Pular para o conteúdo

Tag: cinema

“A Dama Na Água”, de M. Night Shyamalan. [download: filme]

Lady In The WaterZelador de condomínio da Philadelphia é salvo por uma mulher estranha ao quase afogar-se em uma piscina. A jovem afirma ser uma espécie de ninfa que tem a missão de revelar-se para uma pessoa em especial daquele local, ocasionando na vida desta pessoa uma mudança que afetará o futuro de inúmeras outras. Como ela está sendo ameaçada por criaturas inimigas, que tem a finalidade de não permitir que ela complete sua tarefa, o zelador terá que confiar em mais pessoas para ajudar a ninfa.
O filme tem, no seus últimos minutos, uma tomada brilhante: a cena em que a narf Story é levada pela águia gigante é camuflada pelo enquadramento da câmera, já que o ponto de vista obtido é o do fundo da piscina, revelando apenas uma vaga silhueta do acontecido sob a tremulação da água. Como esta é, ao mesmo tempo, uma das cenas mais esperadas pelo espectador e o clímax do filme, o fato de o diretor não entregar ao público o que ele vinha esperando o filme inteiro é algo realmente surpreendente.
Mas é só isso. Todo o restante do filme é um enorme painel de equívocos que, ao invés de despertar interesse e simpatia no espectador acaba mesmo gerando é frustração e irritação. O problema todo do filme reside no roteiro, de autoria do próprio produtor/diretor Shyamalan: tanto com relação ao argumento quanto ao “desenho” dos personagens o diretor pecou pelo exagero e falta de bom senso.
O equívoco que reside no argumento é fácil de perceber: partindo do mal-entendido de que em se tratando de fábula tudo é aceitável, Shyamalan delineou o argumento do filme com um estória tão estapafúrdia que, admitamos, conseguiu o feito de criar uma fábula inverossímil – e eu que pensava que isso não seria possível. A raiz do problema é que, para que os eventos nada-realistas de uma fábula se tornem concretos e passíveis de aceitação, todos eles devem estar fundamentados em razões e motivações que concatenam-se dentro dos acontecimentos ao longo do filme. E justamente isto o diretor não se deu ao trabalho de fazer, contentando-se com uma introduçãozinha com animação de bonecos de palito que tenta explicar alguma coisa mas não chega em lugar nenhum. Um segundo problema relacionado à este, que tive contato em comentários na internet, é que Shyamalan simplesmente contraria em seu filme a lógica de uma fábula: ao invés de criar uma maneira de visualmente contar a estória e a lógica dos eventos por ele criados, o diretor encheu o roteiro de diálogos que tentam se encarregar deste trabalho, tornando o filme inteiro uma sequência de conversas que, não apenas aborrecem pelo didatismo artificial mas também porque elas não satisfazem o seu pretenso propósito.
Os problemas que residem nos personagens pioram ainda mais a situação do roteiro e do argumento descabido do filme – obviamente por serem eles os agentes dos eventos da estória. Shyamalan tentou, de uma vez só, atingir vários objetivos com o “desenho” da personalidade e dos atos de seus personagens: primeiro, tentou satirizar a estrutura das fábulas, com suas figuras mais recorrentes; segundo, tentou compor um microcosmo da América contemporânea, com imigrantes que se viram como podem, bichos-grilos e os sujeitos que passam o dia se inteirando sobre os perigos do terrorismo tentando conviver em um espaço coletivamente compartilhado; terceiro, quis obter charme cult com um ou outro personagem bizarro, como o rapaz que exercita apenas um lado do corpo; quarto, vislumbrou até mesmo criticar a atitude arrogante e esnobe dos críticos de cinema, através do personagem que pertence à essa profissão. Para sua infelicidade, ele não conseguiu obter sucesso em nenhuma das frentes que tentou atacar, falhando em todas as tentativas devido à superficialidade de todos os personagens que criou. Se tivesse se contentado em satisfazer apenas um propósito talvez tivesse mais sorte.
Contudo, a explicação para esse imenso equívoco que é “A Dama Na Água” reside no personagem que M. Night Shyamalan resolveu interpretar no seu filme. Diferentemente de seus longas anteriores, onde fazia apenas uma ponta casual, aqui o diretor criou um personagem que participa mais ativamente dos eventos do filme. Isso não seria um incômodo tão grande não tivesse ele a idéia de colocar tanta importância no papel que desempenharia, fazendo de si mesmo a grande razão dos esforços da protagonista e o ponto de encontro da trama do filme. A pretensão estereotipada do seu papel é tanta que ele acaba mesmo sendo importante no projeto, mas apenas para torná-lo ainda pior do que já é, ao contrário do que imaginava Shyamalan.
Chega-se ao fim do filme, com muito custo, e fica claro na cabeça de qualquer espectador mais antenado que ele é resultado unicamente do fato de Shyamalan ter acreditado no discurso da indústria americana, que o anunciava como o cineasta mais inovador e revolucionário dos últimos anos. Só um ego muito inflado pela presunção e sem ninguém por perto para impor limites e filtrar excessos, como acontece com uma criança mimada, explicaria esse amontoado de clichês, estereótipos e tropeços que é “A Dama Na Água”.

Baixe o filme usando os links a seguir e a senha informada.

http://www.megaupload.com/?d=B5Y27OVX
http://www.megaupload.com/?d=1QBGQQCA
http://www.megaupload.com/?d=JQVAQWA6
http://www.megaupload.com/?d=LARQLS05
http://www.megaupload.com/?d=MG1O2SA0
http://www.megaupload.com/?d=9ME08ZJL
http://www.megaupload.com/?d=BSY89IIY
http://www.megaupload.com/?d=ANZI5CQU
http://www.megaupload.com/?d=U5QD4XZ0

senha: tlhp@uds

legenda (português):
http://www.opensubtitles.org/pb/download/sub/3092018

1 comentário

“Uma Verdade Inconveniente”, de Davis Guggenheim. [download: filme]

An Inconvenient TruthO filme reúne dados resultantes de pesquisas científicas, em uma apresentação feita pelo ex-vice-presidente americano Al Gore, procurando chamar a atenção sobre o quanto o aquecimento global está ocorrendo de forma cada vez mais acelerada e sobre como as suas consequências irreversíveis tomarão lugar muito antes do que imaginamos.
O documentário de Davis Guggenheim alterna a palestra de Al Gore com imagens e cenas de suas viagens por vários países onde a apresentou, estórias e acontecimentos familiares e com fatos de sua trajetória como senador, vice-presidente americano e candidato à presidência. Al Gore apresenta com muita clareza, com pouquíssimos momentos mais técnicos, a conclusão do seu acompanhamento dos estudos e pesquisas sobre as origens e efeitos do aquecimento global sobre o clima, geografia e futuro do planeta, pontuando também o seu efeito altamente nocivo na economia, no aumento da miséria, no surgimento de novas epidemias – bem como na piora das atuais – e no agravamento da extinção das espécies animais e vegetais. A idéia de investir em um formato mais híbrido, que não se concentra apenas na palestra, procurando humanizar e tornar confiável o seu protagonista, é visivelmente inspirada no marketing político – o que não deveria surpreender ninguém, visto ser Al Gore ser um -, mas ajuda também a tornar o documentário menos aborrecidamente técnico e estático, suavizando o seu andamento e conferindo-lhe temporalidade e dinâmica.
Apesar de muito elogiado, o filme também foi alvo de críticas, levantadas particularmente por políticos e jornalistas. A minoria destas críticas pergunta sobre a necessidade de, em alguns momentos do filme, expor a parcialidade da visão de Gore sobre acontecimentos e figuras do mundo da política. Há de se questionar o direito de Gore em abrir espaço para isso em um documentário que se propõe a esclarecer (ou lembrar) o público sobre uma questão que ultrapassa as fronteiras da crença ou ideologia política – isso é compreensível e razoavelmente sensato. Porém, mesmo podendo questionar a validade desse direito, há de se admitir também que Al Gore foi sincero o bastante para afirmar, em vários momentos do filme, que isso também é uma questão política – o que é mais compreensível ainda.
Uma outra parte das críticas questiona a validade de um documentário cujo conteúdo apresentado foi formulado sobre as conclusões não de um cientista, um estudioso no assunto, mas de um leigo, que tão somente reuniu pesquisas e informações científicas. Claro que Al Gore não tem formação no assunto, mas a luta pela consciência ecológica e ambiental não é perpetrada tão somente pelos estudiosos, mas também por porta-vozes. Grande parte do ativismo consciente e responsável no mundo, inclusive do ambiental, é feito por pessoas que não são estudiosos atestados. Desmerecer o esforço e trabalho destas pessoas só porque o conteúdo de seu ativismo não é fruto direto de sua própria reflexão é esnobismo leviano. A história do mundo não é feita só pelos que produzem o conhecimento, mas também pelos que lutam para que todos reflitam e façam uso dele.
Mas, o que mais impressiona é que a maior parte das críticas formuladas digam ser puro exagero – quando não sensacionalismo – declarar que o aquecimento global seja fruto da ação humana – particularmente da ação humana norte-americana – questionando a veracidade dessa afirmação. Dentre todas as três críticas feitas ao longa-metragem, essa é a única que realmente não dá para engolir, muito menos tolerar pacificamente. Mesmo em pleno século XXI, com o noticiamento maciço de toda uma miríade de catástrofes climáticas e ambientais, escancaradamente causadas pela ação do homem – o que está mais do que claro para qualquer ser humano que não tenha algum nível de retardamento mental -, é impossível aceitar que alguém creia ser isso invenção ou devaneio científico. E eu não consigo decidir o que é mais desprezível: se é o fato de essas pessoas fazerem tais afirmações movidas pela ignorância ou se é por fazerem isso puramente por interesses escusos e extremismo político.
“Uma Verdade Inconveniente” não chega a ser um um filme brilhante, mas está bem acima da média pelo modo claro, objetivo e inteligente que Al Gore combina as pesquisas mais recentes e dados nunca antes divulgados ao público geral, finalizando em um alerta muito bem embasado e verdadeiramente aterrorizante – e se o espectador ainda se dispor à uma pesquisa em fóruns, portais de cinema e blogs, o filme ainda tem o mérito de apontar a existência (e insistência) da mais estapafúrdia ignorância humana – aqui no Brasil, inclusive. Meu único pesar com relação à essa gente cretina é que provavelmente elas já terão sido devoradas pelos vermes antes de o planeta ter o prazer de ele mesmo dar o troco.
Baixe o longa-metragem utilizando uma das fontes a seguir.

fonte 1:
http://d01.megashares.com/?d01=a54a06a

fonte 2:
http://rapidshare.com/files/1994143/An.Inconvenient.Truth.DVDRip.XviD-DiAMOND.part1.rar
http://rapidshare.com/files/1994136/An.Inconvenient.Truth.DVDRip.XviD-DiAMOND.part2.rar
http://rapidshare.com/files/1994142/An.Inconvenient.Truth.DVDRip.XviD-DiAMOND.part3.rar
http://rapidshare.com/files/1994152/An.Inconvenient.Truth.DVDRip.XviD-DiAMOND.part4.rar
http://rapidshare.com/files/1994161/An.Inconvenient.Truth.DVDRip.XviD-DiAMOND.part5.rar
http://rapidshare.com/files/1994259/An.Inconvenient.Truth.DVDRip.XviD-DiAMOND.part6.rar
http://rapidshare.com/files/1994133/An.Inconvenient.Truth.DVDRip.XviD-DiAMOND.part7.rar
http://rapidshare.com/files/1992696/An.Inconvenient.Truth.DVDRip.XviD-DiAMOND.part8.rar

legenda (português):
http://www.opensubtitles.org/pb/download/sub/3086248

2 Comentários

“A Noiva Síria”, de Eran Riklis. [download: filme]

The Syrian BrideNoiva pertencente a família drusa prepara-se para abandonar sua família, para que possa unir-se ao seu futuro esposo na Síria. Na celebração do casamento, com presença apenas da noiva, vemos a reunião de uma família cheia de desentendimentos ocasionados diretamente pela realidade deste povo.
Pouco a pouco, filmes do oriente-médio protagonizados por personagens femininas vem ganhando espaço e projeção. A escolha dos produtores destes longas por mulheres não é difícil de se entender: sua posição nos povos de origem islâmica é primordialmente a da submissão, o que funciona como alegoria do próprio conflito entre Islamismo/Judaísmo e Oriente/Ocidente. “A Noiva Síria” pertence à esta vertente do cinema, mas se diferencia destes por tratar de uma das minorias menos abordadas pela arte e pelos meios de informação: os drusos. Eran Riklis fez um bom trabalho ao retratar a realidade deste grupo religioso que vive na fronteira entre Síria e Israel, em território ocupado por este último. Usando como analogia uma família um pouco disrupta e seus conflitos internos, o diretor encenou em um microverso as agruras dos drusos, divididos entre o apoio à nação Síria e ao estado de Israel. O casamento de Mona funciona como um despertar para a consciência da situação de todo este povo que, por sustentar uma neutralidade movida por alguns privilégios consideráveis do governo israelense e uma omissão pelo apoio de parte do grupo à Síria, acaba servindo de instrumento da agressão mútua entre ambas as nações no evento da ocorrência de qualquer disputa geo-política ou no menor capricho diplomático, como muito bem retratado na sequência final do filme. É justamente esta via-crúcis final de Mona e de sua família, na tentativa de reunir-se ao seu futuro marido, que ficam expostos todos os reveses da dúbia situação dos drusos: um povo sem identidade, sem nacionalidade e sem a segurança confortante de pertencer definitivamente à uma só pátria.
Apesar de ser bem produzido e dirigido, faltou em Eran Riklis uma noção mais exata do tom ideal para uma estória desta natureza. As situações de humor casual e acidental durante o longa-metragem interferem na linha argumentativa principal do filme, causando o fenecimento do seu caráter dramático. Um filme baseado em premissa tão rica deveria ter sido conduzido com mão mais pesada, sem medo de assumi-lo definitivamente como um drama desesperançado. E isso fica ainda mais claro quando constatamos a dupla de atrizes que protagonizam a estória: como Mona, Clara Khoury é a encarnação viva da resignação com a sua intepretação silenciosa e cheia de temor, enquanto Hiam Abbass causa estupefação no espectador, tamanha a força de sua atuação ao mesmo tempo conformista, perseverante e audaz – ela é, sem nenhum risco de dúvida, a razão maior deste filme existir. É belo filme a ser visto, mas fica no espectador a tristeza de confirmar que faltou muito pouco para estar diante de um longa-metragem complexo e excepcional.
Baixe o filme utilizando os links a seguir.

http://rapidshare.com/files/304716/Syrian.Bride-iMBT.PANDiON.rar.html
http://rapidshare.com/files/286651/Syrian.Bride-iMBT.PANDiON.r00.html
http://rapidshare.com/files/289808/Syrian.Bride-iMBT.PANDiON.r01.html
http://rapidshare.com/files/292823/Syrian.Bride-iMBT.PANDiON.r02.html
http://rapidshare.com/files/295777/Syrian.Bride-iMBT.PANDiON.r03.html
http://rapidshare.com/files/299158/Syrian.Bride-iMBT.PANDiON.r04.html
http://rapidshare.com/files/302047/Syrian.Bride-iMBT.PANDiON.r05.html

fonte: demna.com

legenda (inglês):
http://www.opensubtitles.org/en/download/sub/3099600

legenda (espanhol):
http://www.opensubtitles.org/en/download/sub/103300

Deixe um comentário

“Drawing Restraint 9”, de Matthew Barney. [download: filme]

Drawing Restraint 9Contrariando a vontade do autor, que considera o longa-metragem como uma obra a ser apreciada em exibições únicas em ambientes pré-definidos, o filme está sendo distribuído na internet lentamente – mais uma vez obra de jornalistas muito companheiros dos internautas. E, desta forma, a ambiciosa obra do artista (plástico, performático, entre outras vertentes) Matthew Barney cai nas graças e no discernimento do público.
Com quase 2hs 30min de duração, “Drawing Restraint 9” é um hiper-devaneio imagético, musicado dentro do mesmo estilo pela cantora e companheira de Barney, Björk. É evidente que o interesse de Barney não era em obter sentidos, significados, noções, em tecer uma estória em seu filme – apesar de que, pode-se dizer com algum esforço, que há uma. Nota-se isso, muito além do discurso do cineasta/artista, pela maneira como seu filme não apresenta diálogos entre os personagens: há apenas um, entre os dois protogonistas e um senhor oriental, em uma lenta sequência – como muitas – que retrata a cerimônia japonesa do chá – e nada mais. O objetivo principal ali é que tudo, todo e qualquer ato mais inofensivo e cotidiano passe pelo seu filtro estético, obtendo sequências visuais instigantes, altamente contemplativas, de beleza plástica inegável.
Vocês podem estar pensando como um filme que despoja-se da necessidade de sentido, ocupando-se mais em confundir o espectador, pode ter relevância e importância – em outras palavras, como um filme dessa natureza, ó raios, pode ser bom?? Saibam – alguns de vocês já devem saber, claro – que isso não faz um longa-metragem, a priori, ser ruim e dispensável. Os filmes de David Lynch, algumas das obras primas mais singulares de Ingmar Bergman e os longas mais sincréticos de Andrey Tarkovsky, cada um a seu modo e em diferentes níveis, provam exatamente o oposto. Contudo, “Drawing Restraint 9” não se encaixa entre eles.
Há dois problemas no projeto de Matthew Barney – e sua importância não deve ser ignorada, mesmo em um filme que supostamente não se identifica como tal. O primeiro problema é o viés em que foram concebidos os eventos do argumento – se é que existiu, de fato, a concepção de um argumento – em “Drawing Restraint 9”: o empacotamento de estranhos artefatos marinhos, a partida do navio baleeiro Nisshin Maru, o encontro, o envolvimento e a relação algo sadomasô do casal de “ocidentais”, a celebração do ambergris – nada acontece com naturalidade no filme, tudo é encenado de forma altamente cerimoniosa, tudo está envolto em uma série de procedimentos que me parecem excessivos – mesmo ignorando qualquer remota menção de significado. O segundo problema, os personagens, também é consequência direta do argumento do filme. Os poucos personagens do longa-metragem não despertam no espectador qualquer empatia ou interesse. E a pergunta que surge a partir desta constatação não é difícil de imaginar, é? Ok, eu falo: é possível, ó senhor, despertar atenção ou simpatia no espectador sem personagens minimamente instigantes? A resposta, ao menos, todo mundo sabe, né?
Como se vê, o prazer de assistir à “Drawing Restraint 9” não vai muito além do fato de que você conseguiu ver um filme que foi concebido para ser exibido apenas em museus enormemente famosos de mega-metrópoles do primeiro mundo – ou seja, qualquer coisa que fique bem distante da América Latina. Contudo, como Matthew Barney já deveria saber – antenado como é com toda a vanguarda pós-moderna – a internet e os seus navegantes não perdoam nada.

Se você quiser arriscar uma expectação do longa de Barney, seguem abaixo dois torrents do filme sendo distribuídos na internet:

Imagem ISO do DVD (4.3 GB)
http://rapidshare.com/files/12719675/DR9.iso.torrent.html

vídeo em AVI (1,3 GB) [som incompatível com alguns media players]
http://rapidshare.com/files/12720104/DR9.avi.torrent.html

fonte: GreyLodge

Deixe um comentário

“Filhos da Esperança”, de Alfonso Cuarón. [download: filme]

Children of MenNo ano de 2027, a Inglaterra encontra-se em uma situação caótica, tomada por ataques em retaliação à segregação entre britânicos “legítimos” e imigrantes, produzida pelo governo. Depois de mais de duas décadas em que nenhuma criança nasceu no mundo, o ser humano mais jovem, com 18 anos, é assassinado na Argentina. Neste cenário, um homem é contactado pela ex-esposa, que não via há quase 20 anos, e que agora pertence à um grupo de rebeldes, para providenciar documentos falsos para que uma imigrante possa atravessar o país em direção ao atlântico.
O diretor Alfonso Cuarón acerta em todas as frentes na composição do longa metragem, mostrando habilidade e apuro ímpares na condução do seu filme. O elenco está muito bem, com destaque absoluto para o britânico Clive Owen, em uma atuação excepcional que dosa, de maneira perfeita, sensibilidade e humor casual. A fotografia realista do filme explora com primazia a cenografia fabulosa e a montagem primorosamente crua, que dispensa quase o filme todo do uso de trilha sonora, aproximando o espectador dos acontecimentos na tela do cinema. Inspirados na idéia básica do livro de P.D. James, os roteirsitas, entre eles o diretor Cuarón, pontuam o argumento com breves instantes de humor e tomam enormes liberdades artísticas ao modificar profundamente a estória, ampliando ainda mais seu caráter sombrio e desesperançado. Alfonso Cuarón ainda teve muita cautela e inteligência ao recriar visualmente as sequências repentinas de violência do argumento composto por ele e seus roteiristas: ao invés de rechear a tela com violência gráfica detalhista e gratuita, o diretor escolheu compor estas cenas de maneira a torná-las mais críveis, graças à maneira cuidadosa com a sua exposição na tela, poupando o público de excessos desnecessários, e também ao modo como revela essa violência, colocando-a, sem qualquer sinal de aviso, em meio a acontecimentos cotidianos ou momentos de descontração e humor. Desta forma, a violência do filme não horroriza o espectador pela sua exposição em si, mas pela sua aproximação com o real. Isso só aconteceu devido a decisão de Cuarón e seus quatro colaboradores em aproveitar apenas a essência e atmosfera de desespero e caos sócio-político do livro, recriando boa parte dos acontecimentos, o que torna a estória muito melhor do que aquela originalmente criada pelo escritor P.D. James.
O conjunto desses elementos, técnicas, artifícios e idéias do diretor e sua equipe formam um longa-metragem de visual notadamente naturalista como eu não via há muito tempo, a despeito de seu conteúdo futurístico. É isso que faz “Filhos da Esperança”, brilhante do início ao fim, ser a distopia cinematográfica mais impactante que já vi desde “1984” – baseado no livro homônimo de George Orwell – e ser igualmente a prova mais recente de que os diretores mexicanos estão estraçalhando no cenário cinematográfico mundial. Enquanto cineastas como Steven Spielberg e Ridley Scott insistem em filmar a violência com requintes de detalhes gráficos, em se ocupar do passado e em filmar os dramas americanos – e tudo isso pode ser conferido em alguns de seus trabalhos mais recentes – os diretores de origem latino-americana exibem um vigor, perspicácia, conhecimento e inteligência que vai muito além disso. Para a sorte de todos os cinéfilos do mundo eles estão em alta, o que aumenta as chances de que mais filmes excepcionais e espetaculares, como este, podem estar ainda por vir.
Baixe o filme utilizando os links a seguir.

http://rapidshare.com/files/15900896/ChilOMn_2006_DvDrip_Eng_-aXXo.part1.rar
http://rapidshare.com/files/15909762/ChilOMn_2006_DvDrip_Eng_-aXXo.part2.rar
http://rapidshare.com/files/16024365/ChilOMn_2006_DvDrip_Eng_-aXXo.part3.rar
http://rapidshare.com/files/16013942/ChilOMn_2006_DvDrip_Eng_-aXXo.part4.rar
http://rapidshare.com/files/15917901/ChilOMn_2006_DvDrip_Eng_-aXXo.part5.rar
http://rapidshare.com/files/15923876/ChilOMn_2006_DvDrip_Eng_-aXXo.part6.rar
http://rapidshare.com/files/15928687/ChilOMn_2006_DvDrip_Eng_-aXXo.part7.rar

legenda (português):
http://www.opensubtitles.org/pb/download/sub/3098386

1 comentário

“MeninaMá.com”, de David Slade. [download: filme]

Hard CandyGarota que conheceu um fotógrafo pela internet há algumas semanas, decide encontrar-se com o sujeito em um café. As motivações de ambos não ficam claras, mas logo descobre-se que ambos tem intenções não confessas neste encontro.
Aproveitando-se do tipo de roteiro que Brian Nelson escreveu, David Slade montou a estrutura básica de seu longa-metragem sobre artifícios teatrais, priorizando o foco do filme sobre os personagens e suas ações. Com isso, o diretor buscou obter a mesma tensão e impacto que outros filmes com estrutura semelhante – como “A Morte e a Donzela” de Roman Polanski, ou “Cães de Aluguel”, de Quentin Tarantino. Slade obteve sucesso em sua empreitada, já que “MeninaMá.com” é um dos thrillers mais tensos dos últimos tempos. Essa tensão é potencializada pela maneira inteligente como Slade faz uso da sugestão na composição de cenas fortes, o que vejo como uma declaração de que esta é uma técnica muito mais eficiente e elegante do que o grafismo escancarado da atual onda de horror “gore” explícito. Com o enquadramento da câmera, fechado no rosto dos atores, o diretor explora as expressões destes e mergulha a pláteia na ambiguidade de suas verdadeiras intenções desde o início de “MeninaMá.com”. Os méritos também são do roteirista, como já dito, claro: Nelson foi inteligente ao escrever um texto que revela as motivações dos personagens lentamente, poupando o espectador do uso de flashbacks ao revelar os eventos anteriores através apenas dos diálogos ao longo de todo o filme. Os atores tiram todo o proveito das benesses do argumento de Nelson, esbaldando-se com o embate psicólogico e físico dos personagens – o que me lembra, e muito, de outro famoso filme com características semelhantes, “Louca Obsessão”, de Rob Reiner -, entregando ao público excelentes atuações.
O filme não consegue exatamente a apatia do público: o argumento lida de maneira bem pouco ortodoxa com questões morais e éticas e os personagens são bem pouco simpáticos à platéia. O motivo pelo qual o fotógrafo Jeff é uma figura pouco querida fica evidente mais ou menos na metade do longa, mas fica igualmente claro que Hayley, a garota meio nerd, tenta fazer o certo de maneira bem reprovável. Mas é justamente esse caráter incomum do argumento e de seus personagens ao tratar de um tema tão espinhoso – e, infelizmente, a cada dia mais comum – que faz do longa-metragem de David Slade um filme muito acima da média: ao invés de cair no caminho mais fácil, e travestir o homem de lobo mau e a garota de um cordeirinho inocente, na maior parte do filme temos um cordeiro sádico e diabólico que aproveita seus encantos para capturar o lobo e divertir-se com a sua presa – e isso, sem dúvidas, é bem mais relevante e interessante do que ver mais um telefilme meloso e piegas sobre o mesmo tema.
Baixe o filme usando os links a seguir.

http://rapidshare.de/files/31746521/Hard.Candy.DVDRip.XviD-DiAMOND.rar
http://rapidshare.de/files/31697712/Hard.Candy.DVDRip.XviD-DiAMOND.r00
http://rapidshare.de/files/31735097/Hard.Candy.DVDRip.XviD-DiAMOND.r01
http://rapidshare.de/files/31750201/Hard.Candy.DVDRip.XviD-DiAMOND.r02
http://rapidshare.de/files/31753497/Hard.Candy.DVDRip.XviD-DiAMOND.r03
http://rapidshare.de/files/31759355/Hard.Candy.DVDRip.XviD-DiAMOND.r04
http://rapidshare.de/files/31761420/Hard.Candy.DVDRip.XviD-DiAMOND.r05

legenda (português):
http://www.opensubtitles.org/pb/download/sub/3081776

2 Comentários

“Pequena Miss Sunshine”, de Jonathan Dayton e Valerie Faris. [download: filme]

Little Miss SunshinePequena família decide viajar quase 1000 quilômetros em uma Kombi amarela para que a pequena Olive consiga concorrer em um show de talento e beleza infantil. Durante a viagem os integrantes passam por eventos que levam a desentendimentos sobre a situação de cada um dentro desta família e à questionar àquilo que cada um sonha tanto alcançar.
“Pequena Miss Sunshine”, longa-metragem de estréia do casal de diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris, tem um grande defeito: a sequência final, no palco do concurso de beleza/talento, com a família inteira em cima, bem que podia ter sido cortada – ela deixa o filme com gosto de barato e piegas, o que não coincide com o que se viu antes no longa. O restante da película, no entanto, saiu muito bem. O elenco todo está afinadíssimo – mesmo Greg Kinnear, por quem não tenho muita simpatia, está bem -, com destaque para a menina Abigail Breslin que tem um desempenho muito natural, dosando de maneira igual estripulias infantis, ingenuidade e emoção. Os personagens, apesar de serem em certa medida caricaturais, também são realistas e mostram-se cativantes com o desenrolar da trama: mesmo o adolescente-aborrecido-que-odeia-tudo, que normalmente angariaria algum nível de desprezo ou intolerância da platéia, ou a criança do longa-metragem, que em outro filme passaria despercebida se não ganhasse destaque ou irritaria por atrapalhar o argumento com sua artificialidade, recebem atenção da platéia durante todo o filme. Isso devido, em parte, pela dempenho do atores, e em outra pelo casal de diretores, que deixou os personagem crescerem – especialmente Olive -, mas soube também controlá-los, para que não ofuscassem uns aos outros. E é aí que entra outro ponto positivo do longa-metragem: a direção. Dayton e Faris dividem o filme de igual por igual entre os personagens e, apesar de um ou outro acabar tendo maior ou menor destaque, nenhum ator tem o bastante para “roubar o cartaz” no filme. Por último, o roteiro do filme – que junto com os personagens forma a pedra fundamental de qualquer comédia decente -, de autoria do estreante Michael Arndt, mesmo sendo feito de eventos e situações que tem algo de absurdo e idílico – algumas até passando do limite do crível -, foi desenvolvido e conduzida com cautela, o que fez esses acontecimentos terem sentido dentro do espírito de humor negro sutil e sarcasmo escancarado do filme. E o sarcasmo é o meio pelo qual se realiza a grande crítica do argumento deste longa-metragem: a estratificação da sociedade americana entre “vencedores” e “perdedores” e a marginalização daquilo que é diferente e não se ajusta aos padrões sociais, idéias que fomentam este projeto de nação desde a sua fundação, é tão pisoteada e massacrada pelos eventos e pela construção dos personagens deste road-movie que isso, por si só, bastaria como motivo para assistí-lo. “Pequena Miss Sunshine”.
Apesar da natureza distinta de seus argumentos, é difícil não comparar este filme com outro lançado em 2005, e já comentado aqui no seteventos.org, “A Lula e a Baleia”, do diretor Noah Baumbach. A razão é muito simples: ambos os filmes são produções “independentes” – coincidentemente, o palco maior de divulgação de ambas foi o Festival de Sundance -, que se propõe como “comédias inteligentes”, designadas a atingir um público mais apurado. Porém, não há público nenhum, mesmo o mais apurado, que resista à personagens apáticos – e foi aí que “Pequena Miss Sunshine” acabou ganhando status de comédia do ano pelos críticos. O filme é bom sim, mas não chega a tanto o – odeio essas listas de um homem só, lembram?. Desta forma, eu que religiosamente me nego a aceitar ou colaborar com a prática das intermináveis e aborrecedoras listas de “10 mais” ou do “melhor” ou “melhores” do ano, que tanto nos aporrinham quando ele chega no seu fim – e que infesta a internet depois do “bum!” da Web 2.0 -, posso, ao menos, dizer que o filme de Dayton e Faris é o longa-metragem que “A Lula e a Baleia” propôs a ser ano passado – sem sucesso, a meu ver.
Baixe o filme utilizando os links a seguir.

http://rapidshare.com/files/6266695/mss.part1.rar
http://rapidshare.com/files/6268327/mss.part2.rar
http://rapidshare.com/files/6270151/mss.part3.rar
http://rapidshare.com/files/6271789/mss.part4.rar
http://rapidshare.com/files/6273299/mss.part5.rar
http://rapidshare.com/files/6274902/mss.part6.rar
http://rapidshare.com/files/6276400/mss.part7.rar

legenda (português):
http://www.opensubtitles.org/pb/download/sub/3094463

Deixe um comentário

“Syriana”, de Stephen Gaghan. [download: filme]

SyrianaUma multinacional perde contrato de exploração de pretóleo em país do Oriente Médio, em detrimento de uma outra empresa chinesa, e trata logo de iniciar uma fusão com pequena indústria que acaba de adquirar direitos de exploração no Cazaquistão. Enquanto isso, um agente da CIA tenta descobrir as implicações do sumiço de um artefato bélico, ao mesmo tempo que um especialista em assuntos de energia e dois garotos que trabalhavam como imigrantes vêem-se implicados pelas consequências de suas novas relações.
Stephen Gaghan foi o responsável pelo roteiro primoroso e tenso de “Traffic”, dirigido por Steven Soderbergh em 2000. Em, “Syriana”, onde Stephen resolveu também se encarregar da direção, a sua habilidade como escritor de estórias complexas e intrincadas mostra-se ainda muito afiada. Alguns críticos, com certa razão, consideraram que este filme peca justamente pela complexidade excessiva do roteiro: devido à simultaneidade dos inúmeros acontecimentos sócio-políticos, de suas consequências e de seus eventos inter-relacionados – muitas vezes de maneira pouco evidente – o expectador acaba quedando-se confuso, sendo inevitável rever mais de uma vez algumas cenas – o que me leva a pensar que o cinema não teria sido o ambiente ideal de vislumbração deste longa-metragem. Porém, apesar deste aspecto negativo da natureza do roteiro e, portanto, do filme, o argumento de “Syriana” é de modo geral excelente, devido à abordagem ousada, explícita e sincera dos reveses do capitalismo predatório, tratando especialmente do modo como esta prática é utilizada pela nação mais rica e poderosa do mundo: as consequências geo-políticas, econômicas e sociais dos atos do governo americano e de seus bilionários conglomerados financeiros são muito bem retratados na relação e razão de um evento sobre o outro no filme, mesmo que, em alguns monentos, isso seja feito correndo o risco de confundir o espectador em algum nível. Este não é nunca um filme de arroubos ou peripécias técnicas e artísticas: direção, fotografia, trilha sonora, produção e elenco resumem-se a cumprir o seu papel, fazendo-o bem mas sem qualquer merecimento ao destaque de algum deles. Isso revela claramente que é a metade roteirista do agora diretor Gaghan que sobressai de maneira vistosa, tornando o seu trabalho atrás das câmeras até desnecessário – um bom roteiro seu, nas mãos de um diretor ainda melhor e mais inventivo, poderia gerar um filme ainda mais impactante. Porém, isso que estou dizendo pode ser bobagem: apesar dos excelentes achados técnicos de “Traffic” não ofuscarem o roteiro brilhante de Stephen, sempre corre-se o risco de que a má utilização destes eclipsem ou até mesmo destruam o argumento do longa-metragem. Assim sendo, é melhor mesmo deixar os roteiros de Gaghan serem empacotados em embalagens simples – desta forma teremos mais garantias de um filme que se contenta em ter uma estória inteligente, audaciosa e reflexiva, o que basta, e muito bem, pra qualquer cinéfilo assumido.
Baixe o longa-metragem utilizando os links a seguir.

http://rapidshare.com/files/15118685/Syr_by_best_up.part1.rar
http://rapidshare.com/files/15131845/Syr_by_best_up.part2.rar
http://rapidshare.com/files/15136564/Syr_by_best_up.part3.rar
http://rapidshare.com/files/15142766/Syr_by_best_up.part4.rar
http://rapidshare.com/files/15151447/Syr_by_best_up.part5.rar
http://rapidshare.com/files/15157280/Syr_by_best_up.part6.rar
http://rapidshare.com/files/15174153/Syr_by_best_up.part7.rar
http://rapidshare.com/files/15176420/Syr_by_best_up.part8.rar

baixar legendas (português):
http://www.opensubtitles.org/pb/search/sublanguageid-pob,por/idmovie-10004

Deixe um comentário

“O Gosto dos Outros”, de Agnès Jaoui.

Le Gout Des AutreEste filme fez imenso sucesso de crítica, chamando atenção para as colaborações anteriores de Agnès Jaoui, como atriz e roteirista. Ao assistir ao longa, nota-se pelo filme em si e pela ficha técnica que esta foi uma produção pequena, feita colaborativamente entre amigos, já que dois dos maiores responsáveis pelo projeto atuam no filme. Há que se reconhecer alguns dos méritos do longa-metragem, todos relacionados ao argumento. A maneira como este foi tratado é um deles, pois desenvolve uma temática já tão explorada – o processo de transformação, para melhor, da personalidade de alguém – pelo cinema mundial sem cair na pieguice e sentimentalismo barato – o oposto do que aconteceu com o celebrado filme argentino “O Filho da Noiva”, dos piores que já vi com este argumento. Talvez isto ocorra por ser uma produção francesa, país que sabe lidar de maneira inteligente com as emoções dos personagens e com situações algo emotivas, podando os excessos causados por estes. Outro mérito, ainda relativo à esta temática do argumento, é mostrar com muito realismo a maneira como algumas pessoas conseguem modificar sua conduta e personalidade enquanto outras nunca conseguem fazê-lo – ou nem mesmo se dão ao trabalho de tentar fazê-lo. Um último aspecto positivo foi mostrar com precisão como, muitas vezes, superestimamos a maneira como o gosto pessoal determina o círculo de nossas relações humanas, nos fazendo menosprezar alguém apenas por ter menor conhecimento ou apuro artístico que nós. O conjunto destes aspectos deram ao longa de Agnès Jaoui a fama que mereceu. Porém, deve-se entender que trata-se de um bom filme, que consegue, por conta de um bom roteiro, chamar a atenção mesmo sem grandes atuações ou arroubos técnicos – em outras palavras, um bom filme a ser visto. Não se trata, de maneira nenhuma, de uma obra-prima ou um filme imperdível e arrebatador, como alguns críticos e fãs de cinema alardearam tanto.

Deixe um comentário

“Um Filme Falado”, de Manoel de Oliveira.

Um Filme FaladoJovem professora universitária de história viaja de navio com a filha, saindo de Portugal, com o objetivo de alcançar a Índia, onde seu marido, piloto de aviação, a aguarda para que juntos aproveitem suas férias. No caminho ela apresenta para a filha diversas cidades e algumas de suas estórias, ao mesmo tempo que em cada parada que o navio faz ganhamos um novo personagem daquele país em questão.
O diretor português Manoel de Oliveira concebe uma obra de elementos interessantes em “Um Filme Falado”: ao mesmo tempo que eles fazem a qualidade do filme também integram igualmente os seus defeitos – ou seja, os pontos positivos dos aspectos do longa também são os negativos, sob um outro ponto de vista. Usando como mote a viagem da professora universitária de história e sua filha cuiriosa, o diretor faz paradas em diversas cidades de diferentes países, ao longo do trajeto do navio, revelando fatos históricos curiosos, mitos e lendas de alguns de seus pontos turísticos. É delicioso acompanhar esta viagem, admirando belíssimos cenários do Mediterrâneo e Oriente Médio, constatando algumas de suas curiosidades, mas numa certa altura do longa-metragem isso fica demasiadamente cansativo, pelo seu caráter excessivamente didático que, por sinal, ocupa mais da metade do longa-metragem. Os dialógos entre os demais figuras do filme, de diferentes nacionalidades, é curiosamente engendrado por cada personagem em sua língua materna – fato reconhecido pelos próprios -, o que lhe concede uma atmosfera cosmopolita e erudita. Porém, o conteúdo das conversas, apesar de relevante, acaba logo caindo num certo pedantismo, uma intelectualização e filosofar que pesam demais e tornam as cenas arrastadíssimas, desnecessariamente lentas. A sequência final, baseada em uma ótima idéia, é realista, visto que surge de maneira inesperada, sem qualquer pista sobre a possibilidade disto poder ocorrer. No entanto, também fica algo díspare e perdida no filme, sendo finalizada de forma muito apressada, quase desinteressada – Manoel de Oliveira poderia ter planejado este prólogo de forma mais cuidadosa, planejada e dedicada, sem prejuízo de perder o caráter realista do fato e sem colocar em risco a atmosfera autoral e artística do seu longa-metragem.
Ao cabo da expectação, conferimos que Manoel de Oliveira produziu um fillme relevante, mas que acabou prejudicado pelos excessos do cineasta, que tornou assim seu filme bastante cansativo, mesmo para espectadores treinados, tolerantes e pacientes. É um filme a ser visto, como a maior parte dos longas que vem da Europa, mas que não apresenta muitas razões que justifiquem de ser lembrado entre os seus filmes preferidos.

Deixe um comentário