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Nick Cave and the Bad Seeds – “Fifteen Feet Of Pure White Snow” (dir. John Hillcoat) . [download: vídeo]

Fifteen Feet Of Pure White SnowAprenda a ser chique, cool e elegante sem perder um décimo de personalidade undergound com o rei do “indie”, Nick Cave. Clipe do single “15 feet of pure white snow”, o vídeo traz uma festa, sonorizada pela música cheia de charme da banda, repleta de gente esquisita, doidona, nerd, chapada e trêbada. A julgar pelo jeito que todos dançam e se comportam no vídeo, você pode ter certeza que todos juram terem saído diretamente de um filme qualquer de Quentin Taratino ou Hal Hartley, a começar pelo próprio Nick Cave, mais estranho do que o Padre Quevedo e o Padre Pinto juntos. Baixe o vídeo pelo link a seguir.

http://www.factoryfilms.net/films/quicktimes/Nick_Cave_15ft_of_pure_white_snow.mov

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Humor: Natalie Imbruglia – “Torn” (mímica). [download: vídeo]

TornDivertidíssima performance de um comediante fazendo uma adaptação, muitíssimo livre, do hit “Torn”, da cantora australiana Natalie Imbruglia. É hilariante principalmente a cara de sério que ele faz em alguns momentos da apresentação e a maneira literal ou figurativa da adaptação de letras para gestos. E a escolha da canção foi mesmo perfeita, já que o cover “Torn” foi um sucesso arrasador, quando do seu lançamento, em 1998 – não por acaso, pois a regravação feita por Natalie é um pop deliciosamente inesquecível, responsável pelo lançamento da carreira da cantora. Não deixe de baixar o vídeo pelo link abaixo.

http://rapidshare.de/files/3759598/Karaoke_For_The_Deaf.wmv.html

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“A Profecia”, de John Moore.

The OmenDiplomata americano radicado em Roma, afilhado do presidente americano, descobre que seu filho morreu ao nascer, e decide aceitar a proposta de adotar um bebê que nasceu no mesmo instante que o seu, fazendo-o sem, no entanto, revelar o fato á sua esposa. É quando a criança atinge os cinco anos de idade que o então embaixadaro americano em Londres descobre que seu filho é destinado a mudar o mundo radicalmente, e para pior.
Ninguém segura a sede insana de regravações de Hollywwod, sendo o clássico “A Profecia” de Richard Donner, a mais recente vítima. Se limitarmos a análiser ao filme de John Moore o desastre não chega a se revelar em sua plenitude. Trata-se de um longa que investe no terror tradicional, procurando construir o horror e suspense a partir de seu argumento, e não através dos efeitos especiais pontuais que utiliza. O elenco é não consegue despertar a empatia necessária e a trilha sonora resume-se ao lugar comum das músicas de filmes de suspense, sem demonstrar vida própria. Ao fim, temos um filme de suspense baseado em idéia primorosa, mas que realiza-se como filme de terror fraco, sem nem mesmo despertar qualquer sensação próxima do medo ou ansiedade.
Porém, se basearmos a crítica comparando as versões, a tentativa de contemporaneizar a estória se mostra ridícula. O competente elenco do filme clássico foi substituído por equivalentes sem qualquer peso – e digo isso mesmo nutrindo alguma simpatia por Liev Schreiber e Mia Farrow. O garoto que interpreta o Anticristo infante tem realmente um bom desempenho no seu papel, conseguindo demonstrar algo de demoníaco na sua expressão. No entanto, este que seria o maior trunfo do filme, acaba revelando-se um grande equívoco, se comparado ao desempenho ingênuo e naturalmente infantil do menino que ganhou este papel no clássico de 1976. A razão é muito clara para qualquer um que acompanhou a série original: faz todo o sentido que, aos cinco anos de idade, o antiscristo se mostre uma criança ingênua como outra qualquer – ainda que algo estranha -, já que, na excelente sequência de 1978, o então adolescente Damien passa por um momento de conflito e não-aceitação de seu destino, ao descobrir que é o enviado de Satanás. Desta forma, se os produtores do Hollywood seguirem a péssima idéia de regravar toda a série, o comportamento do jovem anticristo no segundo filme já não fará sentido, diante do comportamento que apresentou quando criança, nesta nova versão de 2006. Isto configurou-se como seu maior defeito, ao lado do traço mais medíocre do longa-metragem: a trilha sonora. Diante do esplendor demoníaco da melodia de Jerry Goldsmith – veja o post abaixo – e sua bacanal de corais gregorianos diabólicos, acompanhados de orquestração usurpante, a trilha criada por Marco Beltrami para o “novo” filme parece brincadeira de mau gosto: é uma música tacanha, tímida e atrofiada, que não consegue, nem de longe, despertar o medo e ansiedade que a trilha original explorava no público, em conjunto com as cenas que acompanhava. A readaptação do roteiro, feita pelo próprio David Seltzer, mentor da idéia original, mostrou-se bastante fiel ao tomar algumas liberdades sutis, modificando levemente algumas sequências ou criando outras, o que não contribui em absolutamente nada para um maior clima de suspense, visto que os outros aspectos negativos do filme já o compremetem.
“A Profecia” de 1976 é verdadeiramente profano, com uma atmosfera de terror e suspense densa que atinge os temores da platéia. “A Profecia” de 2006 é pueril, com uma direção que se esmerou tanto em não querer repetir o filme original que acabou também, assim, desprezando tudo aquilo que, em conjunto, fazia a qualidade do longa-metragem clássico, resultando em um filme inofensivo e desatento. Concluindo, o filme de John Moore comporta-se da maneira que todos imaginavam, ensaiando ousadias na adaptação que só servem para lembrar o quanto o longa original, idealizado por Richard Donner, é charmoso e deslumbrante. Foi uma tentativa inútil, já que nada que fosse feito diante de referências tão fortes, como as do filme de 1976, teria qualquer possibilidade de superá-las.

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Jerry Goldsmith – The Omen (1976). [download: mp3]

Jerry Goldsmith - The OmenJerry Goldsmith compôs a música de filmes que marcaram o cinema: criou, entre inúmeros outros filmes, as trilhas de “Jornada nas Estrelas”, “Alien”, “Poltergeist”, “Chinatown” e “Planeta dos macacos”. No entanto, é a sua trilha para o clássico “A Profecia”, de 1976, que fez história e definiu para sempre um paradigma para trilhas de filmes de horror. Quer provas? Quantos filmes de terror, sejam superproduções ou filmes assumidamente “B”, que se utilizam de coros em um cantar profundo e grave entoando melodias mórbidas? Dezenas, eu poderia afirmar. Porém, a fonte original da idéia foi do senhor Jerry Goldsmith, falecido em 2004.
Ninguém até hoje saberia dizer como Goldsmith teve a genial idéia de colocar um coro, de inspirações nitidamente sacras, cantando, em latim, versos de adoração ao demônio. Mas todos sabem admitir que o resultado de seu trabalho para o filme é nada menos que uma obra-prima irretocável. O deslumbramento ao ter contato com a profana música do filme é tamanho, que a academia do Oscar simplesmente ignorou a única música “normal” da trilha, “The Piper Dreams” – uma canção romântica e florida, bem ao estilo das músicas enfileiradas até hoje para o prêmio de “Melhor canção” – e indicou “Ave Satani”, o glorioso hino à Satanás que abre o disco e é a base de todos os outros temas musicais desenvolvidos no filme. A canção acabou não ganhando, mas ficou para a história como a indicação para melhor canção menos ortodoxa da academia até hoje. Porém, a justiça ainda foi feita na mesma cerimônia com a premiação, na categoria Melhor Trilha Sonora, para a trilha diabólica de Goldsmith.
A música do filme não é realmente para todos – se você se deixa levar por purismos religiosos ou se assusta com facilidade, não a ouça, ao menos não à noite. Quem não sofre com tabus do tipo pode aproveitar todo o esplendor da trilha. “Ave Satani”, a “prece” que é o tema principal do filme, é o coração deste trabalho de composição de Goldsmith, e introduz a atmosfera diabólica do álbum. Em versos que homenageiam o diabo, o coro surge em sua primeira participação, entoando um cantar diabólico e funesto com orquestração pomposa. Em “Killer’s Storm” o coro acompanha a melodia que se inicia de forma lenta, para repentinamente devassar a canção em uma virada delirante, com direito à violinos rascantes e metais que ampliam a ansiedade da melodia – e com conclusão não menos épica. “The Demise of Mrs. Baylock” já inicia sem poupar o ouvinte, em uma orgia infernal de coros, cordas, percussão, metais e todo um arranjo orquestral diversificado. É aqui que o coral criado para o filme demonstra toda a sua glória diabólica, abusando de seu poderio e explorando o suspense até com uma sequência de sussuros sibilantes – é de arrepiar. “The Fall” ludibria os ouvidos, já que ensaia levemente o tema romântico do filme, para logo suplantá-lo diante da força da sonoridade maléfica do coro. Já em “The Dog’s Attack” o coro começa de maneira algo tímida e pontual, com sutis momentos religiosos, e transpõe a harmonia para o fatalismo e suspense recorrentes na música do filme – com direito a pequenos acordes sinistros de piano. E em “The Altar”, música que que fecha o disco, temos uma variação melódica de “Ave Satani” que mistura temas desenvolidos por todas as canções da trilha para concluir o trabalho em tom vitorioso – e não exatamente celebrando a vitória do bem sobre o mal.
Porém, há espaço para harmonias mais tranquilas na trilha sonora de “A Profecia”. “The New Ambassador”, por exemplo, é o tema romântico do filme, com orquestração farta e bela, e que por vezes tem suas principais nuances introduzidas em meio as sonoridades sinistras preponderantes, como vemos em “A sad message” e “Don’t let him”. “The Pipers Dream”, a única canção com letras em inglês, é praticamente uma versão cantada de “The New Ambassador”, e apesar de ser apenas uma canção tradicional perdida em meio aos cantares infernais, tem bela melodia e letras.
Primorosa e definitiva, a trilha que Jerry Goldsmith criou é eternamente insuperável, deixando pelo caminho trilhas-irmãs que se utilizaram de seu achado, algumas até mesmo sucedendo em trabalhos bastante interessantes – como a trilha composta por Wojciech Kilar para o “Drácula” de Francis Ford Copolla, que antropofagicamente se utilizou da criação de Golsdmith para definir um estilo próprio. É por seu valor histórico e qualitativo incontestáveis que qualquer amante da sétima arte estaria vendendo a alma para o diabo – desculpem, não pude evitar o trocadilho – para colocar as mãos neste disco. E é em nome de todos estes que eu fiz questão de ripar meu próprio CD original da trilha de “A profecia” e colocar na internet. Não percam tempo e bom proveito!

1: http://rapidshare.de/files/22662274/the_omen_1976_jerry_goldsmith_1.zip.html

2: http://rapidshare.de/files/22663681/the_omen_1976_jerry_goldsmith_2.zip.html

senha: seteventos.org

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Fiona Apple – “O’ Sailor” (dir. Floria Sigismondi). [vídeo]

Fiona Apple - O'SailorA beleza nostálgica da melodia de “O’Sailor” foi muito bem adaptada pela diretora Floria Sigismondi no vídeo da canção, onde vemos uma belíssima Fiona, trajando um longo com cara de festa, perambulando com lentidão e elegância por um navio cujos tripulantes, de aparência mortificada, apresentam um balé estranhamente sombrio. O objetivo da diretora e da cantora fica claro: estamos vendo um musical de almas penadas, encenado em um navio fantasma. Vídeo impecável, que reapresenta a cantora para os fãs – depois de anos de ausência – trazendo de brinde uma coreografia, fotografia e tomadas primorosas e uma cenografia muito bem composta.

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The Boy / Junho 2006: Rafael Lazzini [fotos]

rafael-lazzini-theboy-homens

E ganhamos mais um The Boy insosso para a lista, que já se apresenta grande, de modelos que posaram para o site. Rafael Lazzini é, a meu ver, daqueles homens bonitos que servem exatamente para o que se propõem: ser modelos. O site de ensaios do Terra está, nos últimos meses, insistindo com frequência no tipo fashion que é bonito mas não convence, em detrimento de um homem com a beleza viril que realmente desperta a libido – o olhar doce e distante, o corpo excessivamente torneado, o cabelo visivelmente trabalhado, tudo nos leva a admirar sua beleza sem qualquer ímpeto de desejo – ao menos isso é o que eu sinto. Não estou com isso dizendo que ele não seja bonito, apenas dizendo que seu beleza é sexualmente inofensiva. Para mim, malícia é um ingrediente necessário para a concretização do apelo sexual. As fotos são de Cristiano Madureira.

Clique neste link para conferir todo o ensaio do site The Boy com o modelo Rafael Lazzini.

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“Amém”, de Costa-Gavras.

AménNo advento da Segunda-Guerra Mundial, especialista em substâncias químicas para limpeza e tratamento da água é contactado e incluído na força nazista da SS. De fé católica, ao descobrir o uso que os oficiais nazistas fazem de seus conhecimentos em química, o agora agente do império ariano tenta advertir a igreja sobre o extermínio de judeus e acaba recebendo a ajuda de um padre com contatos no alto escalão da organização do Vaticano.
Costa-Gravas é conhecido pelos seus projetos polêmicos, e este filme não foge à regra. A produção francesa é contundente e ousada ao retratar a tolerância de grande parte do clero e da administração da igreja católica romana aos atos da “solução final” da Alemanha nazista – o filme chega a sugerir, na sua sequência inicial, a participação de algumas instituições relacionadas ao Vaticano no extermínio de inválidos internados para tratamento. Diretor cujo cinema é politizado e engajado, Costa-Gavras revela o cinismo do Vaticano em refutar a existência dos campos de extermínio e o temor do alto clero devido as implicações políticas no advento do envolvimento da instituição religiosa no conflito, já que a eventual vitória da investida Nazista no território da União Sovitética interessava ao Vaticano. Além disso, a hipocrisia da igreja diante dos atos perpretados pelos alemães nazistas contra judeus, mesmo dentro de território italiano, também é exposta no filme.
Os protagonistas Ulrich Tukur, como o oficial Gerstein, e Mathieu Kassovitz, como o padre Riccardo Fontana, esbanjam excelente performance nos seus papéis – não há como não se compadecer da dor do oficial da SS, que arriscou-se o quanto pode para tentar intervir nos planos de extermínio nazistas, e do martírio do padre católico, que via, pouco a pouco, a instituição em que tanto acreditava definhar diante do comodismo político.
É importante ressaltar que muitos encontrarão semelhanças entre “Amén” e “A lista de Schindler”, do diretor americano – de origem judia – Steven Spielberg. Isso não é por acaso, já que seus argumentos retratam, igualmente, alemães em conflito com os atos da ditadura de Hitler. No entanto, a abordagem de cada um dos filmes difere bastante: enquanto Spielberg se esbalda em utilizar-se de sequências que retratam os requintes de crueldade da violência do regime nazista contra aqueles que perseguia, Costa-Gravas é muito menos gratuito na proposta de seu filme, evitando cair na exploração visual do genocídio, já que compreende que, no seu cinema, a sugestão dos atos perpretados pelos homens de Hitler é suficiente e bem mais eficiente do que a exposição destes. Um bom exemplo disto são as recorrentes sequências em que locomotivas com inúmeros vagões – por vezes com as portas abertas, em outras com estas fechadas – percorrem trilhos por campos tranquilos: ao assisitir o filme sabe-se que a placidez do ambiente exterior – estonteantemente retratado pela fotografia de Patrick Blossier – contrasta violentamente com o temor da realidade do que estaria no interior dos vagões. A trilha sonora também contribui muito para o tom realista do longa-metragem, já que foi composta e conduzida com a supressão de qualquer grandiloquência sonora, que só faria atrapalhar a sobriedade do filme e ofuscar o trabalho excepcional dos atores.
Ignorado massivamente pela mídia quando do seu lançamento, em 2002, “Amén.” está entre a leva recente de filmes que conseguem reutilizar a temática do nazismo e do Holocausto abordando facetas ainda não exploradas pela maioria dos filmes produzidos até hoje, e que só com o devido distanciamento podem ser analisadas de forma adequada – construindo uma narrativa poderosa sem ser apelativa, evitando o sentimentalismo excessivo e ufanismo que os filmes americanos costumam apresentar ao tratar do tema, por exemplo. Depois de deixar-se tomar pela catarse de filmes como “A lista de Schindler” e “O pianista” é sempre bom acalmar os sentidos e promover uma reflexão daquilo que foi visto, explorando uma visão mais abrangente e distanciada sobre a complexidade do conflito – reflexão esta que é bastante facilitada pela sobriedade de filmes como o de Costa-Gavras.

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Michael Nyman – Prospero’s Books & Royal Philarmonic Collection. [download: mp3]

Michael Nyman - Prospero's Books e Royal Philarmonic CollectionHá dois diferentes grupos de compositores que trabalham concebendo trilhas sonoras. O primeiro deles é composto por músicos que arquitetam peças que servem tão somente como fundo à ação e à imagem desenvolvida no longa-metragem. O segundo grupo é feito de músicos que superam esta limitação, compondo peças musicais que conseguem servir ao propósito a que se destinam mas que sobrevivem à audições isoladas de seus filmes, muitas vezes ganhando vida absolutamente independente destes. Não é difícil de compreender esta característica da obra destes artistas – as trilhas sonoras, hoje, tomaram de assalto a popularidade que outrora pertenceu às composições clássicas, cujas obras contemporâneas circunscrevem seu conhecimento quase que tão somente aos especialistas do assunto. E isto deve-se, em grande parte, à este segundo grupo de compositores – muitas vezes também autores de obras clássicas/eruditas -, que tem como integrantes os músicos Zbigniew Preisner, Philip Glass e Ryuichi Sakamoto.
O britânico Michael Nyman é um dos expoentes deste grupo. Sua trilha sonora da obra-prima absoluta do cineasta britânico Peter Greenaway, “A Última Tempestade”, configura-se inteiramente neste grupo de obras. O filme encontrou sincronicidade sublime com a música do compositor Michael Nyman, habitual colaborador do cineasta, mas também conhecido pela música irretocável que compôs para filmes como “O Piano”, “Fim de Caso” e “Gattaca”. A trilha feita para o filme de Greenaway é complexisíssima, e passeia com desenvoltura por momentos de bizarrice sonora e romantismo como quem faz um “tour” do Museu de Arte contemporânea mais aguerrido ao parque arborizado e primaveril. Músicas como “Prospero’s Curse”, “History of Sycorax” e “Caliban’s Pit”, tem metais que se sobressaem em tom de urgência, com sopros breves e graves que formam temas que se repetem na melodia da música. A concepção idiossincrática destas peças sonoras servem de motivo àqueles que afirmam ser Nyman um dos representantes da música minimalista. É bem verdade que o compositor utilize-se deste recurso estilístico ao compor a melodia de alguns trechos de sua obra, mas este traço é bem mais sutil e bem menos ambicioso do que a forma como isso é explorado por Philip Glass, por exemplo – o grande representante da música minimalista nas trilhas sonoras. No entanto, apesar da beleza idílica de tais momentos da obra de Nyman, sua genialidade se sobressai mesmo na exploração da veia romântica e algo renascentista de suas composições. “Prospero’s Magic” e “Cornfield” são dois grandes exemplos da imensa beleza deste tipo de composição do músico – a primeira trazendo cordas, metais e demais instrumentos complementando-se, construindo uma melodia imponentemente regencial; a segunda desenvolvendo um explêndido tema romântico, que cresce vagarosamente e invade furtivamente os sentidos do ouvinte.
Complexo como qualquer artista que se preze, algumas das composições de Nyman para este filme de Greenaway ainda guardam algo de operístico, como podemos conferir nas faixas “Full Fathom Five”, “While you here do snoring lie”, “Where the bee sucks”, “Come unto these yellow sands” e “The Masque”: as três primeiras adornam os versos cantados pelo garoto soprano com uma orquestração sutil e reduzida; a quarta peça apresenta tom pomposo e mais notadamente derivado do estilo operístico; e a última conclui com eloqüente e variada harmonia, por vezes modificada por curvas sonoras bruscas.
No ano 2000, a Real Filarmônica Inglesa, entre tantos outros compositores regravados por ela, lançou um disco em que reinterpreta algumas peças de Nyman, entre elas algumas que compõe a trilha de “Prospero’s Books”. E é impressionante a forma como a Filârmônica concebeu um novo arranjo à canção “Cornfield” ressaltando sua beleza romântica e iluminando ainda mais sua harmonia extraordinária – impossível terminar uma audição desta versão da música sem lágrimas nos olhos e arrepios pelos corpo. Além de ter rearranjado alguns temas do filme baseado na peça de William Shakespeare – que ganham uma interpretação mais refletida, já que trabalhados por toda uma orquestra -, a Filarmônica refez outras composições famosas de Nyman, como os 4 movimentos do “The Piano Concert”, derivados da trilha do filme de Jane Campion – que foram retrabalhados anteriormente, como um concerto, pelo próprio Nyman – e ainda duas peças de outros dois filmes diferentes de Peter Greenaway; uma de “Zoo – Um Z e dois Zeros” e outra do clássico “O Cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante”. As composições ganham do filme “O Piano” ganham unidade sonora na interpretação da Real Filarmônica – tem continuidade e sonoridade homogênea, ainda que sejam, essencialmente, peças melodicamente diferentes. “Angelfish Decay”, mistura tons fugazes com momentos de contemplação, como em sua versão original, mas aqui acaba ganhando feições mais delicadas, devido à multiplicação de sua sonoridade por diversos intrumentos diferentes – é bom lembrar que a banda que acompanha Nyman tem um número reduzido de instrumentistas. E, por fim, “Miserere Paraphrase” simula, com violinos, a melodia que antes era cantado por um garoto soprano – preservando ainda muito de sua sombria idiossincrasia.
Barroca, romântica, renascentista, contemporânea, a música de Michael Nyman é tão complexa que consegue exibir facetas que se aproximam de diversos estilos artísticos ao mesmo tempo, com andamentos que vão do minimalista ao musicalmente opulento, superando com genialidade, arrojo e lirismo a limitação da “música de filme”, que muitos compositores conformam-se em compor. Nyman é dos poucos músicos que, ainda hoje, conseguem consolidar em seu trabalho uma mistura absolutamente homogênea de pós-modernidade e beleza clássica, conseguindo construir uma música que é um verdadeiro festival de sensibilidade, sem soar datada ou piegas – o que por si só, hoje em dia, já valeria a audição. Link para download depois da lista de faixas.

– Royal Philarmonic Collection:
parte 1: http://rapidshare.de/files/22106170/royal_michael_nyman_1.zip.html
parte 2: http://rapidshare.de/files/22108229/royal_michael_nyman_2.zip.html
parte 3: http://rapidshare.de/files/22109544/royal_michael_nyman_3.zip.html
parte 4: http://rapidshare.de/files/22110581/royal_michael_nyman_4.zip.html
senha: seteventos.org

– Prospero’s Books:
http://rapidshare.de/files/15882634/Prospero_s_Books_Soundtrack.rar

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Fiona Apple – “Across the Universe” (dir. Paul Thomas Anderson). [vídeo]

Fiona Apple - Across The Universe “Divino Maravilhoso” é o nome de uma canção de Caetano Veloso, mas bem que serve para expressar o sentimento que se tem ao terminar de assisir ao clipe da música “Across the Universe”, composta pela dupla Lennon & McCartney e regravada pela cantora Fiona Apple para a trilha sonora do filme “Pleasantville”. Ambientado em uma cafeteria que remete aos anos 60, vemos no videoclipe, ao fundo, um bando ensandecido de vândalos depredando toda lanchonete, enquanto, no primeiro plano, passeamos pela caótica encenação com a câmera constantenmente enfocada na presença constrastantemente plácida e alegre da cantora, que entoa os versos espetaculares da canção como se estivesse passeando em um bosque vasto e verdejante. Primorosamente filmado pelo ex-namorado da cantora, o cineasta Paul Thomas Anderson – que parece interessar mais como diretor de videoclipes do que de longa-metragens -, o curta consegue organizar a mistura de planos com excelência, apresentando detritos da depredação em uma verdadeira chuva ao redor da cantora e objetos sendo arremessados e quebrados na sua proximidade. Não bastasse isso, sobrou tempo para brincar com a enfocamento da cantora, girando-a de cabeça para baixo, junto com a câmera, e ainda abusar do meta-teórico, derrubando um letreiro em que se lê a expressão “The End” no fim do clipe. São coisas como estas que mostram a superioridade artística de artistas muito pouco (re)conhecidos pela maior parte do público e crítica, em vista de outros, tão celebrados, e que tão pouca relevância, na verdade, apresentam. Se você tem o azar de não conhecer a compositora americana – motivos para tanto não há, já que todos os seus álbuns estão aqui disponíveis em posts do seteventos.org – , este clipe é uma belíssima oportunidade de despertar amor imediato pela línda mulher e excelente artista que Fiona Apple é, mesmo apresentando a intepretação de uma composição que não é sua. Soberbo e obrigatório para qualquer um que se entenda como amante de música e arte.

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Pleix – “Sometimes”. [download: vídeo]

Pleix - SometimesProduzido pela Pleix, a genial companhia de curtas que já nos trouxe os cachorrinhos fashion de “Birds”, “Sometimes” é um curta abusadíssimo onde a companhia de artistas demonstra todo o seu poderio criativo: depois de alguns instantes de tomadas silenciosas de um ambiente urbano, onde um arranha-céu projeta-se na linha do horizonte, somos presenteados com a desintegração espetacular deste edifício, cujos detritos caem e levitam pelo ambiente da metrópole. Com música inspiradíssima, que guarda alguma semelhança que a soberba trilha de “2001, Uma Odisséia no espaço”, o filme é um surreal delírio digital, com momentos bastante realista, e cujo único defeito é ser, literalmente, um curta. Assista já o filme, baixando-o pelo link a seguir.

http://www.pleix.net/movies/Sometimes.mov

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