se revolta ao cometer o mesmo erro duas vezes, quando vê entregue à outro o sucesso de um livro cuja autoria relegou – e não consegue equilibrar suas idiossincrasias comportamentais – tornando sua defesa apaixonada pela integridade da literatura, que já soava excessivamente diletante, em algo grotesco, uma vez que ele próprio contribuiu contra ela.
O livro mais celebrado de Chico Buarque merecia uma adaptação menos afeita a tantas obviedades, incongruências e equívocos que acumulam-se em um painel final desastroso. Tivesse Walter Carvalho, ao ocupar a cadeira de diretor, se livrado dos paradigmas do belo incutidos em seu olhar pelo hábito da fotografia e o resultado teria sido bem mais elegante e consistente – aí, quem sabe, ele não precisaria ter que mendigar a gentileza do público em gostar de seu filme.

Leave a Comment

The Boy / Junho 2009: todo Ronan Bertoli [fotos]

ronan-bertoli-theboy-homens

Estamos em Junho e o modelo que “estampa” o novo ensaio do fotógrafo Cristiano Madureira para o site The Boy neste mês é Ronan Bertoli, catarinense de Joinville, cidade onde já morei por algum tempo e que ganhou muitos apelidos desde sua fundação – cidade das flores, cidade das bicicletas, cidade dos príncipes. E é justamente por conta desta última alcunha que o rapaz faz jus à sua cidade natal: com seu físico torneado mas bastante enxuto, sua pele branquíssima, e seu rosto magro de traços suaves e expressão triste, Ronan tem mesmo todos os requisitos de um príncipe no vislumbre do imaginário mais romântico, mais tradicional. E o problema é que como acontece com quase todo jovem príncipe advindo de um universo de fantasia, a sua beleza transborda uma certa aura de ingenuidade e carece de toda e qualquer carga de malícia – falta no rapaz uma boa dose daquela sensualidade viril que transpira pelos poros do corpo e impregna a atmosfera ao redor. Desta forma, o rapaz, que é sim bastante bonito, acaba por se encaixar com toda tranquilidade nos parâmetros de beleza do movimento romântico, mas não se enquadra nas noções de beleza pós-modernas – nas minhas, ao menos, onde a beleza só arrebata quando manifestada em conjunto com boas doses de sex appeal. Mas, como efebos que transpiram uma certa pureza são o último grito da cultura pop – muito obrigado, Robert Pattinson – é certo que muitos vão adorar este caráter todo inocente da beleza de Ronan, que nem de longe aparenta seus 25 anos – eu poderia dizer que ele tem bem menos que isso.
O ensaio em si, por outro lado, funciona muito bem. A decisão de restringir a produção deste mês à locações naturais dá frescor aos ensaios do site, que de certo modo já consolidou uma cartilha de settings e de composições que poucas vezes os fotógrafos resolveram não adotar nos últimos meses – achei bastante ousada a decisão do fotógrafo Cristiano Madureira de desconsiderar fazer um clique sequer em um quarto, sala, casa, cama ou mesmo uma cadeira ou sofá. Apesar disso, claro, não foi desprezada a já clássica sunga Adidas, praticamente uma marca registrada dos ensaios do The Boy – porém sua participação fica reduzida à uma figuração de luxo, uma vez que está descaracterizada de toda malícia que o modelo poderia lhe oferecer. E o que aconteceu aqui com esta tão característica peça de figurino, a sunga Adidas, acaba por servir como resumo para as fotos do The Boy deste mês: um ensaio elegante e luminoso que, infelizmente, tem como protagonista um modelo que estamparia com bem mais propriedade um periódico adolescente ou um cartaz de filme de contos de fadas.

Clique neste link para conferir todo o ensaio do site The Boy com o modelo Ronan Bertoli.

P.S: Ronan Bertoli já tinha sido protagonista de um ensaio no site garoto POP, do portal Pop, que não inspira qualquer interesse, tamanhos são os equívocos cometidos por lá – o que serve, por sua vez, pra mostrar como a produção do The Boy, muito mais inteligente no seu olhar tanto para o todo quanto para os detalhes, dificilmente não consegue deixar um modelo ao menos interessante e um ensaio pelo menos atraente.

5 Comments

“Lost”: 5ª temporada [sem spoilers].

Lost - Quinta TemporadaNesta penúltima temporada de Lost – é bom nem pensar que depois de 2010, tudo acabou – os espectadores do seriado tiveram as dúvidas sobre a Iniciativa Dharma solucionadas de um modo definitivamente genial, com todo o projeto científico sendo trazido à tona como principal evento e cenário deste ano da série. Mas isso só foi possível graças a complexa dinâmica que os roteiristas desenvolveram para esta temporada: a noção de tempo foi o elemento chave para que todos os acontecimentos tomassem lugar, para que as relações entre eles fosse evidenciada e para que os efeitos e consequências desencadeados fossem delineados. Tanto o passado, quanto o presente e o futuro deixaram de ter suas definições mais usuais para ganhar novo status e função e um intrincadíssimo ballet que alterou, definiu e reafirmou a história da ilha e de seus habitantes. Os dois únicos acontecimentos que deixam o público sem saber o que pensar da próxima temporada são justamente os que fecham este quinto ano da série: o evento ocorrido no “passado” – aspas necessárias devido ao fato de que ele não é passado para os agentes do evento, bem como devido às suas possíveis consequências – e um evento do futuro/presente, cuja principal vítima, que há muito os fãs da série gostariam de ter conhecido, foi finalmente apresentada apenas nos dois últimos episódios da temporada.
Justamente aí estaria talvez um dos fatos negativos deste quinto ano da série, visto que este personagem, que teve sua primeira referência na série na terceira temporada, nem bem foi revelado talvez não volte a dar as caras em Lost. A própria concepção dele é um tanto quanto confusa, muito provavelmente porque seu contato e ligação com os protagonistas do seriado teve que ser delineado em curtos instantes no decorrer destes dois últimos episódios – tivesse sido antecipado, seu surgimento poderia ter mais impacto e credibilidade, mas isso teria sido feito sob o custo de não ser uma surpresa para o fim da temporada.
Alguns, com certeza, também podem ter considerado a revelação sobre a transformação de outro personagem de suma importância para a série, usado como elemento surpresa adicional do fim deste quinto ano da produção, como algo negativo. É fato, agora, que seu destino e participação no seriado daqui em diante tomará rumo totalmente diverso. A bem da verdade, pelo que nos foi revelado, sua participação em grande parte desta temporada que se encerrou já foi bastante diverso do que estávamos pensando ser, pois as suas motivações e intenções para todo o seu comportamento neste ano era radicalmente oposto ao que estávamos sendo levados a crer. Penso, porém, que isto vai ter consequências interessantes para o último ano da série, configurando-se verdadeiramente como o primeiro passo da reta final do seriado.
E já que falamos em reta final, os dois últimos episódios de Lost também sugeriram, no horizonte de probabilidades que sempre foram cogitados pelos fãs, uma fusão entre duas das mais fortes correntes defendidas por eles. Possivelmente, o desfecho da série reuniria idéias advindas da teoria que sugere que os eventos da ilha tem uma causa natural/realista e outras daquela que aponta origens e intervenções divinas para tudo, o que transformaria a história numa espécie de estudo de campo entre duas forças que aparentemente nutrem crenças opostas – e nada mais pode ser dito sob pena de revelar detalhes essenciais. Claro que tudo são meras divagações quando se fala do epílogo de Lost, série das que mais ludibria os pressupostos que os espectadores já tomam como verdadeiros sobre a história e seus eventos – e o fim desta temporada é das provas mais concretas desta característica do programa -, porém, como temos restando apenas 16 episódios, as chances de que as idéias apontadas sejam as que de fato tomem corpo e se materializem como a conclusão tão aguardada são bastante grandes. A única coisa que não dá mesmo pra conceber direito é o início da última temporada – culpa, claro, do final literalmente bombástico que presenciamos há poucas semanas, que destruiu qualquer suposição sobre como pode ser retomada a série e, ao mesmo tempo, reconstruiu o estado de ansiedade nos espectadores. Agora, só em Janeiro de 2010 os fãs terão os ânimos acalmados – ou não.

2 Comments

“X-Men Origins: Wolverine”, de Gavin Hood. [download: filme]

X-Men Origins: WolverineLogan, mais tarde conhecido como Wolverine, e seu irmão mais velho Victor, são mutantes com instintos selvagens recrutados para um projeto de mercenários com super-poderes. Não demora muito e Logan abandona o grupo por discordar de seus métodos e intenções excusas. Alguns anos depois, o mutante tem que combater os membros do grupo com o qual se envolveu no passado, inclusive seu irmão.
A premissa é realmente interessante: filmar toda a origem de um dos mutantes mais enigmáticos do universo Marvel e dos mais adorados pelos fãs. Se bem encaminhado, o filme poderia reeditar a qualidade dos dois primeiros longas da série X-Men, que conseguiram introduzir os personagens no mundo do cinema sem desvirtuar demais suas personalidades e sem violar excessivamente a mitologia destes nos quadrinhos. Contudo, por este ser de certo modo o quarto filme da série, o risco de errar a mão era bem maior. E foi bem isso que ocorreu.
Os dois maiores problemas do longa do diretor Gavin Hood estão relacionados ao modo como o argumento foi desdobrado no roteiro. O primeiro consiste na pressa no desenvolvimento dos episódios que constituem a história, que leva a supressão de uma descrição e delineamento mais detalhados de eventos que determinam a sucessão de acontecimentos do filme – é por isso, por exemplo, que a inveja e mágoa que Victor nutre pelo irmão Logan parecem muito pouco convincentes. O segundo seria a preguiça dos roteiristas em procurar soluções mais realistas para algumas sequências – afinal, Logan não teria notado com uma certa facilidade que apesar do sangue sua amada não estava ferida?
É certo que há algo de positivo no filme. Obviamente que o que há de mais acertado no longa-metragem é Hugh Jackman voltando a incorporar o personagem que lhe rendeu tanta fama: sua personificação de Wolverine continua impecável – com o adendo de que aqui estamos diante do protótipo do que o mutante se tornaria efetivamente mais tarde, e Jackman consegue transmitir isso com toda propriedade, suavizando sutilmente os contornos violentos e selvagens que integram a personalidade de Wolverine no futuro. Apesar da pouco aparecer durante o filme, a estréia do mutante Gambit, tão sequiosamente aguardado há tantos anos pelos fãs do X-Men, também é feita com considerável impacto, e ganhou em Taylor Kitsch um interpréte respeitável. Só mesmo a participação do mutante encarnado por Ryan Reynolds deixou bastante a desejar, e não por culpa do ator canadense: se muito, há 15 ou 20 minutos de participação do ator no longa-metragem, sendo que em cerca de metade disso ele é transformado do estonteante e sexy Wade Wilson para ficar quase irreconhecível na pele de Deadpool, no qual sofreu alguns artifícios e interferências no seu rosto perfeito para deixá-lo assustador e ainda tem que dividir a encenação com um dublê devido ao conhecimento deste em artes marciais – pode parecer apenas um detalhe no meio do filme, mas como Ryan Reynolds é o meu altar-mor de obsessão, pra mim é um erro imperdoável não apenas aproveitá-lo tão pouco, mas também utilizá-lo de modo tão inadequado. E visto que já foi declarada a intenção de aproveitar Deadpool para mais um filme solo, quero ver o que vão fazer pra consertar a adaptação tão esdrúxula – pra não dizer ridícula – que o personagem sofreu ao ser transposto dos quadrinhos para as telas. Quem já viu o filme sabe do que eu estou falando.
Deste modo, “X-Men Origins: Wolverine”, apesar de tanto esmero e tempo gasto na produção, resultou num longa-metragem apressado e mau-acertado. Talvez, com apenas uns vinte minutos adicionais, se um terço dos problemas não fosse solucionado seria ao menos suavizado, com toda certeza – e ainda não sentiríamos um certo desgosto ao saber que o desastre pode ser repetido, se não for intensificado, na óbvia sequência, já declarada, do filme.

megaupload.com/?d=6A9XY3HR
megaupload.com/?d=T9X7ZCDB

legendas (português):
http://legendas.tv/info.php?d=8f9fb8b40fd96b2ea523706ab451e534&c=1

Leave a Comment

The Boy / Maio 2009: todo Eduardo Tesch [fotos]

eduardo-tesch-the-boy-homens

O capixaba Eduardo Tesch, modelo do mês de maio no The Boy, tem uma expressão algo infantil no rosto, o que apesar de lhe conceder um encantador olhar inocente e terno, algumas vezes também deixa aquela expressão intolerável de “bobo da corte” de turma de colegial. E apesar dessa expressão jovem que o moço detém, com o cabelo molhado lhe ocorre o oposto: nessa configuração seus traços pesam e são razoavelmente envelhecidos, destacando alguma desarmonia nos elementos do rosto e fazendo-o aparentar um pouco mais do que seus 25 anos. Porém, mesmo que a fisionomia de seu rosto não funcione sempre, com a produção certa o rapaz rende uma diversão descompromissada. De perfil, com o olhar mais cerrado, o rapaz até manifesta um semblante mais sexy e atraente. Mas é o corpo do garoto, claro, o lugar certo pra concentrar esforços: a musculatura definida, que se contenta com o porte atlético e tem como seu maior charme os pelos curtos, nitidamente aparados, torna-o suficientemente sedutor para proporcionar algumas horas de entretenimento leviano. A bela cabeleira farta, desde que não esteja úmida, além de lhe dar um ar juvenil e maroto, também seria uma fonte de recreação adicional – eu, ao menos, não me negaria a ser um agente de afagos e cafunés. Todavia, em relação ao modelo, ficamos mesmo por aqui – não há atributos suficientes que justifiquem muitos comentários.
Quanto ao ensaio em si, confesso que a temática rústico-pastoril me agradou. Isso combinado com a luz natural que irradia tudo com o frescor aconchegante do outono confere elegância à maior parte dos registros. Também ajuda a perspicácia da produção e do fotógrafo Felipe Lessa em ajustar o rapaz à sintonia do ambiente, caracterizando-o – até convincentemente – como um caipirão com o clássico macacão jeans ou como um lenhador desinibido em calça de pijama. É provavelmente por esse esforço em acentuar o que o modelo tem de bom com a qualidade do registro e da temática que Eduardo tenha rendido uns retratos de aguçar os sentidos: a foto em que ele dá carão, ostentando um olhar petulante com um semblante e pose atrevidos é de causar salivação imediata, assim como se mostra tentador o seu físico bem torneado no registro em que o rapaz se estica como quem se espreguiça incentivado pela luz confortável do sol, usando um edredon como única salvaguarda da completa nudez. Pra ser sincero, é daqueles ensaios bonitos e bem executados pra fazer volume ao ano, mas que não cativam suficientemente para tornarem-se notórios – porém, um ou outro momento mais inspirado pode resistir por algum tempo na memória afetiva por conta de, digamos, um “estímulo de ordem mais prática”.

Clique neste link para conferir todo o ensaio do site The Boy com o modelo Eduardo Tesch.

4 Comments

Tori Amos – Abnormally Attracted to Sin (+ 1 faixa bônus). [download: mp3]

Tori Amos - Abnormally Attracted to SinDesde que abandonou a gravadora Atlantic, a cantora americana Tori Amos lança discos que pecam pelo exagero, em mais de um sentido. Primeiro, pela insistência em arquitetar um conceito ou temática que unifique ou englobe todas as canções. Segundo, pela criação de um personagem – ou bem mais de um – que “assume” a interpretação das canções ou que incorpore o conceito destas ou da narrativa composta no disco. Terceiro, pelo número excessivo de faixas, que dilui e tira a força das melhores canções. Quarto, por um excesso de ornamentos e backing vocals adocicados de alto teor lírico. O primeiro álbum que reuniu estes elementos, Scarlet’s Walk – já que Strange Little Girls, a priori, não é um trabalho de composição da cantora e contou com apenas doze faixas, a mesma média dos primeiros lançamentos da artista -, foi o que teve melhores resultados ao utilizar-se destes recursos. Desde então, a insistência neste modelo de criação tem trazido aos fãs da cantora discos que não conseguem sintetizar toda a beleza, força e capacidade de Tori Amos em compor canções ao mesmo tempo tocantes e eletrizantes. Infelizmente, Abnormally Attracted to Sin, seu novo disco lançado há pouco, também sofre um pouco deste mesmo mal, ainda que ele seja o menos rigoroso na temática e conceito desde Scarlet’s Walk e sua utilização de personagens não seja tão efetiva – mas no que tange à algumas melodias o problema foi reiterado. Faixas como o single “Welcome To England”, cujo refrão está cercado de alguns acordes graves e dramáticos de piano típicos do estilo da artista, “Fire To Your Plain”, que tem arranjo leve e harmonioso de bateria, guitarrra e teclado, e “500 Miles”, com seu refrão liricamente equilibrado e sua sequência final com bateria, guitarras, piano e vocal absolutamente empolgantes como há muito não se via em uma canção de Tori, poderiam ter outro resultado, muito mais elegante, emocionante e encantador, não fosse os excessos melódicos glicosados, cuja herança imediata é proveniente de The Beekeeper.
Porém, é preciso dizer que Abnormally Attracted to Sin é o disco que tem um punhado de canções que são as mais bem resolvidas em sua atmosfera melódica desde o álbum lançado em 2002. Algumas delas recuperam o viço e sonoridade de trabalhos de Tori anteriores ao início deste século, outras até mesmo captam vibrações de outros artistas ou bandas. Este é o caso específico da primeira faixa do disco, “Give”. A melodia da canção que claramente trata de prostituição tem algo da perversa morbidez do Portishead nos toques fortes mas exaustos da bateria e na presença distante de uma guitarra que vibra em acordes soturnos e arrepiantes – o piano e as sintetizações também contribuem para a construção desta atmosfera, mas o fazem ao modo da cantora. Já “Flavor” resgata toda a beleza de baladas compostas em discos como To Venus and Back: há reminescências de “Lust” na programação que é base da canção, bem como no vocal distante e difuso e nos toques suaves e esparsos no piano – há alguns discos que não se via uma balada tão perfeita da cantora, que extrai tanta força e emoção de uma melodia tão simples. A faixa-título do álbum também se apóia sem medo na programação eletrônica, e o faz muito bem: banhada por uma hemorragia ocasional de acordes de guitarra e vocais etéreos no refrão, o conjunto de sintetizações que preenche o fundo da canção com a bateria hipnótica cria uma música sensual e sedutora como um ritual ocultista. “Curtain Call” é outra que evoca o clima nebuloso do álbum duplo de Tori lançado em 1999: as notas suaves, curtas e contínuas no piano, a reverberação dos toques da bateria, a ambiência dos acordes da guitarra e o vocal algo arrastado concedem a melodia triste o mesmo sabor elétrico de “Bliss”.
Algumas faixas específicas deste novo disco trazem uma Tori Amos que se aventura a fugir de suas próprias convenções mergulhando em uma certa formalidade melódica, seja lidando tão somente com seu velho e admirável piano Bösendorfer ou colocando-o na penumbra para trabalhar com instrumentação mais farta. No primeiro caso, “Mary Jane”, revela-se absolutamente encantadora devido ao incomum rigor tradicional de seus acordes no piano, ainda que esta melodia seja pontuada por pausas e desvios tão emblemáticos no repertório da cantora americana. Os versos, porém, não enganariam seus fãs: a dramatização do diálogo entre uma mãe e seu filho adolescente sobre o efeito que Mary Jane tem na vida do garoto se mantém fiel ao estilo de composição da cantora até mesmo pelo simbolismo da personagem que nomeia a canção. Já “That Guy” responde ao segundo caso com sua melodia idílica congestionada de orquestrações, cuja teatralidade mostra imediato parentesco com trilhas de musicais. Nas letras, Tori dá voz ao inconformismo de uma mulher que confessa não compreender como um homem que lhe dá tanto amor e conforto na cama possa perder todo seu encanto quando está fora dela.
Mas ainda não foi desta vez – e sabe lá se isso voltará a acontecer – que Tori Amos conseguiu transgredir a condição da sua própria musicalidade e voltar a surpreender com um disco que não sofra engasgos nem contenha vácuos criativos, sendo apenas pontuado por momentos fascinantes. Alguns dizem que isso é culpa de sua rotina de mulher realizada e feliz, mas eu não afirmaria isso com tanta segurança. De qualquer modo, já que ela há algum tempo adora incorporar personagens e não parece que vá mudar de estratégia tão cedo, esse poderia ser um meio de encontrar novamente a química da sonoridade esquecida.

rapidshare.com/files/236451633/amos_-_abnormally.zip

senha: seteventos.org

2 Comments

Prévia: “Do Começo ao Fim”, de Aluízio Abranches.

Do Começo ao FimAo ter sido informado do vazamento na internet do promo de cerca de 4 minutos do seu filme “Do Começo ao Fim”, que nem teve finalizada sua pós-produção e sequer tem qualquer data de lançamento confirmada, o diretor Aluízio Abranches pensou imediatamente em tomar medidas para retirá-lo do ar. Mas, ao verificar que em pouquíssimo tempo o vídeo se multiplicava em mais e mais páginas no YouTube o diretor se deu conta do óbvio – não há como lutar contra o poder de compartilhamento da rede – e entendeu que até poderia sair ganhando com o episódio. Primeiro, porque o vídeo está servindo para divulgação do filme, provocando o famoso boca-a-boca que atiça a curiosidade do público. Segundo, porque a discussão razoavelmente acalorada nas páginas que detém os vídeos do filme já lhe serve de prévia para que ele tenha uma idéia antecipada da inevitável polêmica que seu longa-metragem vai gerar quando do seu lançamento. Polêmica esta que só não vai ganhar espaço em veículos mais tradicionais, famosos e populares da imprensa brasileira por conta do teor de sua história: um romance entre dois rapazes que são irmãos – na verdade, meio-irmãos, pois segundo a sinopse do roteiro eles são filhos apenas da mesma mãe, interpretada por Julia Lemmertz, atriz cara ao diretor Aluízio.
Sim, o filme fala declaradamente de um amor incestuoso, que nasce na infância como uma ligação de imensa proximidade, apoio e carinho entre os irmãos Francisco e Tomás e se concretiza como relação amorosa na vida adulta e, portanto, não há como não dizer que o diretor pegou um pouco pesado – palavras de Lucas Cotrim, o próprio ator que interpreta Francisco com 11 anos de idade. Claro que a idéia enormemente controversa de ousar lidar com dilemas morais tão sedimentados gerou dificuldades para achar financiamento adicional, além daquele que o diretor já dispunha. Idéias para suavizar ou subverter a essência da história não faltaram: houve quem sugerisse trocar os irmãos por primos e até quem dissesse que topava financiar se Abranches colocasse duas irmãs ao invés de irmãos (o que não é de causar surpresa, visto que parte da idéia tem relação com o fetiche heterossexual masculino mais emblemático, o do lesbianismo, que recebe tratamento mais “naturalizante” do que aquele arquitetado por Abranches), mas o diretor brasileiro foi insistente e conseguiu ajuda financeira de dois empresários que, obviamente, exigiram total anonimato.
No entanto, após sentenciar o peso da história da qual participa, o garoto Lucas procurou emendar um elogio, afirmando que a história do filme é “muito maneira”. O elogio deve se referir, no caso, ao que aparenta ser a cautela do diretor na abordagem do tema: segundo declarações em entrevistas, Abranches procurou cercar-se de cuidados com o tratamento da história – cuidados que incluíram uma visita ao analista após o primeiro dia de filmagem – durante os quatro anos de gestação da idéia para que tivesse a certeza de lidar bem com ela, livrando-a de quaisquer excessos, particularmente os advindos de sentimentos de culpa. E, provavelmente, este é o elemento mais intrigante adicionado a história: o modo como a família dois dois irmãos reage ao perceber, na infância, a proximidade excessiva de ambos. A surpresa e o choque existem, mas a plácida compreensão complacente parece acompanhar toda a experiência da percepção da relação dos dois meninos e aparentemente suplanta qualquer possibilidade de recriminação. E por essa razão é que o promo do longa-metragem adianta que a relação entre os dois irmãos adultos se realiza sem muitos impedimentos de ordem moral.
Por sinal, a forma tão explícita como Abranches ilustra esta relação, colocando os dois atores escolhidos – o estonteante moreno João Gabriel de Vasconcellos como Francisco e o belo loiro Rafael Cardoso como Thomás – abusando de trocas de carícias e de demonstrações de paixão escancarada, configura sua abordagem como duplamente audaciosa: primeiro, por que talvez esse seja o longa-metragem brasileiro que melhor ilustra até hoje, sem pudores e com toda franqueza, uma relação entre dois homens; segundo, por expor a gênese, florescimento e consumação de uma relação incestuosa. E o diretor explora tanto esta atmosfera de erotismo entre os atores que preparou uma espécie de ensaio com os dois rapazes só de cueca e repleto de beijos apaixonados, chamegos e algumas sequências de “pega” bem ousadas para adiantar o retrato, por ele pintado, da intimidade dos dois personagens – semelhanças deste ensaio com teasers das produtoras do pornô gayforpay-me-engana-que-eu-gosto não me parecem só uma coincidência (a única diferença é a canção escolhida, que deixa o “ensaio” um tanto cafona…a música que serve de trilha para o promo, que segue a escola de Michael Nyman e Philip Glass, é radicalmente mais bela e interessante).
É bom lembrar que estas são apenas impressões apreendidas de um curta que resume o longa-metragem em 4 minutos e de informações divulgadas em artigos e entrevistas. As coisas podem, na verdade, ser consideravelmente diferentes na integralidade do filme de Abranches. Porém, mesmo que tudo não seja exatamente tão polêmico quanto parece – o que acho difícil de ser verdade -, se um punhado de cenas já gera tamanha reflexão e ocasiona discussões intermitentes por onde quer que elas passem, não é difícil prever que, ao menos, “Do Começo ao Fim” tem quase garantido o sucesso que fará na esfera cult do cinema – e não apenas do cinema brasileiro.
Para assistir ou fazer download do promo/trailer ou do ensaio com os dois atores, use os links abaixo.

(Agradeço ao sempre atento Pelvini pela dica do promo do filme.)

“Do Começo ao Fim” – promo: Youtube (assista)download
“ensaio” com os atores João Gabriel e Rafael Cardoso: Youtube (assista)download

11 Comments

“Odete”, de João Pedro Rodrigues. [download: filme]

OdeteOdete, após expulsar o namorado que se recusou a ceder aos seus ímpetos súbitos de casar-se e ser mãe, desenvolve uma obsessão por Pedro, vizinho recentemente falecido que ela jamais conheceu, dizendo-se grávida dele. Isto torna-se mais uma perturbação para Rui, o namorado do jovem morto, que já vive o drama de não esquecer Pedro.
Em “O Fantasma”, João Pedro Rodrigues causou certo choque por lidar com facetas um pouco obscuras – quando não um tanto bizarras e doentias – do sexo e do amor platônico ao utilizar-se de personagens com nível considerável de desajuste social, afetivo e psicológico. Em “Odete”, seu filme de 2005, o diretor volta a explorar estas idéias, mas desta vez o que era desconcertante em seu mais famoso filme torna-se irritante e ridículo na seu último longa metragem lançado.
Nele, o elemento que vai desmoronando aos poucos e arruinando os alicerces do roteiro é a composição dos personagens – em particular o que dá título ao filme. A perda de sensatez, que logo torna-se perda de noção da realidade e mais tarde transmuta-se em troca de identidade simplesmente não funciona – não exatamente por culpa da atuação de Ana Cristina de Oliveira, que também não é de muita ajuda, mas especialmente por culpa do desenvolvimento do personagem pelo diretor-roteirista e seu companheiro de script, Paulo Rebelo. O trabalho feito por ambos nos desdobramentos da personalidade e comportamento de Odete não apenas não convence como, a medida que o filme avança, vai irritando mais e mais o espectador e tornando-se comicamente inverossímil: o que no início, quando a personagem é apresentada, se anunciou como inveja logo é suplantado por obsessão e pouco depois conjugado com estados de perturbação física e psicológica de diferentes naturezas – é coisa demais para tão pouco tempo e ainda menos personagem. Essa composição confusa e muito pouco convincente acaba por contagiar, a certa altura, o outro personagem que poderia salvar a trama: Rui, o namorado do rapaz morto. Se a dor de Rui, que o leva à entregar-se à casualidades sexuais algo levianas para esquecer o amor perdido para sempre, é sincera e comovente por boa parte do filme, ao desenvolver contato com Odete torna-se inexplicável e inacreditavelmente infectada pela mesma inverossimilhança grotesca dela. E a partir daí o filme mergulha em um oceano de insensatez narrativa tão farsesco que culmina em uma cena final das mais estridentemente ridículas que já vi em toda minha vida assistindo filmes – a sequência acaba até tornando-se parcialmente previsível a partir da parte final do longa, quando a crise de identidade de Odete se inicia, mas você acaba assistindo o fillme até o fim para se certificar, em vão, de que o diretor não seria desmiolado o suficiente para conceber algo tão patético.
Não é difícil para o público notar que a intenção de João Pedro Rodrigues com seus personagens e seu filme era desenhar um compêndio da carência e dependência mais obsessivas e nocivas, porém, ele é que deveria ter se dado conta de que esse trabalho não é feito de qualquer maneira: mesmo ao tratar de estados alterados de comportamento, a lógica deve ser preservada no desenrolar da composição dos personagens no roteiro – do contrário, como aconteceu no seu “Odete”, o choque pretendido nas sequências planejadas pelo diretor só ocorre pelo seu imenso teor de ridículo.
Baixe o filme utilizando os links a seguir e a legenda proposta.

rapidshare.com/files/164150006/OTDrif.part1.rar
rapidshare.com/files/164150122/OTDrif.part2.rar
rapidshare.com/files/164150316/OTDrif.part3.rar
rapidshare.com/files/164153881/OTDrif.part4.rar
rapidshare.com/files/164153979/OTDrif.part5.rar
rapidshare.com/files/164155224/OTDrif.part6.rar
rapidshare.com/files/164155373/OTDrif.part7.rar
rapidshare.com/files/164155542/OTDrif.part8.rar

senha: otd

2 Comments

Metric – Fantasies (+ 2 versões acústicas e 2 faixas bônus). [download: mp3]

Metric - FantasiesTendo despertada em si a necessidade de viver uma experiência de anonimato e deslocamento, e portanto de uma descoberta solitária de um ambiente novo, desconhecido, Emily Haines, cantora e compositora canadense, vocalista da banda Metric, escolheu Buenos Aires como cenário desta experiência. Sem qualquer menção de drama, Emily declarou que precisava entender o estado atual de sua vida, além do desejo de afastar-se dos polos internacionais do rock/pop para isolar-se de qualquer possível influência no trabalho de composição que por ventura viesse a desenvolver. Depois de ter conferido o que foi feito pela canadense e sua banda em Fantasies, seu novo disco, posso dizer que a capital da Argentina foi o refúgio certeiro para Emily.
O primeiro contato com o que foi desenvolvido no disco foi a faixa “Help, I’m Alive”, single que surgiu na internet no fim do ano passado e teve sua versão acústica liberada no site oficial cerca de um mês depois. A versão produzida para o álbum inicia com um beat sujo com compasso acompanhado por uma bateria de ritmo bem marcado e guitarras que insuflam a melodia com sua sonoridade maciça e acachapante, deixando no ar um ultimato delirantemente dançante. A versão acústica, delicadamente produzida apenas com piano e violão, deixa de lado a urgência sonora e prioriza as letras onde Emily transmite seu estado de ansiedade e temor absolutos, com um “coração que bate como um martelo” e um “pulso que corre como um trem desgovernado”. A faixa atiçou a curiosodade dos fãs e deixou em todos a sensação de que nesse novo disco a banda estaria superando seus limites mesmo depois de um belo trabalho como Live It Out. E não precisamos esperar muito para tirar a prova disso – no início de Março o tão aguardado disco caiu na rede e eu, como todos os fãs de Emily e do Metric, fui intoxicado pelo álbum.
No meu caso particular, Fantasies cresceu lentamente, ao longo de cerca de um mês, infiltrando-se sorrateiramente em meus ouvidos. “Satellite Mind” foi a grande responsável pelo acontecido: a faixa, com beat deliciosamente pegajoso ao fundo, delineado no refrão por riffs incandescentes de guitarra, bateria de cadência rompante, pontuais eletronismos luminosos e um vocal empolgante, viciou tanto os meus sentidos que não consegui dar a devida atenção ao restante do disco por dias e dias seguidos. Curiosamente, foi outra faixa, “Gimme Sympathy”, que suavizou o efeito narcotizante de “Satellite Mind” e libertou as demais músicas, assim como ela própria, do exílio por mim estabelecido à elas: ao assistir ao clipe da canção (veja texto sobre ele logo abaixo) me vi apaixonado pelo modo como guitarra, bateria, baixo e vocal se harmonizam e crescem até o completo amálgama no refrão, que aparentemente fala sobre o que a banda aspiraria para o seu futuro: a efêmera mas retumbante passagem dos Beatles ou o intenso brilho que se apaga aos poucos dos insistentes Rolling Stones? O fascínio despertado por estes versos deu partida no disco e me fez olhar com atenção outras faixas. Nessa busca, a canção que decreta que o amor pode tornar-se uma doença que aprisiona e impede de conduzir sua vida foi a que revelou suas qualidades logo em seguida: “Sick Muse” dispara com uma junção escandalosamente swingada de riffs de guitarra e groove de bateria que juntos com o vocal insolente de Emily evocam uma atmosfera envenenante para os sentidos. A melodia de “Blindness”, com guitarras e sintetizadores que escalam aos poucos os degraus de uma melodia depressiva para um entreato sonoro insurgente conduzido pela bateria de golpes fortes também exigiu seu espaço, e foram seus versos que serviram de garantia para tanto: para transmitir a idéia de alguém que em meio a sua falta de rumo luta para encontrar um caminho, mesmo que não saiba para onde ele irá o levar, Emily Haines pôs em prática suas habilidades como letrista e teceu uma analogia com os sobreviventes de um desastre que esperam por ajuda, construindo um texto intenso em imagens e símbolos. Magníficas também são as letras da faixa bônus de Fantasies, “Waves”, em que Emily incorpora um marinheiro que declara sua paixão por tudo o que vive em sua vida nômade, tão intensa e arrebatadora quando a melodia ao mesmo tempo ligeira, doce e radiante das guitarras, bateria e vocais. “Stadium Love”, que fecha o disco, foi das últimas a enfileirar-se entre as minhas preferidas do novo disco: a integração entre os acordes espessos de guitarra, bateria, baixo, sintetizador e vocal resulta em uma música densa e atordoante que ajusta-se inteiramente as letras que tratam de duelos entre todos os animais do mundo em uma arena ocupada por pessoas que se rendem ao combate também na platéia. É a faixa que melhor resume, tanto em versos, com esta alegoria violenta, quanto em melodia, com sua atmosfera sufocante, o frenesi alucinante que permeia a maioria das canções deste novo álbum que nasceu após uma ausência considerável da banda para recarregar suas energias, liquidando seu esgotamento e seus receios e um álbum de sonoridade vigorosa e eletrizante e versos primorosos e francos.

senha: seteventos

ifile.it/p5gsqx8/metro_-_fant.zip

9 Comments