Hoje à noite estarei saindo rumo à São Paulo para conferir um dos shows de rock mais esperados que já tenho notícia: a apresentação de amanhã, no HSBC Brasil, da banda britânica Muse, um trio fabuloso formado por Matthew Bellamy, Christopher Wolstenholme e Dominic Howard. Não espero nada menos do que uma apresentação espetacular, de causar uma histeria coletiva no público, recheada de lágrimas e gritos de euforia absoluta à cada ápice sonoro das composições do trio. Apesar de conhecer muito bem a banda, o show vai ser uma completa surpresa para mim: não me informei sobre as características desta turnê, sobre o possível setlist, sobre a expectativa da banda, sobre absolutamente nada. Não quero, de forma alguma, ter uma programação prévia sobre o que vai acontecer durante o evento – quero é desfrutar da sensação de surpresa a cada momento da apresentação. Eu me conheço: assim o acontecimento vai ficar bem mais registrado na minha memória.
Até mesmo a viagem em si vai ser um registro novo: nunca pisei em São Paulo. Claro, não sou idiota a ponto de não ter me informado sobre roteiros, transportes, ruas que vou utilizar, mas desconheço a dimensão real da cidade. Acho que sou vou ter idéia disso realmente quando estiver, segundo minhas projeções de roteiro, subindo as escadas da Estação Trianon de Metrô, me encaminhando para o MASP e me deparar em plena Avenida Paulista. Aí, eu aposto, não tem como você não ser de alguma forma atingido pela tamanho dessa megalópole – para o bem ou para o mal. Pretendo visitar algumas outras atrações, como a Estação Júlio Prestes e a Catedral da Sé, mas tudo depende do tempo que as coisas vão tomar – e, experiência conta, quando você está se divertindo, o tempo corre como condenados em fuga. Se o pouco planejamento ajudar, e com alguma sorte, devo ver metade do que eu desejaria. Contudo, se eu ver que o tempo está realmente com uma pecha pela esquizofrenia, vou é fazer como manda a tradição da ex-prefeita da cidade: onde quer que eu esteja, vou relaxar e gozar, num fluxo exato oposto ao de tudo o que vai estar ao meu redor e, paradoxalmente, buscando mimetizar um flâneur subtropical que nem Baudelaire vislumbraria conceber, misturando-me ao “corpo” e ao fluxo dessa cidade-concreto. Tá certo, eu paro com isso agora. Vou seguir o conselho de Sten Egil Dahl em “Reprise”: “não tente ser poético”.
Bem, agora é aproveitar o que puder porque, Muse e São Paulo fecham o meu projeto-de-férias. Já no ânimo do show e no desânimo do evaporar do meu descanso, vou dizendo: “I feel my world crumbling”.
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Digam a verdade: o nome Lykke Li já vem à mente associado à alguma cantora oriental daquele j-pop bem tutti-fruti. Estranhamente, ele é o pseudônimo de uma artista sueca que já morou em diversos países do mundo, como Índia e Marrocos. Talvez por essa vivência tão versada em cosmopolismo, a garota anuncie já no nome uma certa ambivalência sonora: há no seu disco canções de um pop glamouroso e cintilante tanto quanto há algumas de um outro, mais experimental, que só entra ouvido adentro se arrastando com alguma aspereza. Em sua maioria, as canções do primeiro grupo perfazem o gênero de forma mais rasgada e assumida, como acontece nas faixas “I’m Good. I’m Gone” – recheada com piano, bateria e palmas em andamento fortemente cadenciado que ganha ainda um brilho fabuloso no refrão com a entrada de um vibrafone e vocais adicionais -, “Breaking It Up” – cuja introdução de piano, violoncelo e coro multivozes, que é repetida no refrão, é encaminhada para uma música de síncope bem marcada pelo vocal de Lykke e por palmas, que concedem uma sonoridade mais orgânica à melodia -, “Let It Fall” – onde a melodia lúdica e jovial em loop de cadência travada casa como goibada e queijo com a letras em que a cantora confessa gostar de sentir lágrimas correndo pelo seu rosto por causa de seu sabor e pela sensação agradável que desperta na pele – e na graciosa “Dance. Dance. Dance” – que para dar voz à confissão de uma garota que só consegue se expressar e libertar de sua timidez enquanto dança, faz uso de uma melodia que funde o sabor pop nostálgico do saxofone e do baixo com a sonoridade da percussão tilintada e do coro que remete à algo como ritos festivos africanos. O trajeto mais experimental do disco, por sua vez, possui uma concepção melódica mais artesanal, como se pode conferir na inspiração latina da faixa “This Trumpet In My Head”, que soa como um lamento improvisado por uma viola flamejando em melancolia e por um trompete de tonalidade algo lutuosa e na canção “Time Flies”, feita de um piano, vocal e bateria de pulso sonoro soçobrante laceados por um vocal frágil e doce da cantora sueca.
Youth Novels desliza em um ou outro passo quando sua mentora mergulha na idiossincrasia abrasiva, buscando não limitar-se à exploração de uma sonoridade pop mais óbvia, mas acerta o passo justamente quando não demonstra medo de ostentá-la sem receios. Aí sim, a garota demonstra todo o seu potencial: sua capacidade de compor faixas para, sem qualquer pudor, sacodir esqueletos e bater cabelos.
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7 ComentáriosAtravés de Scully, Mulder é contactado pelo FBI para que ajude no caso do desaparecimento de uma agente do bureau, com a promessa de que todas as acusações contra ele sejam retiradas. O ex-agente aceita e logo começa a acreditar na única fonte de informações disponível, nada ortodoxa, enquanto Scully reluta em conceder qualquer credibilidade à ela.
É sempre um prazer voltar a ter contato com personagens tão brilhantes quanto os da série Arquivo X. Porém, isso só não se constitui em motivo para um revival do seriado na materialidade do cinema: precisa-se de argumento sólido e digno de ter à frente Fox Mulder e Dana Scully. Infelizmente, não é o caso do tão aguardo segundo filme baseado nos personagens da série, o longa-metragem “Arquivo X – Eu Quero Acreditar”.
O grande problema desta nova incursão dos agora ex-agentes do FBI Mulder e Scully no cinema é a falta de impacto. E isto já começou a tomar corpo na própria concepção do filme: apesar de que me pareceu, inicialmente, uma boa idéia retomar a série sob a égide dos chamados “monstros da semana”, agora já me parece tanto. Depois de conferir o longa, constatei que este tipo de história dificilmente consegue obter a relevância e a urgência que a mitologia da série tem ao ser desenvolvida em um longa-metragem para o cinema – as aberrações extraordinárias tão bem abordadas tem seu lugar e sua relevância na materialidade da TV, mas no cinema, com certeza, carecem de impacto.
Se a criatura apresentada fosse algo de proporções realmente catastróficas, apresentando perigo em alta escala, o resultado teria sido menos insípido, mas a que foi escolhida não apresenta perigo e terror em uma escala considerável para que o filme ganhasse a dinâmica e a energia necessárias para o cinema – além de ser uma aberração que está longe de ser original, tantas vezes já abordada no cinema.
Mas há ainda um outro elemento que atrapalha a desenvolvimento dos personagens na trama: o seu envolvimento. A beleza do relação de Mulder e Scully sempre foi a sua impossibilidade. A partir do momento que se resolve concretizar aquilo que causava uma tensão interessante e necessária, não há mais muito o que fazer, a não ser inserir a dinâmica e os dramas do romance dentro de um universo onde, lamento informar ao shippers deliciados com o que viram neste filme, ele nunca fez falta – há até um certo emprobrecimento da complexidade dos personagens, nivelando-os à de tantos outros que povoam seriados cujo viés temático é apenas este.
Mas para que tudo não pareça um desastre, há pelo menos um grande acerto. O personagem de Billy Connolly é, provavelmente, a melhor coisa do que foi criado no argumento deste filme: seus atos no passado e sua situação no presente levantam questões morais interessantes que, por sorte, nunca são tratadas de forma barata e, além disso, acabam funcionando como um amálgama brilhante da essência de Scully e Mulder.
Tirando o fato de termos Mulder e Scully novamente em ação, não há mais muito o que realmente faça “Arquivo X – Eu Quero Acreditar” realmente valer a pena – é triste, mas é verdade. Chris Carter chegou a comentar que, dependendo do sucesso do filme, iria propor uma terceira aventura retomando a mitologia da série. É lamentavél, mas meu maior medo não é o fato de que um terceiro filme não venha a ser feito dado o provável fracasso deste aqui, mas em obtendo ele sucesso, o que Carter e o roteirista Frank Spotnitz fariam com a mitologia da série no terceiro. Tendo em vista a perda de rumo do seriado nas última três temporadas, além dos equívocos deste filme, seria melhor deixar a responsabilidade de uma nova aventura de Mulder e Scully nas mãos de alguém mais íntimo do universo do cinema. Ou, na pior da hipóteses, deixá-los em paz de uma vez por todas – porque é bem melhor termos Fox e Dana como os personagens incríveis que sempre foram no seriado do que banalizá-los ainda mais, reduzidos que foram aqui à uma espécie de “Casal 20” subversivo.
Batman, comissário Gordon e o promotor Harvey Dent encurralam a máfia de Gotham City que, sem alternativa, resolve aceitar a proposta de ajuda de um criminoso excêntrico, conhecido como Coringa. Sua promessa é espalhar o caos e o terror pela cidade até que o herói revele sua verdadeira identidade.
A sequência de “Batman Begins” dá continuidade à abordagem mais realista do famoso herói da DC Comics, tanto no que diz respeito aos personagens e suas personalidades quanto no desenvolvimento da trama em si: o roteiro, rebuscado, é feito de uma trama cheia de curvas e reviravoltas bem compostas e com o pé no chão; os atores, em seus respectivos papéis, oferecem interpretações consistentes com a abordagem do argumento, incluindo aí Heath Ledger, que compôs um Coringa menos histriônico, menos folclórico e mais contido, físico e maquiavélico; e o trabalho de Christopher Nolan na direção continua bastante preciso e requintado, além de manter constante a atmosfera sombria dos quadrinhos que inspiraram esta nova abordagem do herói.
Porém, o ego do diretor que foi eleito o queridinho da crítica americana e do público jovem, principalmente dos aficcionados em quadrinhos, falou bem mais alto desta vez. Crendo piamente que tudo aquilo que sai de sua cabeça é algo genial, Nolan extende o filme de modo desnecessário, produzindo por mais uma hora, além da uma hora e meia em que tudo corria bem, uma reviravolta que só faz colocar tudo no chão. O roteiro, composto pelo próprio diretor em parceira com seu irmão e com David Goyer, a partir do momento que desenha o nascimento do segundo vilão apresentado no longa, põe abaixo a sensatez desenvolvida até então e rende-se a uma série de concessões e soluções fáceis para sustentar cenas de batalha mirabolantes, coroadas por um festejo à integridade humana – incluindo aí a de milhares de criminosos – e por um desfecho rídiculo, para dizer o mínimo, com direito à um discurso final constrangedor do personagem de Gary Oldman para sustentar a pecha de “Cavaleiro das Trevas” para o herói. Em consequência do roteiro que pôs a perder, o diretor acaba fazendo o mesmo no seu trabalho por trás das câmeras: a medida que a última hora do filme avança, Christopher Nolan rende-se à encenação apoteótica mais barata, devidamente temperada com uma pieguice inevitável para encenar o epílogo pelo qual ele acabou sendo co-responsável. E, não exatamente por consequência destes problemas mas como algo que anuncia que a coisa não vai terminar bem, inicia-se o filme já com a constatação patente de que a celeuma em cima da Heath Ledger e seu personagem foram puramente consequência da exploração do epísodio de sua morte: não apenas seu trabalho, mesmo competente, não justifica o estardalhaço feito mas também descobre-se que a participação de seu personagem na trama, ao contrário do que se poderia imaginar, acaba sendo modesta e tímida – cerca de um terço do longa-metragem.
No fim, “Batman – O Cavaleiro das Trevas” serve como veículo para dar vazão à megalomania de Nolan que, na última parte do longa-metragem, parece ter esquecido tudo o que tinha feito até ali. Com poucas exceções, é exatamente isso o que acontece quando todo mundo resolve apressadamente eleger alguém como o melhor em algo, seja no que for – ele acaba acreditando, e não raro perde a noção de limites e do bom-senso. Não seria má idéia dar, no inevitável terceiro filme, o direito à mais alguém de mostrar a sua visão deste Batman sombrio e amargurado – no pior dos casos vamos ter um outro diretor cometendo os mesmos erros. Mas isso ainda me parece melhor do que deixar Christopher Nolan à cargo do terceiro – porque, pelo que eu vi neste filme, a tendência é a coisa ficar bem pior.
Nova-iorquinos que participam de uma festa de despedida são repentinamente surpreendidos por um estrondo gigantesco. O que inicialmente é cogitado como um acidente ou atentado terrorista na cidade, logo mostra-se como algo muito mais estranho e aterrador através da lente da câmera digital amadora que registrava a festa de despedida.
“Cloverfield” é mais um fruto da atual seara de produções de ficção que exploram o pressuposto documental, cujo representante mais popular é o longa “A Bruxa de Blair”. Considerando-se este aspecto, o filme acaba tendo sucesso na empreitada ao expôr um evento catastrófico, bem como o pânico e caos por ele desencado, sob a abordagem de um registro amador, incluindo aí a exploração dos reveses do material utilizado para a gravação assim como da falta de habilidade ao manipulá-lo – como se pode conferir nas cenas que simulam o vídeo que havia sido gravado anteriormente na fita e que “vaza” em alguns momentos em que ele estava sendo sobreescrito pela gravação mais recente, interrompendo a trama do filme -, e fundindo-o com a inserção de efeitos especiais em uma materialidade que está ainda sendo descoberta no cinema – a do filme digital. Mas os méritos de “Cloverfield” ficam mesmo por aí, resumidos aos aspectos técnicos. Naqueles responsáveis pela verdadeira qualidade de um longa-metragem, “Cloverfield” capenga na referência algo assumida e naquela que inivetavelmente, a meu ver, soa mais como apropriação do que referência. Aquilo que se assume como tal pode ser visto poucos minutos logo que se inicia o evento catastrófico que é a razão de ser da película: a cabeça da estátua da liberdade, arrancada e arremessada contra um edifício e que acaba aterrissando em uma rua da cidade é uma referência à cena que estampa o cartaz do filme “Fuga de Nova York”, do diretor John Carpenter. Ate aí, tudo bem. O problema é que praticamente o filme todo acaba sendo uma cópia dissimulada, um remake um tanto cara-de-pau de “Godzilla”, de Roland Emmerich, com uma pitada do clássico absoluto “Alien”, quando em uma sequência do filme vislumbra-se uma idéia que se aproxima muito de um dos elementos mais simbólicos do universo da franquia iniciada pelo filme de Ridley Scott. Para entornar ainda mais o caldo, os personagens do longa-metragem, um bando de homens e mulheres beirando os 20 ou 30 anos, tem personalidades e comportamentos consideravelmente irritantes e infantis, em particular aquele responsável pelo registro em vídeo – é certo que este personagem, ao assumir o trabalho que seria equivalente ao de um narrador, deve ser inevitavelmente inoportuno, mas ao somar-se à isto uma boa dose de imbecilidade do câmera-personagem-narrador, que muitas vezes não entende algo que já está patente para a platéia, o filme beira, em alguns momentos, as raias da irritação.
É por conta disto que “Cloverfield” é apenas mais um filme que privilegia a forma sobre o conteúdo, organizado sobre uma pirotecnia efusiva que tem como objetivo encher os olhos suficientemente para desviar atenção de um conteúdo raso, um pastiche barato do filão americano do monstro na metrópole – seja ele, de fato, uma criatura colossal e sanguinária ou uma constelação de naves espaciais sedentas por destruição. A única coisa que fez valer a pena essa sessão diante de meu televisor foi a curtíssima cena, logo no início do filme, em que o ator Michael Stahl-David é flagrado sentado em uma cama, vestindo apenas uma cueca samba-canção: nem uma horda de bestas genocidas gigantescas é páreo para toda a formosura deliciosamente perfeitinha do garoto loiro – ele chega a fazer você até esboçar um sorriso ao fim dos 85 minutos desta pura perda de tempo.
Baixe o filme utilizando uma das fontes de links a seguir.
legenda (português):
http://legendas.tv/info.php?d=16e4615ac70f12eb5058f271badc980d&c=1
Fonte 1 [AVI]:
OBS: junte os arquivos rodando o programa HJSplit.
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Fonte 2 [AVI]:
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Fonte 3 – RMVB [297 MB]:
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Projetos musicais que reúnem cantores e bandas em prol de caridade ou causas sociais acabam nunca interessando de fato porque os artistas ligados ao projeto não se dão ao trabalho de produzir algo que tenha realmente qualidade, se contentando com covers ou, quando muito, liberando algo que não passou pelo seu próprio crivo. Mas a coisa pode ser ainda pior quando aquilo que vai ser produzido reúne os artistas em parcerias desiguais e sob as amarras criativas do tema em questão – geralmente causas sócio-ambientais. Felizmente, mesmo que algumas coisas acabem não sendo exatamente um atrativo, esse não é o caso do projeto, “Love Cartier” com o qual acabei me deparando há poucos dias, uma iniciativa bem pensada da famosa joalheria francesa que, como já indica o nome, tematiza sobre o amor. Parte de um projeto que inclui a produção e venda de jóias cujos ganhos são revertidos para a caridade, a “perna” artística do projeto compreende o lançamento gratuito na internet de 12 canções compostas e interpretadas, em sua grande maioria, por artistas da nova seara de música independente. E, devo confessar que muitos deles eu sequer tinha ouvido falar na minha vida. É o caso do britânico Dan Black, que contribuiu para o projeto com “Liz And Jonny”, um pop/rock com uma programação e um riff no teclado compondo uma síncope bem desenhada, daquelas realmente pegajosas que fazem o ouvinte entoar a letra em falsetes semelhantes ao timbre do vocal de Black, tamborilar os dedos no ritmo da música e fazer um beat-box imitando a pegada da bateria sem se dar conta. Outro ilustre desconhecido para mim é Hawksley Worksman, que trouxe para a coletânea de músicas da Cartier a faixa “The Ground That We Stand On”, uma balada muito inspirada e emocionante, com fartura de vocais de apoio ampliando o lirismo da melodia, acompanhados de um arranjo feito de toques firmes porém doces tanto nas cordas do violão quanto na superfície da bateria e percussão, além de algumas sintetizações que agem como uma cola, unindo todos os elementos sonoros sem deixar qualquer fresta. Pauline Croze, por sua vez, não é exatamente uma desconhecida para mim, mas como nunca tinha me dado ao trabalho de conferir alguma composição sua, acaba dando no mesmo. “Sur l’écorce” é a faixa que compôs para a Cartier, uma canção onde os acordes das várias e diferentes camadas de guitarra soam tão metálicos, agudos e um tanto rústicos quanto o é o vocal da cantora francesa, o que resulta em uma canção que causa estranhamento à primeira audição, mas que ganha simpatia depois que lhe é dada mais atenção.
Claro, como eu acabei desenvolvendo a síndrome do indie desde que este blog sedimentou sua existência na blogosfera, alguns dos ilustres desconhecidos não o são de todo para mim. Sol Seppy, por exemplo, é uma das artistas do mundo indie que mais adoro e admiro desde que ouvi sua única obra até hoje, o disco The Bells of 1 2. Sua composição para esta coletânea, “I Am Snow” é o simulacro do seu estilo espetacularmente doce, taciturno e etereamente difuso, construída com toques delicados e doces em um piano distante, um violão silencioso e uma programação que evoca tanto o conforto melancólico da escuridão da noite quando o contentamento radiante da claridade do dia, tudo acompanhado do vocal fabulosamente pacífico e terno desta artista que merece ser muito mais conhecida.
Mas entre os artistas de menor projeção podemos encontrar outros que já tem uma história bastante longa no mundo da música. Um deles é o compositor japonês Ryuichi Sakamoto, famoso pelas suas inúmeras contribuições na músicas pop, na música erudita e na composição de trilhas sonoras, sempre com incontáveis parcerias lhe fazendo companhia. Para o projeto Love Cartier, Sakamoto sentou-se no seu piano e trabalhou em uma de suas indefictíveis improvisações, produzindo uma peça de enorme placidez e serenidade acústicas. Sentindo necessidade de algo a mais, o compositor enviou a composição para um de seus muitos amigos e colaboradores, o compositor austríaco Christian Fennesz, que adicionou à peça suas conhecidas intervenções eletrônicas, compostas sobre guitarras trabalhadas, distorcidas e subvertidas em softwares de áudio – o resultado é “Mor”, uma composição delicada e sofisticada, transbordando ternura e melancolia.
Entre as doze composições escolhidas e ofertadas, sobrou espaço até para que alguém não tem exatamente uma carreira no mundo da música. A atriz francesa Marion Cotillard, apesar de ganhar fama com o Oscar que recebeu por um papel que tudo tem a ver com o mundo da música, na verdade, até hoje, só fez algumas poucas participações neste meio, assim como o faz aqui neste projeto, com a belíssima balada “The Strong Ones”, cuja melodia atinge em cheio os ouvidos com o vocal quente e macio da atriz e cantora sobre violão, bateria e guitarras de cadência lenta e melancólica – dá vontade de deitar no chão e dar vazão à toda sua sensibilidade acompanhando a cantora nas letras da canção, que falam sobre como mesmo aqueles que se julgam fortes se descobrem inequivocamente frágeis diante da força incomensurável do amor.
Mesmo que nem todas as músicas que integram o projeto possam agradar ao público, o projeto já tem grande utilidade ao dar à chance para que qualquer um tenha contato, de uma só vez, com artistas desconhecidos com um trabalho de qualidade, ao trazer novas composições de artistas que por ventura já conhecemos e adoramos e, de quebra, ao mostrar que nem todo projeto musical que advém de ideais de caridade pode ser chato, aborrecido e artisticamente pobre e cafona – esse, talvez por conta de sua idealizadora e patrocinadora, exibe uma elegância e charme gratificantes.
Baixe todas as faixas em um pacote único ou selecione aquelas que mais possam lhe interessar, utilizando o site oficial do projeto, o Love Cartier – e não deixe de comentar aqui no seteventos.org sobre suas próprias impressões com relação às canções.
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Site oficial “Love Cartier” para seleção de faixas para download:
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Início de mês, modelo novo no The Boy. Sucedendo Levy Christiano, que não foi nenhum estouro mas rende um caldo bastante generoso, temos o paulista Caio De La Vega. E quando descobri qual era o modelo deste mês, me veio logo à cabeça o comentário que um visitante do blog deixou no texto sobre o modelo do mês passado: “agora o ‘modelo’ só precisa ter uma barriga definida e uma carinha ‘bonita’, que já fotografam”. Concordo, destacando ainda mais as aspas do autor do comentário, que certamente deixam subentendida a observação de que às vezes a carinha bonita nem chega a ser tão bonita assim. Digo isso porque o meu problema mais evidente com o modelo deste mês é que algo no rosto dele não me agrada. Me parece que há muitos excessos ali: lábios demais, orelhas demais, olhos demais, nariz demais, sobrancelha demais. Ficou tudo tão acima da medida que parece que não sobra espaço na face, deixando a impressão de um rosto muito magro acomodado em uma cabeça grande. O corpo, como sempre, é melhor do que o meu, obviamente, mas corpo bonito e malhado todo mundo encontra com uma certa tranquilidade nas suas andanças cotidianas – isso chega até a ser balela hoje em dia. O que está faltando mesmo, e isso eu os visitantes estamos afirmando há algum tempo, é que os organizadores do The Boy não parecem estar encontrando – ou não parecem interessados em procurar – aqueles modelos que não deixam espaço para “senão”, aqueles que invocam uma unanimidade de imediato entre os admiradores do site de ensaios do Terra, devidamente laceados por um ensaio caprichado, inspirado. O trabalho que compete ao fotógrafo até que não está exatamente ruim, o maior problema é o modelo, mas mesmo o responsável pelas fotos teve seus momentos de insensatez ao enfiar o rapaz dentro de uma piscina com águas em plena agitação, sem parecer dar atenção ao fato de que nada além da água e da cabeça do rapaz podia ser visto nas fotos. Por mais que não estejamos interessados apenas em fotos sem qualquer criatividade do corpo do modelo, também deve-se preservar um equilíbrio na composição das fotos – só não fiquei tão irritado com essa liberdade pretensamente subversiva que desperdiçou uma sessão inteira de fotos, como fiquei quando o fotógrafo Cristiano teve a idéia estapafúrdia de fotografar Matheus Verdelho voando a quilômetros de distância em um balanço, porque Caio não entrou na minha lista de preferidos. Fosse ele um modelo espetacularmente lindo e tesudo, eu ia querer arrancar a cabeça do tal Felipe Lessa usando os meus dentes e usá-la como trava para a porta do meu banheiro.
Certo, eu sempre falo no Matheus, né? Vocês já devem estar cansados de tanto que eu me refiro ao ensaio do modelo como paradigma de perfeição do The Boy, e devem me achar um tarado pelo modelo loiro – o que não deixa de ser verdade – que, sem dúvidas, figura no panteão dos melhores do site. Porém, nem precisamos ser tão saudosistas, há modelos e ensaios tão fantásticos quanto este no espaço de pouco mais de um ano: o loiro belzebu enlouquecedoramente sexy Michael Horta, o moreno enormemente malicioso Fernando Sippel e o garotão arrasadoramente másculo Rodrigo Calazans, por exemplo, já entraram para o meu registro de memória afetiva (risos, por favor) do The Boy. Tenho certeza que há modelos tão tentadores quanto estes fazendo fila nas agências do país. Sendo assim, porque se contentar em convidar alguém que só vai servir pra fazer volume nos ensaios do ano? Já contamos com a injusta diferença no número de ensaios entre a versão feminina e masculina do site, e ainda assim eles se dão ao luxo de desperdiçar o ensaio mensal com um modelo e fotos que só podemos classificar como “bacaninha”? Se é pra ficar no feijão com arroz da plebe, renomeiem o site logo para “Garoto Pop” – porque, vamos combinar, eles parecem estar se esforçando pra nivelar o The Boy à sua concorrência novata e quase sempre um tanto ordinária. Me deu até vontade de ignorar o ensaio do mês, mas em respeito àqueles que sempre acabam gostando, fiquem à vontade para conferir o ensaio aberto e as fotos do ensaio fechado do modelo. Pra finalizar, eu só digo uma coisa: “nhé”. Porque é exatamente isso o que eu acho do modelo e do ensaio do mês – o que vocês acharam eu só vou poder saber, assim como os outros visitantes do blog, se vocês comentarem, né?
Clique neste link para conferir todo o ensaio do site The Boy com o modelo Caio De La Vega.
4 ComentáriosO segundo disco da banda de Joan Wasser não encanta tão prontamente quanto o primeiro, principalmente porque algumas poucas canções, como “Magpies”, um pop-soul setentista com direito inclusive aos vocais de apoio e arranjo de metais que remetem ao estilo da época, ensaiam conquistar o gosto do ouvinte mas se perdem tanto em descaminhos melódicos tão inócuos e aborrecedores, quando não absolutamente irritantes, que acabam interferindo na apreciação adequada das demais faixas do disco. No entanto, superada a irritação que essas canções causam por algum tempo, as outras faixas revelam logo os seus enormes predicados, algumas de modo lento e crescente, liberando paulatinamente sua beleza à cada apreciação – é o que acontece com “To Be Loved”, faixa que envereda de modo mais sutil no mesmo pop-soul nostálgico de “Magpies”, mas que é mais feliz ao ser balanceada com um teclado de cores quentes e um piano de notas graves, ambos dedilhados de modo suave e apoiados por uma guitarra e bateria que aquecem discretamente a melodia tanto quanto o próprio vocal macio de Joan -, outras de modo mais imediato e impactante – como “Holiday”, que une acordes deliciosos no violão, no piano, e na bateria para compor uma melodia ao mesmo tempo ágil e graciosa, que cede bastante espaço para a voz encantadora da cantora americana. Sempre inspirada por referências musicais de décadas passadas, Joan é capaz de compor faixas que lembram desde a romântica melancolia da “new wave” do final dos anos 80 e início dos 90 – falo aqui da esplêndida “Start of My Heart”, cuja música é guiada por uma bateria e baixo de cadência lenta, salpicada por uma guitarra de acordes extensos e serenos e preenchida por uma sintetização que cria ondulações ao ser continuamente sobre e sobposta à instrumentação restante – até ao glamour do pop americano que sonorizou bares, discotecas e qualquer festa que se prezasse há cerca de 40 anos – claro que me refiro à faixa “Furious”, marcada por um compasso ligeiro de bateria e teclado, reforçado por piano de acordes dramáticos e prodigiosos e um coro de palmas que recheia o fundo da melodia, além dos vocais adicionais que adensam ainda mais o nostalgia sonora – tudo, porém, com um senso de naturalidade e graça que torna esse caldo saudosista algo de muito bom gosto. No final do disco ainda sobra ânimo para um dueto delicioso com Rufus Wainwright em “To America”, que é introduzida por um piano algo desolado e logo subvertida por um arranjo fabuloso que toma de assalto a música com saxofones, guitarras e sintetizações enormemente melódicas e verborrágicas, fechando de modo brilhante este disco que, a esta altura, faz esquecer qualquer possível menção de tropeço que inicialmente o marcasse.
Baixe o disco utilizando o link a seguir e a senha para descompactar os arquivos – e não esqueça de baixar logo depois a faixa bônus “Take Me”, liberada com exclusividade na web aqui pelo seteventos.org.
senha: seteventos.org
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Faixa bônus “Take Me” (do single “To Be Loved”):
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Dois jovens de 20 e tantos anos, amigos de infância, amantes de literatura e música punk, tentam ambos lançar seu primeiro livro, enviando juntos os seus escritos para uma editora. Enquanto Philip consegue obter o feito, e ganhar fama da noite para o dia, Erik tem seu escrito recusado. Philip, porém, acaba tendo problemas, já que não consegue lidar com o seu sucesso, e Erik segue em frente na tentativa de obter uma nova chance.
O longa-metragem de estréia de Joachim Trier, primo distante de um dos mais famosos cineastas dinamarqueses, Lars Von Trier, tem uma dualidade qualitativa na concepção de seus elementos: sempre que algo parece uma idéia interessante, também o é ao mesmo tempo irritante.
A estilística narrativa é o ponto onde isso é percebido com mais facilidade: ao ser por vezes bifurcada na tentativa de expôr outras possibilidades para o comportamento e o caminho tomado pelos personagens, e inundada por um maneirismo técnico no qual o diretor adota coisas como o congelamento das cenas e a exposição de legendas, ambos com o claro intuito de imprimir dinamismo, a narrativa soa, em alguns momentos, apenas como instrumento para construir no longa-metragem uma identidade cult – e é bom lembrar que o cult genuíno não é o com intencionalidade, mas torna-se um no advento do contato com o público -, enquanto em outros sua técnica ganha sentido, por apresentar elementos importantes para a trama ou por expôr o verdadeiro conflito de um personagem, bem como por apresentar sua solução – é o que acontece na sequência final do longa-metragem, por exemplo. O narrador onisciente é outro elemento de qualidade ambígua no filme: se por um lado ele serve como muleta para a já citada tipificação do longa como obra de status cult, por outro ele ganha o papel de aumentar no espectador o conhecimento mais aprofundado sobre a personalidade dos personagens e a motivação primeira de seu comportamento. Contudo, o mais interessante é observar que este caráter de dualidade se repete até mesmo no par de protagonistas do filme: se Philip, o escritor de inspiração repentina e escrita ágil, irrita pela sua personalidade conturbada e confusa, pela sua instabilidade psíquica e emocional e pelo seu caráter sensivelmente egoísta, Erik, o autor cujas obras só nascem com muito esforço, cativa tanto por suas qualidades – seu companheirismo, que lhe faz estar disposto a sempre apoiar e ouvir aqueles que ama – quanto pelos defeitos – a sua ingenuidade, que lhe permite ser influenciado e moldado pela opinião e comportamento alheios, assim como a inconsequência, que lhe faz agir de modo impulsivo e leviano, sem pensar que pode estar desprezando e magoando alguém que só lhe quer bem. Como se pode prever, é justamente o personagem de Erik que garante ao filme grande parte de seu interesse – muito graças ao carisma de seu intérprete, Espen Klouman-Høiner, e em outra parte pela configuração humanamente verossímel de seu caráter.
Mas os méritos não são sempre inconstantes quando são obra unicamente do diretor: a idéia de abolir sincronia entre fala e imagem, bem como o desvio do foco de suas lentes para outros elementos, capazes de transmitir tanta emoção quando a expressão dos atores, intensifica a potencial emoção das cenas e seu caráter poético – isso pode ser conferido especialmente na sequência que retrata o reencontro entre Philip e Kari.
Uma estréia promissora, como diria um dos personagens-chave da trama. Se em suas produções posteriores o diretor dinamarquês amadurecer sua técnica, polindo-a ao limar o maneirismo excessivamente desnecessário, teremos mais um representante a ser constantemente observado no cinema nórdico, berço de uma tradição de cinema tão ousada na sua poética quanto no seu experimentalismo.
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Mais uma temporada de Lost chega à sua conclusão, com a exibição de um eletrizante episódio final duplo. Desde que a série foi retomada, com a exibição do nono episódio, Lost entrou em uma espécie de conclusão de um ciclo, eliminando personagens secundários e mesmo alguns do primeiro escalão do elenco, talvez em caráter temporário, para, de modo muito astucioso, criar novas tramas para os personagens com eles diretamente ligados, dar mais espaço ao aprofundamento da mitologia cada vez mais extensa da ilha e possibilitar, a partir da próxima temporada, o desenvolvimento de uma mudança do espaço físico explorado na série. Parte disso já era do conhecimento do público através do uso dos flashforwards, o que fez desta a conclusão de temporada menos surpreendente da série até hoje. No entanto, a metade do impacto perdido no quesito surpresa foi devidamente compensado pela fabulosa composição da narrativa deste episódio final da temporada, que envolveu passado, presente e futuro da ilha e do mundo exterior à ela – só para citar como registro de exemplo, logo no início do episódio, foi engendrada uma fusão brilhante do fim da “recapitulação” dos acontecimentos anteriores com o início do episódio que, diga-se, remonta ao igualmente fenomenal fim da terceira temporada. Além disso, flashforwards de cada um dos personagens que tiveram especial destaque este ano – quem a assistiu, sabe bem de quem estou falando – pontuaram toda a duração do episódio, respondendo dúvidas que foram lançadas pela exposição de outros flashforwards durante toda a temporada, bem como lançando ainda outras sobre ocorrências na passado/presente/futuro da ilha e daqueles que a habitam – sem falar na aparição mais uma vez meteórica de dois velhos conhecidos do fim da segunda ano que ninguém imaginava que fossem novamente apresentados no seriado.
Mas o que pode nos aguardar para o quinto e penúltimo ano da série? Acho que o mais provável é que, como aposto desde a consequente implementação dos flashforwards, no fim do terceiro ano, há uma tendência em concentrar o foco da Lost no desenvolvimento de uma narrativa fora da ilha – o que, há poucos dias, foi citado pelos produtores como uma possibilidade para a quinto ano do programa. A meu ver, o melhor efeito ao adotar esta idéia seria obtido com a exploração de tramas no mundo exterior durante uma temporada – a penúltima seria ideal – para retornar à ilha como cenário para fechar a trama da série no seu último ano. Claro, isso é só uma aposta ingênua, pois certamente que os produtores devem ter tudo planejado desde já, e há chances de nada ter a ver com apostas e previsões que possamos elaborar. Confundir o espectador sobre a teoria que fundamentaria toda a explicação do que é testemunhado em Lost é uma diversão que os produtores cultivam há muito tempo e ela não foi abandonada nesta temporada – há pelos menos três sequências que retomam a idéia de tudo não passa de uma espécie de jogo, enquanto pelo menos uma lembra o espectador sobre a possibilidade de que os personagens enfrentam algum tipo de purgação espiritual. Contudo, ao menos um dado de certeza foi lançado nos momentos finais do episódio: a idéia de que a presença dos sobreviventes do vôo 815 na ilha não é mero acaso e acidente. Essa suposição, há muito mencionada nos episódios e perscrutada pelos fãs, foi agora abertamente reforçada como um dos fios condutores de todo o sentido da trama da série. Mas e o por quê dessa relação necessária da ilha com o seus ocupantes, capaz de desencadear eventos catastróficos quando da possibilidade que estes ocupantes abandonem a ilha? Bem, a resposta para tanto só deve vir depois de uns bons meses sofridos sem Lost – se é que teremos mesmo a resposta para isso na próxima temporada.