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“Antes do Pôr do sol”, de Richard Linklater.

Before SunsetEm 1995 o diretor Richard Linklater produziu um clássico cult chamado “Antes do Amanhecer”. O projeto, apesar de independente, extremamente simples e concentrar-se em apenas dois jovens atores – o americano Ethan Hawke e a francesa Julie Delpy – era super ambicioso: o argumento resumia-se tão somente a um casal de estrangeiros que se “esbarram” por um acaso em uma viagem de trem para Viena e decidem – já que dispõe de tempo livre até o próximo amanhecer, quando retornarão para seus respectivos países – passear pela capital austríaca e travar um desvendamento de suas personalidades – tudo na brevidade do tempo que eles dispõe. Nove anos depois, uma sequência é produzida, preservando praticamente a mesma estrutura do primeiro filme: os dois personagens se reencontram, ambos mais velhos, bem menos ingênuos e com uma experiência de vida já formada; Jesse é um escritor, tem um filho, casado por puro conformismo social e Celine é uma ativista ambiental algo neurótica e compositora nas horas vagas. Assim, enquanto eles passeiam pela cidade, travam discussões sobre uma vastidão de assuntos, filosofando sobre política, sexo, amor, a condição humana, a morte, o envelhecimento, relações afetivas, desilusão, frustação, a inevitabilidade de pequenas decisões na vida futura. É a repetição da mesma fórmula do primeiro filme. E, deste modo, a sequência repete o mesmo erro do filme original: o universo da discussão é tão vasto que tudo soa forçosamente intelectualizado e pretensioso. Como o filme inteiro não passa disso, o longa fica bastante chato e, apesar de toda a pretensão discursiva, desinteressante. Há apenas duas coisas que podem manter a atenção do expectador durante o longa, em meio ao falatório. Primeiro, o carisma dos atores e de seus personagens, já que estes são construídos e vividos com muita naturalidade. Segundo, o interminável discurso fica menos pesado e arrastado para aqueles que assistiram os dois longas da maneira que foi planejado, ou seja, tendo experimentado nove anos de intervalo entre o lançamento de um e do outro, o mesmo intervalo de tempo que os personagens enfrentaram até reencontrarem-se. Isso porque os personagens são reflexo do tempo que vivem e da faixa etária em que se encontram e, assim, o expectador que assistiu o primeiro filme em 1994 e a sequência no seu ano de lançamento vai se identificar com os sentimentos e com a visão de Jesse e Celine sobre o estado das coisas hoje. Tirando estes dois aspectos, “Antes do Pôr do sol” se torna um pouco irritante, assim como já era “Antes do Amanhecer”, há praticamente dez anos atrás. É uma experiência interessante a de acompanhar o amadurecimento e as mudanças na vida de dois personagens, bem como avaliar as mudanças pelo qual passa o mundo, através da conversa destes – porém, nunca passa de apenas um interesse sem muita relevância. Mais do que qualquer coisa, é um filme feito para os fãs da primeira parte. De resto, não arrebata.

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Sinéad O’Connor – Universal Mother. [download: mp3]

Sinéad O'Connor - Universal MotherSinéad O’Connor lançou em 1994 aquele que considero o seu melhor disco até hoje. Universal Mother é um apanhado fantástico de músicas em que a compositora derramou seus sentimentos, frustrações e dores, dedicando a mesma intensidade emotiva na interpretação das canções e na composição das melodias. O disco abre com “Germaine”, trecho de um discurso da escritora feminista Germaine Greer. Logo em seguida somos surpreendidos com o cantar rascante de Sinéad em “Fire on Babylon”, música de bateria forte, metais messiânicos e cordas que remetem à música tradicional àrabe onde O’Connor faz das tripas coração, tamanha a emoção com que canta. As letras são um primor do trabalho de composição da artista irlandesa, uma vez que declaram os horrores da guerra usando o mito bíblico de Babilônia do livro das Revelações/Apocalipse como analogia. A faixa seguinte, “John, I Love You” substitui o tom urgente por uma emotividade construída em uma melodia bem mais delicada, que lembra vagamente uma canção de ninar. A letra é também repleta de emoção, já que é um hino de amor materno, onde a mãe tenta mostrar ao filho os desafios, frustrações e belezas da vida. Quando a música prossegue para o encerramento, a melodia do piano sofre sutil alteração, unindo sua harmonia com a melodia da música seguinte, “My Darling Child”, mais uma canção sublime com letras simples, compostas por frases de admiração e amor de uma mãe para sua criança. Levando a temática do disco o mais próximo possível de sua essência, a próxima faixa traz um dos filhos de Sinéad O’Connor, Jake Reynolds, na época ainda criança, cantarolando versinhos ingênuos e breves sobre a condição humana. “Red Footbal” leva à frente a temática da canção que a precede, mas em uma composição mais madura e reflexiva que traça uma analogia entre o sofrimento de um animal aprisionado em um zoo e a opressão pelo qual muitos seres humanos passam. A melodia, que inicia-se introvertida e reprimida, apresentando apenas piano e voz, caminha aos poucos para uma orgia harmônica onde cresce pouco a pouco a bateria, até explodir em um climax revanchista. Sucedendo esta canção temos um cover de Kurt Cobain, “All Apologies”, cuja melodia despoja-se de excessos, sendo composta apenas de voz e violão algo minimalista, e com letras que questionam as relações humanas. As duas músicas seguintes estão, com certeza, entre as mais belas canções de Sinéad: ambas as canções tem suas melodias compostas apenas pela voz de Sinéad, em um cantar que concentra inacreditável emoção e dor, e por um piano de acordes cortantemente melancólicos, de levar qualquer ouvinte às lágrimas. As letras também são emocionantes: em “A Perfect Indian”, composta pela própria cantora, Sinéad canta a dor de alguém que só vê alegria em sua família quando esta é pura aparência – como um sorriso forçado em uma foto, por exemplo – e em “Scorn Not His Simplicity”, temos a sensação de impotência de uma mãe diante da descoberta de que seu filho não é como as outras crianças – a letra não deixa claro se seria uma defiência física ou cerebral ou um problema decorrente de um acidente. É de dar um nó na garganta o sentimento de culpa e abandono que esta mãe experimenta ao ter idéia de como ele não poderá mais compartilhar de tudo que faz da infância algo inesquecível. “All Babies” continua abordando a infância, mais agora de uma maneira mais universal e lírica, declarando que são elas as coisas mais adoradas por Deus – na melodia, mais uma vez, o piano hiper-emotivo é o destaque, embora nesta canção a harmonia ainda faça ótimo uso de baixo e bateria. “In This Heart”, por sua vez, depoja-se totalmente de instrumentação, explorando emoção inimaginável apenas com os vocais de Sinéad e de um esplendoroso coro gospel em modo algo minimalista. A letra é extremamente simples, mas consegue sintetizar sensibilidade fulminante em seus versos que falam sobre perda, dor e resignação. Como um mantra, a próxima canção, “Tiny Grief Song”, tem suas letras compostas por versos repetidos, novamente “a capella”, sem qualquer instrumentação – é exatamente o que informa seu título: uma pequena canção do sofrimento. Em “Famine” Sinéad foge da identidade melódica, compondo algo próximo de um funk e que lembra os hits mais elegantes do US3, que tanto sucesso fez na década de 90. A letra também muda de tom, já que o sofrimento humano continua sendo abordado, mas agora parte para um discurso mais político e regional: a opressão irlandesa imposta pela invasão britânica. Fechando o disco, retornamos à uma canção que conjuga letras e melodia como um mantra: “Thank you for hearing me” é uma das canções favoritas dos fãs, em cujas letras vemos a gradação dos sentimentos humanos despertados pelas relações humanas, particularmente as afetivas: primeiro o contentamento e alegria quase plenos, passando ao sofrimento e a dor e, então, ao posterior fortalecimento que estas últimas acabam favorecendo.
É esta última canção, provavelmente, a síntese deste trabalho lançado por Sinéad O’Connor: alegria, dor, sofrimento e fortalecimento humano são os temas de Universal Mother, especialmente quando relacionados à maternidade ou à infância. E, por incrível que pareça, isto se configura como um problema: algumas pessoas tem uma dificuldade e um preconceito tolo com toda obra que desperta a tristeza e a melancolia ou explora os sentimentos de dor e sofrimento – talvez seja esta a razão de o disco não ter feito sucesso. Contudo, quem tem a inteligência de vencer tais limitações culturais vai se esfalfar com este álbum – é o registro definitivo da plenitude musical de uma artista soberba.

senha: seteventos.org

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Bic Runga – “Say after me” (dir. ?). [download: vídeo]

Bic Runga - Say after meClassuda ao extremo no disco Birds, Bic Runga acertou em cheio no clima do clipe para a música “Say After Me”. Como incita a primeira parte da música, a ambientação da sequência inicial do vídeo e a performance da artista é totalmente cabaret. Com o avançar do elegante climax orquestral da canção, um belíssimo espetáculo composto de fogos de artifício serve de fundo para a focalização dramática e algo teatral da câmera e o caminhar glamouroso da artista neo-zelandesa. É a perfeita transposição para imagem da sonoridade da canção. Baixe já o vídeo pelo link a seguir.

http://www.bicrunga.com/bicrunga-sayafterme-vhigh.mov

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The Boy / Agosto 2006: todo Bruno Schuind [fotos]

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Você já devem estar calvésimos de saber que eu sou mais chegado em morenos. Mas, vamos combinar que o loirão, que é o modelo deste mês do The Boy do Terra, não deve ser ignorado…eita! Visualizando o ensaio (a cargo do fotógrafo Cristiano Madureira) na ordem correta – incluindo aí as fotos restritas -, quem vê as imagens vai se surpreendendo pouco a pouco: primeiro você acha ele um loiro gostosinho, depois começa a avaliá-lo como um nerd tesudinho – ao menos eu acho que ele tem algo do tipo – e, a partir do ensaio quatro o rapaz começa a achar a linha certa, encarnando um tipão mais sedutor e malicioso. Dai para a frente a coisa vai muito bem até que, no ensaio onze, o galegão desnuda-se e mostra o corpão pra lá de sarado e, ainda por cima, faz cara de “tá esperando o quê?” – aí é covardia. Essa cara de “vem que eu te como TODO” é de deixar qualquer um se ardendo todinho. E o menino quer ser médico, vejam só. Imagine topar com um homem desses em um consultório ou uma emergência qualquer? Eu ia botar para funcionar toda a minha habilidade como ator e fingir uma dor lancinante qualquer pra ver se o rapaz não se compadecia e me presenteava com um sutil beijinho de língua para acalmar – e beijo de língua é sutil?? E quando ele fizesse a pergunta de praxe, “Onde está doendo?”, eu responderia, com o olhar mais doce e sôfrego do mundo, apontando no peito: “Aqui, um vazio imeeeeenso…..doutorrrrr!”. E se ele for meio nerd mesmo, como eu suspeito? Ai….eu passaria hoooooras ouvindo qualquer coisa desinteressante que ele disesse…só para ficar admirando aqueles pelinhos loiros, claro. Bobagens à parte, o rapaz é um prato saboroso, digno de se lamber com a língua – porque esse negócio de lamber com os olhos começa a encher o saco logo. Aproveite esse rapagão delicioso no álbum aberto e no álbum fechado com o conteúdo completo – e que conteúdo!!

Clique neste link para conferir todo o ensaio do site The Boy com o modelo Bruno Schuind.

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“Elefante”, de Gus Van Sant.

ElephantEm uma típica escola secundária americana, temos contato com alguns de seus funcionários e alunos, retratados nos instantes que precedem uma tragédia.
O cineasta americano Gus Van Sant é capaz de tolices como “Gênio Indomável” e coisas deploráveis pela simples idéia da existência, como a refilmagem de “Psicose”. No entanto, ele é um cineasta talentoso, o que lhe falta de quando em quando é bom senso em seus projetos. E, felizmente, um dos seus últimos trabalhos demonstra isso. “Elefante” é ficção apenas no que compete aos personagens e o local da tragédia, já que retrata um dos eventos que mais chocou a sociedade americana, o massacre da Columbine High School por dois de seus alunos. Tendo projetado este filme como um retorno seu ao chamado “cinema idependente” – retorno que na verdade iniciou-se com “Gerry” -, o diretor faz as escolhas técnicas exatas para sustentar este clima. Os atores são todos amadores, recrutados na região em que foi rodado o filme e exibem a naturalidade ideal para seus papéis. As sequências são, em sua maioria, filmadas em ininterruptos planos longos, muitas vezes com o personagem central da cena caminhando e sendo filmado de costas para a câmera. A trilha sonora é quase inexistente, excetuando-se alguns trechos sonorizados, em grande parte, por peças de Beethoven. Os diálogos retratam situações e temas cotidianos de uma escola e seus “habitantes”, sem qualquer ligação entre si, já que os personagens retratados não necessariamente se conhecem. A fotografia do filme é de uma assepsia esplendorosa, deixando na tela uma imagem limpa e cristalina. A cenografia, por sua vez, retrata um ambiente repleto de angulos retos e corredores intermináveis, o que reforça a idéia de um ambiente frio e sisudo. Todos estes elementos, junto com essa fotografia tão asséptica, montam o painel de um ambiente onde, teoricamente, impera a inocência e a inexperiência. Contudo, Van Sant consegue expor em breves momentos todo tipo de conflito que faz parte da faixa etária dos personagens retratados: a rejeição e a perseguição por outros alunos e mesmo por professores, o isolamento daqueles que são vistos como diferentes, o flerte e as festas inconsequentes, a bulimia adolescente, os problemas com membros da família, cujos integrantes adultos as vezes se mostram mais imaturos e problemáticos do que os mais jovens, a reciprocidade e carinho entre colegas, a descoberta e experimentação sexual. Isso tudo acaba criando um contraste com a placidez composta pela parte técnica do longa-metragem e retratando o que de fato compõe o ambiente escolar, cujo cotidiano é, para alguns, repleto de injustiça, sofrimento e incompreensão. Porém, Gus Van Sant é inteligente o bastante, ao menos neste seu retorno ao cinema independente, para ignorar com veemência a tola mania americana de buscar razões, “porquês” e motivos para tudo, coisa que só satisfaz ao puritanismo do povo americano, que busca sempre usar esta metodologia para construir uma comparação com si mesmos para que entendam-se como “saudáveis” e “normais”. Assim sendo, o diretor expõe possíveis mazelas, mas não as torna motivos determinantes: talvez as injustiças e a violência cotidiana que os personagens sofressem tenha servido de motivação torpe para cometer uma atrocidade, talvez seja consequência do seu ambiente familiar algo desajustado ou indiferente, talvez a pueril sociedade americana, construída em cima da idéia de que o mundo se divide em vencendores e perdedores, onde estes últimos sempre são considerados como tal por não se encaixarem nos moldes definidos, talvez seja ainda a obssessão americana por armas e pela cultura do medo, que propicia a capacidade de compra de armamento pela internet e de entregá-las, pelo correio, nas mãos do primeiro que abrir a porta, ou talvez nada disso justifique e os que perpetraram tamanha desgraça sejam apenas desajustados. Junto com esta característica, o outro grande trunfo do filme é conseguir sustentar um clima de contínuo suspense, usando como artimanha um roteiro muito bem construído que mostra praticamente todas as sequências como acontecimentos simultâneos com diferentes personagens, todos tendo como desenlace o massacre que encerrou a vida de muitos, e levando as cenas até o seu limite apenas para cortá-las no momento crucial. Isso resulta em um desnorteamento do expectador, que não faz idéia de quando a desgraça cairá sobre aquele lugar repleto de aparente tranquilidade e com algo incomodamente opressivo.
“Elefante” é um ótimo representante da técnica, raciocínio e inteligência, que são marcas do cinema que interessa, mostrando que muitas vezes os cineastas deixam seu talento ser eclipsado pela sede comercial, que produz espetáculos milionários e desmiolados. Gus Van Sant tomou a decisão de dar uma nova guinada em sua carreira na hora certa, conseguindo com este belo filme fazer com que críticos e fãs de cinema do mundo inteiro esquecessem o imenso erro que cometeu ao regravar o grande clássico de Alfred Hitchcock. E não é sempre que algum artista consegue superar um estigma tão negativo – ponto para a competência quase destituída do cineasta americano, que acordou de um longo sono e mostra-se, novamente, promissora.

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Bic Runga – Birds (Special Edition) [download: mp3]

Bic Runga, a Neo-Zelandesa de traços orientais, é a artista de maior sucesso nos últimos anos lá por aquelas bandas. Apesar de pouco conhecida por aqui, quem tem sorte de ser movido por uma curiosidade cultural natural já a conhece, pelo menos, desde seu segundo álbum, Beautiful Collision. E a moça parece ter aprimorado seu sonoridade desde o seu trabalho anterior. Para criar Birds, que foi produzido por ela própria, Bic isolou-se com uma banda em um belíssimo casarão em estilo clássico, em uma região campestre da Nova Zelândia; uma vez lá, a compositora decidiu gravar cada canção em uma única sessão, sem separar cada instrumentação em um canal de som diferente, à maneira que eram feitas as gravações há algumas décadas atrás. Todo esse cuidado resultou em um trabalho coeso, de uma elegância fenomenal e luminosidade sensitiva impressionante. O tom melódico preponderante do disco veleja entre um jazz anos 50 e um pop romântico anos 70. Esbanjando glamour em suas composições, Bic joga no chão, pisa em cima e tripudia com todas as estrelinhas solo atuais que compõe no gênero. As duas primeiras canções da edição especial do disco – que apresenta uma ordenação diferente da edição normal – usam os pássaros do título do álbum como metáfora para o sofrimento que acompanha a paixão: “Captured” tem uma melodia de estupenda beleza melancólica, recheada de cordas suaves e também temerosas, uma bateria lenta, que remete a um caminhar pesado e triste, uma harpa discreta e luminosa e uma guitarra brilhante, com uma sonoridade distante que remete à algo metálico – e devido ao título da canção, o objeto metálico que se forma na mente do ouvinte é uma gaiola. A letra, por sua vez, aprimora a sensação de dor, desenhando um ambiente repleto de escuridão, iluminado o suficiente apenas para revelar que há ali uma mulher aprisionada e inerte pelo sofrimento e desespero amoroso – a canção é simplesmente brilhante. A faixa seguinte, “Birds”, exala uma elegância desmedida, onde piano e cordas classudíssimos servem de moldura para a voz doce de Bic, e onde a artista canta sobre amantes que tentam lidar com o amor que sentem um pelo outro, sentimento este que pode acabar aprisionando-os. Em “Winning Arrow” – um delicioso pop romântico, cujas letras celebram o amor e promovem a superação de toda e qualquer dificuldade – e “Say After me” o clima suscitado pelas melodias é de nostalgia pop setentista, no melhor estilo Olivia Newton John, ao mesmo tempo em que há algo bem ao sabor “cabaret” na metade inicial de “Say After Me”, cheia de brilhante glamour e instrumentação esplendorosa e com letras que revelam o fim de uma relação amorosa sem perder um centímetro de elegância. “If I had you” prossegue no climão romântico e no nostalgismo, com letras sobre um amor silencioso e passional que não é correspondido e com mais backing vocals que remetem aos clássicos dos artistas americanos, conseguindo o que só mesmo artistas como Barbra Streisand conseguiam fazer, unindo romantismo e classe na medida exata para não soar excessivamente cafona. “Listen”, por sua vez, avança as referências melódicas um pouco no tempo, apresentando refrão e coros de fundo que lembram algo no estilo Aimee Mann, porém, com mais classe e estilo do que esta. O mesmo lembra o piano e o refrão cheios de estirpe da irresistível “Blue Blue Heart”, mais uma canção onde o orgulho tende a se manifestar mesmo quando a sua vida afetiva se desmorona à sua frente. “That’s Alright”, com letras que falam sobre como é difícil deixar uma realação amorosa com o sentimento persistindo no coração, é outra canção que soa conhecida, já que sua melodia de guitarras elegantes e refrão saboroso suscitam uma Sade muito menos chata e mais divertida. “Ruby Nights”, música de andamento lento, tem letras poéticas – abandono afetivo, o tom primordial do disco – e melodia sorumbática e silenciosa. “It’s Over” é um caso à parte: sozinha, valeria a compra do disco todo, não tivesse o álbum outras canções excelentes. A música dilacera qualquer coração já machucado com seus versos diretos e sua melodia e coro de um lirismo triunfantemente depressivo – os maiores representantes da música romântica da América do Norte, como Burt Bacarach e Leonard Cohen, não fariam canção que atingisse emotividade tão sublime com tamanha simplicidade. Fechando esta edição especial do disco tmeos ainda duas canções extra. “Somewhere In The Night”, cuja harmonia sutil lembra o vai-e-vem da maré ou o soprar de uma brisa mais forte, utiliza-se de elementos da natureza como comparação para ilustrar a suavidade da voz daquele que é amado. Se você está interessado em alguém, essa música serve como uma cantada esplendorosa – e se, ainda assim, a pessoa não lhe der a menor atenção, esqueça-a: alguém que não manifesta qualquer reação diante de tamanha beleza não deve ter mesmo a menor classe e ser culturalmente desprezível. A segunda faixa bônus, “Something’s Gotten Hold Of My Heart” é um cover gostosinho, onde Bic Runga se dá ao direito de se divertir e soltar um pouco mais a voz.
Pode soar estranho para você uma artista que promove uma mistura de influências melódicas pop tão variada, mas o projeto mantém a coerência e nunca perde o fio da meada sonoro, preservando o estilo, elegância, charme e sutileza que a cantora impõe do início ao fim do álbum. É pra ouvir vezes seguidas. Baixe o disco através do link abaixo.

Baixe (senha: seteventos): http://www.mediafire.com/file/b8qossdx44kalks/bic_-_birds.zip

Ouça:

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“Men’s First Friend”, de Allen Mezquida. (vídeo download)

Men's First FriendDando uma pausa nos vídeos musicais e voltando-se um pouco para os curtas, aproveite este vídeo divertido e muito bem feito que retrata brevemente o cotidiano incômodo de um homem das cavernas – que parece não ter mudado muito para o homem de hoje – e tenta conjecturar, com muito humor, sobre o momento crucial que criou a relação de fidelidade e compreensão entre o homem e o cão. Quem ama cachorros vai adorar o lépido e simpático canino da animação. Faça download pelo link abaixo.

http://rapidshare.de/files/28288347/mens_first_friend.mov.html

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Camille – Les Sac Des Filles. [download: mp3]

Camille - Les Sac des FillesNo seu disco solo de estréia, a francesa Camille produziu algo menos inovador do que seu lançamento seguinte, mas produziu o álbum igualmente excelente, que soa certamente mais francofônico, porém apresenta também influências do pop-jazz mais tradicional e também algo que remete à bossa nova. “1,2,3”, música que foi utilizada na publicidade do perfume “Promesse”, da maison Cacharel, inicia como uma delicada caixinha de música e uma Camille mais calma, desdobrando-se em uma melodia mais ritmada, que lembra muito as composições apresentadas pelos músicos anônimos que invadem as esquinas da capital francesa, geralmente com o acordeão como instrumento preferido. “Paris” é uma deliciosa ode à capital, com musicalidade que se mostra melancólica, mas que logo é invadida por um belo arranjo alegre, assumidamente francofônico, com direito a assobio e tamborilar de dedos e fartamente composto por orquestração de cordas e piano – caminhar pela cidade francesa ouvindo esta composição da cantora deve ser inconcebivelmente prazeroso. “La Demeure D’un Ciel” é um pop acústico encantador, onde escuta-se apenas um violão e a voz despreocupada de Camille. Depois da despretensão da faixa anterior, somos supreendidos com “Les Ex”, onde Camille brinca à vontade nos vocais, mostrando um pouquinho das maravilhas que escutaríamos no seu segundo álbum, e ainda traz o ruído do que se supõe ser uma briga conjugal – não a voz dos amantes se desentendendo, mas o barulho do espatifar de toda sorte de louças – impossível evitar alguns risos. “Mon Petit Vieux” volta a delicadeza, onde melodia e vocais de Camille são postos de maneira comedida e doce, à maneira de um pop-bossa francês – af! isso existe? A faixa “Ruby”, única cantada em inglês no disco, foi gravada em uma sessão única, sem separação do vocal da cantora e do violão simples, e preservando um ruído surdo, daqueles que lembram gravações em aparelhos toca-fita amadores, o que lhe confere uma atmosfera verdadeiramente nostálgica. A faixa título do álbum, “Le Sac De Filles”, e a canção “Je Ne Suis Pas Ta Chose” tem forte parentesco com o que há de melhor no pop contemporâneo brasileiro – sem, no entanto, soar blasé e forçosamente cool como alguns artistas brasileiros, como Bebel Gilberto -, pois ambas apresentam vocais cheios de romantismo e entrega, com melodias de instrumentação farta e cheias de iluminoras sonoras vocais e não-vocais – o refrão das duas música é tão sedutor que não há como evitar cantar um francês absolutamente macarrônico, só para ter o prazer de acompanhar a elegância pop de Camille. A última faixa do álbum, “Là Où Je Suis Née”, nos brinda com uma melodia algo triste e emotiva ao piano, onde Camille empresta um vocal melancólico e adocicado, fazendo par com a maravilhosa flauta doce que surge no meio da canção – simplesmente linda, fechando o disco com a sonoridade ideal e precisa e conquistando de vez a simpatia do ouvinte, que se sente impelido a ouvir novamente o disco todo. E qual pessoa de bom gosto se negaria esse prazer? Baixe o disco pelos links que seguem logo depois da lista de faixas e use a senha informada para descompactar os arquivos.

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“Má Educação”, de Pedro Almodóvar.

La Mala EducaciónDois jovens que tiveram breve contato em escola católica, o cineasta Enrique e o aspirante a ator Ignácio, se reencontram na vida adulta e relembram os abusos sofridos por Ignácio por um dos padres. Ignácio, no reencontro, apresenta um roteiro de cinema escrito por ele e inspirado na infância que os dois compartilharam.
Pedro Almodóvar não está entre meus cineastas favoritos – mesmo. De suas obras, até hoje, apenas “Ata-me” e “Mulheres à beira de um ataque de nervos” tem, para mim, algum interesse. “Má educação” não me causou qualquer curiosidade logo que descobri tratar-se de mais um filme totalmente calcado na temática homossexual, além da transsexual, coisa que me lembra muito “A Lei do desejo”, filme do diretor que pago para não assistir novamente nunca mais. No entanto, depois de muita relutância, resolvi que solucionaria a questão de uma vez por todas.
E o meu sexto sentido cultural não me enganou: “Má educação”, apesar de não ser horroroso como “A lei do desejo”, é bem dispensável. Trata-se de mais um dos filmes do diretor espanhol que tentam mesclar o exotismo dos personagens com uma trama policial. A mistura até que funciona, em alguns poucos momentos, mas há um problema, nada tolerável, que interfere de maneira efetiva neste ponto. Para que você acompanhe com a devida atenção e se envolva com o suspense construído por um filme policial, é necessário que o longa-metragem consiga obter a empatia do público com relação aos seus personagens, e isso não ocorre em “Má educação”. A razão é muito simples: como simpatizar com um travesti porra-louca, ganancioso e trambiqueiro, que chega a pilhar a própria mãe, seu irmão não menos ganancioso e mercenário, tipinho capaz de qualquer coisa para atingir seus objetivos, e um ex-padre pedófilo, de personalidade lamentável? O único personagem que consegue obter alguma simpatia é mesmo o do cineasta Enrique, mas como ele, mesmo sabendo que estava sendo enganado, acaba se acomodando com a situação em troca dos favores sexuais de Angel/Juan, a empatia desenvolvida não chega ao nível necessário. Desta forma, o filme falha ao não criar no público o envolvimento necessário com os personagens para que acompanhem com interesse os acontecimentos da trama policial. E, se a faceta policial do filme é deficiente, em consequência de os personagens também o serem, já que não despertam empatia, o que resta em “Má educação” para que seja configurado como um bom filme? Nossa, nada. O que me leva a refletir, desde muito tempo, porque Almodóvar é visto como um cineasta genial: seria por expor personagens exóticos – travestis, homossexuais, mulheres hiperbólicas? Seria por expor um suposto retrato da latinidade? Seria pelas suas tramas, por vezes estapafúrdias? Não entendo, de fato. Nem mesmo os seus filmes mais celebrados ultimamente, como “Fale com ela”, conseguiram me tocar adequadamente – por sinal, estou devendo um texto sobre este longa. Ao cabo de tudo, “Má educação” sofre do mesmo mal de “Carne trêmula”: os dois simplesmente não arrebatam, não me tocam, não me interessam. Quando os acontecimentos da trama policial são revelados, o que deveria acabar como uma fulgurante catarse acaba simplesmente levando o expectador mais exigente a se perguntar, insensível ao destino infeliz de um personagem qualquer: “Tá, e daí?”. Definitivamente, a Europa tem diretores mais sensíveis do que este, se é sensibilidade o que os fãs de Almodóvar julgam ser sua genialidade.

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Muse – “Knights of Cydonia” (dir. Joseph Kahn). [download: vídeo]

knights_of_cydoniaEita, o vídeo da última canção do mais novo disco do Muse é uma piada só. A banda satiriza de uma vez só filmes do gênero western, de ficção científica, de kung-fu e sobra até para “Planeta dos Macacos” e “O mágico de Oz” – ou já estou vendo coisa demais? Copiando toda a estética de filmes clássicos, dos créditos iniciais aos finais, não há como não evitar cair na gargalhada com tamanho disparate. A intepretação dos atores é pra lá de intencionalmente canastrona, o protagonista tem cara de ator pornô dos anos 70/80 – hummm…. -, e a estória do curta é sem pé nem cabeça – mas é tão divertido! E ainda somos presenteados com um Cris Wolstenholme à moda cowboy – huuuuummmmmm… (parte 2). Baixe já o vídeo pelo link abaixo!

http://streamos.wbr.com/download/wbr/muse/071406/muse_knights-of-cydonia_700.mov

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